quarta-feira, 30 de abril de 2008

Toque de beleza, relaxamento e muitos conselhos

A porta comprida e estreita, três janelas por onde circula o vento que ameniza o calor, a parede lilás e dois quadros pendurados com fotos de modelo; um balcão laranja com um jarro de girassóis artificiais, prateleiras de vidro com cosméticos, dois sofás verdes e um conjunto de cores vibrantes compõem a sala de espera do Instituto de Beleza Sônia. Em um dos sofás uma cliente aguarda a chegada da cabeleireira e conversa com a manicura sobre seus filhos. Ela vai ao salão de quinze em quinze dias, “mas se pudesse iria sempre, gosto de arrumar o cabelo e no salão faço novas amizades. É um banho de auto-estima”, afirma Raimunda de Aragão, vendedora, 41 anos.
Os cabeleireiros e as manicuras recebem o papel adicional de amigos da clientela, eles escutam histórias de vários gêneros. São desabafos dos problemas familiares, da dificuldade financeira, dos desentendimentos amorosos. Mas esse laço de amizade e confiança se constrói aos poucos, a cada corte de cabelo, escova, depilação. Nos salões de beleza as pessoas têm o mesmo propósito de cuidar da aparência e muitas vezes, encontram neste local descontração e relaxamento.
Nos salões de Cachoeira os serviços oferecidos variam entre escova, alisamento, tintura, mega hair, maquiagem, penteados; os dias mais movimentados são sexta e sábado, as épocas do ano mais lucrativas são o aniversário da cidade, o São João, festa da Boa Morte e Natal e como em diversos salões de outras cidades, são mais que empreendimentos comerciais. Estes locais ficam marcados pelas histórias de vida, pelos relacionamentos formados a partir de uma conversa leve.
Enquanto esperam sentadas serem atendidas, as clientes conversam sobre novela, vida afetiva, noticiário ou lêem e folheiam as revistas que ficam nos cestos ou no móvel ao lado do sofá. Elas preferem revistas de beleza, TV e celebridades, como Cláudia, Estilo, Tititi, Minha Novela. Já os homens preferem Veja, Playboy e jornal. Tanto mulheres quanto homens tentam se distrair enquanto não chega a sua vez.
“As mulheres se queixam muito de traição. Tem uma que quando chega aqui fala da vida dela toda. Haja ouvido!” (risos), comenta a manicura do Salão Cabine de Estética, Nilza Silva, 38 anos. Essas profissionais participam mais das conversas das clientes do que os cabeleireiros, pois o secador ligado atrapalha o diálogo e as manicuras têm um contanto mais próximo. Mas é principalmente com os cabeleireiros que elas confidenciam seus problemas.
No Salão de Sandra, a cabeleireira e proprietária, Sandra Maia, mantém uma relação íntima de amizade com algumas clientes assíduas. Apesar desse relacionamento não ultrapassar o espaço do salão, essas clientes revelam à Sandra problemas pessoais, dúvidas e angústias. Por esse motivo ela criou uma sala no fundo do estabelecimento, com as paredes brancas, uma mesa pequena de madeira, cadeiras, o necessário para poder conversar tranquilamente com essa clientela em busca de conselhos. “Tem vezes que preciso fechar a porta porque o assunto é muito sério. Já aconteceu de me mostrarem os seios e a vagina para eu examinar e ver se tem alguma enfermidade. É que sou enfermeira, mas não atuo mais. Elas se sentem mais a vontade comigo do que com o médico”.
As freqüentadoras mais antigas do salão recebem um tratamento especial quando se arrumam para os seus casamentos e formaturas. “Minhas clientes mais constantes não pagam pelo serviço quando vão se casar ou se formar. É presente do salão e só revelo isto no dia”, declara Sandra Maia, 49 anos.
O Salão de Beleza Balu e Sula também tem sua clientela fiel de Cachoeira e Maragojipe e o contato entre o cabeleireiro, com mais de 18 anos de profissão, e essas clientes se dá no salão e fora dele. “Sou cabeleireiro e amigo. Tem umas que chegam abatidas e tento ajudar com conselhos. E esta amizade é em qualquer lugar, já fui convidado várias vezes para o casamento delas”, afirma Josenildo Martins, 35 anos, mais conhecido como Balu.
No salão de Beleza de Dau, o cabeleireiro, Adaiton Conceição, 33anos, tem dificuldade auditiva e não escuta quase nada, mas sua relação com a clientela flui naturalmente e sem muita dificuldade. “Gosto do atendimento, ele cativa. É um pouco difícil se comunicar, mas quando ele não me entende algum funcionário explica o que estou falando”, declara a comerciante Maria da Glória Moreira, 71 anos.
Na tradicional barbearia de Antônio Soares, a pauta das conversas é pólitica e futebol, raramente eles falam de mulher ou da sua vida particular. Seu Antônio têm clientes que frequentam a sua barbearia há trinta anos, resultando numa forte amizade. Ele prefere não oferecer aos clientes revistas de mullheres nuas, "às vezes chega uma mãe com o menino para cortar o cabelo e não fica bem revista de mulher pelada".
Para os cabeleireiros, a relação com o cliente não acaba quando o serviço ou o produto é vendido. A confiança entre estes profissionais e a clientela ajuda na realização do trabalho e na preferência por aquele salão. "O que queremos sempre é fazer com que nosso cliente se sinta bem e saia satisfeito com o resultado", afirma Sônia de Oliveira, Instituto de Beleza Sônia.
Conserto e desconserto

Já de pé, seis da manhã, Licurí, assim como é chamado Carlos, mecânico, 35 anos, arruma sua caixa de ferramentas e sai para trabalhar. Enquanto sua esposa e seus dois filhos continuam dormindo, Licurí espera Cesinha, seu colega de trabalho na porta da oficina. É ele quem traz as chaves do estabelecimento. Licurí coça a barba crespa, boceja e como parte da rotina, xinga Cesinha por seu atraso diário. Não que o ânimo de Licurí seja o de uma pessoa séria, nervosa, que se irrita fácil, pelo contrário, é quem mais faz os clientes rirem com seu espírito curtidor.Graças à sua paciência manobra com facilidade as pequenas peças do motor, escuta-o para descobrir o problema, aperta daqui, folga dali com o praio ou o alicate bomba.Porém, o atraso de Cesinha todos os dias, tira a tranqüilidade de Licurí logo cedo. Ao abrir o portão e sentir o cheiro forte de graxa e óleo que dormiu no ar, Licurí volta à calma. É o cheiro que faz parte da sua vida desde os quinze anos, que ele aprendeu a gostar, que o acompanha em casa, e aonde quer que vá preso em suas mãos.A pontualidade e a competência são traços de Licurí, que se tornaram símbolos de referência da oficina Cacha Prego. O baixinho de 1.56m não deixa cliente nenhum na mão por atraso ou serviço mal feito. Olhos graúdos de rosto redondo, cabelos bem pretos, desde menino sonha em ter um carro, mas tem se contentado com ter o dos outros na sua mão por algumas horas ou um dia.As peças amontoadas preenchem o espaço de um cinza nublado, que contrasta apenas com alguns calendários coloridos pendurados na parede. Loiras e morenas sorriem com suas poucas roupas, enquanto Cesinha e Licurí estão debaixo dos carros ou com a cabeça enfeada no motor. Um radinho de pilha divide o som ambiente com os ruídos cintilantes dos metais. A oficina não abre só um dia, domingo. Licurí costuma dizer: “domingo não é dia de conserto, mas de desconserto”. E é assim que é.Quando sai de casa deixa a mulher zangada, apesar de ela saber do seu compromisso com o time Estrela Azul. Licurí é o lateral direito que mais corre, pequenininho, vai da ponta do campo ao outro com uma ligeireza e eficiência que faz a diferença no desempenho do time.Duas e meia da tarde Licurí chega ao estádio, aperta a mão dos meninos que jogam bola em frente à entrada. Vai direto para o vestuário. Tira da mochila de napa, branca, uma chuteira preta, de cadarços longos, desgastada e com alguns rasgos na lateral. Licurí não costuma limpá-la e por isso o preto fica escondido por trás de uma cor empoeirada. Veste o uniforme do time, com toda calma e concentração. Por seu tamanho e físico franzino a roupa fica sobrando em todos os cantos. A blusa mais parece um vestido e o short uma calça. Mas ele dá um jeito pra que tudo favoreça e não o atrapalhe. Nos cinco dias da semana, Licurí espera ansioso o jogo. Quando entra em campo se sente outra pessoa, vive momentos que o dia-a-dia corrido não lhe proporciona. Quando termina o jogo, ele ri e diz que fica feliz em ver o estádio cheio, e que ele é o único jogador que a torcida grita o nome sem ter feito nenhum gol. Muitos da arquibancada gritam: “ Êta baixinho que corre!;segura o Licurí que eu quero ver !” Licurí desconcerta os zagueiros, deixa-os perdidos atrás dele. Com tamanha rapiz não há quem o pare. Entorta a coluna dos adversários com seus dribles de pequeno ousado. Chega na linha de fundo e cruza. Seu companheiro mete a cabeça na bola e faz o gol.

Aline Santos

terça-feira, 29 de abril de 2008

Só nós dois


COMPORTAMENTO: Pesquisas apontam para o aumento do modelo familiar formado por casais sem filhos


Por: Nirane Lopes


Mariana nasceu saudável para a alegria de seus pais e familiares, logo de início recebeu da madrinha uma linda boneca, a primeira das muitas que receberia. A menina cresceu e abandonou as bonecas. Mariana dedicou-se aos estudos tornou-se uma mulher de sucesso profissional e se casou com Paulo outro bem-sucedido. Viveram felizes e sem filhos para sempre.
A história de Mariana e Paulo, embora fictícia, ilustra a tendência de muitos casais que cada vez mais optam por não terem filhos. O Brasil ostenta um aumento no número de família sem filhos. É o que aponta a Síntese dos Indicadores Sociais, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mais presente no mercado de trabalho e com maior nível de escolaridade, as mulheres têm optado por ter menos filhos. É um indicativo da chamada Terceira Transição demográfica, em que os homens e mulheres não apenas adiam a hora de ter filhos, simplesmente há quem decida não tê-los. Essa tendência não se concentra apenas nos grandes centros urbanos, em cidades pequenas como Conceição da Feira, alguns casais fazem parte dela.
E é exatamente nesse perfil que se encaixam Teresa Conceição Santos, 32 anos e Raimundo Santos, 39 anos, ambos, professores pós-graduados. Casados há 17 anos nenhum dos dois pensa em crianças, embora admitam que adoram os sobrinhos. “Nunca tive vontade e ter filhos, na adolescência quando conversava com minhas amigas sempre demonstrei esse desinteresse. E o meu marido pensa como eu quando o assunto é filhos. Não é que não gostamos de crianças, mas sim uma escolha, uma opção nossa”, comenta Teresa. Já a estudante de administração de empresas, Nadjane Santos, 26 anos, brinca: “Nasci pra ser tia. Adoro meu sobrinho, fico com ele o tempo todo, mas tem hora certa pra entregar aos pais dele. Estou concluindo a faculdade e agora é o meu momento, um filho nesta altura do campeonato seria um erro”, conclui.


ORGANIZADOS


A literatura americana classifica os casais que não têm filhos como Dink – Double income and no kids. No Brasil, Dinc – Duplo ingresso e nenhuma Criança - pode ser uma tradução para o português que mantém o mesmo som e uma escrita parecida com o termo Dink em inglês. Muitos casais sem filhos já criaram espaços para troca de experiências e busca de informações em associações, como o “No Kidding!” que possui um site traduzido em vários idiomas, inclusive o português. O assunto também é tema de livros e estudos acadêmicos.
De acordo com o professor José Eustáquio Diniz Alves, coordenador da pós-graduação do IBGE, em artigo publicado na internet, há cerca de dois milhões de casais sem filhos em que o marido e a mulher têm renda. Isso representa 4% de todos os casais do país, número que cresceu em dez anos, segundo dados da pesquisa.
Os motivos que levam homens e mulheres a optarem por não ter filhos podem ser os mais variados possíveis, mas uma coisa esses casais têm em comum, geralmente são pessoas que estudaram muito e por conseqüência possuem um bom padrão de vida.


