terça-feira, 27 de maio de 2008

Pauta: Um desafio com linguagem literária

A primeira idéia que se tem ao pensar num curso de jornalismo é o modelão apresentado pela mídia nacional atualmente. A imagem do âncora do jornal das 8hr na TV, o formato tão igual dos jornais impressos ou as mesmas pautas presentes em todas as mídias são fatores condicionantes para o pensamento dos estudantes na hora de visualisar a futura profissão.
A possibilidade de mudança existe, entretanto, assusta. Pode causar ao mesmo tempo uma sensação de inovação, o ser diferente diante de notícias tão iguais ou a impressão de nadar contra a maré fugindo do que seria (na nossa cabeça) o que de fato é jornalismo.
A pura notícia factual deixa de ser aquele texto seco e duro e passa a tratar o lado humano dos fatos. Quem são as personagens da vida cotidiana? O que sentem? O que fazem? Isso também é jornalismo.
O nosso objetivo é descobrir, dentro do universo de estudantes de jornalismo, qual a perspectiva desses profissionais diante dessa possibilidade de um Novo Jornalismo.
Quais as angústias de quem não se sente à vontade ou acha não ter espaço diante de um mercado tão restrito?
Por que fazer esse Novo Jornalismo sugerido por Tom Wolfe é tão complicado para quem já está habituado com esse 'modelão jornalístico'?
O que o público pensa a respeito desse novo modelo? Isso é bom para o futuro da profissão.

O objetivo é entrevistar os estudantes de jornalismo a fim de descobrir qual a sensação real do primeiro contato com esse tipo de jornalismo. Quais são as expectativas e convicções quanto à esse novo jornalismo? Entrevistar também pessoas da comunidade para saber qual a sensação dopúblico diante desse modelo.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Pauta: Fabricação das Espadas

Com a chegada da maior festa do Recôncavo, o São João, as ruas de Cruz das Almas já ficam tomadas de Bambus, expostos ao sol para preparar um dos símbolos da cidade, a espada, que começa a ser fabricada meses antes da festa começar

Fazer uma matéria abordando o histórico da guerra de espadas em Cruz das Almas, entrevistando os espadeiros, descrevendo as perigosas condições de trabalho as quais quais eles se submetem, colhendo dos moradores opinião a respeito do fogo de artifício.

Inadimplência escolar

Segundo bimestre do ano letivo e nas escolas particulares uma preocupação constante: Como administrar o elevado número de inadimplentes? E quais as medidas legais a serem tomadas, uma vez que a legislação vigente ampara os mesmos? De fato, a inadimplência escolar não é uma questão fácil de ser resolvida, em alguns casos pode até levar as Instituições Particulares de pequeno porte ao encerramento de suas atividades.
Por isso, conhecer a realidade das escolas particulares de Cachoeira e os entraves decorrentes da falta de pagamento é o foco da matéria, que também, deve abordar os aparatos legais como a Lei 9870/99, que trata especificamente da questão, impedindo qualquer tipo de medida pedagógica ou administrativa que discrimine ou impeça o estudante de exercer suas atividades escolares por meio de penalidades acadêmicas.
Dessa forma, na matéria devem ser entrevistados alguns gestores educacionais e/ou coordenadores que possam expor a questão, além de consultar também algumas fontes necessárias ao entendimento da legislação vigente, para que possam orientar as medidas possíveis de serem tomadas pelos estabelecimentos privados de ensino. Se possível na matéria o depoimento de alguns pais pode trazer a tona algumas das causas da inadimplência e como também os meios utilizados para quitação das dívidas.

OBS: Leandro, quanto à essa pauta, tenho dúvidas de como pode ser feita uma abordagem mais literária. Se possível, dê alguma sugestão. Obrigada!

Pauta sobre o tempo esperado nas vans para viajar.

É notável o fluxo e a interligação entre as cidades do recôncavo através do transporte alternativo. As Vans em Cachoeira tornam-se importantes meios de transporte no que diz respeito a ligação entre cidades circunvizinhas com Muritiba, Cruz das Almas, Feira de Santana. No entanto problemas podem ser destacados. Um desses problemas diz respeito ao tempo em que os passageiros são obrigados a esperar para lotar o carro e sair. Nesse sentido vale a pena tomar um parecer sobre as insatisfações dos passageiros a respeito dessa relação tempo e lotação, e a partir disso relatar algumas experiências de passageiros relacionadas a esse assunto.

João Pedro e Roberta Costa.

Pauta: A vida em um núcleo do "Movimento dos Sem-teto"


Nirane Lopes

Encarado como um problema social, a falta de moradia, é uma realidade presente em praticamente todo o Brasil, e é um reflexo das condições econômicas do país. Com o objetivo de tenter garantir moradia a todos os cidadãos, surgiu em 1997 o Movimento dos trabalhadores Sem Teto ( MTST ), que está presente não só nos grandes centros, como também em cidades pequenas, a exemplo de Conceição da Feira.

Tomando como base a questão da habitação, fazer uma reportagem com o tema: A vida de um sem-teto, onde o repórter deverá passar um dia em um núcleo dos sem-teto. Observar como são as condições de sobrevivência das famílias que lá vivem, destacando a história de uma família, de preferência de possua muitos filhos. Descrever tudo que é observado, fazendo a contextualização com a situação econômica desta família. Procurar o presidente do movimento na cidade de Conceição da Feira e saber dele, como está às negociações com a prefeitura, pela legalização do terreno ocupado pelos sem-teto. Saber do prefeito Francisco Guedes (Conceição da Feira) o porquê da demora na doação do terreno e entrevistar algumas lideranças do PT da cidade para saber qual o envolvimento do partido com a questão dos sem-teto.

PAUTA: São João também tem feira

Ana Clara Barros e Sarah Peixoto

A cidade da Cachoeira é famosa por seu São João. Nesta época do ano a cidade se transforma e aquele espírito junino resplandece entre as pessoas. A fogueira, o licor, os fogos de artifício, os balaios e comidas típicas encontram-se em toda a cidade.
É por isso e por outras razões, que há a necessidade de contextualizar o São João com o mercado e com os comerciantes de Cachoeira. Como estão as vendas nesta época do ano? Quais são os produtos mais procurados? O preço das mercadorias ditas como juninas (milho, amendoim, licor, paçoca, mingau, bolos, etc) aumentaram? O que os comerciantes esperam das vendas neste São João?
Perguntas como essas devem ser feitas, ressaltando a identidade das pessoas entrevistadas. É importante usar criatividade para compor a matéria. Fotos de diversos enquadramentos para ilustrar as situações devem ser feitas.

* Mais sugestões e idéias, por favor entrem em contato.

PAUTA

Do jovem de 68 aos jovens de 2008

Maiane Matos

1968 foi marcado pela presença avassaladora do movimento estudantil, eram os sujeitos da luta contra os militares. Em 28 de março de 1968, ocorreu o que daria maior força ao movimento estudantil da época: a morte de Edson Luís de Lima Souto. Era um estudante secundarista brasileiro que fora assassinado pela polícia militar durante uma invasão violenta ao Calabouço (restaurante universitário construído na sede da UNE). Para completar o ato, atirou em Edson atingindo-o no peito.
Fazendo toda essa reflexão histórica, procure "entrar" na vida do jovem Edson Luís e viver aqueles momentos de luta, de conquista e de terror. Daí, faça um paralelo com o movimento estudantil atual, com a juventude atual. O que ela tem do passado? O que restou do passado nela? Os acontecimentos serviram para alguma coisa? O que foi realmente a morte do estudante Edson Luís?
De forma criativa aborde esse assunto, fazendo o recorte necessário para não se estender além da temática. Essa pauta surge diante de todos os debates feitos em comemoração ao maio de 68, que completa este ano 40 anos.

Pauta - Inflação em Cachoeira

A preocupação com a inflação já era bastante grande no início do ano, mas ganhou ainda mais força no mês de abril, em função da alta dos preços de alimentos no mercado internacional. Assim como em vários outros países do mundo, o Brasil sofreu com uma série de fatores que pressionam os preços da comida e elevam a inflação levando os consumidores a gastarem mais e comerem cada vez menos.
Agora no mês de maio, a inflação reduziu um pouco, principalmente no que diz respeito aos alimentos caindo de 2,07% para 1,81%. Frutas, hortaliças, legumes, alimentos in natura, alimentos derivados de laticínios, panificados, óleos e gorduras foram os itens que tiveram os preços mais reduzidos. Três itens tiveram aumento de preços: o pão francês, com alta de 8,12%, mamão papaya, 16% e leite longa, 4,04%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S).
Falado isso, aborde a inflação em Cachoeira por um viés diferenciado. Procure pessoas inusitadas que possam falar sobre o assunto. Serve como sugestão de entrevista mendigos da cidade (Falar com o mendigo conhecido como o “Mendigo da perninha” que poderia ser o eixo central da matéria) assim como as pessoas que geralmente os dão comida. Saber se a quantidade permanece a mesma e com que freqüência ocorre as doações.

