quarta-feira, 9 de abril de 2008

A chuva, o ônibus e a casa

A chuva havia se dissipado por completo fazia uma hora. A água ainda escorria pela escadaria e formava uma poça de lama ao seu final. São aproximadamente dez horas da noite, e o futebol na TV havia começado. Sozinho, sentado em frente à porta da minha casa, dedilho algumas músicas do Caetano no violão. "A franja da encosta cor de laranja, capim rosa chá...". A essa altura, o fluxo de água que descia pelas escadarias estava quase no fim. Um silêncio absurdo, de tão agradável, proporciona uma sensação de tranqüilidade e paz. Uma folha desbotada, ainda podia ser vista, a rolar pelo chão.
Devo abrir aqui um breve parêntese para falar do episódio envolvendo uma barata. Ela que todas as noites passava do seu esconderijo, em uma das entranhas da rua,
para dar um passeio subindo pelas escadas, teve seu dia de azar. Em outras oportunidades, eu estava na parte de dentro da casa. Mas hoje? Foi inevitável. A chinelada foi certeira porém, de alguma maneira o golpe pareceu não ter sido forte o suficiente. Fui conferir o serviço. Suas patas estavam voltadas para cima, pareciam imóveis. Cheguei mais próximo e um leve movimento aconteceu. Tive certeza da encenação após alguns passos. A miserável tentava a todo custo se virar para escapar do seu trágico final. Dessa vez não houve clemência, um novo golpe foi desferido e seu corpo mutilado ficou estendido no chão.
A pequena Juliana vem sobindo com o auxilio da sua jovem mãe. É uma menina agradável. Sempre que passa por mim, pergunta se sei cantar alguma música de Deus. Marta, a sua mãe, veste uma roupa comportada. Uma calça jeans pouco colada ao corpo, sapatos rasteiros, hoje aparentemente mais encardidos, devido à lama formada pelas fortes chuvas que caíram anteriormente. Uma blusa com bordados em lantejoulas prateadas, brincos desbotados e nenhuma vaidade nas expressões do rosto sem maquiagem, são as suas principais características. Marcas de uma mulher religiosa, que carrega uma pequena filha como resquício de um casamento frustrado, de acordo com informações de pessoas desocupadas. Canto a música pedida pela menina Juliana, que segue cuidadosa.
Já dentro de casa, o futebol não tinha graça nenhuma. Meu time do coração não estava em campo esta noite. Procuro direcionar o controle remoto em busca de algo interessante. Luciana Gimenez de um lado, alguém vendendo produtos milagrosos do outro, filmes repetidos mais a frente, enfim, nada de interessante. Só me resta deitar na cama, que esta manhã não tive tempo de arrumar, pensar um pouco no dia que passou e seguir viagem para a casa, no dia está por vir.
A noite de sono foi bastante interessante, levantei uma vez para ir ao banheiro. Pela janela aberta da sala, que dava vista para a cidade de Cachoeira, era possivel observar uma densa camada de neblina que ofuscava e entorpecia as luzes acesas.
O café estava quente, um pouco sem açúcar. O leite com uma densa camada amarelada de nata, parece bastante saboroso. Os biscoitos amanteigados, despejados no prato de vidro azul, compõem a minha mesa. No caminho para a faculdade, uma garoa fria caia e tornava o chão escorregadio. Um jovem montando uma bicicleta vermelha, quase foi ao chão, após tentar desviar-se de um carro, que aguardava a vez de atravessar a ponte rumo à histórica Cachoeira. Mas adiante, alguns senhores ainda mantinham as suas linhas esticas, na tentativa de colher os peixes do Paraguaçu. Os carros passam devagar.
Na faculdade, a aula é bastante atraente. Discutimos um pouco sobre cultura com um professor, literatura com outro. A internet está lenta, meu estômago doe, não muito, nada que um bom feijão com arroz não resolva. Seguindo em direção oposta a feita pela manhã, lembro-me de que hoje é dia de voltar para a casa sei bem que meus pais me aguardam.
O ônibus da empresa Santana não é confortável. As poltronas sujas, o corredor repleto de farelos e lama. Poucas pessoas esta tarde se arriscaram a viajar. A subida da serra sentido Muritiba é bastante difícil. O motor parece não o suportar o peso. Em Cruz das Almas, um rapaz desperta meu sono ao entrar oferecendo beiju e água de coco aos passageiros. Aquilo me causa certa ira. Todos acordamos mal humorados, não é verdade?
Em casa, as portas abertas facilitam meu acesso. Tudo está no seu devido lugar. Thayná é a primeira a me receber. Seu capote azul, com alguns smorfes estampados, fora um dos presentes a ofereci em seu quarto aniversário. Seu perfume infantil, o latido do Beethovem, a turma da Mônica na TV, e uma simples frase: "vovó, corre aqui pra você ver quem Chegou".

Um comentário:

Leandro Colling disse...

ótimo texto, apenas duas coisinhas:

A chuva havia se dissipado por completo fazia uma hora. A água ainda escorria pela escadaria e formava uma poça de lama ao seu final. São aproximadamente dez horas da noite, e o futebol na TV havia começado. (o são está no tempo certo?)

seguir viagem para a casa, no dia está por vir. (tá confuso)

as suas linhas esticas