segunda-feira, 7 de abril de 2008

E o dia nem começou

Cinco da manhã, começa mais uma terça-feira. No quarto já claro, visto que a janela não tem cortinas, a primeira imagem que tenho, são as fotos de parentes, amigos e namorado, distribuídas nos dois murais cor-de-rosa que enfeitam a parede amarela. O monitor do computador pisca, sinal que esqueci mais uma vez de desligá-lo antes de dormir. Olho pro relógio, olhos cheios de lágrimas, uma vontade enorme de chorar e, na maioria das vezes isso acontece. Pareço não acreditar que realmente tenho que levantar. Coloco o celular para despertar dez minutos depois e volto a dormir. Passados os tão rápidos e gostosos dez minutos levanto. Arrumo a cama branca tubular com o lençol rosa, estampado com bonecas, abro o guarda-roupa simples de quatro portas e desligo o ventilador que neste momento já me incomoda. Escolho uma roupa pra ir à faculdade, abro a janela para me acostumar com o tempo e lembro que tenho que colocar uma cortina nela. Saia, blusa, sandália, bolsa, acessórios, muitos acessórios. Brincos, pulseiras, relógio, escapulário. Tudo arrumado em cima da cama. Ainda sonolenta, caminho descalça em direção a porta do quarto que dá de frente para o lavabo do banheiro. O espelho acusa. Olhos inchados, cabelos emaranhados, andar de zumbi. Não demoro ao lavar o rosto e parto para a cozinha. Lá encontro minha vó e já escuto a bronca:

- Calça a sandália menina. Vai ficar doente. O café tá na mesa.

Sento à mesa, não me importo com o que ela diz. Não sou muito sociável quando acordo esse horário. Nesse momento já são cinco e trinta. Tomo meu café com pão e manteiga numa xícara que não é a minha preferida. Não bebo leite pela manhã. Como a fruta que tiver na mesa, hoje teve banana e maça. O rádio já está ligado num programa AM que não me recordo o nome. O radialista dá as primeiras notícias do dia e a previsão do tempo. Volto pro quarto, pego a saboneteira amarela, a toalha azul e vou pro banho. Por que a água esse horário é tão fria? Visto a roupa, coloco os acessórios, confiro o dinheiro, passo pó compacto pra disfarçar as olheiras, um pouco de blush, carinhosamente chamado de “saúde” e um gloss cor-de-rosa. O cabelo é o que dá mais trabalho para arrumar. “Cabelo, poxa cabelo. Que é isso? Vamos conversar?” Pego o caderno e o classificador, saio do apartamento e vou pra frente do condomínio esperar a van para ir à Cachoeira. São seis e quinze da manhã.

A van chega por volta das seis e trinta. Enquanto espero converso com o porteiro sobre o tempo, ele pergunta onde estudo, o que estudo. No percurso de Feira de Santana a Cachoeira, geralmente converso com meu amigo João Pedro, que ultimamente anda tão ausente, com o motorista Danilo, Ilani e alguns calouros. Mas, na maioria das vezes durmo maior parte do percurso, para conseguir disfarçar o cansaço de quem dormiu às três da manhã. Chego em Cachoeira por volta das sete e quarenta, vou direto no bar de Gel, compro um copo descartável por cinco centavos, vou para o prédio do CAHL, bebo água, guardo o copo. No corredor que dá acesso a sala de aula, apago a luz que, desnecessariamente está acesa, entro na sala, sento, retoco a “saúde”, o gloss cor-de-rosa e penso:

“E o dia ainda nem começou!”

Um comentário:

Leandro Colling disse...

bom texto, leva o leitor. probleminha no trecho

Sento a mesa sem me importar com