Pauta: ditadura militar - 40 anos desde o maio de 68

O ano de 1968 no Brasil, em especial, foi marcado por grandes repressões políticas, ideológicas e culturais. Após o golpe de 64, o país passou a vivenciar um período de muita dor e tristeza que se perpetuou durante vinte e um anos e que hoje ainda deixa marcas e relatos.
Neste ano de 2008 o Brasil faz 40 anos de muitas perdas na história da humanidade. E é lembrado, por exemplo, com o simpósio 68+40 que acontece na capital baiana e em Cachoeira, cidade do recôncavo baiano. Pois, apesar de muita censura, foi um período de muitas conquistas sociais.
Tendo isso em vista, fazer uma análise comparativa, através de entrevistas com pessoas que vivenciaram esse período, de como elas vêem atualmente o maio de 68. Fazer uma retrospectiva histórica da época, que vá desde o golpe de 64 ao final do governo de Figueredo, em 1985.
Entrevistar os jovens de hoje que não viveram na época, mas que, através de relatos de parentes, amigos e de conhecimentos gerais, têm idéia do ocorrido. Saber o que eles acham da situação, além de como se sentem e o que adquiriram de legado daquele período.
Entrevistar o jornalista e escritor Emiliano José que estará em palestra no dia 20 de maio no Museu de Arte Sacra do Recôncavo Baiano, conhecida como Igreja do Carmo, em Cachoeira, dando sua contribuição sobre o 68+40. Saber dele qual o pensamento que se tem hoje frente à situação do período, assim como saber o que ele acha que “falta” nos jovens de hoje em comparação aos da década de 60.
Entrevistar a professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) Lucileide Cardoso, que tem pesquisa na área da ditadura militar, para que ela possa dá sua contribuição em termos históricos.
Servirá também como fonte, os professores, ambos da UFRB, Paulo Miguez e Luiz Nova que poderão ajudar a relatar as lutas sociais que ocorreram no período, assim como as que os próprios participaram.
É válido ressaltar que toda à matéria terá um enquadramento voltado para a área cultural e, por isso, todas as entrevistas terão essa finalidade.
O repórter ficará à vontade no uso de sua criatividade para fazer a matéria e também na escolha de outras fontes.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Paisagem da janela

Rua Dorival Cantonelli, passagem principal de casais de namorados do bairro Perdizes. Noite, debruçado sobre a janela a perceber a lua, mas sem contempla-la mantinha-me atento ao som que a pouco tinha colocado na vitrola. Um vinil velho, coletânea de antigos, Pixinguinha, Cartola, Noel, Moreira da Silva, a nata do samba carioca do inicio do século.
Ainda escutava o grave do vinil entoar uma canção melódica, quando, distante em olhar parei em dois transeuntes que ao longe apresentavam-se pequenos, no escuro pareciam sorrir, brincar. Vinham lado a lado mas não tinham as mãos dadas, o que me impedia de tirar conclusões mais precisas, mas se ali não existia romance havia potencial. Pareciam dançar em meio a calçada desarrumada, seus passos coreografados mantinham um seriedade obtusa e calma, mas seus rostos continuavam austeros.
Ao se aproximarem concluí que realmente eram baixos, o rapaz um pouco mais alto cultivava uma postura militar, embora o ombro um pouco curvado, tentava olhar a todo momento a menina, que não parava de sorrir. Menina de olhos brilhosos, de nariz pequeno e arredondado, cabelos macios que sorrateiramente o rapaz alisava de vez em vez por alguma coisa que ela falava, parecia até um código.
De cima o amor era mais bonito, o canto dos pássaros entoavam as cantigas de ninar, de cima a noite era mais escura, a lua era mais incandescente, e o casal era mais casal.
O garoto da casa ao lado saiu no portão com uma bola, pulou, chutou, gritou gol. Desejou-me boa noite, depois de ter praguejado pela bola que caiu no quintal da casa da frente, e entrou.
Um adolescente devaneava pela calçada, parecia pensar na criança que fora um dia, no quanto o bairro crescera, no quanto envelhecera mesmo que adolescente. Tinha medo do tempo, tinha medo do fim, e promovia um dialogo consigo, respondia-se a suas perguntas, e parecia ficar cada vez mais com dúvidas. Sorriu quando me notou na janela, logo acima. Respondi com um sorriso recíproco, e concluí que aquele fora o diálogo mais grandeloquente que havia tido em toda minha vida.
Um cachorro passou, solitário parecia cansado, seu aspecto sujo deixava-o vagabundo mas astuto, colocava o focinho no chão procurando não sei o quê. Quando passou eu já havia secado a garrafa de uísque, atirei a tampa contra ele, não se abalou, permaneceu na mesma toada, deu umas duas farejadas mais consistentes no caminho, nada lhe chamou atenção, e dobrou a esquina.
Nessa mesma noite outros casais passaram, não mais brincaram de bola na frente de minha casa, não mais vi em minha vida outro cão tão perspicaz quanto o daquela noite e até hoje procuro o menino sorrateiro que soliloqueava descendo a Rua Dorival Cantonelli. Consegui secar litros de uísques, ouvi por três vezes as músicas da coletânea e olhei sem muita atenção, da sacada de minha casa, a lua.
por: João Pedro Prado

Beijo Suado

“Eu não acredito que ele veio.” É o que eu penso quando vejo o celular vibrar insistentemente. Corro pro espelho do banheiro, arrumo o cabelo, conserto a blusa. Pronto, agora estou pronta. Subo apressadamente as escadas do prédio e quando chego no playground paro, esperando que ele venha até mim conversar algo.

- Oi. Tudo bem? Ele disse.

Beijo de um lado do rosto, beijo do outro. Será que ele tá percebendo que eu estou morrendo de vergonha? Ai Meu Deus, porque estou tremendo tanto? A gente já se encontrou, não rolou nada, mas já nos falamos pessoalmente várias vezes.

- Tudo bem e você? Como foi a aula hoje? Nossa a minha aula hoje foi super stressante, não sei até quando vou agüentar isso não viu? É muito complicado. Estou ansiosa com os vestibulares que vêem por ai. Falei para você que passei...

Meu Deus, porque eu não paro de conversar? Ai esse menino vai me achar uma tagarela, e eu não consigo parar. Por que eu não deixo ele responder o que perguntei? E ele fica ai com essa paciência toda, ninguém merece. É porque é começo, bem que minha mãe diz, as pessoas só suportam minha “tagarelisse” um tempo, depois me mandam calar a boca. Acho que ele está louco para me mandar calar a boca. Cala a boca Roberta!!

- Sabia que seus brincos são lindos? Acho bem legal esses furos em sua orelha.

O que? Eu aqui discursando sobre literatura, pânico com a chegada do vestibular e meus brincos são lindos? Ai meu Deus, me beija, me beija. Já tá tarde e ele só acha esse brinco bonito porque tá de noite e não dá pra ver o brinco todo mareado e os rasgos na minha orelha. Como vou aparecer para ele de dia? Nunca!! Agora a gente só fica a noite.

- Obrigada.

E me aproximo mais dele, ele de mim, e a gente começa a se beijar. E os beijos ficam mais intensos. Ai...ele faz um carinho gostoso nas minhas costas. Ainda bem que ele não é ousado. Não quer ir logo pegando na minha bunda, nem no meu peito. Esse é respeitador. Gostei muito viu? Nossa e beija bemmm... e porque eu não consigo para de pensar e simplesmente beijo. Ai meu Deus, nem eu me agüento, vou me concentrar agora no beijo.

- Roberta!!! Entre agora. Isso não é hora de você ficar no meio da rua!!

- Mãe...

Não acredito que minha mãe se deu ao trabalho de sair da cama pra estragar meu beijo. Olha pra cara, tonta de sono, usando minha pantufa nesse chão imundo, toda enrolada numa coberta. Eu não mereço essa visão meu Deus. Pela cara dela, a coisa vai ficar feia quando eu entrar em casa.

- Espera cinco minutos...

- Estou esperando.

O que ela tá fazendo parada na porta? Pelo visto esperando. Porque ela não entra? Que vergonha meu Deus. O que ele vai achar? Que sou uma criança. E no meio da rua? Quem disse que playground é meio da rua? Eu quero beijar, ai que ódio de minha mãe, que vontade de morar sozinha. Acho melhor eu entrar. Esse menino também não pára de rir.

- Tenho que entrar. Xau.

Nem um beijo. Nada. Nem esperei ele me dar boa noite. Passei pela porta do prédio igual um foguete, e minha mãe vem atrás arrastando a pantufa calmamente. Como pode? Depois de estragar meu beijo, minha noite. Também não vou mais falar com ela, nunca mais. Entro no quarto e tranco a porta. Pronto.

- Abra a porta Mel pra gente conversar.

Mel, ainda me chama de Mel. Mel uma porra. Mel é só quando estamos bem e agora estamos mal. Muito mal.

- Oi. O que é?

- Minha filha eu faço isso pro seu bem. O que ele vai pensar de você no meio da rua, uma hora dessas. Não fica bem, mande ele entrar aqui em casa na próxima vez. E beijando ele na frente de todo mundo. Não fica bem Mel, você terminou um namoro tem pouco tempo, tem que esperar um tempinho.

- Tá mãe, boa noite. Xau. E devolva minha pantufa.

Aiiiiiiiiiii, porque ela me faz sentir isso? Porque não simplesmente falou que era pra gente entrar? Terminei um namoro tem quase 5 meses, tenho que ter resguardo é? E beijando na frente de quem? Dela que fica olhando a vida alheia, isso sim. Devo ligar pra ele? Ou espero amanhã? Acho melhor nunca mais falar com ele. Vergonha da porra... quem será uma hora dessas? Pera. Esse aqui não é meu celular.

- Alô?

- Roberta. Sou eu, esqueci meu celular na sua mão. Posso ir pegar? Agora vê se tua mãe já dormiu está bem?

- Pode vim. Fico no play esperando.

Bendita tecnologia. Bendito celular. Agora sim, vou me concentrar no meu beijo. Tomara que minha mãe não apareça. Tomara que ela durma com os anjos. Onde já se viu, ao invés de dormir, fica inspecionando a vida dos outros. Sou filha pow, não propriedade. Ai que beijo bom!!

