terça-feira, 29 de abril de 2008

Saudoso rio Subaé

MEIO AMBIENTE: Rio Subaé passou por severas transformações e hoje as pessoas relembram tempo em que ele era limpo.
Por Marlene Lima


Vagarosamente ele corta as terras, rompe barreiras e chega ao seu destino. Impiedosamente suas águas transbordam, causam caos, famílias perdem pertences pessoais, pessoas ficam sem ter onde dormir quando chega o inverno e a chuva parece cair sem parar.
Sua terra natal, Feira de Santana. No percurso diário ele banha terras de muitos outros lugares por onde passa. Arraial do Limoeiro, São Gonçalo dos Campos, Campinhos. Antes de penetrar terras santo-amarenses, ele recebe as águas do riacho de Itaquarí. Já em terras santo-amarenses recebe os afluentes Traripe e Sergi Mirim.
O rio Subaé foi o berço para a construção da cidade de Santo Amaro da Purificação, desempenhando importante papel na economia e desenvolvimento locais. Quando, no século XVI, os portugueses chegaram por aqui encontraram às margens deste rio os índios Abatirás, os quais logo foram expulsos. Às suas margens, ao longo da história, casas foram construídas, o comércio foi estabelecido e a cidade foi formada. Muitas crianças nele brincavam, tomavam banho, as donas de casa lavavam roupas, algumas famílias tiravam dele o sustento. “Os meninos pegaram ‘amoreira’, êta peixinho bom. Mas não pegaram só isso não. Tem bagre também. E esses aí têm mais de um palmo. A mesa hoje vai está farta.” Relembra, a historiadora Zilda Paim.
Em suas margens matos, muito mato, todos os tipos de mato. Em suas margens lixos, lixos de todo tipo; e não só nas margens, dentro dele também. Suas águas estão sujas, barrentas, sendo penetrada por esgotos. Seus peixes não são mais saudáveis à alimentação. Mas isso não significa que sempre foi assim.
“A água é bem clarinha, dá pra ver a areia e ela é bem clarinha. Olha aquelas pedrinhas de seixo, dá pra gente brincar de capitão de areia. Vamos meninas, vamos logo, antes que a mamãe nos chame pra casa. Ainda quero andar de canoa e ver os peixes pularem dentro dela.” Relembra, Zilda.

“Progresso Vazio”

Segundo a historiadora Zilda Paim, a devastação do rio começou quando em meados dos anos 60/70 foi criado em Feira de Santana o Centro Industrial do Subaé (CIS). Desta forma, todos os resíduos produzidos pelas fábricas de Feira desciam para rio. Somado a isso, está a instalação da Companhia Brasileira de Chumbo (Cobrac) subsidiária da empresa francesa Penarroya, na cidade de Santo Amaro. Os resíduos industriais da Cobrac eram jogados no rio, contaminando-o e também a população que até hoje sofre as conseqüências. Esperava-se progresso e desenvolvimento para a cidade, porém as devastações foram mais perceptíveis e vivida pela população. Paim, comenta ainda que, o rio Subaé tinha 1,5m de profundidade, mas que as enchentes traziam muita areia e hoje esta profundidade não chega a 1m.
A devastação do rio Subaé foi letra da música de Caetano Veloso, “Purificar o Subaé”.

Purificar o Subaé
Mandar os malditos embora
Dona d'água doce quem é?
Dourada rainha senhora
Amparo do Sergi Mirim
Rosário dos filtros da aquária
Dos rios que deságuam em mim
Nascente primária
Os riscos que corre essa gente morena
O horror de um progresso vazio
Matando os mariscos e os peixes do rio
Enchendo o meu canto
De raiva e de pena
Lembranças

Seu Ivo Souza, 79 anos, lembra saudosamente sua infância, das brincadeiras que ele e seus amigos faziam no rio.
-Pés descalços, sem camisa, a gente corria pra brincar no rio. Naquela época não tinha aquela ponte ali não, olhe.
Apontando para a ponte que liga o bairro do sacramento com a rua que vai dá na praça da Purificação.
-Ta vendo onde está aquela escola? Ali só tinha era roça. E a gente brincava no meio das roças.
Agora ele aponta para a escola Estadual Pedro Lago. Sentado em um banco de madeira, no fim de uma tarde de quinta-feira. Seu olhar está fixado no rio, vez ou outra fala com um amigo que passa. Em meio a um sorriso de uma criança que ganhou um brinquedo novo, ele relembra sua época de menino.
-Às vezes a gente vinha brincar no rio e tomava banho de noite mesmo. O rio naquela época era limpo. A gente tomava banho, as mulheres lavavam roupa, a gente bebia a água dele. Hoje ninguém pode mais utilizar este rio. Algumas pessoas pescam, mas não são alimentos saudáveis.

Destino

O rio agora está chegando ao seu destino. Ele encontra-se com o rio Pitinga e passa a se chamar Sergipe do Conde. Chegarando à Baia de Todos os Santos. Não se sabe ao certo qual será seu destino em relação à sua preservação.

Um comentário:

Assuntos gerais! disse...

Essa é a verdadeira história do ri Subaé eu moro em Santo Amaro poso garanti que a própria população não tem a conciência de que o rio estasendo tomado pela poluição, e é triste ver que o nosso rio esta se acabando no lixo.