quarta-feira, 30 de abril de 2008

Toque de beleza, relaxamento e muitos conselhos

A porta comprida e estreita, três janelas por onde circula o vento que ameniza o calor, a parede lilás e dois quadros pendurados com fotos de modelo; um balcão laranja com um jarro de girassóis artificiais, prateleiras de vidro com cosméticos, dois sofás verdes e um conjunto de cores vibrantes compõem a sala de espera do Instituto de Beleza Sônia. Em um dos sofás uma cliente aguarda a chegada da cabeleireira e conversa com a manicura sobre seus filhos. Ela vai ao salão de quinze em quinze dias, “mas se pudesse iria sempre, gosto de arrumar o cabelo e no salão faço novas amizades. É um banho de auto-estima”, afirma Raimunda de Aragão, vendedora, 41 anos.
Os cabeleireiros e as manicuras recebem o papel adicional de amigos da clientela, eles escutam histórias de vários gêneros. São desabafos dos problemas familiares, da dificuldade financeira, dos desentendimentos amorosos. Mas esse laço de amizade e confiança se constrói aos poucos, a cada corte de cabelo, escova, depilação. Nos salões de beleza as pessoas têm o mesmo propósito de cuidar da aparência e muitas vezes, encontram neste local descontração e relaxamento.
Nos salões de Cachoeira os serviços oferecidos variam entre escova, alisamento, tintura, mega hair, maquiagem, penteados; os dias mais movimentados são sexta e sábado, as épocas do ano mais lucrativas são o aniversário da cidade, o São João, festa da Boa Morte e Natal e como em diversos salões de outras cidades, são mais que empreendimentos comerciais. Estes locais ficam marcados pelas histórias de vida, pelos relacionamentos formados a partir de uma conversa leve.
Enquanto esperam sentadas serem atendidas, as clientes conversam sobre novela, vida afetiva, noticiário ou lêem e folheiam as revistas que ficam nos cestos ou no móvel ao lado do sofá. Elas preferem revistas de beleza, TV e celebridades, como Cláudia, Estilo, Tititi, Minha Novela. Já os homens preferem Veja, Playboy e jornal. Tanto mulheres quanto homens tentam se distrair enquanto não chega a sua vez.
“As mulheres se queixam muito de traição. Tem uma que quando chega aqui fala da vida dela toda. Haja ouvido!” (risos), comenta a manicura do Salão Cabine de Estética, Nilza Silva, 38 anos. Essas profissionais participam mais das conversas das clientes do que os cabeleireiros, pois o secador ligado atrapalha o diálogo e as manicuras têm um contanto mais próximo. Mas é principalmente com os cabeleireiros que elas confidenciam seus problemas.
No Salão de Sandra, a cabeleireira e proprietária, Sandra Maia, mantém uma relação íntima de amizade com algumas clientes assíduas. Apesar desse relacionamento não ultrapassar o espaço do salão, essas clientes revelam à Sandra problemas pessoais, dúvidas e angústias. Por esse motivo ela criou uma sala no fundo do estabelecimento, com as paredes brancas, uma mesa pequena de madeira, cadeiras, o necessário para poder conversar tranquilamente com essa clientela em busca de conselhos. “Tem vezes que preciso fechar a porta porque o assunto é muito sério. Já aconteceu de me mostrarem os seios e a vagina para eu examinar e ver se tem alguma enfermidade. É que sou enfermeira, mas não atuo mais. Elas se sentem mais a vontade comigo do que com o médico”.
As freqüentadoras mais antigas do salão recebem um tratamento especial quando se arrumam para os seus casamentos e formaturas. “Minhas clientes mais constantes não pagam pelo serviço quando vão se casar ou se formar. É presente do salão e só revelo isto no dia”, declara Sandra Maia, 49 anos.
O Salão de Beleza Balu e Sula também tem sua clientela fiel de Cachoeira e Maragojipe e o contato entre o cabeleireiro, com mais de 18 anos de profissão, e essas clientes se dá no salão e fora dele. “Sou cabeleireiro e amigo. Tem umas que chegam abatidas e tento ajudar com conselhos. E esta amizade é em qualquer lugar, já fui convidado várias vezes para o casamento delas”, afirma Josenildo Martins, 35 anos, mais conhecido como Balu.
No salão de Beleza de Dau, o cabeleireiro, Adaiton Conceição, 33anos, tem dificuldade auditiva e não escuta quase nada, mas sua relação com a clientela flui naturalmente e sem muita dificuldade. “Gosto do atendimento, ele cativa. É um pouco difícil se comunicar, mas quando ele não me entende algum funcionário explica o que estou falando”, declara a comerciante Maria da Glória Moreira, 71 anos.
Na tradicional barbearia de Antônio Soares, a pauta das conversas é pólitica e futebol, raramente eles falam de mulher ou da sua vida particular. Seu Antônio têm clientes que frequentam a sua barbearia há trinta anos, resultando numa forte amizade. Ele prefere não oferecer aos clientes revistas de mullheres nuas, "às vezes chega uma mãe com o menino para cortar o cabelo e não fica bem revista de mulher pelada".
Para os cabeleireiros, a relação com o cliente não acaba quando o serviço ou o produto é vendido. A confiança entre estes profissionais e a clientela ajuda na realização do trabalho e na preferência por aquele salão. "O que queremos sempre é fazer com que nosso cliente se sinta bem e saia satisfeito com o resultado", afirma Sônia de Oliveira, Instituto de Beleza Sônia.

Um comentário:

Maiane Matos disse...

CORRIGIDA POR MAIANE