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Trágico 12 de junho

- Amoreco, o que vamos fazer hoje pra comemorar o dia dos namorados?
- Vamos sair pra beber e comer alguma coisa e depois... Surpresa! Vou te levar num lugar bem legal.
- Hum... Vou ficar esperando. Você passa aqui mais tarde então. Tenho que desligar agora porque tô terminando de arrumar o meu cabelo.
Por mais que digam que essas datas comemorativas só servem para encher o bolso dos comerciantes de dinheiro, não dispenso um motivo para fazer festa. Foi o primeiro dia dos namorados que passei namorando e uma semana depois fazia um ano que estávamos juntos. Minhas amigas passam horas falando desse bendito dia e elas afirmam que é bom para dá uma esquentanda no namoro, mas como não tinha experiência só escutava os relatos delas.
Sou muito indecisa na hora de escolher a roupa, a maquiagem, o sapato e até o brinco. Gosto de vestir amarelo, é que combina com minha pele morena, mas podem pensar que pareço uma banana ambulante se eu usar sempre esta cor. Tenho que variar um pouco, acho que branco fica bem. Deixei a blusa branca e a calça jeans esticadas na minha cama de casal e fui tomar banho. ‘Cadê o meu óleo de banho? Será que tá no armário ou...deixa pra lá, esse sabonete de limão também é cheiroso’.
Usei a minha blusa mais bonita, o meu melhor perfume, passei lápis e rímel nos olhos, não poderia esquecer da sombra, coloquei blush e gloss para iluminar a boca. Estava pronta, cheirosa e maravilhosa. Minutos depois ele chegou e fomos a um barzinho com música ao vivo, muito legal! Pedi logo uma roska de morango para animar, ele olhava o cardápio a procura de alguma coisa boa para comer.
Comemos, bebemos, recordamos de alguns momentos que passamos juntos em quase um ano de nomoro, rimos muito. Já estava ficando tarde, então ele pediu a conta e fomos para o local supresa. Aparentemente dicreto, o lugar tinha uma placa com o nome "Afrodite", que é a deusa do amor. O motel era enorme, nunca tinha ido em um assim. Ele pegou a chave do quarto e pediu pernoite. Eu tinha que trabalhar no outro dia bem cedo, mas nem me preocupava com isso. A noite estava sendo perfeita.
Abrimos a porta, tinha uma salinha com uma mesa de vidro, duas cadeiras e um quadro pendurado na parede azul. Subimos a escada, o quarto era lindo, super chique. Tinha uma cama gigante, espelho por todo lado e uma decoração de muito bom gosto. Entrei no banheiro, era todo branco com uma banheira de um lado e o box do outro. Olhava tudo, mexia em tudo. Também tinha chocolate, salgadinho, refrigerante, uma garrafa de Red Label, cerveja e até calcinha comestível.
- Gostou, amor?
- Adorei!
- Um amigo que me indicou.
- Mas não viemos aqui só pra olhar...
Quando estava lá no maior amasso, bateram na porta parecendo que iam derrubar. Tomei um susto, ele foi ver o que estava acontecendo. Quando destrancou a porta, um homem entrou de vez com uma arma na mão. Amoreco gritou para eu me trancar no banheiro e foi isso que fiz. Estava muito assustada. Escutava o homem dizer "Passa tudo, meu chapa! Cadê o dinheiro?"
'Meu Deus, como isso foi acontecer logo comigo no dia dos namorados?! Que azar! Será que esse mal elemento não tem namorada? Que insensível!Ele estragou a minha noite romântica! Tomara que carregue o dinheiro e vá embora...Se ele fizer alguma coisa com meu amoreco...eu morro! Isso é um pesadelo!'
- Amor, pode sair, ele já foi.
- Aff...pensei que ia morrer!
- Calma, já passou.
A polícia chegou no local e fomos prestar depoimento na delegacia. Um policial disse que se tratava de uma famosa quadrilha que assalta motéis. Foi uma situação trágica! E nem conseguia acreditar que terminei o dia dos namorados numa delegacia.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

De louco todo mundo tem um pouco

Ana Clara Barros

No começo do ano, em Feira de Santana, eu estava em casa, entediada, procurando algo pra fazer. Depois de assistir televisão, filmes, ler livros e até lavar roupa, não me restava mais nenhuma distração. Foi assim que resolvi fazer aquela super-hidratação natural no cabelo. Desci as escadas e fui à cozinha. Abri a geladeira e vi que faltava um dos ingredientes: o iogurte natural. Pensei em ir no G Barbosa, mas o sol a pino não me deixou. Como diz meu pai: não é preguiça, é indisposição.
Assim, resolvi ir à padaria mais próxima de casa, no outro quarteirão. Troquei de roupa e peguei a carteira. No caminho fui pensando e mexendo nas chaves e no chaveiro.
Logo que cheguei, a única funcionária presente saiu detrás do balcão e veio até mim. Eu já a conhecia de vista, de outras vezes que tinha ido comprar pão. Seu uniforme branco a deixavam sem expressão, sem distinção. Para piorar, ela usava uma toquinha em que prendia os seus cabelos. Eu disse um boa tarde e ela não demorou a responder:
- Boa tarde. Posso ajudar?
- Aqui tem iogurte natural?
Eu pergunto. Vendo a sua cara de incompreensão, tento explicar:
- Aqueles iogurtes em copinho que não têm sabor de fruta.
Ela me olha e responde:
- Não. Mas temos Coca-cola.
Não agüento o comentário da funcionária e me escapa um riso, ou melhor, uma gargalhada. Não sei por qual motivo ela achou que iogurte natural pudesse ser substituído por Coca-cola.
‘Que louca essa menina, não pára de rir. Será que eu disse alguma tolice? Ave Maria...ela tá desdenhando de mim, é? Essa branquela mitida...'
Não páro para olhar a mulher novamente. Se fizesse isso, riria mais ainda. Saio da padaria e penso como tem gente doida nesse mundo.

Ficada que ficou



Carnaval. Camarote na Barra!!!!!! Aliás, não era bem um camarote, era melhor, afinal de contas, era a área de lazer do prédio........espaço privativo!!!!!!! Comida, bebida, tudo de bom!!!!! Eu só estava a fim de me divertir, queria aproveitar todos os momentos e de preferência solteira, é claro!!!!! Mas sabe como é........Apartamento 507, décimo andar, edifício Baía de Todos os Santos, esse endereço é pra mim inesquecível!!!!!!!!!!!
Entre umas cervejas e outras, entre um bloco e outro, resolvo parar um pouquinho, afinal ninguém é de ferro. Parei em boa hora. Dou uma olhadinha em volta e vejo!!!! Nossa!!!!!
- Quem é? Pergunto pra uma colega, que mora no prédio.
- Ah, é o cara do 507. O nome dele é Lucas.
A menina saiu de perto, e eu nem tinha feito o interrogatório completo. Nem precisou, o melhor estava por vim!
Lucas, simplesmente Lucas. Nem fala se o cara tá de rolo com alguém, nem nada. Mais ele é uma coisa viu!!!! Todo, inho.......gostozinho, fortinho, bonitinho..........bonitinho não, BONITÃÃÃÃÃÃO!!!!!!!!!!! Deve ter dona, não é possível um cara desses dando sopa por aí. Peraê, peraê, peraê.............. o bonitão tá vindo pra cá!!!!!!!!!
- Oi! Você bebe? – pergunta me oferecendo cerveja. E esse sotaque? Pra melhorar o cara tinha de ser gringo. É hoje!!!!!!!!
- Bebo, mas não quero. Muito obrigada. – Melhor ficar sóbria..........
- Você é daqui mesmo?
- Não, sou do interior - respondo quase hipnotizada, por aqueles olhos azuis.
Papo vai, papo vem........e o cara chegando mais e mais perto. E!!!!!!!! SSSSSSMMMMMMAAAAAACCCCCK!!!!!!!!!!!!! E esse foi apenas o primeiro dos muuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiitos que rolaram naquela noite. E eu nem tava aí pra mais nada, só queria ficar com o meu gringo, o carnaval inteirinho.

Procura-se um celular

“Porra velho! Silvinho realmente se ferrou agora. Mas também....”

Foi o que eu pensei quando vi aquele amigo que traiu a namorada há poucas semanas atrás ficando com uma garota pilantra que ele acabara de conhecer numa festinha de aniversário.

- Você errou velho! Não é porque você estava bêbado que tinha que sair ficando com uma ou outra. Você sabia que, uma hora ou outra, Priscila ficaria sabendo.

-Até você decidiu me criticar agora Tedinho?

Aquelas palavras carregadas de dor e raiva atravessaram minha cabeça e me faziam perceber que tinha perdido uma ótima oportunidade de ficar calado. Ou melhor, de tentar ajudar aquele amigo que sentia a perda da namorada.

- Desculpas Silvio. Eu sei que isso é a pior coisa que alguém pode falar nesse tipo de situação.

Naquele momento de drama, em que o melhor mesmo é ficar calado, e foi o que eu fiz já que não sabia o que dizer, dei-lhe um abraço tentando confortar aquele corpo quase inanimado, frio e pálido que pertencia ao amigo entristecido.
Já sentados, mais calmos e com olhares tristes de ambos os lados, podia sentir sua mão que buscava a calça jeans de um azul envelhecido à procura de uma superfície onde pudesse depositar as inúmeras gotas de suor que sobressaltava a epiderme como se estivesse chorando por todo o corpo.

“Eu preciso de ajuda velho. E agora, o que eu faço? Ela não vai me perdoar, o pior que não tenho também como conversar com ela. Terei que ir pra Salvador amanhã e tentar... não, ela não ia me receber. Também não tenho credito no celular. To ferrado!”

Eu tentava imaginar o que Silvio estava pensando naquele momento enquanto olhava, insistentemente, para um pequeno córrego de águas transparentes, embora exalasse um odor de esgoto, com uma vegetação quase rasteira que parecia ter sido podada poucos dias antes. Como poderia apoiar aquele amigo que implorava por minha ajuda quando por lances rápidos, pra que eu não percebesse o início de choro que brotava de seu olhar tremido, me olhava em busca de uma resposta?

- Silvinho, eu não sei se é uma boa idéia você falar com ela agora. Acho que melhor você deixar a poeira baixar um pouco. Vocês ainda estão muito nervosos, só iria piorar a situação. Mas como também sei que se você não falar com Priscila, não conseguirá dormir, e como sei que ela não vai atender caso você ligue de um número conhecido, posso te emprestar meu celular, contanto que você não gaste todos os meus créditos.

Quando acabei de falar aquelas palavras tentei iniciar um sorriso com o intuito de quebrar o gelo e arrancar de Silvinho um pequeno vestígio de graça que fosse. Mas foi em vão. A expressão de dúvida agora toma conta dele.

“Ligo ou não ligo?” Parecia ele pensar enquanto esboçava um início modesto de semblante feliz.

-Você é um “putetê do joelho ralado mesmo viu velho”, por isso que gosto de você!

