quinta-feira, 1 de maio de 2008

CUIDADO: AS APARÊNCIAS ENGANAM

Por Jamile Castro
Ao entrar no CAPS (Centro de atendimento psicossocial) , uma porta à direita é a entrada para a recepção, um lugar bastante familiar, parece uma sala de casa comum. Um sofá, a televisão ligada sobre uma pequena cômoda, cortinas fechadas e algo que a diferencia das demais casas, um balcão. Não tinha ninguém lá. O barulho de pessoas vinha lá de dentro. Para chegar ao cômodo habitado, se passa por um corredor com 3 portas. A primeira, aberta, tinha um homem jovem, magro, bem concentrado em algo que fazia. Parecia médico. Era enfermeiro. A segunda porta estava entreaberta. Um consultório. Estava vazio. A terceira porta, vazia também. Enfim pessoas, numa aula de arte.
Tranqüilo. Agradável. Aparentemente normal. Transtornado. Agressivo. Psicopata. Esse é o caso de tantos indivíduos que apesar de parecerem pessoas normais sofrem de um transtorno mental ou de uma psicopatia. Vanilton de Oliveira, 23 anos, fazia tratamento psicológico a seis ou sete meses no CAPS da cidade de Muritiba. Foi preso por matar um homem. Passava na Avenida Nova Brasília, com uma enxada na mão e sem motivo algum, atingiu duas pessoas que estavam na rua.
Para o psicólogo Raimundo Oliveira, que faz parte da equipe do CAPS em Muritiba, a psicopatia tem pré-disposições inatas, biológicas, bioquímicas associadas ao ambiente social desfavorável (falta de um alicerce familiar acolhedor, de uma base sólida de identidade).
Na mesa objetos como papéis coloridos, colas, tesouras escolares, caixas de sapato, pratinhos descartáveis compunham a aula do dia. As mulheres decoravam seus pratinhos com flores, muitas flores, flores rosas, amarelas, vermelhas. Os homens, que eram apenas dois, forravam as caixas com papéis. Estavam todos muito concentrados. Alguns tinham a fisionomia abatida, outros estavam alegres. Mas todos faziam suas atividades. Na mesa ao lado, algumas homens jogavam dominó.
A equipe de tratamento do CAPS é uma equipe multidisciplinar composta de médico psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional, enfermeiro, assistente social e dentista. A equipe aposta em tratamentos não intensivos e semi-intensivos, uma vez que o centro não dispõe de internação para terapias intensivas.
Na maioria dos casos, os pacientes entram e saem com certa liberdade, alguns até ficam um tempo após o expediente. Vanilton não era louco. Era responsável por seus atos. Ele comprava, vendia, morava sozinho, sabia que dia era hoje, gostava de reggae, de rap, gostava de comprar roupas, gostava de mulheres, de ir a bailes. Uma pessoa normal. “Sua tendência à psicopatia associada talvez com drogas, pôde gerar essa crise de alucinação, de desatino, que é o que leva a pessoa a cometer tal ato insano” para o psicólogo.
Na mesma sala onde acontecia a terapia ocupacional, tem uma estante de ferro, repleta de trabalhos artesanais desenvolvidos por pacientes. O que essas pessoas procuram achar aqui? Um tratamento para a depressão, medicamentos psicotrópicos, ocupar sua mente, são tantas as possíveis ajudas que podem ser oferecidas a essas pessoas. Talvez o que faz falta a elas, é justamente o apoio social, no qual a família desempenha grande importância.
Vanilton morava só, tinha um bom relacionamento com sua família, mas essa agressividade repentina não foi a primeira. Ele era calmo, mas de repente ficava agressivo. Em interrogatório para a polícia, Vanilton conta que sentiu algo de ruim em si e ouvia vozes que perturbavam, sentindo assim uma necessidade de agredir a todos que encontrava pela frente. Relata também que não se lembra que agrediu outras pessoas além de Adilson Sacramento, que veio a falecer, e Maria dos Santos que ainda encontra-se no hospital. O psicólogo diz que se ele tivesse tomando os medicamentos psicotrópicos regulamente, como solicitado pelo CAPS, essa fatalidade não teria acontecido.
Ambientes tranqüilos, assim como o CAPS, cheio de atividades, de interação social saudável, de paz, pode ter pessoas como Vanildo, que são dóceis, aparentemente sem nenhum problema, mas que possuem um distúrbio capaz de tirar a vida de outras pessoas.O problema psicológico de Vanilton não chegou ao conhecimento da Delegada Jocelina Ferrão. Ela diz que nenhuma das testemunhas mencionou que ele fizesse acompanhamento psicológico, nem mesmo o acusado. O que pode impossibilitar que ele cumpra sua pena em um manicômio judicial. Ainda em interrogatório, Vanilton diz que agrediu a “enxadadas”, pessoas que nunca lhe fizeram qualquer mal. Então, o que levou esse homem a cometer esse crime hediondo? A resposta pode ser dada através da psicologia, ou quem sabe através da própria religião.

Um comentário:

Maiane Matos disse...

CORRIGIDA POR MAIANE