“E” de Natureza




Em meados do mês de abril, em uma manhã, algo de muito estranho aparece no centro da cidade de Cruz das Almas, as pessoas passavam, olhavam, se aproximavam, perplexas; curiosos iam se aglomerando, que era aquela coisa?
No meio de centenas de carros que passavam, um, parado, chamava a atenção, uma Kombi, que era uma verdadeira obra de arte, ou loucura alguns diziam, o veículo era todo coberto por um material que lembrava o barro, embaixo desse material, terra, alguns furos por onde passavam caules e as folhas das plantas, no meio dessas plantas, rostos de animais, elefantes, búfalos, bodes... Cercando esse carro foi colocada uma espécie de cerca em forma de círculos, nos quais tinha dentro frases e fotos, frases que falavam do amor ao próximo, defendiam a natureza, a liberdade e a amizade, fotos de lugares por onde o dono daquele automóvel havia passado, atrás da Kombi, um palhaço de aproximadamente 2m montado num cavalo, era puxado pelo carro.
Quem poderia ser o artista? Ou o louco? Logo ele aparece, barbudo, cabeludo, magro, branco, mas com a pele queimada pelo sol, aparentemente 40 anos, com uma blusa branca com desenhos de máscaras africanas; o nome dele é uma verdadeira quebra de regras, “E” de Natureza, pouco a pouco curiosos rodeavam o carro, que também era uma casa, era lá que “E” de Natureza morava com sua família, do lado do carro um bode preto, parecia ser bem velho, era grande, causava medo a alguns que nem pensavam em se aproximar do animal.
Ele era um homem bem misterioso, gostava de conversar com as pessoas, mas não gostava de falar sobre si, era quase impossível tirar alguma coisa sobre ele, nada de fotos, nada de conversas muito íntimas sobre quem é “E” de Natureza, quem tentava ridicularizá-lo ele sempre tinha uma boa resposta, que mostrava que no mínimo “E” não era tão louco como alguns diziam, quem parava pra bater um papo com o viajante, ouvia seus discursos em defesa da natureza e do respeito ao próximo, sempre deixava um som ligado, normalmente Reggae, muitos passavam admirados e faziam elogios que fazia brotar dos lábios de “E” um sorriso raro.
Sem se importar com o preconceito de alguns, ele espunha sua expressão artística ambulante, deixava na beira da cerca uma escultura de uma mão estendida com uma placa sobreposta, que dizia: ajude essa obra de arte a se preservar, não quis dizer de onde é, e na manhã de 28 de abril “E” de Natureza do mesmo modo que apareceu, desapareceu, absolutamente do nada, sem dizer de onde veio nem pra onde ia.

Ouvir a voz da Sabedoria

O sol incidia vigorosamente sob fachada branca do antigo casarão gerando certo desconforto aos olhos, aos poucos começavam a acostumar-se com a claridade luminosa refletida, desvendando a beleza minuciosa de sua arquitetura. Pilares imponentes e grandes janelas de vitral sob fundo verde, deslocam a atenção. Na entrada do casarão, uma das paredes ostenta uma placa condecorativa. Nela, data, nome da instituição e de sua idealizadora guardam discretamente a memória desse lar, que comemora no dia 8 de maio o seu quadragésimo quinto aniversário de fundação.
A Casa dos Velhos da cidade de Cachoeira apresenta-se assim, como um lar modesto e aconchegante destinado a acolher, cuidar e proteger os idosos. A instituição, que sobrevive com recursos escassos e do apoio de doações e campanhas realizadas pela comunidade, ampara 38 velhinhos. A minha visita, uma missão, resgatar suas trajetórias de vida, suas expectativas, alegrias e frustrações. Histórias que se confundem e dialogam. Pessoas, que merecem o nosso mais absoluto respeito e carinho.

A visita não era esperada, daí a surpresa do seu olhar, contudo de forma majestosa senta-se ao meu lado, e mesmo não me conhecendo, seus lábios imprimem modesto sorriso. Pele sensivelmente branca, fisionomia cansada, traços visíveis que o tempo imprimiu ao longo dos seus 81 anos de vida. Ubaldina Valquiria Rodrigues, é como se apresenta de forma lúcida. Seu olhar revela-se terno, introspectivo; ligeiramente desconfiada, sua voz palpita por instantes ao ser interrogada sobre seu passado, dúvidas parecem rondar seus pensamentos, manifestando-se levemente por expressões em sua face. Aos poucos, descortina sua história.
Aposentada, revela que começou a trabalhar ‘novinha’, em fábricas de charuto de Cachoeira. Aos quinze anos na Leite Alves, passava os charutos na gelatina, empacotava-os. Trabalhou aos vinte na Suerdick, até esta abrir falência, enquanto sua mãe trabalhava na Costa Pena em São Felix.
Relata o gosto por procissões e novenários, como o de Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora da Ajuda, lembradas rigorosamente por suas datas comemorativas, mas também, confessa ter freqüentado bares e festas: “No terno, saia na frente do cordão”. Recorda as amigas com um ar de orfandade, pois destas, só resta ela: “não tenho mais a mesma alegria”, afirma.
Sobre a família, apenas parentes distantes, exceto uma sobrinha, que não a visita faz um tempo. Teve um filho, que faleceu aos 2 anos, por um motivo que não soube bem explicar, ‘uma febre que não passava’. Sua mãe morrera do coração, pouco tempo depois. Assuntos que a sensibiliza e que a fazem falar de forma pousada, receosa.
A saúde lhe falta, conta que já são 8 as cirurgias que teve de fazer, numa delas retirou por completo a mama esquerda, o ovário; na mama direita também fez cirurgia para a retirada de um caroço. Atualmente queixa-se das varizes, e relembra as tarefas que realizava cotidianamente na casa de seus antigos patrões em Salvador, onde trabalhou como doméstica, durante muitos anos.
Após seus patrões terem falecido, e não lhe restar nenhum ente familiar que pudesse tomar conta dela, a trouxeram para o abrigo, quando Gésia ainda o coordenava. Lúcia de Sousa Batista, atual administradora da Casa dos Velhos, conta que Gésia Miralva Santana, foi a idealizadora desse abrigo, e que antes de ter uma casa para abrigar idosos, recolhia-os das ruas, improvisa garagens e pequenos espaços para cuidar dos velhinhos, dependia do apoio e da caridade das pessoas. Hoje, a instituição passa por grandes variações, como relata Lúcia em conversa comigo, “lhe damos com a teoria da contingência, não podemos pensar somente no agora”.
Desde que trouxeram Dona Ubaldina para o abrigo já se passaram 11 anos. Desejava ter alguém por perto, familiares, amigos. Por isso, gosta dos domingos, dia em que recebe visita, geralmente de evangélicos: “gosto de ouvir eles falarem de Deus, já que não posso ir à missa por causa das pernas” e revela um desejo: - “Peço a Deus para descansar”.
O abrigo comporta em grande parte velhinhos que vivem a realidade social experimentada por Dona Ubaldina, que sem qualquer vínculo familiar acaba tendo o abrigo como única opção, apenas 4 a 5 % dos velhinhos que residem no abrigo possuem famílias. Lúcia relata que na Casa dos Velhos, existem três tipos específicos de internos: uma pequena minoria que se interna por conta própria, os que por opção familiar, em função dos cuidados exigidos pela velhice, confiam à instituição os seus entes idosos, e por último, a grande maioria, os que por denuncia de maus tratos e por deficiência própria, já não são mais capazes de cuidar de si próprios.
Dona Antônia Santos, “que de santo não tem nada” como declara, tem 92 anos e faz parte da pequena minoria que procura o abrigo por conta própria. Pele negra, semblante afetuoso, usa colares de pérola no pescoço, brincos, anéis e um relógio no pulso, assessórios pessoais que a sua vaidade jamais deixa de exibir.
Com voz altiva, lucidez espantosa, entusiasmo invejável, mal se apresenta e de forma desinibida começa a me relatar aspectos de sua vida. O nome, ‘Antônia’, confessa ter sido resultado de uma promessa de sua mãe a Santo Antônio, para que o santo a desse um bom parto, e lembra: “foi numa sexta-feira, dia 18 de fevereiro de 1916 que nasci”.
O pai era vigilante da ponte da estrada de ferro, a mãe engomadeira de ricos senhores da região. Ainda menina, destalava fumo nos armazéns, rigorosa com números e datas releva ter aprendido em 1936 a fazer charutos com sua mãe, e de ter iniciado em 1937 na Suerdick, uma longa vida de trabalho, 33 anos, dedicados ao fumo.
Ainda consegue listar a identificação dos diferentes charutos com que trabalhava constantemente: “nº 3 cataflor, a nº 4 era.....ô meu Deus!” uma pausa, um esforço à sua memória, prossegue, “26 holandeses, 49 ouro de cuba, hum agora é que me lembrei, nº 4 era florinha!”. Classificações extensas que por anos exigiram rigor na memorização, talvez esteja aí o motivo de seu fascínio por referenciar os acontecimentos de sua vida por datas, idades e números.
Teve seis irmãos, deles só uma irmã ainda vive, mora em São Paulo. “Foi minha sobrinha que me trouxe pra cá”, a idade e a saúde já não a fazem mais se adaptar a climas diferentes do que sempre esteve acostumada. E diz, “não quis ir com ela pra São Paulo, e não achei ninguém pra ficar comigo, aí o jeito que teve foi vir pra aqui”. Mora no abrigo a 8 meses, desde o dia 22 de agosto, quando uma neta de consideração que cuidava dela casou e não teve mais como dividir atenções.
Mostra a foto do casamento da neta com orgulho, fala da festa de casamento e da sua paixão por dança. Revela ter sido a nº 1 numa festinha de Natal realizada pelo abrigo, expondo a embalagem do prêmio que recebeu por sua habilidade e entusiasmo com a dança.
Lembra de sua mocidade, das festas e bailes de carnaval, da beleza dos trios, dos carnavais nos clubes, das pranchas, carros alegóricos, das tradições regionais que seguia à risca, desfilando de careta por dois dias seguidos na festa de Maragojipe. Fala de sua eterna paixão por Albertino Francisco, que morreu há dois anos. Um quadro desenhado por um retratista eterniza a união de ambos e a faz recordar saudosamente desse amor. Conta que ele era casado com outra mulher, contudo chegaram a morar juntos, e tiveram um filho, que morreu aos quatro meses de vida por motivos que não sabe ao certo explicar. Hoje, transpõe todo cuidado e o carinho à suas bonecas que ficam em sua mesinha, as quais chama de “filhas”.
Uma pausa para olhar no relógio, mãos ajustam o óculos no rosto, certa dificuldade em enxergar as horas é percebida, a preocupação com o horário é devido a programação da TV: - “Gosto de vê Malhação e a Novela das 6 hs”. Tece comentários sobre o vilão, conta as suas preferências e expectativas. Confessa que é pela TV que frequentemente assiste missas, e que na mesinha da televisão um copo com água aguarda diariamente para ser bento pelo padre Robinson, mais é do Padre Marcelo que a foto na parede chama sua atenção, “gosto muito do Padre Marcelo”.
Gosta de ouvir músicas na rádio, seus ritmos prediletos são bolero, sertanejo, samba, mas se enche de entusiasmo para cantar uma música a que adora, cuja letra a anima: “ela canta e eu danço, ela canta e eu danço...”. E releva ainda gostar de poesias, e não se abstêm de recitá-las, uma delas chama atenção:
A Lua
Como vem tão vagarosa,
Ó formosa e branca lua
Vem com a tua luz serena
Minha pena consolar
Geme aos céus, fogueiras antigas
Arma o vento contra o vento
Renova o meu tormento
E me obriga a suspirar