Ele segurava o celular de formato arredondado que parecia querer escapar por suas mãos molhadas enquanto digitava os números. Sua expressão neste momento já era de insegurança e medo. Medo do que pudesse ouvir.

- Estarei ali ao lado do rio, se precisar de mais alguma coisa é só falar.

E Chamei sua atenção mais uma vez:

- Não vai acabar meus créditos viu.

O resultado do caso não soube qual foi. Ele não me falou nada naquele momento e depois disso não o vi mais. Não sei se ela o perdoou, ou não. Se ele está melhor, ou não. Ao menos sei onde foi parar meu celular, e se ele ainda tem crédito, já que o miserável do Silvinho ainda não me devolveu. E olha que isso já tem mais de uma semana. Só espero que ele não tenha se jogado no rio com meu celular no bolso.

Noite de chuva

Um na frente do outro, dois jovens se olhavam fixamente, nenhuma palavra foi dita desde que se encontraram. O único som que se propagava é o barulho da espessa chuva no chão. Estou embaixo de uma marquise, e aparentemente somente uma cortina de água me separava da garota molhada quase no meio da rua.
Uma doce voz masculina quebrou a monotonia sonora:
- Sai dessa chuva!
Meu Deus como ela está linda.
A garota continuou a me olhar, sem dizer uma palavra, com a chuva caindo em sua cabeça e descendo pelo seu corpo já encharcado, o que me deixou um pouco constrangido.
- O que você está fazendo aqui? Ela falou finalmente, com uma expressão serena, que nem a chuva grossa conseguia abalar. Quer dizer, era como se ela não se importasse, como se a chuva estivesse caindo carinhosamente em seu rosto.
- Queria conversar com você.
Porque ela mexe tanto assim comigo? Só a presença dela, já faz me sentir estranho, sem reação.
Ela então esticou o braço na minha direção, oferecendo a mão, me convidando para o lugar onde estava. Recuei.
- Não vou cair nessa chuva! Realmente não via sentido nela estar parada no meio da rua, quando podia se abrigar embaixo de algum lugar.
- Porque não?
- Não quero me molhar. Saia daí vai ficar doente.
- Tem medo da chuva?
Engraçado, essa pergunta me abalou, mais do que a própria presença dela diante de mim. Parei para pensar em suas palavras, e lembrei que realmente nunca havia tomado banho de chuva. De repente fui tomado por um torpor no corpo, e senti que algo mais forte me empurrava em sua direção, me deixei levar. Senti quando suas mãos tocaram as minhas e os primeiros pingos na minha cabeça.
- Está frio!
- É só no início, tem que deixar a chuva tomar todo o seu corpo, daí você vai sentir como ela é quente, aconchegante.
Realmente, depois do primeiro choque, um gostoso calor tomou conta do meu corpo, mesmo estando molhado. Então é isso que as pessoas sentem quando falam em banho de chuva?
Ela continuava a me olhar. Ah, como adoro estes olhos.
- Queria te pedir desculpas.
Enfim ela deu seu primeiro sorriso e desviou seu olhar para o chão, reflexiva.
Olhando para a rua ao lado, falou:
- Não precisa falar sobre isso.
- Devo pedir desculpas por não poder ficar com você.
Mas por quê? Por que não largava tudo e caia nos seus braços? Sei que seria feliz. Talvez seja coragem. É isso, não tenho coragem para deixar minha noiva, uma vida estruturada, por uma outra que teria que começar tudo de novo, sem saber onde me levaria. E isso me deixava angustiado, porque não podia ter as duas? Ou porque não a conheci primeiro? Sei lá! Essas coisas não se explicam, a única certeza que tenho é que se não terminasse com minha noiva, nunca mais a teria de novo.
E tudo aquilo acontecendo bem na minha frente, depois de uma hora e meia de viagem, eu a esperei em frente da sua casa, agora estou de baixo de uma chuva estrondosa, e ela está diante de mim, molhada, linda. Mas uma parede de concreto parece me separar dela. E tudo o que consegui dizer foram essas palavras ridículas.
Ela me deu um beijo no rosto, pegou uma chave no seu bolso e se dirigiu a porta de sua casa, abriu e sumiu. Depois desse encontro nunca mais a veria, mas sua imagem daquele dia nunca deixaria minha cabeça. No pouco tempo que esteve em minha vida, ela mostrou minhas maiores fraquezas, e me ensinou a tomar banho de chuva.

Casa de estudante

Por Elton Vitor Coutinho

Vida de estudante. Casa de estudante. Triste fase essa minha. A única parte boa é a de conhecer pessoas novas, novas experiências, novos pensamentos frente às diversas situações. Foi assim que eu comecei a ver as coisas depois desse episódio.
- Você é o pivô de todas as brigas dessa casa.
Essa frase caiu assustadoramente aos meus ouvidos como uma arma apontada na cabeça de um parente bem próximo. Até então fiquei sem entender o motivo dessa falácia absurda e sem fundamento. Eu precisava entender o porquê que ele me disse isso. Foi aí que a briga teve um desfecho.
Morava eu e mais quatro, até então, amigos. Formamos uma república na cidade de São Félix. A casa ficava no centro da cidade, onde todos os dias éramos acordados com o trem passando bem em frente. – Que saco! Esse trem acha de passar justamente nesse horário. Era o que todos nós pensávamos. Mas até que era legal, pois funcionava como um despertador ambulante que apita sempre cinco minutos mais cedo. Os ricos minutinhos que sempre queremos dormir um pouco mais.
Hora da faculdade. Levanto, faço o café, ponho a mesa. A minha única função era cozinhar, porém eu sempre fazia mais do que deveria como, por exemplo, fazer o café.
O dia parecia nascer como todos os outros. Uma rotina. Tomei banho, me arrumei e fui para a faculdade. Cheguei meio dia, almocei, tomei banho novamente e fui estudar no quarto que eu dividia com mais um cara, o próprio da briga. Cinco horas da tarde. Assisti um pouco de televisão e depois fui passar um outro café. A galera que morava comigo ainda não tinha chegado da faculdade. Estava se preparando para um seminário que apresentaria no dia seguinte.
- Precisamos procurar uma outra casa, pois o contrato já está preste a vencer.
Essa era a nossa preocupação no momento.
Todos chegaram. A mesa do café já estava posta como de costume. Começamos a conversar, a brincar sobre os acontecimentos diários, até que um dos integrantes da casa comentou de um bilhete que eu tinha deixado na tampa do fogão pela manhã. “O fogão está sujo. Alguém precisa limpar. Espero que não esteja esperando por mim”. Eu nem precisei assinar, pois todos saberiam que eu era o autor. Maldita hora comentaram sobre o conteúdo desse bilhete. Na verdade, ele foi uma brincadeira. Sabe essas brincadeiras que fazemos com a finalidade de serem realizadas? Pois então... foi o meu intuito. Mas, pelo visto, o conteúdo dele significou não somente tirar a gordura que estava incrustada na parte metálica do fogão. Significou também o meu último dia na república que batizamos como Cafofo.
- Quem é você para dizer que sou o pivô das brigas dessa casa? Você aqui não tem direito a falar nada. Veio pra cá com apenas um ferro e o próprio colchão. Não ajudou um dia se quer a procurar a casa e ainda por cima quer tirar onda comigo?
- Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Você que quer tirar onda de ditador. Pagamos o mesmo aluguel que você e não tem o porquê de ficar se achando o dono da casa.
Esse foi o diálogo que travamos. Daí para pior. A briga começou a ser distorcida. Coisas que não tinham nada a ver com o início da conversa. Parecia que estávamos dispostos a largar todos os podres acumulados.
Até então, para mim, só ia continuar na discussão. No outro dia não iríamos nos olhar na cara. Passaríamos uma semana ou quem sabe um mês sem se falar, mas depois estaria tudo certo.
Entretanto não foi o que aconteceu.
- Você não dá para morar conosco. Eu acho melhor você procurar outra casa.
Como não levo desaforo para casa, ou melhor, não levo desaforo para fora da casa, depois de escutar essa humilhação, resolvi arrumar as minhas coisas e morar temporariamente de favor em uma outra república.
"Precisamos aprender a conviver com as diferenças", pensou.
Mas, pelo visto, isso não foi respeitado nem por mim e nem por ele.

Será que é verdade?

OBS: Leandro, eu só pude postar o texto de fluxo de consciência agora. Eu faltei à aula da semana passada e só fiquei sabendo dessa atividade quando li os textos no blog. Sei que talvez você nem leia mais por causa da data. Mas de qualquer forma preferi fazer.



Será que ele sabe o que eu to pensando de verdade? Será que ele sabe que eu não to pensando em nada nesse momento pra que ele possa escrever? Sinceramente não acredito que ele possa escrever alguma coisa que eu esteja, de fato, pensando. Mas é melhor não arriscar. Não vou pensar em alguma coisa que possa me comprometer, mas vamos lá! Vou começar por algo de minha infância. Algo que ele nem faça idéia que já aconteceu comigo, como por exemplo, quando ficava bêbada porque roubava cerveja escondida do copo do meu pai, quando ele ia ao banheiro e... não, isso não, ele sabe que meu pai tinha um bar e que eu não saia de lá, mas talvez, quem sabe, eu possa falar de quando eu apanhava de minha mãe quando não queria fazer as atividades de casa, é... isso é legal. Eu nunca disse pra ele que eu era preguiçosa quando criança. Sempre falei que era uma criança levada, mas responsável, não era muito de ficar na rua e coisas do tipo, é... isso é legal, ou talvez, ainda, quando eu fiquei com o meu primeiro namorado. Eu sempre contei pra ele que meu primeiro namorado foi um carinha da escola. Mas não foi. Eu nunca tive coragem pra falar que fui abusada quando criança. Se bem que isso também não foi um namorado, eu nunca permiti que ele fizesse isso comigo. Para! Para de pensar nisso, vá que isso aconteça de verdade! Vá que as pessoas realmente tenham essa capacidade de descobrir o que as outras estejam pensando! Realmente é melhor parar de pensar nisso. Vou pensar em coisas mais felizes. Já sei! Vou pesar em quando eu viajava com o pessoal da escola, ou, talvez, quando eu andava a cavalo quando criança. Isso sim é legal. Se bem que pela cara dele, já deve estar achando isso tudo um saco, porque realmente é um saco. Ainda mais pra mim que tenho que ficar aqui olhando pra cara dele de intruso da vida alheia... Ufa! Ainda bem que ele disse que já conseguiu saber no que eu pensava. Ih! Será que ele percebeu tudo mesmo?

