domingo, 27 de abril de 2008

Ser emo ou não ser, eis a questão



Texto e Ilustração: Ilani Silva



A franja roxa deslocada para o lado esquerdo, cobria-lhe os olhos, se alguém o observava, poderia interrogar-lhe sobre como poderia estar enxergando. A tinta preta da maquiagem logo abaixo da visão dava-lhe a impressão de dor e sofrimento. As roupas não poderiam ser de outra tonalidade. Eram da cor das trevas. Usava calças jeans e camisa de manga comprida, surpreendentemente apertadas contra a carne e por isso podia-se perceber todo o contorno de seu corpo. A primeira frase a caracterizar este indivíduo seria por muitas pessoas: “Só podia ser emo”.

Não precisava ir muito longe para encontrar um emo. Visitei algumas páginas na internet, mas a minha maior dúvida era, o que é de fato ser emo? Entrei na comunidade do orkut: Eu sou emo e você que é invejoso. Lá encontrei alguns depoimentos e pessoas com as mesmas dúvidas que eu. Um menino que se identificava como Srt° Ákila comentou em um dos tópicos:

- É preciso franja para ser emo? Eu não posso ter franja por causa da escola, mas eu sei que eu sou emo. Eu sempre estou assim, sentindo esse vazio no peito, eu fico bravo com as injustiças do mundo e tudo mais. Eu me sinto como uma marionete que não faz seu próprio destino. Quando estou a fim de uma menina eu choro. Quando fico um dia sem vê-la choro, para falar a verdade eu choro com quase tudo. Uma vez minha tia falou que eu era uma doença para ela. Depois disso eu chorei o dia todo. É por isso que acho que sou um emo.

Franja? Choro? Vazio? Não fiquei satisfeita. Fui ao shopping, e encontrei por lá Ricardo Vianna o guitarrista da banda Emo 71 de Feira de Santana. Seu cabelo tinha um visual diferente era liso, preto e arrepiado, será que ele levou um choque? Perguntei-me. A camisa de cor preta parecia um pouco desbotada, a calça era comum, do tipo jeans. Ele vinha com um capacete na mão. Emo de capacete? Pensei. Sentamos numa mesa na praça de alimentação. Conversando, ele me explicou:

- O emocore surgiu na década de 80 nos Estados Unidos. É uma união de vários estilos, sendo sua principal influência o punk. Suas letras giram em torno de conflitos amorosos, indignação com o mundo e são bastante introspectivas. A palavra emo é uma abreviação de emotion que significa emoção, não é a toa que as letras das músicas são bastante sentimentais. Porém bandas como Nx Zero, Strike, Fake Number, eu não considero bandas emos, para mim elas fazem parte do estilo hardcore melódico. O que faz com que esses dois estilos se assemelhem (o emocore e o hardcore melódico) é o visual das bandas que incorporaram o estilo dos anos 80.

Geralmente os emos vestem roupas pretas com estampas de desenho animado, botas punk, tênis rosa, colares de bolas, camisas justas, meias arrastão, presilhas no cabelo, cintos de rebite, piercings no canto do lábio, possuem longas franjas e pintam os olhos. É por isso que quando vi Ricardo o achei tão diferente do estereótipo formado dos emos. Mas toda regra tem sua exceção.

As idéias presentes nas letras do emocore transcenderam a música e se tornaram um estilo de vida:

- Os emos brasileiros possuem idade entre 12 e 20 anos, são pessoas extremamente meigas, não possuem preconceito pela escolha da opção sexual, repudiam a violência. Porém acabam exagerando no visual e na forma como se relacionam.

É verdade. Na internet, quando vemos pessoas substituindo o “S” de palavras por “X”, pensamos logo: É emo. Por exemplo, um dia entrei no perfil de um emo, e em uma das legendas de suas fotos tinha: “Esse aqui é meu miguxo que amo muito aximmm”.

O conhecimento dessa nova tribo surgiu da interação através da internet. As bandas saíram do anonimato, e ganharam um grande espaço na mídia.

Em meio essa explosão de idéias e sentimentos de paz, amor, igualdade sexual e não a violência. Passaram a existir as pessoas contra esse estilo de vida. A jovem produtora de shows Safira Parente, 18 anos, desistiu de investir em Feira de Santana por causa de ter sido alvo de muitos preconceitos.

- Não podíamos colocar uma banda de emocore nos eventos, que o pessoal já ficava me chamando de “Produtora Emo” ou dizendo que faço parte da burguesia elitizada.

No orkut a presença de comunidades do tipo “eu odeio emo” são freqüentes e de acordo com a pesquisa feita pelo aluno Francisco dos Santos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, essas já passaram de mil. As demonstrações de afeto em público feita pelos emos, sem distinção de sexo, são alvos de homofobia. Ricardo contou-me que as pessoas fazem uma relação entre emos e homossexuais.

O guitarrista da banda Emo 71, ainda me disse que já foi agredido verbalmente no shopping por rapazes afrodescendentes que o ameaçaram de morte.
- Eu estava andando pelo shopping quando vi uma amiga minha no meio desses rapazes, eles estavam brigando com ela, dizendo que emos são preconceituosos. Entrei no meio para defendê-la e eles também me fizeram as mesmas ameaças. E olha que a gente nem conhecia eles.

Por sofrerem com tantas discriminações é que muitos jovens adeptos do estilo de vida emo não gostam de afirmar que fazem parte do grupo. E foi difícil encontrar um emo que afirmasse ser emo para essa matéria.

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