Por um momento, é interrompida por um senhor que passa pelo corredor e não se aflige em cumprimentá-la. Ela o apresenta com certo carinho, diz ser um dos bons amigos no abrigo, “Oi camarado!” fala com euforia. Ele resmunga baixinho algumas palavras, parece reclamar da hora que o café será servido, se apresenta como Gildásio. Pergunto a Dona Antônia se é ele o seu parceiro de dança. Ele se encarrega de responder por ela: “não eu não danço não, quando eu era jovem só catava muito”. Despede-se da gente a passos cuidadosos.
Mais tarde, em conversa com Sr. Gildásio, ele conta ter sido internado contra a vontade no abrigo, conforme ele, foram os vizinhos que não o queriam por perto. Lucia relata, “foram os vizinhos do Sr. Gildásio que ligaram para a justiça, já que ele vivia sozinho, perambulando, não se cuidava mais, se alimentava mal, sua casa estava num estado lastimável”. Por último completa, “luto constantemente contra a visão ruim que se têm dos asilos; as pessoas que estão aqui, são pessoas que trabalharam muito e que à altura da vida necessitam ser cuidadas”.
Em Cachoeira, apenas a Delegacia e o Ministério Público são responsáveis pela garantia dos direitos dos idosos na cidade. Contudo, Igor Vinícius Oliveira, assistente do Ministério Público, adverte que na cidade são raros os casos de violência contra o idoso e os relatos de desamparo familiar chegam a partir de denuncias feitas pela própria comunidade. “Nos três últimos anos, foram apenas 4 casos que chegaram ao nosso conhecimento, todos por abandono imaterial”, relata.
Conforme o art. 229 da Constituição Federal, abandono imaterial é um crime contra a assistência familiar. Assim como os pais são os responsáveis diretos por assistir, criar e educar seus filhos menores, os filhos maiores, também tem o dever de ajudar e amparar os seus pais na velhice ou enfermidade.
A tarde vai indo embora, Dona Antônia fala que hora de ir para a copa, onde gosta de ficar um pouco com os colegas do abrigo, ajudando as funcionárias a tomar conta de Dona Zezé. No corredor sons se misturam, um rádio com uma música baixinha, grilos se revezam entoando ruídos. Da sacada, varais entrecruzados formam com a roupa limpa uma paisagem curiosa. Passo por uma pequena sala com cadeiras coloridas, sigo em direção à copa, o cheirinho de café toma conta do recinto.
Na copa, encontramos Sr. Gildásio, de guarda esperando pelo café. Dona Celina e Dona Eduarda, de mãos dadas e numa atmosfera de cinema mudo, trocam caricias apenas com olhar. Fico encantada, uma funcionária então me explica: “elas se falam com os olhos, são muito amigas”.
Dona Antônia cumprimenta todos e me apresenta Dona Zezé, uma senhora bem debilitada, que teima em se levantar da cadeira a cada ímpeto de força que consegue acumular. Resmunga em voz alta por um certo Bastião: “quero ir embora”, ela diz repetidas vezes, num clamor desafinado pela voz roca que imprime a cada brado. A funcionária me conta que Dona Zezé chama pelo padrinho já falecido. E que por esta mania de se levantar a golpes fulminantes da cadeira, já se machucou feio.
Mais um ímpeto, e uma frase que toca nossos corações: “quero morer....” diz Zezé, num lamento que mais repercute como uma suplica. Dona Antônia retruca, como uma espécie de consolo: “a gente só morre no dia que Deus quiser!”.

O contador de charadas

Ana Clara Barros


O que me chamou a atenção foi a alegria que ele tem, mesmo com todas as dificuldades da vida. A diversão dele é fazer suas charadas para todos, a nossa é ouví-las. Ele é um senhor de 74 anos, que trabalha com a enxada e a foice, plantando e colhendo. Mandioca, milho, feijão, de tudo um pouco. Não vende, só planta para comer. É aposentado e comercializa outras coisas, como diz o anúncio das placas penduradas nas grades pretas em frente a sua casa: carvão e geladinho a R$ 0,20 centavos. É um senhor simples e todos da sua rua o conhecem. Foi assim que fiquei sabendo onde Josuel Batista Santana, esse é o seu nome de batismo, residia. Fui perguntando e quando cheguei próximo ao Posto de Saúde de Capoeiruçu, um vizinho me disse o local exato: - Ele mora naquela casa que tem uma árvore redonda em frente.
A frente da casa é cimentada, com uma grande inclinação. A árvore é um pé de murta, como me diz depois a esposa de Seu Josuel, Vardelice Noberta da Conceição, com seus 63 anos. As paredes da casa têm cor verde-cana e são texturizadas, trabalho feito pelo filho deles. Antes da casa há uma estreita varanda, recoberta com azulejos marrons, onde fica a mesa redonda de plástico, coberta por uma toalha branca de renda e um jarro com flores artificiais azuis. Nas cadeiras brancas de plástico nos sentamos, Seu Josuel e eu. Vardelice ficou em pé, ao lado do marido. Era visível a timidez de ambos. Pareciam descrentes. Expliquei a eles minha missão ali.
Logo Seu Josuel me fala a primeira charada do dia: - O que você compra pra comer e não come?
Depois de um tempo pensando, não vem nenhuma resposta na cabeça. Ele simplesmente responde: - Pratos!
Sorrio e ele demonstra estar mais a vontade. A mulher se diz impressionada, que todos os dias ele chega com charadas novas. Fico admirada com a criatividade de um homem que só fez o ensino básico porque disse não se adaptar ao Mobral.
Seu Josuel tem seis filhos, agora são cinco, um já morreu, como ele próprio diz. A conta dos netos ele já perdeu, mas Vardelice responde firme: são 13.
Peço a ele para dizer mais charadas, ele não hesita e pergunta: - Um rapaz nasceu em São Paulo, cresceu no Rio de Janeiro e morreu na Bahia. O que ele é?
Penso e penso. Digo que não sei. Ele responde: - Finado.
Sem dar uma pausa ele faz outra: - O que é que já nasce pra ser torto, se encobre todo de morto para buscar quem está vivo?
Ele logo responde: - Anzol.
Pergunto para Seu Josuel o que ele acha do caso da menina Isabella. Seu Josuel diz que é uma barbaridade, mas quem fica indignada é a sua mulher, Vardelice, afirmando veemente que foram os pais que mataram a menina e que é um absurdo. Ela diz não acompanhar diariamente o relato das notícias, o único programa que ela não perde, como ela própria diz é a novela de Juvenal Antena. E ainda ressalta que mesmo estando cansada, às vezes cochila, mas tenta assistir.
Seu Josuel faz outra pergunta: - O que é que a gente leva, mas não vê, se tivesse visto não levaria?
Topada. Ele responde.
Vardelice diz que o marido vira um papagaio quando toma duas doses de pinga. Seu Josuel sorri. Um sorriso que mais parece de criança, o que contradiz a sua aparência. A careca no centro da cabeça, e o rareamento do cabelo nas laterais denunciam sua idade. Mas é um senhor conservado, com poucas rugas, privilégio de ser negro. Os dentes são pouco amarelados e intactos, denunciando uma dentadura. O nariz é pouco achatado, as bochechas são salientes e os lábios finos. Só quando me aproximo, percebo que ele tem os olhos azuis, contrastando com o tom da pele. É franzino, julgo eu que pelo trabalho pesado. As mãos são grandes, grossas, cheias de calos. Usava roupas normais de ficar em casa, mas se alguém o vê na rua, com certeza ele estará trajando sua calça de tecido e sua camisa fina três quartos.
Sem cansar ele faz mais charadas: - Quando você está com quinze anos, vai passar para onde?
E responde: - Para dezesseis.
Mais outra: - Por que você acha que o Brasil faz frio?
Não mais espera e responde: - Porque ele foi descoberto.
Seu Josuel tem uma graça especial. Com sua simpatia conquista e faz amizades com todos. É um prazer vê-lo fazendo essas charadas de sua própria criação. É um bom exemplo.

Qual será o próximo point

Por: Aline Pires e Jadson Dias


Ela não sente prazer quando realiza o seu trabalho. Elielma de Carvalho, Eli como prefere ser chamada, é uma mulher de 35 anos que se resume em separação, traição, perda, e descaso social, esta mulher teve a vida marcada por desilusões e muitas cicatrizes espalhadas pelo corpo. Há seis anos, por motivos de saúde e revolta com a traição e abandono do marido, viu na prostituição o único meio de ganhar dinheiro sem precisar usar as mãos. Após viajar por várias cidades do interior a trabalho, Eli chegou a três meses na cidade da Cachoeira, por intermédio de uma amiga e também prostituta. No Point das Morenas, famoso prostíbulo da região, onde encontrou emprego, algumas boas amizades e R$ 25,00 por programa feito. Desse dinheiro, cinco reais ficam para a dona do estabelecimento suprir com os gastos da alimentação e estadia das ‘meninas’ na casa.

Infância e adolescência

Oriunda da cidade de Valença na Bahia, Eli, desde muito nova teve de se adaptar com a separação dos pais. As brigas eram constantes, e cenas de violência doméstica faziam parte do seu cotidiano. Filha única teve que morar ao lado do pai, com quem sempre teve um relacionamento estável. Ainda na infância, descobriu através de exames que tinha esclerose múltipla, uma doença degenerativa, sem cura, que atinge principalmente jovens e adultos. A esclerose múltipla não é letal, mas sua progressão pode acarretar, nos casos graves, em paralisia de membros ou perda da visão. Aos 17 após manter um relacionamento, engravidou de um rapaz, que faleceu em um grave acidente de moto quando ela estava com seis meses de gestação. Mãe solteira, e sem condições financeiras, teve que abandonar os estudos e trabalhar como doméstica. Após anos difíceis, conheceu o homem com quem se casou e viveu durante quinze anos, cuidando e mantendo mãe e filha.

Traição

Em uma quarta-feira nublada, como era de costume, Eli chegou do trabalho, que fazia com muita dificuldade, devido ao atrofiamento de suas mãos. Ao entrar em casa, notou algo diferente, podia-se ouvir suspiros e gemidos vindos de dentro do quarto. Ao se aproximar deparou-se com a cena que mudaria completamente o rumo da sua vida. Totalmente nu, seu marido se contorcia de prazer agarrado a uma mulher em sua própria cama. Após alguns instantes de observação pode perceber que se tratava da sua vizinha. Pessoa em que depositava total confiança e jamais esperava tal atitude.
Após descobrir a traição, Eli se separou, e daí por diante sua história mudou de configuração. Sem poder trabalhar, pelo avançado estágio da doença, e sem poder manter a sua filha adolescente, foi apresentada ao mundo da prostituição onde vive até hoje.

Prostituição

Quando o assunto é prostituição, diversas polêmicas surgem e há opiniões divergentes. Por um lado existem aqueles que acham uma profissão como qualquer outra, por outro, existem os defensores da “moral” e do “respeito”, não admitindo a hipótese da regulamentação da profissão. Fato é que a história relata casos de prostituição desde os primórdios da sociedade, “a profissão mais antiga do mundo”, como afirmou Elielma.
Existe um projeto em andamento para modificar determinados artigos em vigor que é o de nº98, de 2003(Do Sr. Fernando Gabeira), em que dispõe sobre a exigibilidade de pagamento por serviço de natureza sexual. Na Bahia, as profissionais do sexo da Associação das Prostitutas da Bahia (Aprosba) colocaram no ar uma rádio chamada Rádio Zona, que visa combater o machismo, racismo, homofobia e a estigmatização das prostitutas e garantir os direitos humanos e sexuais. Na associação as profissionais do sexo lutam por seus direitos e, além disso, fazem com que a sociedade supere preconceitos e discriminações.
Eli defende a regulamentação da profissão, pois segundo ela é como qualquer outro trabalho que exige horas de dedicação e esforço. “Segunda é meu dia de folga, não tem quem me faça trabalhar na segunda. Também sou filha de Deus e mereço um dia, pelo menos, de descanso”, comenta.