Loucura

Uma porção de palitos de fósforos usados é o que sempre lhe cabe entre as mãos sujas. Unhas encardidas pela longa seqüência de dias sem se tomar banho. A barba comprida tal como a de um sábio profeta do oriente e branca pelo passar dos anos, traz consigo um tom desgastado, amarelado pela incidência direta do sol ao seu rosto. As verrugas, logo abaixo dos olhos vermelhos, estampadas como carimbos de sofrimento, loucura e tragédia, parecem marcar território, estão ali para mostrar que o tempo agiu, o corpo não agüentou e a cabeça ruiu. Os pés sempre descalços, sujos de lama, arrastam um corpo doente, abandonado. O corpo da esquina, o louco da calçada.
A vida não é mesmo fácil. Existem pessoas que reclamam de tudo. Acham a vida um saco. O ‘doido’ é uma figura conhecida em Cachoeira. Sentado nas calçadas do centro da cidade, essa figura lendária e quase emblemática, ilustra o cotidiano. As pessoas devem sentir falta dele nos dias em que não aparece na rua, afinal, terão um obstáculo a menos para se desviar.
Sempre conversando sozinho, falando com sigo mesmo, nosso personagem, possivelmente tenha encontrado um método de se livrar das farpas e setas malignas, proferidas por muitos em sua direção. Principalmente os meninos do Colégio Estadual da Cachoeira, que não deixam o ‘doido’ em paz. Pisam nos seus pés, falam palavrões, comentam sobre seu mau cheiro, suas roupas sujas. Mas ele não se incomoda, prefere conversar com as paredes, com seus palitos, com seus pés, com o ‘louco’. Seu trajeto é bastante curto, da esquina da ótica Paraguaçu ao passeio dos Correios, chegando ao Bradesco e por fim, recolhendo-se no passeio da igreja que fica ao lado da Santa Casa de Misericórdia, sempre a passos lentos e tortos.
‘Dizem por ai que eu é que sou o louco, prefiro mesmo ser o ‘louco’; o passeio é um grande amigo e parceiro, assim posso ver a vida por baixo. Ver as pessoas por um ângulo diferente; comentam por ai que o poder corrompe... sei lá, o que era mesmo que estava pensando? Ah, lembrei!? Os políticos comem porcaria do chão, bebem a água contaminada das latrinas das prefeituras, mas o que isso tem haver com esses palitos? Isso é uma grande bosta, hei você ai? Vai tomar no [*&¨%@3]...você é um corno! Por que ta me olhando? Sua mãe é uma égua, ha! ha! há! Rssss...’
- Rapaz, você não ta bem hoje, já comeu alguma coisa? Veja se tem alguma sobra de comida em algum lugar, vai logo...
[comenta um dos seus palitos de fósforos]
- Desde quando palito queimado sente fome? Você ta querendo me ganhar. Cala essa boca e escuta o regae.
[responde o ‘louco’]
- To dizendo uma coisa séria, você precisa comer senão vai morrer de fome.
[fósforo]
- Não enche o saco, você quer é comer de graça. Cala essa boca e trate de me deixar em paz!
[louco]
- Ta bom
[retruca o palito em voz baixa]
- Me deu uma fome, vou ver se tem alguma sobra de comida em algum lugar.
[louco]
- Sai da frente sua maluca! Não vê que esse passeio é meu? E você ai... para de cuspir no chão, deixe de ser porca. Sua vaca.
[louco]
-Cala a boca ‘seu louco’
[uma voz ao fundo resmunga]

Pauta sobre o Dia dos Namorados

Ilani Silva


Comemora-se o dia dos namorados no Brasil na data do 12 de junho, véspera do Dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro.
O foco principal desta matéria é encontrar boas histórias de namorados, como se conheceram, há quanto tempo estão juntos. Fazer um apanhado histórico sobre o dia, como surgiu.
Entrevistar padres da região para saber a história de Santo Antônio, se já existem pessoas fazendo preces para se casarem até lá. Por que o chamam de santo casamenteiro.
E fazer uma relação com o comercio da cidade, já que é um período de movimento comercial com as compras dos presentes. Quais as sugestões de onde passar a data na Cidade de Cachoeira, o que presentear.
Se possível, fazer um apanhado cientifico sobre como o corpo reage ao estimulo dos apaixonados.
E o que pensam as pessoas solteiras sobre o dia. Há uma preocupação em arranjar um namorado até lá? O dia é normal ou elas propõem algo diferente em comemoração ao dia dos namorados?

Boca Virgem

- Vai querer maquiagem?
- É, vai coloca isso ai.
- Menina deixa de besteira você vai ficar linda e hoje você deixa de ser BV. Vê se pode? Uma mulher velha dessa já com 17 anos no “coro” e até hoje... nada?
São exatamente essas palavras que ouço toda vez que me chamam para ir a uma festa.
Tô parecendo uma macaca com essa máscara que colocaram em mim. Sinceramente não me reconheço esses olhos pintados definitivamente não são meus. Porque mulher tem que usar essas maluquices toda em? Minhas amigas dizem que mulher sem maquiagem não é mulher. Eu acho que não sou uma mulher, porque odeio!!!
- Não acredito, ela vai? Ta maquiada? Nossa como você está linda!!
- Oh amiga, obrigada!
Tô, tô linda mesmo, parecendo Maycon Jackson, com a cara toda deformada. Tem gente que é besta viu.
Bem gente, estou indo nesta festa hoje com um objetivo perder a virgindade, da minha boca. Minhas amigas dizem que eu preciso beijar, eu não acho que preciso, mas de tanto me encherem o saco vou experimentar essa parada ai. Só estou temendo uma coisa...
- E ai menina pronta?
- Sim, estou pronta.
- Então vamos. Hoje é o dia hehehe...
Saímos, passamos na casa de mais duas colegas, todas abestalhadas quando me viam, e fomos para tal festa.
- Nossa! Como você ta linda
- Obrigada!
De cara já encontro esse idiota, mas tudo bem, sorrisinho para ele, jeito de quem esta feliz com a presença dele.
Com uma cotovelada de leve minha amiga me diz cochichando: - Calma amiga não é esse.
Ufa! Que bom porque com esse ai eu voltava com essa boca lacradinha. Quem será esse infame que não aparece em? Será que é aquele de vermelho que vem vindo ali. Não, não, está com uma garota do lado. Mas por que eu ainda tinha que aceitar perder minha virgindade com um cara que nem conheço? Elas disseram que assim que é bom, para beijar e deixar lá. Será que é mesmo? Só estou imaginando aqui a hora do beijo, como deve ser em? Ai que nojo. Mas tudo bem, “força na peruca” e hoje deixo de ser BV, pelo menos para felicidade das minhas amigas.
Passados meia hora. – Querida! Olha lá, é aquele.
De camisa preta, calça jeans, pele branquinha, olhos puxadinhos (deve ser descendente de japonês), cabelo preto espetadinho duro de gel, dentes brancos no sorriso sarcástico, um andar lento, chega até nós.
- Oi?
- Oi?
E o silêncio tomou conta da galera.
Meio sem jeito minha amiga me apresentou a ele.
- Olha, é essa aqui a colega que havia te falado, lembra?
- Sim, claro!
Dirigiu-se para perto de mim no sentido de pegar em minha mão que no momento estavam cruzadas e logo foram descruzadas para ir ao encontro da mão dele, que também me deu beijo de um lado e do outra da bochecha. Acho que deve ter ido algum vestígio de maquiagem na boca dele.
Na festa, o tempo todo ele me olhava como se quisesse me devorar. Fiquei até com medo do que poderia acontecer. A virgindade que queria perder era só a da boca.
Passado mais ou menos duas horas de “frete seco” é chegado o momento.
Puxou pela minha mão, que novamente estavam cruzadas. E fomos em direção a uma praça próxima. A praça era escurinha, os bancos tinham um distancia de um para o outro, acredito proposital para que os casais ficassem a vontade, afinal o nome da praça é Jardim dos Namorados.
Sem ao menos uma preliminar, o ato rolou. Não sabia direito o que fazer, na hora não conseguir lembrar de nenhuma das técnicas que treinava em casa. Quando vir a língua dele entrado na minha boca achei que ele fosse me matar, já não conseguia respirar direito e naquele momento ficaria sem ar completamente. As mãos dele não paravam quietas, alisavam meu corpo, sentia um arrepio da cabeça aos pés, mas mesmo assim estava uma estatua. O que devo fazer fecho os olhos ou não? Até tentei, mas não conseguia era muito estranho aquela sensação, meus olhos estavam estatelados de um jeito... Opa! Olha a mão boba, taquei um “tapa” naquela enxerida. Que nada! Passando a mão assim não. Que cara insistente viu, novamente.
E nada de conversa, nem me lembrava o nome dele mais. Mas acredito que a idéia era essa.
Todo mundo fala que o primeiro beijo a gente nunca esquece, eu realmente nunca esqueci, afinal foi a coisa mais pitoresca que já havia experimentado.

Sobre as pautas e prazos

Pessoas, não terei como ir mais cedo amanhã pra Cachoeira discutir as pautas. Estarei no Cahl às 9h - 9h15. Se der, podemos fazer um papo rápido antes da atividade do maio de 68. De qq forma, postem as idéias amanhã. Postem as pautas mais elaboradas e previamente apuradas até dia 20, terça próxima. Aí vamos falando pelo blog mesmo.

Lembrem que as matérias devem estar prontas dia 3 de junho. Eu disse PRONTAS.

