terça-feira, 13 de maio de 2008

Passando vergonha

Maiane Matos

07:00hr da manhã, os portões já estavam abertos. A fila para conferir nome, identidade já estava formada na porta da sala onde seria minha prova. Nervosas, ansiosas, apreensivas, inquietas tinha gente de tudo que era jeito. Mas não adiantava o desespero, estava quase na hora de fazer a prova de vestibular.
Colégio Luís Eduardo Magalhães. Subi três escadas, quase fiquei tonta das curvas que eu tinha que fazer, até chegar ao último pavilhão do colégio. A sensação era esquisita parecia que eu estava indo para uma batalha, o que não deixava de ser. A fiscal sentada na porta da sala, parecia mais um guarda noturno. Séria, estatura mediana, magra, olhos e cabelos escuros, fitou seu olhar em mim percorrendo todo o meu corpo com os olhos. Era a sua terceira "varredura" do dia.

- Bom dia!
- Bom dia!

Respondeu-me de forma mecânica e rápida.

- Documento por favor!

Eu já estava com o meu RG em mãos, justamente para evitar demora e que ela fizesse o pedido. Que cara hein! Parece que a noite anterior não foi muito boa. Mas eu não tenho nada a ver com o seu mal humor. Fazer o quê?!
Quando eu entreguei o documento senti que algo não estava muito convincente, nem para ela nem para mim. Lá vem coisa por aí!
- É alguma coisa?

Parece que eu estava prevendo o que iria acontecer.
- É você mesma? Está tão diferente!
- Ah, eu tinha doze anos quando eu tirei essa foto. Você pode verificar na data de expedição.

Ao mesmo tempo que ela fazia a pergunta, eu sentia um tom irônico em suas palavras. Eu entendo que a foto não era lá essas coisas todas. Se uma foto de RG, já não é uma coisa linda de se ver, imagine a minha. Mas não era preciso que ele reagisse daquele jeito.

- Acho que terei que verificar direito os seus dados.
- Por que?

Eu ainda arrisquei em perguntar por quê. Estava na cara a resposta. Ela verificou os meus dados, conferiu o número, perguntou o nome dos meus pais, local de nascimento e mesmo assim não queria deixar eu entrar para fazer a prova.
- Ah, meu Deus! Moça, eu vim de longe de Santo Antonio de Jesus, estou aqui nervosa e ansiosa. A senhora acha que eu estou mentindo? Tenha paciência!

- Não tudo bem, é porque eu tenho que conferir mesmo.

Filha de uma mãe! Pensei tão alto que tenho certeza que ela ouviu. Entrei, fiz a prova e durante todo o momento que fiquei na sala, ela olhava para mim. E o pior é que eu via que ela estava olhando; ela não disfarçava. Ou eu estou de verde ou eu sou bonita demais, que saco viu! Para de olhar...
Terminei a prova e segui em direção a mesa para entregá-la ao fiscal.

- Boa sorte, até amanhã.
- Até amanhã, espero que não tenha mais contratempos.

Ela largou um sorrizinho de canto, meio sem jeito, e concordou com a minha fala. Depois desse episódio, jurei para mim mesma que ao chegar em Santo Antonio a primeira coisa que eu faria, era trocar de RG, em especial a foto. Mas vejam só como é a vida, mesmo passando por uma vergonha dessas, estou até hoje com essa identidade. Passando vergonha.



Um comentário:

Leandro Colling disse...

bom, apenas duas coisinhas:
07:00hr: 7h
Para de olhar: pára