Aposentadoria

Sempre a passos lentos, quem a vê de longe, pode notar sua dificuldade em se locomover. Suas pernas parecem desalinhadas, uma maior que a outra, devido a forma como ela manca. Uma faixa preta está sempre fixada em seu joelho esquerdo. E segundo ela, as dores aumentam com o frio e ela já prevê a impossibilidade de estar trabalhando na cidade da Cachoeira com a chegada do inverno no mês de junho.
Devido ao agravamento do seu estado de saúde, Eli já pensa em dar entrada novamente no pedido da aposentadoria sendo o que a primeira tentativa foi negada devido a burocracia do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social). Praticamente inválida e já tendo sofrido duas paradas cardíacas, sua visão comprometida devido à medicação que é submetida, e as articulações degeneradas, as suas possibilidades de contornar esta situação são limitadas. Só lhe resta agora uma certeza. A de que a vida pode chegar ao fim a qualquer instante, e que esse tenha sido o seu ultimo point.

Saudoso rio Subaé

MEIO AMBIENTE: Rio Subaé passou por severas transformações e hoje as pessoas relembram tempo em que ele era limpo.
Por Marlene Lima


Vagarosamente ele corta as terras, rompe barreiras e chega ao seu destino. Impiedosamente suas águas transbordam, causam caos, famílias perdem pertences pessoais, pessoas ficam sem ter onde dormir quando chega o inverno e a chuva parece cair sem parar.
Sua terra natal, Feira de Santana. No percurso diário ele banha terras de muitos outros lugares por onde passa. Arraial do Limoeiro, São Gonçalo dos Campos, Campinhos. Antes de penetrar terras santo-amarenses, ele recebe as águas do riacho de Itaquarí. Já em terras santo-amarenses recebe os afluentes Traripe e Sergi Mirim.
O rio Subaé foi o berço para a construção da cidade de Santo Amaro da Purificação, desempenhando importante papel na economia e desenvolvimento locais. Quando, no século XVI, os portugueses chegaram por aqui encontraram às margens deste rio os índios Abatirás, os quais logo foram expulsos. Às suas margens, ao longo da história, casas foram construídas, o comércio foi estabelecido e a cidade foi formada. Muitas crianças nele brincavam, tomavam banho, as donas de casa lavavam roupas, algumas famílias tiravam dele o sustento. “Os meninos pegaram ‘amoreira’, êta peixinho bom. Mas não pegaram só isso não. Tem bagre também. E esses aí têm mais de um palmo. A mesa hoje vai está farta.” Relembra, a historiadora Zilda Paim.
Em suas margens matos, muito mato, todos os tipos de mato. Em suas margens lixos, lixos de todo tipo; e não só nas margens, dentro dele também. Suas águas estão sujas, barrentas, sendo penetrada por esgotos. Seus peixes não são mais saudáveis à alimentação. Mas isso não significa que sempre foi assim.
“A água é bem clarinha, dá pra ver a areia e ela é bem clarinha. Olha aquelas pedrinhas de seixo, dá pra gente brincar de capitão de areia. Vamos meninas, vamos logo, antes que a mamãe nos chame pra casa. Ainda quero andar de canoa e ver os peixes pularem dentro dela.” Relembra, Zilda.

“Progresso Vazio”

Segundo a historiadora Zilda Paim, a devastação do rio começou quando em meados dos anos 60/70 foi criado em Feira de Santana o Centro Industrial do Subaé (CIS). Desta forma, todos os resíduos produzidos pelas fábricas de Feira desciam para rio. Somado a isso, está a instalação da Companhia Brasileira de Chumbo (Cobrac) subsidiária da empresa francesa Penarroya, na cidade de Santo Amaro. Os resíduos industriais da Cobrac eram jogados no rio, contaminando-o e também a população que até hoje sofre as conseqüências. Esperava-se progresso e desenvolvimento para a cidade, porém as devastações foram mais perceptíveis e vivida pela população. Paim, comenta ainda que, o rio Subaé tinha 1,5m de profundidade, mas que as enchentes traziam muita areia e hoje esta profundidade não chega a 1m.
A devastação do rio Subaé foi letra da música de Caetano Veloso, “Purificar o Subaé”.

Purificar o Subaé
Mandar os malditos embora
Dona d'água doce quem é?
Dourada rainha senhora
Amparo do Sergi Mirim
Rosário dos filtros da aquária
Dos rios que deságuam em mim
Nascente primária
Os riscos que corre essa gente morena
O horror de um progresso vazio
Matando os mariscos e os peixes do rio
Enchendo o meu canto
De raiva e de pena
Lembranças

Seu Ivo Souza, 79 anos, lembra saudosamente sua infância, das brincadeiras que ele e seus amigos faziam no rio.
-Pés descalços, sem camisa, a gente corria pra brincar no rio. Naquela época não tinha aquela ponte ali não, olhe.
Apontando para a ponte que liga o bairro do sacramento com a rua que vai dá na praça da Purificação.
-Ta vendo onde está aquela escola? Ali só tinha era roça. E a gente brincava no meio das roças.
Agora ele aponta para a escola Estadual Pedro Lago. Sentado em um banco de madeira, no fim de uma tarde de quinta-feira. Seu olhar está fixado no rio, vez ou outra fala com um amigo que passa. Em meio a um sorriso de uma criança que ganhou um brinquedo novo, ele relembra sua época de menino.
-Às vezes a gente vinha brincar no rio e tomava banho de noite mesmo. O rio naquela época era limpo. A gente tomava banho, as mulheres lavavam roupa, a gente bebia a água dele. Hoje ninguém pode mais utilizar este rio. Algumas pessoas pescam, mas não são alimentos saudáveis.

Destino

O rio agora está chegando ao seu destino. Ele encontra-se com o rio Pitinga e passa a se chamar Sergipe do Conde. Chegarando à Baia de Todos os Santos. Não se sabe ao certo qual será seu destino em relação à sua preservação.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Johrei: Terapia Energética

RELIGIÃO/SAÚDE A ciência tem comprovado a eficácia do Johrei nos tratamentos de diversas doenças.

Por Joseane Vitena
Ao levantar da mão do ministrante do Johrei em minha direção, a energia transmitida é surpreendentemente logo sentida. Num ambiente calmo, bastante iluminado, os nossos ouvidos são invadidos por uma música baixinha tão relaxante que faz qualquer pessoa esquecer naquele momento a correria, os problemas e conflitos do dia-a-dia.
Ao chegar ao Johrei Center (Casa de Johrei), como é denominado o local aonde os messiânicos (membros da Igreja Messiânica Mundial do Brasil) e não-messiânicos se reúnem para ministrar e receber Johrei, a recepção é tão aconchegante que é possível se sentir em casa ou mesmo como se conhecêssemos aquelas pessoas há muito tempo, como se todos já fossem nossos amigos.
O ato do johrei é impressionante. Não é necessário fazer nada, tudo está sobre o controle divino. O ministrante é apenas um instrumento. A pessoa que direciona a energia é chamada de ministrante, e a distância entre este e a pessoa que recebe é de trinta centímetros a um metro. Sentados de frente um para outro, o ministrante une as mãos em oração, faz uma pequena reverência pedindo a Deus que o utilize como um instrumento para canalizar a Luz Divina, em seguida, com postura, coluna ereta na cadeira, o ministrante levanta uma das mãos e simplesmente se deixa ser utilizado como instrumento de Deus, quando uma mão cansa a outra é levantada imediatamente e assim segue alternando-as. Uma sessão de Johrei dura em média 15 minutos, são cinco minutos na parte frontal do corpo, dez minutos nas costas e retorna a posição inicial para encerrar a sessão agradecendo a Deus. Neste momento o ministrante numa forma de carinho e atenção segura em nossas mãos e deseja muitas coisas boas. “Deus e Meishu-Sama te dê muita luz e proteção”, diz Antônio Mário Fernandes da Silva ao encerrar a sessão de Johrei.
Antônio conta que tem várias experiências com o Johrei, e relata sua dedicação diária na obra divina. “Mesmo não tendo uma boa noite de sono, como sempre desejo ter, todos os dias levanto e vou para o Johrei Center, e quando entro lá eu me transformo ligo meu coração ao Messias e peço permissão de servir a ele e a humanidade e fico a disposição não só dos fies mais de qualquer pessoa que queira conhecer a Filosofia de Mokiti Okada ou receber Johrei comigo”. Antônio Mário que tem 51 anos, estatura média, cabelos pretos cortados bem curtos, olhos castanhos reveladores de muitas experiências, sempre vestido formalmente de terno e gravata às vezes azul marinho às vezes preto, há dez anos ministra johrei e hoje ele é Ministro da unidade do Johrei Center da cidade de Muritiba. O ministro é o sacerdote da Religião Messiânica.
Das várias experiências com Johrei o Ministro Antônio Mário primeiro conta a ocorrida com sua filha: “no nascimento da minha segunda filha, minha esposa e eu pudemos comprovar ainda mais a nossa fé no Johrei, minha filha nasceu com uma doença chamada equitiricia. No hospital os médicos deram a guia de internação de imediato, mas nós não internamos, fomos para casa e decidimos por ficar apenas com o johrei. Fomos chamados de malucos. Os médicos disseram que ela poderia ter um retardamento metal, porém nada foi comprovado, nada aconteceu, hoje ela está ai muito bem, tanto é que esta grávida. Uma outra experiência foi com minha cunhada, ela tinha um câncer no estômago e os médicos já haviam desenganado, pois uma cirurgia de nada adiantaria apenas complicaria o caso. Ela chegou a ir numa loja escolheu e comprou o vestido que gostaria de ser enterrada, porém com a ação do Johrei ela decidiu fazer a cirurgia em que ocorreu tudo bem, continuou recebendo Johrei e hoje está curada. A minha experiência de fé, então, é arrebatadora, a medicina até hoje desconhece casos de cura como o meu. Eu tive uma TB Óssea (Tuberculose Óssea) com degeneração discal, onde perdi duas vértebras e a parte superior do meu abdome desceu. Decidi receber Johrei intensamente, e hoje estou aqui normal como qualquer outra pessoa que nunca teve complicações deste tipo. Isso para a medicina é impossível, um ser humano passar por esta situação e ainda conseguir andar, mas aconteceu comigo, e o mais importante, sem tomar nenhum medicamento.
Mokiti Okada ou Meishu-Sama (Senhor da Luz) foi quem desenvolveu o Johrei e a Filosofia da Salvação. Japonês nascido em Tóquio, Mokiti Okada experimentou pessoalmente as contradições nos tratamentos oferecidos pela medicina moderna. Passando por várias doenças ele fez uma caminhada em direção a elaboração de um método de cura natural, até chegar ao Johrei.
O Johrei é palavra criada por Meishu-Sama com a junção de dois ideogramas da língua japonesa que significam JOH – “purificar” e REI – “espírito”, para denominar o método de canalizar com as mãos, a poderosa energia que, pela sua origem e benefícios, é considerada Luz Divina. O Johrei elimina as impurezas impregnadas no ser humano, revitalizando sua força natural de recuperação, também chamada força curativa natural. “A energia do johrei não é uma energia humana é uma energia espiritual, ela vem do supremo até nós através do Ohikari (medalha que fica no pescoço do ministrante até a altura do peito contendo um papel escrito Hikari, que significa Luz) e pela palma da mão, então essa energia espiritual é considerada uma energia com poder de atender a todos os pedidos do homem”, diz o Ministro.
Existem pontos do corpo humano para qual a energia deve ser dirigida, como por exemplo: ombros, cabeça, rins, parte superior das costas e pescoço.
A ciência tem comprovado a eficácia do Johrei nos tratamentos de diversas doenças e vendo-o como a base da medicina do século XXI. As pesquisas cientificas indicam que o Johrei não é apenas um modismo, mas um tratamento com resultados comprovados em laboratório.
O responsável pelos primeiros estudos científicos sobre o johrei e a forma como ele atua nas pessoas foi o Dr. Andrew Weil, pesquisador renomado, da Universidade do Arizona nos Estados Unidos. Weil considerou o Johrei como extremamente eficiente a ponto de considerá-lo o “tratamento médico energético do futuro”.
Um dos experimentos feito para medir as ondas cerebrais tanto do ministrante quanto de quem recebia a energia, comprovou que nas duas pessoas envolvidas as ondas dominante foram a alfa, responsável pelo estado de relaxamento do cérebro e a teta que surge nos momentos de meditação profunda. Essas duas ondas fazem com que o cérebro libere uma substância para acalmar a dor e o estresse, recupera a fadiga e ainda tem a função de revitalizar as células NK (importantíssimas no sistema imunológico). Estas células têm a função de destruir rapidamente quaisquer vírus e bactérias que invadam o organismo humano, como é o caso das células cancerígenas. Um outro experimento consistia em recolher células NK a partir das amostras de sangue dos praticantes do Johrei e colocá-las para lutar contra as células cancerígenas. Depois de quatro horas por sistema de radiação, fazia-se a medição de qual porcentagem das células cancerígenas tinham sido destruídas. Com a análise dos resultados chegou à conclusão de que aquelas que praticavam johrei há mais de cinco anos possuíam um sistema imunológico até duas vezes mais eficiente do que uma pessoa que nunca praticou o johrei.
Todos os dias é possível encontrar no Johrei Center o senhor Raimundo Santos, que com 78 anos de idade, há 33 anos conhece o johrei. Cabelos grisalhos, olhos e pele negros, estatura média, sempre vestindo cores neutras como moram e bege, com um andar devagarzinho e uma voz baixinha, fala que uma das experiências que mais marcou sua vida na fé foi ter conseguido ver a ação do Johrei em seu vizinho que estava tendo um AVC (Acidente Vascular Cerebral): “eram três horas da madrugada, eu estava dormindo com minha esposa, quando minha vizinha chegou desesperada em minha porta, pedindo para que nós a acudíssemos. Muito ofegante ele dizia que seu marido estava morrendo. Fomos todos para casa dela, quando chegamos lá, ele estava entre a cama e guarda-roupa estirado no chão espumando muito, eu cheguei a ficar com medo, olhei e disse este homem está morrendo. O pegamos colocamos na cama e começamos ministrar johrei. Minha vizinha desesperada para lá e para cá, ia à porta e voltava, começou a dizer que chamaria um médico, e minha esposa perguntou se ela não tinha fé em Deus, demorada meia hora mais ou menos ele abriu os olhos, e perguntou o que havia acontecido com ele, contamos o que havia sucedido e pedi para que ele pegasse em meu braço e ele conseguiu firmemente, estirou as pernas, os braços, eu percebi que ele já estava bem, isso me marco profundamente”, disse o Sr. Raimundo.
Criado por Mokiti Okada e desenvolvido inicialmente no Japão, o Johrei hoje é praticado no mundo por mais de 5 milhões de pessoas. O ministro Antônio Mário, ressalta que qualquer pessoa pode receber o Johrei independente da sua religião, “o johrei é da humanidade e não dos messiânicos”. Entre os resultados comprovados com a prática do Johrei podemos citar:
A mente e o corpo ficam mais relaxados, a circulação sanguínea melhora aumentando a saúde do praticante;
Desenvolve-se uma predisposição maior em ser mais gentil e tolerante com as demais pessoas, seja no lar, no ambiente de trabalho ou em qualquer lugar;
Desenvolve a capacidade de concentração e memorização, além de conseguir controlar melhores seus sentimentos;
O praticante tem seu caráter aprimorado, ganhando mais confiança e podendo assumir posições de liderança com maior segurança.
5. Fortalece-o para que ele possa ultrapassar osdesafios da vida;
6. Torna-o saudável física e espiritualmente;
7. Fortalece o sentimento de gratidão e altruísmo.
8. Expande a sua aura, protegendo-o dos infortúnios;
9. Eleva a sua inteligência e a sua personalidade;