Aliás, sete pessoas cumpriram o acordo e postaram o último exercício no prazo. Mais uma vez, a turma mostra que não cumpre o que promete. É uma pena, desestimula qq professor interessado em fazer um trabalho legal.

A VIAGEM

Por Jamile Castro
(Fluxo de consciência)
Enfim, estou indo a Salvador, após quase um mês. Já estava com saudade da minha cidade. O ônibus está demorando. Chegou. Ainda bem.
Nossa que bancos sujos. É o jeito sentar. Vou logo ligar para irem me buscar na rodoviária. Ninguém atende.
O que fazer numa viagem de 2h? Talvez ler um pouco.
Desgovernado – o Ford desgovernado de Fireball Roberts roda na primeira curva do autódromo de North Wikesboro. Essa mulher não cala a boca, será possível. Já estou quase indo lá e pedindo pra ela falar baixo. Não posso ler muito menos dormir com esse barulho todo.
Vou ligar de novo. Atende.
Droga, ninguém atende o telefone.
A voz desta mulher já está me dando náuseas, que voz mais chata. Eu aqui com sono e não consigo dormi porque essa matraquinha não fecha essa boca. Que saco!
Quero dormir!
Cala a boca criatura!
Chegou Santo Amaro, nem para o motorista deixar essa cobradora aí. Vai diabo,
desce, desce e fica por aí com essa sua boca de alto-falante.
Não acredito que ela está subindo de novo. Oh, droga!
Gggggggggggggggggrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!
Não acredito que ela voltou a falar. P... que pariu! Eu não agüento mais. Minha vontade é descer desse ônibus agora, ou então jogar ela pela janela. Pior que o motorista ainda fica dando corda a ela.
Chega logo em salvador, chega, chega, chega. O caminho hoje parece estar mais longe que todos os outros dias.
Graças a deus está chegando. Para quem sabe eu parar de ouvir essa voz. Nem sei se vou conseguir, porque a voz parece que vai ficar na minha cabeça.
Tchau chata. Tomara que nunca mais pegue um ônibus com essa criatura.
Ufa!

Deixa de blá-blá-blá

São duas horas da manhã. Dentro da barraca, local que virou meu quarto por uma semana, faz muito frio. Malas, mochilas, sapatos, livros e uma colega divide este minúsculo espaço comigo. Este meu quarto temporário não está só. São mais de cinqüenta, variando em tamanho, cor, formato, com utilidades muito variadas. Estamos em uma cidade universitária, precisamente em Santa Maria – RS. Jovens universitários do país todo se encontram para discutir questões referentes à casas universitárias e a nova universidade que queremos. O prédio onde permanecemos é a residência temporária de alunos que esperam surgir vagas nos apartamentos. A cidade é muito fria, mas seus habitantes são bens quentes, ao contrário que eu ouvia falar. O clima aqui é perverso, quando faz sol o vento é mais frio e nos maltrata mais, quando chove o frio diminui.

Depois de muitas plenárias no decorrer do dia, é hora da diversão. Lá fora, jovens se conhecem, trocam e-mails, salivas, fumam "unzinho", cantam, dançam, "azaram", querem viver tudo que este momento permitir... e parece que a vida está concentrada somente no agora. O não envolvimento por completo causa posteriormente um sentimento de perda. Os termômetros marcam 3º Celsius, estou congelando. Queria dançar mais um pouco, cantar mais um pouco, mas o frio me venceu.

-Por que você me olhou e quis ficar comigo?

Fala a garota da barraca ao lado.

-Ah, sei lá. Olhei pra você e quis fica contigo.

Responde o carinha que faz ela sentir menos frio do que eu.

- O que você gosta de fazer?

- Gosto de tudo um pouco. Jogar bola com meus amigos, ir à praia, ler e namorar né, ninguém é de ferro.

- Você tava me observando há muito tempo?

- Desde que chegamos aqui, no domingo.

- Quanto tempo você viajou até chegar aqui?

-Umas cinco horas. A viagem não foi muito longa.

Ai que saco. Povo maluco, tem o tempo todo pra conversar, agora quer saber o nome do papagaio, do gato, do cachorro... isso é demais. Esses dois são a antítese da galera lá fora meu. Daqui a pouco pra dá um beijo vai pedir RG, CPF, carteira de trabalho, título de eleitor e o que mais a burocracia mandar... aff!! não suporto eles não...dois chatos. O pessoal se divertindo, beijando na boca, dançando, compartilhando todo tipo de emoção e esses dois aí...de papo. Um casal vem pra barraca pra conversar essa besteiras... isso ninguém merece. Ainda empata meu sono... que frio, quero meu calor baiano...não tô mais agüentando...êta lugar frio demais. Pera um pouco...um silêncio heim?!! hum até que em fim partiram para o abraço e meu sono vai agradecer...gente doida. Agora eu durmo...ainda bem.

- Entra, pode deitar por cima mesmo. Não se mexe não tá, senão você não deixa espaço pra mim. Pera, não puxa assim pode rasgar.

- Tá certo. Você quer que coloque onde?

- Bota em qualquer lugar, não faz diferença, vai dá tudo no mesmo.

- Agora sim, conseguimos nos arrumar nesta barraca minúscula. Ah, coloquei seu casaco encima da mala tá.

Eu tinha dito que não faria diferença. Mas você fechou o zíper da barraca sem nenhum estrago né?

-Claro, gosto de fechar tudo direito. Essa noite por sinal estou fechando com chave de ouro.

Mais um casal... não acredito. Tomara que não fique no blá-blá-blá. A barraca fala por eles. É parece que esse aí não tem muito papo não... enfim vou dormir, afinal depois de dançar tanto preciso descansar, amanhã tem mais.

- Você é bem parecida com minha tia.

Diz o garoto.

- É mesmo? Não entendi a comparação.

- Seus olhos claros, com esses cabelos cacheados me lembram muito ela. Era pra ela tá aqui no evento, mas ela teve que ir ver meu avô. Já te falei do meu avô né? Nossa!!! O coroa é muito doidão. Adora curtir a vida, azarar as menininhas, gosta de esporte, mas ultimamente só faz caminhada mesmo. Onde ele mora, no interior do Rio, tem várias casas de parentes. Um primo de 17 anos já está fazendo faculdade. Ele é muito crânio. Lembrei de um episódio massa da minha vida. Foi em uma viagem da faculdade, a galera muito legal. Fiquei com uma morena muito linda. Cabelos longos, cacheados e negros. Cinturinha de violão e ainda tinha um complemento atrás que não devia nada a ninguém. 1,75m de altura, toda delicada, que garota linda. Já te contei da história, que eu e meus colegas nos perdemos quando íamos pra uma cachoeira?

-Oi? Desculpa...agora eu vou dormir. Amanhã você me conta.

Nossa!!! Que cara babaca. Eu também vou dormir. Aff...meus ouvidos não suportam.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Lógica do Amor

Dia nublado, chão ainda úmido, momentos antes havia chovido. No pátio da escola alguns grupinhos de amigos conversavam enquanto a sirene não tocava. O dia estava apenas começando, meu corpo dava sinais de sonolência, mas meus pensamentos estavam aguçados. Preocupava-me com a aparência, com a localização mais exata que a matemática dos ângulos e a geografia da coordenada perfeita pudessem me fornecer. Buscava, antes de mais nada, a posição adequada para cada membro meu, enquanto me criticava o tempo todo. Tinha que ser perfeito!
Ora.......braços cruzados não! É uma atitude conformista demais! Mas, como fica melhor? Nos bolsos traseiros? Não, é muito comum, coisa do tipo....me enxerga!
Meus braços ziguizagueavam à procura de um lugar discreto, porém, expressivo. Experimentava mil e uma maneiras de ficar ‘bem na fita’. Ao mesmo tempo ouvia a Taty, que não parava de falar, e me mostrar toda orgulhosa a sua mais completa coleção da Hello Kitty, parecia ser uma lapiseira ou coisa do tipo.
- Olha, minha mãe me trouxe ontem!
- Agora só falta o chaveirinho da Hello! E a...blablablablá.....!!!!!!!!!!!!!!!
Não distinguia bem o que a Taty tanto dizia, minha atenção e expectativa voltavam-se inteiramente para os portões do colégio. Mesmo assim me questionava sobre o porquê de não gostar mais de bonecas e nem de achar essas conversinhas infantis, algo interessante.
Nas aulas de biologia, a pró Suzana havia explicado alguma coisa sobre pu....ber........ aquilo lá, não sei bem! Mais a verdade é que já sou mesmo bem grandinha, e não fico mais perdendo tempo com criancices.
De repente, o céu antes cinzento e coberto de nuvens, começa a contrariar qualquer previsão do tempo, um belo arco-íris cruza o céu e ele, o portão: coração dispara, quer sair pela boca, mãos tremem, braços, sei lá onde ficaram! Meus olhos acompanham em devaneio todo o seu trajeto. Calculo a distância exata entre ele e eu. Passará bem próximo, basta apenas meio metro, para poder tocá-lo.
– Disfarça e vai? Digo comigo mesma.
Olho em seus olhos castanhos vivos, me fazem oscilar. Sua boca é perfeita e seu queixo ainda mais.... Rssssssssssmmmmmmmmmm!!! Respiro fundo e digo baixinho: - Como ele é lindo!
O momento se aproxima, posso até iniciar uma contagem regressiva! Cinco, quatro, três, dois, um.......!!!!!
Ele pára ao meu lado, toca em meu ombro. Seus lábios se movimentam lentamente. Meu corpo gela, acho que vou desmaiar, penso comigo. Ele abaixa a cabeça aproximando-se de mim, o mundo fica cor de rosa, minhas bochechas vermelhas, com certeza. Parece cena de novela! Posso até ouvir uma trilha sonora super romântica: hummmmmmmmmmm, deixa eu ver: Backstreet Boys.
Sua boca entreaberta aproximasse da minha estática e imobilizada, assim como eu! Seus lábios tocam nos meus. O mundo desaparece! -Trimmmmmmmmmmmmmmmmmmm!!!
- Aline, você está bem?
- haaaaaaaã?
- A sirene já tocou? Vamos para a sala mocinhas? Hoje aplicarei uma atividade de lógica.
- Hum....sim, professor! - respondo como se ainda tivesse em transe.
Na matéria dele eu tô passada, mas esse assunto me confunde. Como posso entender a lógica do amor?!

