quarta-feira, 14 de maio de 2008

Deixa de blá-blá-blá

São duas horas da manhã. Dentro da barraca, local que virou meu quarto por uma semana, faz muito frio. Malas, mochilas, sapatos, livros e uma colega divide este minúsculo espaço comigo. Este meu quarto temporário não está só. São mais de cinqüenta, variando em tamanho, cor, formato, com utilidades muito variadas. Estamos em uma cidade universitária, precisamente em Santa Maria – RS. Jovens universitários do país todo se encontram para discutir questões referentes à casas universitárias e a nova universidade que queremos. O prédio onde permanecemos é a residência temporária de alunos que esperam surgir vagas nos apartamentos. A cidade é muito fria, mas seus habitantes são bens quentes, ao contrário que eu ouvia falar. O clima aqui é perverso, quando faz sol o vento é mais frio e nos maltrata mais, quando chove o frio diminui.

Depois de muitas plenárias no decorrer do dia, é hora da diversão. Lá fora, jovens se conhecem, trocam e-mails, salivas, fumam "unzinho", cantam, dançam, "azaram", querem viver tudo que este momento permitir... e parece que a vida está concentrada somente no agora. O não envolvimento por completo causa posteriormente um sentimento de perda. Os termômetros marcam 3º Celsius, estou congelando. Queria dançar mais um pouco, cantar mais um pouco, mas o frio me venceu.

-Por que você me olhou e quis ficar comigo?

Fala a garota da barraca ao lado.

-Ah, sei lá. Olhei pra você e quis fica contigo.

Responde o carinha que faz ela sentir menos frio do que eu.

- O que você gosta de fazer?

- Gosto de tudo um pouco. Jogar bola com meus amigos, ir à praia, ler e namorar né, ninguém é de ferro.

- Você tava me observando há muito tempo?

- Desde que chegamos aqui, no domingo.

- Quanto tempo você viajou até chegar aqui?

-Umas cinco horas. A viagem não foi muito longa.

Ai que saco. Povo maluco, tem o tempo todo pra conversar, agora quer saber o nome do papagaio, do gato, do cachorro... isso é demais. Esses dois são a antítese da galera lá fora meu. Daqui a pouco pra dá um beijo vai pedir RG, CPF, carteira de trabalho, título de eleitor e o que mais a burocracia mandar... aff!! não suporto eles não...dois chatos. O pessoal se divertindo, beijando na boca, dançando, compartilhando todo tipo de emoção e esses dois aí...de papo. Um casal vem pra barraca pra conversar essa besteiras... isso ninguém merece. Ainda empata meu sono... que frio, quero meu calor baiano...não tô mais agüentando...êta lugar frio demais. Pera um pouco...um silêncio heim?!! hum até que em fim partiram para o abraço e meu sono vai agradecer...gente doida. Agora eu durmo...ainda bem.

- Entra, pode deitar por cima mesmo. Não se mexe não tá, senão você não deixa espaço pra mim. Pera, não puxa assim pode rasgar.

- Tá certo. Você quer que coloque onde?

- Bota em qualquer lugar, não faz diferença, vai dá tudo no mesmo.

- Agora sim, conseguimos nos arrumar nesta barraca minúscula. Ah, coloquei seu casaco encima da mala tá.

Eu tinha dito que não faria diferença. Mas você fechou o zíper da barraca sem nenhum estrago né?

-Claro, gosto de fechar tudo direito. Essa noite por sinal estou fechando com chave de ouro.

Mais um casal... não acredito. Tomara que não fique no blá-blá-blá. A barraca fala por eles. É parece que esse aí não tem muito papo não... enfim vou dormir, afinal depois de dançar tanto preciso descansar, amanhã tem mais.

- Você é bem parecida com minha tia.

Diz o garoto.

- É mesmo? Não entendi a comparação.

- Seus olhos claros, com esses cabelos cacheados me lembram muito ela. Era pra ela tá aqui no evento, mas ela teve que ir ver meu avô. Já te falei do meu avô né? Nossa!!! O coroa é muito doidão. Adora curtir a vida, azarar as menininhas, gosta de esporte, mas ultimamente só faz caminhada mesmo. Onde ele mora, no interior do Rio, tem várias casas de parentes. Um primo de 17 anos já está fazendo faculdade. Ele é muito crânio. Lembrei de um episódio massa da minha vida. Foi em uma viagem da faculdade, a galera muito legal. Fiquei com uma morena muito linda. Cabelos longos, cacheados e negros. Cinturinha de violão e ainda tinha um complemento atrás que não devia nada a ninguém. 1,75m de altura, toda delicada, que garota linda. Já te contei da história, que eu e meus colegas nos perdemos quando íamos pra uma cachoeira?

-Oi? Desculpa...agora eu vou dormir. Amanhã você me conta.

Nossa!!! Que cara babaca. Eu também vou dormir. Aff...meus ouvidos não suportam.

Um comentário:

Leandro Colling disse...

bom texto, com alguns probleminhas, a exemplo:
conversar essa besteiras: essas
encima da mala: em cima