"E agora, José?"

Por Elton Vitor Coutinho

Era por volta das cinco horas da tarde. O sol já procurava o poente para que a noite caísse sobre a cidade da Cachoeira. Aqui, numa humilde casa rosa, encontrava-se José Carlos Pereira dos Santos, de 40 anos de idade, a se lamentar.
A porta estava entreaberta. Empurrei mais um pouco para visualizar melhor quem estava no interior daquela casa. – José Carlos? Perguntei em tom vocativo. Sentado sobre dois colchões em mau aspecto, que servia também como sofá, o próprio me atendeu com uma voz arrastada que mais parecia a de um pião cansado da obra. A sua pele negra e enrugada e o seu olhar assustado compunham uma única face.
Mesmo me vendo pela primeira vez, nem perguntou o meu nome. Pediu que eu adentrasse. Entrei e me identifiquei. Falei o motivo da minha visita. Os seus olhos castanhos, agora, já me olhavam como os de um adolescente que vê no futuro uma esperança. Puxei a cadeira e, com um bloquinho de notas, fui relatando a história de José Carlos Pereira dos Santos, que você, amigo leitor, passará a conhecer a partir de agora.
Nascido em Governador Valadares – Minas Gerais -, José Carlos é pintor e jardineiro. Entretanto, reside, há vinte e dois anos, na cidade da Cachoeira, interior do recôncavo baiano.
Voltando mais uma vez para a sua casinha no Caquende, após trabalhar como voluntário no Colégio Estadual da Cachoeira, ele se juntou às suas companhias domésticas. Apenas um televisor em preto e branco de dez polegadas, uma estante de ferro lilás, uma mesa e três cadeiras, um espelho quebrado, algumas camisas penduradas no prego, panelas amassadas e só. O pai falecido, não tem nenhum parente em Cachoeira. Todos permaneceram em Minas Gerais enquanto ele veio à Bahia tentar melhores condições de vida. Porém, de melhor, nada encontrou.
Aos 18 anos de idade tirou os seus documentos em Belém da Cachoeira, localidade próxima à cidade. Aos 36 perdeu o RG, CPF, Carteira de Reservista e a Certidão de Nascimento. Até hoje não entende onde e como isso aconteceu.
Ao chegar ao cartório para tirar a certidão de nascimento e assim fazer os outros documentos perdidos, José Carlos Pereira se deparou com uma situação que jamais imaginaria passar. No lugar da certidão de nascimento recebeu um atestado de óbito.
Os casos de homônimos no Brasil estão cada vez menos raros. A partir de 2006, segundo relato do Jornal Hoje do dia 09 de novembro de 2006, os registros de nascimentos com o mesmo nome e sobrenome se intensificaram. O caso de José Carlos Pereira dos Santos é apenas mais um. É também mais um dos descasos que o cidadão brasileiro passa por ser, talvez, de família de baixa renda.
Desde 2004 que José é tido como falecido. A sua reação foi de desespero. A primeira pergunta, até então sem resposta, que apareceu em sua mente foi, “como isso pôde acontecer?”. A única saída era ir ao Fórum de Cachoeira e procurar um advogado. “Como um semi-analfabeto, sem nenhum parente para orientar, poderá arrumar um advogado?”. Essa foi a sua segunda indagação.
Como não tinha condições de pagar um advogado particular foi-lhe indicado a defensoria pública da cidade. “Entreguei a certidão para o secretário do promotor e até hoje ele não me devolveu”, informa Pereira. Já têm dois anos que o caso está na justiça e até hoje nenhuma resposta. “Vou lá no fórum direto. As vezes o promotor nem me atende e quando atende diz que está tentando me ressuscitar”, ainda conclui.
Sustentado pelos “irmãos” da Igreja Batista onde congrega, Pereira vai levando a vida sem emprego, sem família, “sem lenço e sem documento”. Mais uma tarde no fórum, e nada. Outra conversa com o promotor, e nada. Seis meses que tirou as digitais para a perícia, e nada. “E agora, José?”.
Quase dois anos já se passaram. O homônimo trabalha sem remuneração. Sente cansaço constante, mas não pode ir ao médico. Ambos requerem os documentos necessários, dignos de todo cidadão. “Eu preciso que a justiça tome uma providência, que olhe os meus direitos, os direitos do ser humano”, afirma Pereira.
As ruas da cidade não mais lhe distraem. “Tenho medo de sair na rua. Já pensou a polícia me pegar sem documento, me perguntar o que eu faço e eu responder: nada. Vai dizer que sou um marginal”, desabafa.
Essa é a vida que José Carlos Pereira dos Santos leva há um bom tempo. Muito parece com o “José” de Drummond. A única diferença entre os dois é que Drummond disse: “Mas você não morre, você é duro, José” e o José que acabei de apresentar, morreu mesmo estando vivo.

domingo, 27 de abril de 2008

Ser emo ou não ser, eis a questão



Texto e Ilustração: Ilani Silva



A franja roxa deslocada para o lado esquerdo, cobria-lhe os olhos, se alguém o observava, poderia interrogar-lhe sobre como poderia estar enxergando. A tinta preta da maquiagem logo abaixo da visão dava-lhe a impressão de dor e sofrimento. As roupas não poderiam ser de outra tonalidade. Eram da cor das trevas. Usava calças jeans e camisa de manga comprida, surpreendentemente apertadas contra a carne e por isso podia-se perceber todo o contorno de seu corpo. A primeira frase a caracterizar este indivíduo seria por muitas pessoas: “Só podia ser emo”.

Não precisava ir muito longe para encontrar um emo. Visitei algumas páginas na internet, mas a minha maior dúvida era, o que é de fato ser emo? Entrei na comunidade do orkut: Eu sou emo e você que é invejoso. Lá encontrei alguns depoimentos e pessoas com as mesmas dúvidas que eu. Um menino que se identificava como Srt° Ákila comentou em um dos tópicos:

- É preciso franja para ser emo? Eu não posso ter franja por causa da escola, mas eu sei que eu sou emo. Eu sempre estou assim, sentindo esse vazio no peito, eu fico bravo com as injustiças do mundo e tudo mais. Eu me sinto como uma marionete que não faz seu próprio destino. Quando estou a fim de uma menina eu choro. Quando fico um dia sem vê-la choro, para falar a verdade eu choro com quase tudo. Uma vez minha tia falou que eu era uma doença para ela. Depois disso eu chorei o dia todo. É por isso que acho que sou um emo.

Franja? Choro? Vazio? Não fiquei satisfeita. Fui ao shopping, e encontrei por lá Ricardo Vianna o guitarrista da banda Emo 71 de Feira de Santana. Seu cabelo tinha um visual diferente era liso, preto e arrepiado, será que ele levou um choque? Perguntei-me. A camisa de cor preta parecia um pouco desbotada, a calça era comum, do tipo jeans. Ele vinha com um capacete na mão. Emo de capacete? Pensei. Sentamos numa mesa na praça de alimentação. Conversando, ele me explicou:

- O emocore surgiu na década de 80 nos Estados Unidos. É uma união de vários estilos, sendo sua principal influência o punk. Suas letras giram em torno de conflitos amorosos, indignação com o mundo e são bastante introspectivas. A palavra emo é uma abreviação de emotion que significa emoção, não é a toa que as letras das músicas são bastante sentimentais. Porém bandas como Nx Zero, Strike, Fake Number, eu não considero bandas emos, para mim elas fazem parte do estilo hardcore melódico. O que faz com que esses dois estilos se assemelhem (o emocore e o hardcore melódico) é o visual das bandas que incorporaram o estilo dos anos 80.