A espera de uma cueca

Ilani Silva


- Não, a gente não pode mais ficar assim. Eu já fiz tudo para você me dar atenção. Ao menos uma ligação, será que é muito? Não, não dá mais.
- Mas você não consegue entender que estou estudando? Não quer que eu vá morar pertinho de você? Se ficar gastando meu tempo no telefone ao invés de estar estudando não vou passar! Você já viu as provas da UFBA? Pensa que é fazer, passar e pronto? Tem que ralar muito meu filho!
-Então ta, você fica aí estudando 24 horas, que eu vou curtir minha vida, fazer o presente e não ficar vivendo de futuro. Foi um prazer ter te conhecido por esses um ano e dois meses. Ahhhh...não esquecendo do Boa Sorte no vestibular.
- Calma aê, não é assim que funcionam as coisas! Eu não quero terminar com você!
- E eu não quero namorar um livro! Adeus!

Acendeu um cigarro, colocou todas as suas coisas na mochila e partiu em direção ao ponto de ônibus mais próximo da minha casa. Eu não ia imaginar que ele viria num domingo nublado para Feira de Santana somente para terminar um namoro que não dava mais certo, e pior de tudo, eu ainda saio como culpada! Fui eu quem chifrou ele? Sou eu quem fica em Salvador na companhia de um monte de menininhas bonitinhas? Não, meu companheiro fiel é o livro, jamais vou trocá-lo por um homem. Há há há! Homens pensam que são tudo na vida de um mulher, se ele pensa que eu vou chorar ou ligar para ele depois está muito enganado.

Triiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm!!!!!

- Alô
- Iae moça, tudo bem é Rodrigo. Vem cá seu ex está aqui em casa perguntando se ele não deixou uma cueca por aí ?
- Cueca? Ta de sacanagem né? Porque ele mesmo não está falando comigo?
- Hehhee...Ele ficou com vergonha!
- Ahhh...ótimo, só um instante vou olhar.

Eu mereço!!! Eu mereço!!!!!!! Ficar procurando cueca de marmanjo! É a última vez que quero falar com essas pessoas, a última!!! Não quero mais contato com ninguém!

- Alô, Rodrigo?
- Oi, diga
- Tem uma aqui sim, você vem buscar?
- Ele está indo para aí.
-Ok, tchau.


Destranquei o portão, sentei na calçada e fiquei esperando a figura. Lá de longe dava para ver a calça azul folgada balançando entre o longo espaço destinado entre uma perna e outra. O boné era aquele mesmo, preto desbotado, que lhe dava um tom de seriedade. Vestia a blusa que lhe dei de aniversário há alguns dias atrás. Ninguém diria que ele estava vindo em minha direção em busca de uma cueca.

- Me dá....
- Aí ó!
- É....vamos entrar
- Você não vinha aqui somente pegar sua cueca?
- Não quero conversar com você.



Não sei o que estou fazendo aqui. Era para eu ter ido embora, mas não consigo ficar longe dela.. Me despreza, faz o que quer e eu ainda fico correndo atrás. Sou um idiota mesmo. Mas não dá para deixa-la assim, ela está pra ficar doida de tanto estudar, e por minha causa. Será que ela vai fazer alguma coisa contra si mesma. Não, não posso deixa-la, ainda amo.

-Fala logo.

- Olha, eu não quero que tudo termine assim. Você com essa impressão de que nada foi bom para nós dois. Foi muito importante pra mim ter te conhecido. A minha primeira vez foi com você. A gente passou tanta coisa juntos.
- Acabou?

Ainda ouvi por um momento um pequeno barulho de choro, mas não acreditei. Aquele cara grandão ali na minha frente chorando?!

- Para vai, então vamos continuar, a gente não precisa terminar eu falei com você. Eu te amo pôxa.

Droga! Fiz a coisa errada, não, não quero voltar, vai ser melhor assim, preciso arranjar um jeito de não magoa-la, depois dessa fraqueza minha. Chorar! Que droga. A gente não dá mais certo, não vou insistir nisso.

- Não. Eu vou embora, eu te amei muito.
- Oxi? Como assim!

Não acredito, essa porra é louca!!! Chora, diz que me ama e depois vai embora? Quem entende?

Entreguei-lhe a cueca, ainda um pouco úmida de minhas lágrimas que caíram logo após as suas. Ele me deu um abraço apertado de adeus. E depois desse dia nunca mais nos falamos.


- Vixiiiiiiiiiiiii, não acredito que ele falou que a primeira vez dele tinha sido com você.
- Por que? Não foi?
- Ihh menina, meu namorado falou que eles saíram juntos uma vez, e pagaram por uma prostituta. Foi a primeira vez deles todos naquele dia.
- Ahhhhhhhhhhh desgraçado. Ainda me fez imaginar que tínhamos perdido a virgindade juntos. Que conto de fadas. Safado, mentiroso.
- Calma amiga, isso acontece. Também pode ser mentira de Lipe, sei lá. Pode ter se confundido ao me contar. Talvez ele nem estivesse nesse meio.
- Difícil de acreditar...Mas são homens, de homens a gente espera tudo, as piores mentiras. E o pior é que a gente sempre acaba sabendo delas mais cedo ou mais tarde. Veja meu caso, só agora depois de um ano e tanto é que estou sabendo dessa história, por você, namorada do amiguinho dele. Vê se pode?
- É né. Relaxa amiga.

Relaxa...E ainda devolvi a cueca a ele, era para ter feito uma fogueira. Desgraçado.

Passando vergonha

Maiane Matos

07:00hr da manhã, os portões já estavam abertos. A fila para conferir nome, identidade já estava formada na porta da sala onde seria minha prova. Nervosas, ansiosas, apreensivas, inquietas tinha gente de tudo que era jeito. Mas não adiantava o desespero, estava quase na hora de fazer a prova de vestibular.
Colégio Luís Eduardo Magalhães. Subi três escadas, quase fiquei tonta das curvas que eu tinha que fazer, até chegar ao último pavilhão do colégio. A sensação era esquisita parecia que eu estava indo para uma batalha, o que não deixava de ser. A fiscal sentada na porta da sala, parecia mais um guarda noturno. Séria, estatura mediana, magra, olhos e cabelos escuros, fitou seu olhar em mim percorrendo todo o meu corpo com os olhos. Era a sua terceira "varredura" do dia.

- Bom dia!
- Bom dia!

Respondeu-me de forma mecânica e rápida.

- Documento por favor!

Eu já estava com o meu RG em mãos, justamente para evitar demora e que ela fizesse o pedido. Que cara hein! Parece que a noite anterior não foi muito boa. Mas eu não tenho nada a ver com o seu mal humor. Fazer o quê?!
Quando eu entreguei o documento senti que algo não estava muito convincente, nem para ela nem para mim. Lá vem coisa por aí!
- É alguma coisa?

Parece que eu estava prevendo o que iria acontecer.
- É você mesma? Está tão diferente!
- Ah, eu tinha doze anos quando eu tirei essa foto. Você pode verificar na data de expedição.

Ao mesmo tempo que ela fazia a pergunta, eu sentia um tom irônico em suas palavras. Eu entendo que a foto não era lá essas coisas todas. Se uma foto de RG, já não é uma coisa linda de se ver, imagine a minha. Mas não era preciso que ele reagisse daquele jeito.

- Acho que terei que verificar direito os seus dados.
- Por que?

Eu ainda arrisquei em perguntar por quê. Estava na cara a resposta. Ela verificou os meus dados, conferiu o número, perguntou o nome dos meus pais, local de nascimento e mesmo assim não queria deixar eu entrar para fazer a prova.
- Ah, meu Deus! Moça, eu vim de longe de Santo Antonio de Jesus, estou aqui nervosa e ansiosa. A senhora acha que eu estou mentindo? Tenha paciência!

- Não tudo bem, é porque eu tenho que conferir mesmo.

Filha de uma mãe! Pensei tão alto que tenho certeza que ela ouviu. Entrei, fiz a prova e durante todo o momento que fiquei na sala, ela olhava para mim. E o pior é que eu via que ela estava olhando; ela não disfarçava. Ou eu estou de verde ou eu sou bonita demais, que saco viu! Para de olhar...
Terminei a prova e segui em direção a mesa para entregá-la ao fiscal.

- Boa sorte, até amanhã.
- Até amanhã, espero que não tenha mais contratempos.

Ela largou um sorrizinho de canto, meio sem jeito, e concordou com a minha fala. Depois desse episódio, jurei para mim mesma que ao chegar em Santo Antonio a primeira coisa que eu faria, era trocar de RG, em especial a foto. Mas vejam só como é a vida, mesmo passando por uma vergonha dessas, estou até hoje com essa identidade. Passando vergonha.



Né? Oi? Tchau!

-Oi!
-Oi!
-Tudo Bem?
-Tudo!
-hum...
-Era tarde, já passava das dez, quando sentei em um banco, a noite era meio cinzenta devido à neblina, era um silêncio total, e logo após, ao meu lado, ela sentou, mil coisas vinham a minha cabeça, dizer o que? Ela era linda! Negra, com olhos que lembravam o céu à noite, negro e bem brilhantes, aqueles olhos... Ah! aqueles olhos... O que dizer? Como começar? Até que ela começou com um "Oi" e parou nesse tal de “hum”... e agora o que falo? Tenho que continuar a conversa começada por ela... Deixa-me pensar!
- Gostou do filme que passou no cinema hoje? - Pergunta Ela.
- Oi?
- O Filme?
- Ah Sim! Muito bom!
- Certa vez ouvir uma pessoa dizer que a melhor forma de se começar uma conversa era fazendo uma pergunta, mas o que eu poderia perguntar pra ela?
- Eu adorei também, Scorsese é sempre Brilhante né?
- Enquanto ela falava, eu vagava em meus pensamentos, olhando-a e admirado a sua beleza, a única palavra que ouvir da frase que ela acabara de dizer foi: “Né”, mas “né” o que? Ah!
- É... É Verdade você tem toda razão - Falo sem ter a menor noção do que ela acabara de falar.
- Logo apareceu um sorriso que me encantou ainda mais, não era um sorriso como qualquer outro, ele levemente ia aparecendo e lentamente esvaecendo, aquele dentes brancos em contraste com a sua pele, parecia a lua surgindo e sumindo em meio a uma noite, escura como aquela, juro que era a coisa mais linda que havia visto, eu precisava conhecê-la melhor.
- Bem... – tentei enfim falar, quando fui interrompido, pela frase mais cruel que já havia escutado.
- Meu ônibus! Tchau!

