quinta-feira, 10 de abril de 2008

Quinta-feira é dia de Feira

Quinta-feira, meio-dia. A aula acaba e eu saio apressada da sala rumo à feira de Cachoeira, onde espero o transporte para voltar pra casa, em Capoeiruçu. Hoje não tive sorte, a van está vazia. E para ela partir é preciso estar cheia, com quatorze pessoas no mínimo. Abro a porta com cuidado, pois o rangido denuncia o quanto ela está velha. Entro e logo procuro o lugar mais ventilado para me sentar. As poltronas velhas têm o estofado escuro com grandes buracos, deixando à mostra pedaços de espumas. Por dentro nada é muito limpo. É engordurado, e há ferrugem por toda a carcaça do veículo. O chão é revestido por um material emborrachado que hoje não parece muito sujo. As pessoas vão chegando, se sentam, guardam suas sacolas repletas de compras, se acomodam. A van vai enchendo, há pessoas de todos os tipos físicos, cheiros, idades e vestimentas. Lotou! A senhora ao meu lado grita ao motorista. É o sinal pra ele se ajeitar para nos levar. Logo ele dá a partida e o sacolejo começa. Fico sempre encolhida, com a pasta e a bolsa sobre as pernas. Passamos pela rua principal de Cachoeira, a do comércio. Os passeios são estreitos e as pessoas caminham em plena rua. É uma disputa com os carros, motos, bicicletas e até carroças. Há músicas tocando, ruídos do trânsito e pessoas que falam alto, algumas até gritam. O calor é aliviado com a brisa resultante do movimento do transporte.
Depois de subirmos a serra extremamente sinuosa e estreita, chegamos em Capoeiruçu. A cidade é calma e seu pequeno movimento é resultado do corre-corre dos muitos estudantes que nela residem. Ao longo de sua rua principal, que é asfaltada mas com muitos buracos, vemos restaurantes, lanchonetes, mercadinhos, padarias, soverteria, pizzaria, lan-house, quitanda e até uma loja de produtos naturais.
A van me deixa na esquina da farmácia. Eu viro à direita e sigo andando até o portão de grades do meu condomínio. Faz pouco tempo que moro aqui, mas já me sinto íntima deste local. As casas são todas coloridas, motivo pelo qual o condomínio é mais conhecido como Pelourinho. A casa onde moro com meu irmão mais novo é vermelho-escura e possui detalhes (porta e janela) em verde-bandeira. É tudo muito simples e aconchegante.
Chego em casa e a primeira visão que tenho é a do meu irmão tirando a sesta na sala. Meu estômago ronca e não penso duas vezes antes de ir almoçar. A comida já está quente e só tenho o trabalho de me servir.
Depois de comer feijão, arroz e macarrão, me bate uma fraqueza. Os olhos quase se fecham automaticamente, é o sono. Mas hoje é quinta e Feira de Santana me espera. Ou melhor: meu namorado me aguarda. Depois de um banho em água fria, arrumo umas poucas mudas de roupas numa bolsa azul-marinho com coraçõezinhos brancos. Além das roupas, o desodorante, hidratante, escova de dente, livro, apostilas e as havaianas. Tudo pronto. Deixo um bilhete pro meu irmão, pois o sono dele é profundo. Saio de casa, tranco a porta e vou esperar o transporte na BR-101, que fica a uns 10 minutos de casa.
Chegando ao ponto de ônibus, encontro duas mulheres que devem ter por volta de quarenta anos. Elas também vão para Feira e pedem carona pra todos os carros que passam. Vestem saias longas, abaixo dos joelhos e pela conversa descubro que são adventistas e trabalham no IAENE. As duas são morenas e têm os cabelos castanhos presos num rabo de cavalo. A mais gorda parece ser mais nova por ter menos rugas. Mas é só uma hipótese.
Não demora muito e um táxi pára e nos pergunta pra onde vamos. Respondemos e ele oferece a corrida pelo mesmo preço do ônibus: R$ 5,00. Logo entramos, as três, no banco de trás do carro, um corsa sedan branco. Eu fico do lado da janela direita, subo um pouco o vidro porque não gosto do vento forte que entra e embaraça o meu cabelo.
A viagem é tranqüila e rápida. Chegamos em trinta e cinco minutos na Princesa do Sertão. O taxista deixa as duas mulheres na entrada da cidade, no bairro conhecido como Tomba. Eu peço a ele para me deixar na rodoviária.
A cidade é quente e movimentada. Muitas pessoas, muitos carros. Desço do táxi e pela Avenida Presidente Dutra, vou seguindo rumo a Salvador. Passo pela Avenida Maria Quitéria, pela Avenida João Durval e logo chego ao destino certo: a casa do namorado.
Daí em diante, só ele e eu.

Um comentário:

Leandro Colling disse...

ah, finalmente leio um texto seu na altura que vc merece. parabéns. adorei. só o verbo "se espojam" me parece um pouco fora do lugar.