Geralmente os emos vestem roupas pretas com estampas de desenho animado, botas punk, tênis rosa, colares de bolas, camisas justas, meias arrastão, presilhas no cabelo, cintos de rebite, piercings no canto do lábio, possuem longas franjas e pintam os olhos. É por isso que quando vi Ricardo o achei tão diferente do estereótipo formado dos emos. Mas toda regra tem sua exceção.

As idéias presentes nas letras do emocore transcenderam a música e se tornaram um estilo de vida:

- Os emos brasileiros possuem idade entre 12 e 20 anos, são pessoas extremamente meigas, não possuem preconceito pela escolha da opção sexual, repudiam a violência. Porém acabam exagerando no visual e na forma como se relacionam.

É verdade. Na internet, quando vemos pessoas substituindo o “S” de palavras por “X”, pensamos logo: É emo. Por exemplo, um dia entrei no perfil de um emo, e em uma das legendas de suas fotos tinha: “Esse aqui é meu miguxo que amo muito aximmm”.

O conhecimento dessa nova tribo surgiu da interação através da internet. As bandas saíram do anonimato, e ganharam um grande espaço na mídia.

Em meio essa explosão de idéias e sentimentos de paz, amor, igualdade sexual e não a violência. Passaram a existir as pessoas contra esse estilo de vida. A jovem produtora de shows Safira Parente, 18 anos, desistiu de investir em Feira de Santana por causa de ter sido alvo de muitos preconceitos.

- Não podíamos colocar uma banda de emocore nos eventos, que o pessoal já ficava me chamando de “Produtora Emo” ou dizendo que faço parte da burguesia elitizada.

No orkut a presença de comunidades do tipo “eu odeio emo” são freqüentes e de acordo com a pesquisa feita pelo aluno Francisco dos Santos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, essas já passaram de mil. As demonstrações de afeto em público feita pelos emos, sem distinção de sexo, são alvos de homofobia. Ricardo contou-me que as pessoas fazem uma relação entre emos e homossexuais.

O guitarrista da banda Emo 71, ainda me disse que já foi agredido verbalmente no shopping por rapazes afrodescendentes que o ameaçaram de morte.
- Eu estava andando pelo shopping quando vi uma amiga minha no meio desses rapazes, eles estavam brigando com ela, dizendo que emos são preconceituosos. Entrei no meio para defendê-la e eles também me fizeram as mesmas ameaças. E olha que a gente nem conhecia eles.

Por sofrerem com tantas discriminações é que muitos jovens adeptos do estilo de vida emo não gostam de afirmar que fazem parte do grupo. E foi difícil encontrar um emo que afirmasse ser emo para essa matéria.

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ENTREVISTA/CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA

Jornalista que assume cargo na terça defende um produto com menos assuntos e mais análises; para ele, cobertura do caso Isabella mostra que a mídia estimula o que há de pior nos instintos humanos

Jornal precisa encontrar seu novo papel, diz ombudsman

DA REDAÇÃO

NOVO OMBUDSMAN DA FOLHA , Carlos Eduardo Lins da Silva, crê que os jornais brasileiros vivem um momento contraditório. Pelo lado bom, não sofrem da crise de credibilidade que acomete os diários norte-americanos. Pelo ruim, estão perdendo o poder de influenciar a opinião pública. Segundo ele, está na hora de os jornais decidirem que papel vão ter na concorrência com outros meios, como a internet, as rádios e a TV. Defende que o futuro está num produto mais focado, com menos assuntos e mais analítico.Lins da Silva passa a atender os leitores e a redigir uma crítica interna na próxima terça-feira, dia 22. Sua primeira coluna dominical será publicada no dia 27 no caderno Brasil. Na entrevista abaixo, ele fala da proliferação de blogs, da cobertura do caso Isabella e do impasse que culminou com a não-renovação do mandato do ocupante anterior do cargo.

FOLHA -Jornais brasileiros e americanos vivem situações opostas. Lá eles perdem circulação e receita com publicidade. Aqui cresceram as vendas e o volume de anúncios. Qual a razão desse descolamento?

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA - O que acontece no Brasil é uma coisa ilusória e acho que os jornalistas brasileiros não deveriam se iludir com esse bom momento. Primeiro, porque a internet não está muito disseminada aqui como nos EUA. Segundo, nós estamos vivendo esse boom da economia que eu acho que é passageiro. Nos EUA, ao contrário, a internet é quase universal e a economia está começando a sofrer os primeiros tropeços. Na minha opinião, é irreversível a tendência de os jornais impressos perderem circulação.

FOLHA - É a internet que tirará esse público dos jornais?

LINS DA SILVA - Eu acho que a internet já está tirando público e publicidade dos jornais. E será assim se o jornal impresso não revir a sua existência.

FOLHA - Você não acredita que possa crescer o número de leitores de jornais impressos com mais pessoas alfabetizadas e com mais dinheiro no bolso? Nos EUA, nos anos 60, 80% dos americanos com 18 anos ou mais liam jornais durante a semana. Hoje, ainda são cerca de 50%. O Brasil nunca chegou nem perto disso.

LINS DA SILVA - O problema é que no Brasil o crescimento dos meios de comunicação foi atropelado. Nos EUA, o desenvolvimento do capitalismo foi mais ou menos ordeiro. Houve a afluência monetária, que atingiu grande parte da população. Houve a conquista de direitos trabalhistas, que garantiu mais tempo para o lazer. Houve a alfabetização universal. Tudo isso levou a que quase todo mundo lesse jornal. Depois disso surgiu a televisão, a internet. No Brasil, não houve distribuição homogênea de riqueza, ainda há muitos analfabetos e você teve, antes de a leitura de jornais se universalizar, a chegada da televisão e da internet. Então, acho que essa universalização nunca vai ocorrer.

FOLHA - Para enfrentar a perda de circulação, alguns jornais americanos apostam na hiperlocalidade. Focam cada vez mais na própria comunidade. Essa será uma tendência para o Brasil?

LINS DA SILVA - Não sei se isso vai funcionar nem nos EUA. Há uma outra diferença entre os jornais americanos e brasileiros, que é a questão da credibilidade. Lá, eles passam por um momento de perda da credibilidade. Aqui, não. Mas, voltando à questão, não sei se essa é uma solução para os jornais impressos. Porque, também para o provimento da informação local, a internet é um meio mais adequado. Você pode comprar seu ingresso de cinema pela internet. Você pode saber o cardápio do restaurante pela internet. Você não tem como prestar esse tipo de serviço nas páginas do jornal. Para mim, a saída para o jornal impresso é apostar na profundidade, na qualidade e ter mais foco, tratar de menos assuntos. Porque isso a internet não pode dar. O jornal impresso precisa procurar o tipo de conteúdo em que ele se sai melhor, em vez de insistir em competir com a internet naquilo que ela pode oferecer com mais comodidade para o leitor.

FOLHA - Alguns jornais ingleses tentam esse modelo mais focado e mais aprofundado, mas não obtêm mais leitores com isso.
LINS DA SILVA - Eu acho natural que esse modelo que eu defendo tenha menos leitores que o modelo atual. Porque esse novo jornal não deverá atender a todo o universo de possíveis leitores. Ele deve ser dirigido para uma parcela mais específica da população. Pode ter menos circulação, mas gastará menos com papel e poderá ter mais publicidade, focada para aquele público. E o mais importante, ele pode ter mais influência social do que esse jornal dirigido ao público em geral, que é muito caro para ser produzido.

FOLHA - Do ponto de vista da qualidade da informação, deixando de lado circulação e publicidade, você acha que os jornais brasileiros vivem um bom ou mau momento?

LINS DA SILVA - Acho que vive um bom momento, uma vez que não perderam credibilidade, como aconteceu nos EUA. Por outro lado, acho que os jornais brasileiros perderam o poder de influenciar. O maior exemplo foi a eleição presidencial de 2006. Era claro que a maioria dos jornais preferia que Lula não tivesse vencido. No entanto, Lula teve dois terços dos votos. Da mesma forma, no momento do mensalão, a maioria dos jornais de qualidade no Brasil preferia que o desfecho fosse outro.

FOLHA - Qual é o grande desafio dos jornais impressos hoje?

LINS DA SILVA - É definir qual papel terão. Principalmente para manter a influência. O jornal terá que encontrar seu lugar, como o rádio encontrou. Muitos diziam que o rádio morreria com a chegada da televisão. Não foi o que aconteceu. Hoje o rádio está num ótimo momento. Ele descobriu que seu espaço não era mais ser como a Rádio Nacional foi em meados do século passado: o centro das atenções da família no horário nobre da noite. Perdeu audiência, sim. Na época, 80% escutavam a Rádio Nacional. Hoje, 1%. O mesmo vai acontecer com o jornal impresso.

FOLHA - A internet trouxe mais participação dos leitores. Você vê futuro nessas experiências que usam o leitor como provedor de conteúdo?

LINS DA SILVA - Sou bastante cético com relação a isso. Essa suposta democratização da internet, que permitiria ao cidadão ser repórter, é muita demagogia. O público precisa de informação apurada com rigor, com método. Só algumas pessoas, que têm jeito e experiência, conseguem fazer isso.

FOLHA - Este será um ano eleitoral no Brasil. Com isso, o ombudsman deve ser muito procurado por assessores de políticos e também por leitores que acreditam que o jornal está protegendo esse ou aquele candidato. Como você pretende fazer essa fiscalização da neutralidade do jornal e, ao mesmo tempo, separar o que é paixão política, ou interesse de assessores, da opinião mais objetiva de leitores?

LINS DA SILVA - Esse será um dos meus desafios. Eu acho que o jornal tem o direito de endossar um candidato. Não acho que deva, mas tem o direito. Por outro lado, no noticiário, o jornal não tem o direito de endossar um candidato. Ele tem que fazer uma cobertura o mais próximo possível do isento. Como você sabe, não existe objetividade absoluta. Mas existe algo próximo disso, que é equilibrar o espaço dado aos candidatos, não adjetivar, dar enfoque mais ou menos justo para os principais concorrentes. Eu não gosto muito da palavra fiscalização, mas a observação que vou fazer será baseada nisso. Tem que haver equilíbrio e o máximo de isenção possível. É claro que nunca ninguém ficará satisfeito. Mas a medida do sucesso é sempre ser atacado de todos os lados. Quando mais ataques o jornal receber de todos os lados, mais próximo do equilíbrio ele estará.

FOLHA - A internet permitiu também a proliferação de blogs, muitos com enfoque político. Você acha que esses blogs já conseguem influenciar a opinião pública?

LINS DA SILVA - No Brasil, com certeza não. Nos EUA, sim. Essa influência está sendo sentida na eleição presidencial. No entanto, eu acho que é uma influência ruim, perniciosa. Os blogs tendem a acirrar as divisões. Por exemplo, eu acho que essa disputa entre a Hillary Clinton e o Barack Obama está sendo prejudicada pela divisão que os blogs atiçam entre negros e brancos, entre mulheres e homens, entre trabalhadores industriais e profissionais liberais, que é a divisão que se estabeleceu na demografia eleitoral da Hillary e do Obama. No Brasil, é parecido, mas é muito menor porque é pequeno o número de pessoas com acesso à internet e que lêem esses blogs. Mas cria-se um mal-estar por causa do radicalismo de alguns deles, que não argumentam, ofendem. Descem a um nível que nem se pode chamar de debate. E isso contamina o tal formador da opinião pública, que muitas vezes lê esses blogs e acaba sendo contagiado pelo radicalismo, o que cria situações artificiais. A disputa entre petistas e tucanos é muito artificial porque não há tanta coisa que distancie um partido de outro. Mas ela é muito prejudicada pelas pessoas que lêem e até participam desses blogs e se dividem de uma forma muito odiosa.