O TORTURADOR

Por Jamile Castro

Nossa, vou ter de ir até lá hoje. Eu odeio todas essas coisas, a começar por aquele barulho esquisito. Lá vou eu, né. Fazer o quê?!
− Ele só chega às 9h. Você vai aguardar? – disse-me a recepcionista, uma moça negra,magra, que usava óculos de acetato preto, bastante simpática.
− Sim, sim tenho pressa.
Ainda eram 8h. Que saco! É o jeito ver Ana Maria Braga. O programa está realmente um saco hoje. Hummmmmm, revistas! Quem, Caras, Contigo. Todas velhas, eca! Ana Maria novamente. Essa hora não passa, e esse homem não chega nunca, puxa vida! Espera, espera, odeio esperar. Lalalalalalalá, ele não vai chegar mais e eu estou aqui perdendo aula.
Será que é ele? Sei não muito novinho.
− Ele já chegou, pode entrar.
− Obrigada.
Entro por um corredor, primeira porta, segunda, terceira. Bati.
− Entra.
Entrei.
− E então moça, o que houve?
− O meu dente está arranhando, acho que quebrou.
− Vou dar uma olhada. Senta aí.
Era uma daquelas cadeiras de dentista, num tom azul celeste.
Sentei.
−Abra a boca.
Abri.
− Assim.
Fiquei com aquele bocão superaberto. Ele logo acendeu aquela luz no meu rosto e começou a colocar todos aqueles aparelhinhos metálicos para verificar minha dentição.
Escreveu algo num papel e me entregou.
− Dá pra fazer agora?
− Dá sim.
Saí da sala e fechei a porta. Voltei ao corredor, percorri até o balcão da recepção. Entreguei o papel a moça. Ela calculou, entreguei o cartão de crédito a ela. Assinei e entrei novamente.
Sentei-me novamente na cadeira azul. Ziiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii. A cadeira inclinou. O refletor foi aceso novamente. Ele pôs as luvas, entregou-me um guardanapo. A tortura ia começar.
−Abre a boca um pouquinho.
Passou xilocaína com seus dedos na minha gengiva. Aplicou a anestesia.
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh, que dorzinha infeliz!!!! É por essas e outras que odeio dentistas. Demorou um pouco ajeitando os instrumentos do massacre.
− Abre a boca novamente.
Abri, mas com certo medo. Colocouo sugador na minha boca. Pegou aquele aparelhinho barulhento e começou: zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
Eu odeio esse barulho, tentei ouvir a música que tocava bem baixinho, mas não conseguia me concentrar nela. Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
Acaba, acaba, acaba logo essa droga.
Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz parecia que não tinha mais fim. Enfim ele parou. Acho que deveriam dar uns protetores de ouvido pra gente, que barulho horrível. Ufa!!!!!!!
Ainda mantendo minha boca aberta pôs um treco de ferro na minha boca que parecia moldar a massinha. Doeu. A minha boca parecia que ia quebrar. Eu já não agüentava mais. Não podia nem engolir a minha saliva. Colocou a massinha. Botou uma luzinha que parecia um laser. Tirou o molde de ferro. Enfim, pude fechara minha boca.
− Pronto mocinha.
­− Tchau, obrigada. No fundo tinha vontade de matar ele.
Saí da sala sem dizer mais nada, até porque minha boca estava dormente.

“Fica comigo”

-Sim, minha mãe, já to chegando em casa, vou pegar o ônibus agora, vou desligar. Tchau!

As balas! Como posso esquecer das balas? Não consigo ficar sem elas...

-Moço, me dê 1 real de bala. Sim, essas icekiss. Mistura! Coloca da preta, da vermelha, da azul e da verde.

Essa história aconteceu uns 7 anos atrás. Estava voltando do colégio, indo para casa, mas precisamente subindo no ônibus...

Ai que calor! Que fome! Que vontade de chegar em casa, tomar um banho e almoçar! Essa aula de hoje foi tão estressante... Que professora mais chata! Vou dormir a tarde inteira para compensar. Oxe, será? Não, deve ser impressão minha, to vendo coisa onde não existe. Sim! Ele está! Por que esse cobrador não para de olhar para mim? Se ainda fosse um gatinho, mas esse, velho, gordo, careca, ridículo... Eca! Para de ficar me encarando, seu idiota! Eu não estou te dando bola! Que merda!

Após um breve momento de raiva, vergonha, medo, olhei para minhas mãos e percebi...

Oxe, o que o passe ta fazendo na minha mão? Como passei pela catraca sem entregá-lo ao cobrador idiota? Mas eu entreguei! Tenho certeza! Ou não? E aquela figurinha de bala na mão dele é o que? Para de ficar me olhando, seu imbecil! Naaaaaaaaaao, eu não fiz isso! Não pode ser!

-Moço, eu esqueci de te entregar o passe. Ou melhor, eu me enganei e te dei um papel de bala. Você poderia trocar?

“Fica comigo?” O que? Eu dei uma figurinha esrito “Fica comigo” para o cobrador do ônibus? Que coisa mais baixo astral! Que vergonha! Que mico! É melhor eu descer logo daqui e ir para casa andando...

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Tortura moderna

“Tenta sim. Vai ficar lindo.”

Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha. Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve. Mas acho que pentelho não pesa tanto assim. Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa.Eu imaginava que ia doer, porque elas ao menos me avisaram que isso aconteceria. Mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.

- Oi, queria marcar depilação com a Penélope.

- Vai depilar o quê?

- Virilha.

- Normal ou cavada?

Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que era pra fazer, quis fazer direito.

- Cavada mesmo.

- Amanhã, às... deixa eu ver...13h?

- Ok. Marcado.

Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves, porque sabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique. Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui. Assim que cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba, vou ficar que nem ela, legal. Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado. Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor.

De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas. Uma mistura de Calígula com O Albergue. Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso cantinho: uma maca, cercada de cortinas.

- Querida, pode deitar.

Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca. Mas a Penélope mal olhou pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura. Vi coisas estranhas. Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça. Meu Deus, era O Albergue mesmo. De repente ela vem com um barbante na mão. Fingi que era natural e sabia o que ela faria com aquilo, mas fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a amarrou bem forte.

- Quer bem cavada?

- ...é... é, isso.

Penélope então deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentar antes.

- Os pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco senão vai doer mais ainda.

- Ah, sim, claro.

Claro nada, não entendia porra nenhuma do que ela fazia. Mas confiei. De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma espátula melada de um líquido viscoso e quente (via pela fumaça).

- Pode abrir as pernas.

- Assim?

- Não, querida. Que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado.

- Arreganhada, né?

Ela riu. Que situação. E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha virgem. Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar.Foi rápido e fatal. Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que apenas minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem de olhar.

Achei que havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu. Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural.

Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais.

- Tudo ótimo. E você?

Ela riu de novo como quem pensa 'que garota estranha'. Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter clientes.O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer. Todas recomendam a todos porque se cansam de sofrer sozinhas.

- Quer que tire dos lábios?

- Não, eu quero só virilha, bigode não.

- Não, querida, os lábios dela aqui ó.

Não, não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios? Putz, que idéia. Mas topei. Quem está na maca tem que se fuder mesmo.

- Ah, arranca aí. Faz isso valer a pena, por favor. Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida na Abigail.

- Olha, tá ficando linda essa depilação.

- Menina, mas tá cheio de encravado aqui. Olha de perto. Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria balançado com a respiração das duas.

Estavam bem perto dali. Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo.

'Me leva daqui, Deus, me teletransporta'. Só voltei à terra quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça.

- Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá?

- Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada. Estava enganada. Senti cada picadinha daquela pinça filha da mãe arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.

- Vamos ficar de lado agora?

- Hein?

- Deitar de lado pra fazer a parte cavada.

Pior não podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens.

- Segura sua bunda aqui?

- Hein?

- Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda.

Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o olho que nada vê. Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista. Quis chorar, gritar, peidar na cara dela, como se pudesse envenená-la. Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O marido perguntaria:

- Tudo bem, Pê?

- Sim... sonhei de novo com o cu de uma cliente.

Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu tuin peaks. Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação. Sei que ela deve ver mil cus por dia. Aliás, isso até alivia minha situação. Por que ela lembraria justamente do meu entre tantos? E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá?

Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera. Achei que a bunda tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza não havia nem uma preguinha pra contar a história mais. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto.

- Vira agora do outro lado.

Porra.. por que não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piora. A broaca da salinha do lado novamente abre a cortina.

- Penélope, empresta um chumaço de algodão? Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem? Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope. E agora a vizinha inconveniente.

- Terminamos. Pode virar que vou passar maquininha.

- Máquina de quê?!

- Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol.

- Dói?

- Dói nada.

- Tá, passa essa merda...

- Baixa a calcinha, por favor.

Foram dois segundos de choque extremo. Baixe a calcinha, como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho? Mas o choque foi substituído por uma total redenção. Ela viu tudo, da perereca ao cu. O que seria baixar a calcinha?

E essa parte não doeu mesmo, foi até bem agradável.

- Prontinha. Posso passar um talco?

- Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha.

- Tá linda! Pode namorar muito agora.

Namorar...namorar... eu estava com sede de vingança. Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso. Mas doía e incomodava demais. Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada. Queria comprar o domínio http://www.preserveaspeludas.com.br.

Retirado do http://diariodeumliso.blogspot.com/2007/06/penlope-depiladora.html