FOLHA - O ombudsman anterior, Mário Magalhães, condicionou sua permanência no cargo a que o jornal voltasse atrás de decisão tomada no ano passado de não mais divulgar na internet a crítica interna, que, no entender da Direção de Redação, estava sendo usada pela concorrência e instrumentalizada por jornalistas ligados ao Planalto. Você acha que a crítica deveria ser pública?

LINS DA SILVA - Do ponto de vista do ombudsman, acho que essa questão é irrelevante. Do ponto de vista do jornal, inócua. Irrelevante porque qualquer coisa importante da crítica interna poderá estar na coluna de domingo, que é pública. O leitor, então, não perderá nada. Já para o jornal, acho que a medida é inócua porque o fato de ser restrita à Redação não vai impedir que a concorrência e grupos políticos tenham acesso a ela. É impossível impedir que algo que seja distribuído a mais de uma centena de jornalistas não vaze para fora do jornal. Acho que o impasse foi gerado por uma questão que não precisaria tê-lo provocado, nem de um lado nem de outro. O que lamento muito, porque considero que o Mário estava fazendo um bom serviço como ombudsman e isso beneficiava o leitor e o jornal.

FOLHA - Os últimos ombudsmans focaram suas colunas dominicais na cobertura da Folha. Você fará o mesmo ou pretende fazer uma análise mais ampla de toda a mídia?

LINS DA SILVA - Não tratarei na crítica dominical de nenhum outro veículo específico porque não tenho mandato para isso. Meu compromisso é com a Folha e não serei ombudsman dos concorrentes, da televisão ou da internet. Mas, ocasionalmente, posso tratar da mídia em geral porque acho que será interessante para o leitor.

FOLHA - Você assume o posto de ombudsman na terça, mas sempre foi um leitor atento. O que mais te irrita nos jornais?

LINS DA SILVA - O que mais me irrita é superficialidade. Depois, erros de português. E isso é uma bobagem, um pedantismo meu, porque erro de português não é tão importante assim. Em terceiro lugar, me irritam muito invencionices de texto. A tentativa de chamar a atenção com o que o repórter considera engraçado. Por exemplo, começar um texto com uma brincadeira que só me fará perder alguns segundos com algo que não tenha nenhum sentido. Também me irritam algumas opiniões muito ralas, que não acrescentam nada para o leitor.

FOLHA - Como você avalia o trabalho dos meios de comunicação na cobertura do caso Isabella?

LINS DA SILVA - Acho que os jornais estão preocupados em não repetir erros, como ocorreram na cobertura de outros casos policiais que mobilizaram a opinião pública. O que é muito positivo. Há preocupação com aspectos éticos. Mas acho absurdo o que o Clóvis Rossi chama de cenas de jornalismo explícito. Eu vi a saída da prisão do casal suspeito e não consigo encontrar sentido naquele batalhão de cinegrafistas em cima de motocicletas colocando a câmara no vidro do carro em que eles estavam. Não sei qual o valor informativo que pode ter uma imagem como aquela.Só não sei se isso é evitável, porque o público parece querer esse tipo de cobertura. A mídia, nessas horas, acaba estimulando o que há de pior nos instintos humanos, de morbidez e curiosidade doentia.Mas aqui há uma questão. Será que o jornalismo sério precisa mesmo entregar o que o público quer, ou diz querer? Na minha opinião, jornalismo sério tem que atender a demanda do público, mas tem também que liderar. É preciso haver uma troca entre o meio de comunicação e seu consumidor para que o jornal atenda os desejos dos leitores, mas também ajude a melhorar a qualidade desses desejos.

sábado, 26 de abril de 2008

Creche Escola Ana Néri: o verdadeiro lar das crianças

MATÉRIA

Maiane Matos

O dia dos pequeninos da Creche Escola Ana Néri começa cedo. O sol nem brilhou direito e lá vão eles a caminho do seu segundo lar. Chegam entre 07h30min e 08h00min e seguem direto para o refeitório a fim de realizar a primeira ação do dia: tomar café.

O espaço é grande e comporta todas as crianças. Logo na entrada, frases de boas vindas como “Meu coração... bate feliz... quando te ver” e de fé “Crianças sorriso de Deus”, recebem a todos, mostrando o quão grande é a alegria que sentem em estar ali. Logo as mesas e cadeiras começam a ser ocupadas, e o local começa a ganhar vida.

A oração vem logo em seguida. As crianças aprendem a respeitar, a dar valor e agradecer a Deus pelo alimento.

Terminado o café eles caminham por um corredor, um pouco escuro iluminado apenas pelas réstias do sol vindas da área de circulação, em direção as suas respectivas salas de aula para fazer a higiene bucal e trocar de roupa, ou seja, vestir a farda.

Na primeira sala fica a turma da alfa 2 com crianças entre 3 e 6 anos, sob a responsabilidade da professora Joseane Lema Gonçalves, 35 anos. “Aqui é um ambiente de amor, aqui eu me revigoro, eu aprendo o que é ser humano”, afirma Joseane com os olhos brilhando de satisfação por trabalhar neste local.

Após a sala, logo em seguida separada apenas por uma parede, fica a turma da alfa 1, ocupada por crianças da mesma faixa etária que a anterior. O ambiente é decorado com diversos temas infantis e bastante colorido. Cada objeto daquele lugar tem algo de educativo. As crianças aprendem brincando.

Mais a frente fica a área de recreação, onde as crianças rompem as paredes das salas e se misturam para serem, efetivamente, crianças. Ali eles se divertem, brincam, pulam, choram e cantam. “Como são pequeninos, as vezes um bate no outro, morde. Aí a gente diz que está errado e pede para pedir desculpas ao outro”, diz a professora Maria do Socorro P. Amazonas, 41 anos, e trabalha na creche há sete anos.

Preenchendo as laterais desse espaço, encontramos a área de serviço, onde são lavadas as roupas das crianças, mais três salas de aula, sendo que uma antigamente fora o dormitório o qual teve que ser suprimido pelo aumento do número de crianças, e os banheiros, um de meninos e outro de meninas.

Desde cedo eles já aprendem fazer essa distinção, seja com as cores, na hora da fila para o banho ou para se organizarem entre eles.

A Creche Escola Ana Néri acolhe crianças de todas as classes, cor ou idade. Porém a maioria delas é de classe baixa e têm alguns que são quase miseráveis. Segundo a diretora Luciane Norma B. Brito de Freitas, os pais deixam seus filhos no local por que muitos não possuem renda fixa para sustentar a família. Outros ainda só possuem a renda da bolsa escola que recebem do governo e alguns deixam seus filhos por causa do trabalho desenvolvido pela creche. “Algumas mães são voluntárias aqui e algumas falam que aqui elas trocam o serviço por alimentação, tanto delas como dos filhos”, acrescenta a diretora.

A creche é um núcleo de uma grande instituição, a O.A.P.C. (Órgão Assistência Paroquial de Cachoeira). O Órgão ainda possui outros núcleos, como o restaurante Rabbani, a Rádio Comunitária Magnífica FM sob a direção do padre Hélio Vilas Boas. A obra de assistência tem 54 anos de ação na cidade e há aproximadamente três anos, foi criada a creche Ana Néri.

Hora das atividades. As crianças exercitam o que aprenderam e aprendem coisas novas. Entre uma música e outra, uma novidade, mais uma letra do alfabeto, mais um número a ser gravado. Após as tarefas, é chegada a hora mais gostosa do dia: o lanche.

Ao longe já se vê uma bandeja vindo repleta de pedaços de melancia todos cortados, aparentemente, do mesmo tamanho. Enquanto a merenda não chegava os pequenos corriam chamando a atenção dos adultos. Os olhares são significativos, marcantes e querem sempre dizer alguma coisa.

_ Quero fazer chichi!

Esse foi o pedido de Eduarda à professora, após um longo e fixo olhar.

_ Chegou o lanche!

Assim exclamou uma das merendeiras que ia distribuindo a fruta e cantando com eles. Sentados em uma esteira de palha, iam se lambuzando com a melancia. Engraçado que um deles arrastou para fora da sala o cesto de lixo a fim de jogarem os caroços da fruta. E assim fizeram.

Dentro da bandeja sobrara um único pedaço de melancia, e no meio da esteira repleta de crianças, estava uma que não havia recebido a merenda. Era Carol, irmã gêmea de Carine, que ao pegar seu lanche compartilhou um sorriso de satisfação com a irmã.

“Nós ensinamos a eles a valorizar a merenda, trabalhamos muito nisso. A resposta é positiva, chegam a ensinar os pais em casa”, comenta a professora Maria do Socorro.

Após o lanche eles voltam a fazer as suas atividades, almoçam, descansam, assistem vídeos educativos, lancham novamente até chegar a hora do banho. São 15h30min da tarde e em instantes a fila para o banho é formada. Meninas de um lado e meninos do outro, primeiro as damas.

“Minha mãe já vem, daqui a pouco vou “tomá” banho”, balbucia Jackson de apenas três anos de idade. O momento do banho é conhecido por eles como “daqui a pouco minha mãe vem”, e de muitas crianças essa frase é ouvida.

A carência afetiva desses pequenos é muito grande e explícita. A professora Joseane já passou por situações que quase o fizeram chorar. Há alguns dias atrás, ela contou, um de seus alunos o agradeceu. Sem entender o agradecimento, ela perguntou para ele porque estava fazendo aquilo.

A criança não soube responder e o agradeceu novamente com gestos carinhosos e abraços. “Eles não sabem dizer “eu te amo”, não tem costume de ouvir, também. Daí eles agradecem. Eu sinto uma emoção muito grande com isso”, completa.

A “pró” Maria do Socorro se emociona ao falar dessa carência. Por alguns segundos, lágrimas molharam o seu rosto e mesmo com a voz trêmula, explicou: “aqui elas encontram carinho e muitas vezes choram para não ir embora”.

Do banho para a sala trocar a roupa. Cada menino e menina possue uma sacola, feita de camin, com o seu nome escrito para guardar as roupas. Eles, sacola azul, elas vermelha. Todos sentados, despidos, aguardam a chamada da professora para serem vestidos; de um lado eles do outro elas, sempre.

“Foi mamãe que complou, eu tô vestindo pla ela, né?” Falou Everlan de três anos, ao ouvir comentar que sua roupa era bonita.

Enquanto se vestiam, algumas mesas estavam sendo colocadas na área de recreação. Chegara a hora do lanche final, e a hora de ir embora também estava chegando.

Os maiores já estavam formando as filas em direção ao refeitório e os menores ocupavam as pequeninas mesas da área de recreação.

A espera era ansiosa. Lá vinham as merendeiras carregando um grande caldeirão de sopa que, ao passar pelo corredor, exalava um cheiro de dar água na boca. A inquietação aumentava.

Sorrisos, gritos, mesas cheias. Mesmo assim ao olhar para o lado, algumas crianças estavam sentadas sozinhas, pareciam até estar refletindo sobre a vida. O que deviam estar pensando?

Para os professores, o ambiente da creche é de mútuo aprendizado. Mesmo quietas, pensando do jeito delas, as crianças os ensinam, os surpreende.

Um repentino grito chama a atenção de todos.

_ Quem quer sopa?

E elas gritaram eufóricas.

_ Eeeeeu!

Em poucos minutos os pratos plásticos verdes e azuis, foram preenchidos. A diretora começa a oração e juntos, cantaram:

_ “Ao Senhor agradecemos, aleluia;

O alimento que temos aleluia;

O alimento que temos”

“A gente tenta fazer a diferença, tentamos ser uma creche lar e não uma creche escola”, indaga a diretora.

A Creche Escola Ana Néri vive, praticamente de doações. Ela possui um convênio com a prefeitura de Cachoeira, que encaminha professores para lecionar no local, recebe ajuda, na alimentação das crianças, do restaurante Rabbani, além de possuir padrinhos, admiradores e colaboradores, os quais ajudam no bom funcionamento da creche.

Algumas situações desagradáveis, relacionadas a alunos e pais, já foram vividas na creche. Alguns pais, por motivos precipitados, já tiraram seus filhos do ambiente, porém, voltaram atrás com a atitude. Professores já sofreram com mentiras contadas pelas crianças, aos pais, mas nada desanimou o trabalho desses profissionais.

Cada criança é chamada pelo seu nome. Todos conhecem todos. Entre cantos, orações e muita alegria, eles vão se despedindo, os pais os aguardam do lado de fora. E assim foi encerrado mais um dia dessas crianças que, com certeza, voltarão amanhã para repetir tudo, mais uma vez.

domingo, 20 de abril de 2008

Johrei: terapia energética como base da medicina do século XXI

Através de diversas pesquisas a ciência tem comprovado a existência de energias invisíveis que alteram de modo surpreendente situações, até então, irreversíveis. Desta forma desde o ano 2000 a própria Organização Mundial de Saúde ampliou a definição do que é saúde, incluindo a saúde espiritual. Portanto, esta visão de uma nova forma de saúde não é nova. Muito antes de tudo isso, surgiu o Johrei, transmitido e ensinado desde a terceira década do século passado pelo Mestre Mokiti Okada, chamado respeitosamente por seus seguidores de Meishu-Sama, Senhor da Luz.
Johrei é palavra criada por Meishu-Sama com a junção de dois ideogramas da língua japonesa que significa JOH – “purificar” e REI – “espírito”. Assim ele denominou o método de canalizar com as mãos, a poderosa energia que, pela sua origem e benefícios, é considerada Luz Divina. O Johrei elimina as impurezas impregnadas no ser humano, revitalizando sua força natural de recuperação, também chamada força curativa natural. A ciência tem comprovado a eficácia do Johrei nos tratamentos de diversas doenças e vendo-o como a base da medicina do século XXI.
Levando em consideração que este é um assunto ainda pouco conhecido pela maioria dos leitores o repórter deverá se utilizar de fontes documentais para retratar a história de Meishu-Sama e sua descoberta do Johrei, fontes científicas (através de pesquisas feitas) Deverão também ser entrevistadas algumas pessoas que tenham experiência de fé e relatos sobre a eficácia do Johrei, contando sua história de vida. Baseado no fato de que na cidade de Muritiba existe um núcleo desta igreja, da religião Messiânica, chamado de Johrei Center, o repórter deverá fazer visitas ao local, experimentar o Johrei em todas as vezes que for ao local para também poder contar as suas impressões. Além disso, deverá entrevistar o responsável (Ministro) do Johrei Center, Min. Antônio Mário Fernandes da Silva, para que conte sua experiência e esclareça as informações sobre o Johrei.

sábado, 19 de abril de 2008

Pauta jornalística – Vanhise Ribeiro (Casa dos Velhos em Cachoeira)


Cabelos brancos, idade avançada, marcas do tempo, traços característicos da fase idosa, compreendida por pessoas com 60 anos ou mais de idade. Temida por tantos e também tão pouco compreendida, a velhice demanda cuidados específicos, além de muito carinho, atenção e afeto, fato empreendido por aqueles que desempenham o papel de zelar pela terceira idade e que reconhecem que a proteção ao idoso, é antes e tudo um direito assegurado por lei.
A Casa dos Velhos da Cidade de Cachoeira, instituição filantrópica e sem fins lucrativos, atua a cerca de 45 anos na cidade, sendo um exemplo de um espaço destinado à acolher, cuidar e proteger o idoso.
Abrigando atualmente um total de 38 velhinhos, cujas histórias de vida se confundem e dialogam, a matéria visa resgatar a trajetória de idosos como Dona Ubaldina Rodrigues, Gildásio Matos, Antônia Santos, Marieta Silva, entre outros, que narram com certa nostalgia, suas experiência de vida, suas vivências, suas expectativas, sonhos, alegrias e frustrações.
É importante salientar na matéria a realidade social vivida por muitos idosos em Cachoeira, o abandono, a carência e falta de vínculos familiares, as políticas de proteção ao idoso e a forma como tais entidades assistenciais funcionam e sobrevivem. Para isso, serão entrevistados Lúcia Souza Batista, gerente administrativa da Casa dos Velhos e o Presidente do Conselho Tutelar de Cachoeira.
É necessário também demonstrar as inovações jurídicas implementadas em São Felix, com a instauração do Conselho Municipal do Idoso, que conta com a participação de instituições oficiais e da Sociedade Civil Organizada em prol de uma maior atenção e promoção de políticas de proteção ao idoso, que funcionam em consonância com o Estatuto do Idoso – Lei 10.741/03.

Pauta - Os pescadores da ponte

Todos os dias, ao cruzarmos a ponte Dom Pedro II, passamos por vários homens pescando, principalmente durante a noite.
Entrevistar alguns deles pra saber sobre essa atividade: o que eles pescam (peixe ou algum marisco), qual o melhor horário, se eles fazem isso por hobbie ou por dinheiro, se é para consumo próprio ou para vender, se o que eles ganham é compensatório, se eles têm outro emprego, se eles já presenciaram alguma história interessante na ponte.
Enfim, fazer um perfil desses homens, levando em consideração a atividade por eles exercida, curiosidades e um pouco da vida pessoal.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

PAUTA: Salões de beleza

Os salões de beleza cuidam da estética dos seus clientes e são também locais onde homens e mulheres relaxam, desabafam os problemas do dia-dia, lêem revistas, preferencialmente, de novelas, famosos, beleza e outros temas que distraem. Nos salões algumas pessoas se conhecem superficialmente, passam minutos ou horas juntas com o mesmo propósito de cuidar da aparência, mas durante este tempo rola conversa sobre vários assuntos, até entre estranhos. Os clientes assíduos, muitas vezes mantêm uma relação de amizade com os cabeleireiros.
A partir dessas informações, é preciso entrevistar esses profissionais e os clientes para saber como se dá essa relação; freqüentar alguns salões por uns dias para descrever a ambiência do lugar, o que as pessoas conversam, quais os serviços mais procurados pelos clientes. O repórter deve perguntar as manicures e aos cabeleireiros se já presenciaram ou escutaram alguma história curiosa para humanizar a matéria; colher informações sobre os dias de maior movimento, qual o lucro do salão, quantos têm em Cachoeira.

Pauta - CAPS

Por Jamile Castro
Os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) são núcleos que tentam substituir os manicômios por tratamentos psicológicos que não retirem os pacientes do convívio social. Esses centros atuam em diversas cidades do país com atendimentos que oferecem cuidados intensivos, semi-intensivos ou não intensivos a pessoas que sofrem de transtornos mentais como neuroses, psicopatias graves ou que já tenham histórico de internação ou tratamento.
O CAPS da cidade de Muritiba tem como profissionais psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais e até mesmo dentista para cuidar de seus pacientes. O Dr. Raimundo, psicólogo e coordenador do CAPS de Muritiba, deve ser entrevistado.
O Vanilton, segundo a coordenadora administrativa Luciana, era paciente do CAPS e aparentava ser um homem calmo, ele tomava suas medicações em casa. Vanilton teve um surto psicótico e matou um homem com uma enxada e atingiu também com uma enxada uma senhora que até hoje se encontra internada em um hospital. Ele foi preso e ainda se encontra na delegacia da cidade. A família ainda não procurou o CAPS após o ocorrido. Segundo Luciana ele deve ser enviado para um manicômio judiciário em Salvador. Vanilton e família devem ser entrevistados para um maior aprofundamento do caso, assim como o psicólogo que acompanhava o paciente. Vizinhos e parentes das vítimas também devem esclarecer o que aconteceu. A polícia também pode servir de fonte. A matéria deve tambem conter aspectos perceptivos do repórter.

Pauta jornalística – Vanhise Ribeiro (Casa dos Velhos em Cachoeira)

Cabelos brancos, idade avançada, marcas do tempo, traços característicos da fase idosa, compreendida por pessoas com 60 anos ou mais de idade. Temida por tantos e também tão pouco compreendida, a velhice demanda cuidados específicos, além de muito carinho, atenção e afeto, fato empreendido por aqueles que desempenham o papel de zelar pela terceira idade e que reconhecem que a proteção ao idoso, é antes e tudo um direito assegurado por lei.
A Casa dos Velhos da Cidade de Cachoeira, instituição filantrópica e sem fins lucrativos, atua a cerca de 45 anos na cidade, sendo um exemplo de um espaço destinado à acolher, cuidar e proteger o idoso.
Abrigando atualmente um total de 38 velhinhos, cujas histórias de vida se confundem e dialogam, a matéria visa resgatar a trajetória de idosos como Dona Ubaldina Rodrigues, Gildásio Matos, Antônia Santos, Marieta Silva, entre outros, que narram com certa nostalgia, suas experiência de vida, suas vivências, suas expectativas, sonhos, alegrias e frustrações.
É importante salientar na matéria a realidade social vivida por muitos idosos em Cachoeira, o abandono, a carência e falta de vínculos familiares, as políticas de proteção ao idoso e a forma como tais entidades assistenciais funcionam e sobrevivem. Para isso, serão entrevistados Lúcia Souza Batista, gerente administrativa da Casa dos Velhos e o Presidente do Conselho Tutelar de Cachoeira.
É necessário também demonstrar as inovações jurídicas implementadas em São Felix, com a instauração do Conselho Municipal do Idoso, que conta com a participação de instituições oficiais e da Sociedade Civil Organizada em prol de uma maior atenção e promoção de políticas de proteção ao idoso, que funcionam em consonância com o Estatuto do Idoso – Lei 10.741/03.

PAUTA: Rio Subaé

O Rio Subaé, com sua nascente em Feira de Santana, corta a cidade de Santo Amaro da Purificação. Às suas margens, ao longo da história, casas foram construídas, o comércio foi estabelecido e a cidade foi formada. Muitas crianças por ali brincavam, tomavam banho, donas de casa lavavam roupas.

Sua importância para a cidade remonta os tempos da colonização. Em 1960 foi instalada na cidade de Santo Amaro a Companhia Brasileira de Chumbo (COBRAC) que contaminou a cidade e também o Rio Subaé. Atualmente o rio é composto pelos esgotos da cidade e por lixos.

Levando em consideração a história do Rio Subaé, o repórter deverá entrevistar a historiadora e moradora da cidade de Santo Amaro, autora do livro Isto é Santo Amaro, Zilda Paim. Entrevistar o máximo de pessoas que moram próximo ao rio, preferencialmente com idade a partir de 50 anos. Procurar explorar destas pessoas suas histórias de vida e suas lembranças da época em que o rio não era poluído.

Existe um programa sócio ambiental chamado Protocolo do Rio Subaé que tem como um dos objetivos promover a conscientização das diversas populações por onde passa o rio. O programa procura estimular práticas socioambientais. O repórter deverá entrevistar Pedro Paulo Silva (burifeb@hotmail.com), coordenador do programa.

A abordagem do tema Rio Subaé deverá ser baseada nas histórias pessoais, relatando as experiências de quem “sentiu na pele” toda a transformação pela qual o rio passou, usando alguns depoimentos dos entrevistados como contextualização.