quinta-feira, 1 de maio de 2008

Pescadores de ilusões

6:45 da manhã. Lá estão eles. Será que chegaram cedo ou viraram a noite? Vai saber... Apesar do sol não está muito forte, a temperatura está alta, o tempo bastante abafado. A movimentação na ponte D. Pedro não parece incomodá-los, eles se quer a percebem. Gente indo e vindo com andares apressados, carros fazendo barulho, crianças chorando, gente conversando alto... Movimentos, vozes, ruídos, sol escaldante contrastam com sua concentração, tranqüilidade e paciência, são eles: os pescadores da ponte.
João Alberto Oliveira, 65 anos, pescador. “Aprendi a pescar com meu pai que também era pescador, sempre vivi disso, nem saberia fazer outra coisa”, afirma ele. Seu João, como prefere ser chamado, além de consumir os peixes que pesca, também vende na feira. “O dinheiro não é muito, mas recebo também a bolsa família, então dá para ir levando”, comenta. Ele trabalha quase diariamente, chega à noite e fica até amanhecer. “A noite é mais fresco e não tem zoada, para mim é o melhor horário”. Seu João é casado, mas mora só, “minha mulher mora com meus 3 filhos na zona rural ”.
Ao ser questionado se já presenciou alguma história interessante na ponte, diz que não. Depois, pensativo, acrescenta, “uma vez, bem tarde da noite, dois jovens bêbados apostaram corrida de moto aqui na ponte. Um deles se desequilibrou no trilho e caiu da moto. O outro, que estava à frente, foi olhar para o amigo, perdeu a direção e caiu também ”.
Edvaldo da Costa Pereira, 51 anos, outro pescador. “No inicio pescava só para me distrair, relaxar, passar o tempo, mas, desde que perdi meu emprego de mecânico, pesco para me sustentar”. Edvaldo trabalha de segunda a sexta das 5 horas da manhã até 2 da tarde. “Às vezes venho pescar até dia de sábado ou domingo”. Os peixes são vendidos na feira e, segundo ele, o lucro é compensatório. “Têm dias que o rio está bom, outros não, mas aí eu fico mais tempo para compensar”.
Sobre ter visto algum caso na ponte, conta, “Uma vez uma senhora não viu um buraco e caiu. A perna dela ficou presa entre as tábuas e precisou da ajuda de várias pessoas para tirar”.
Martins Ferreira Lima, 48 anos, mais um pescador. “Pesco só uma vez ou outra”, diz ele. Martins trabalha fazendo biscates e os peixes que pesca são para consumo. Para ele, o melhor horário é à noite, em que “posso ficar tranqüilo que ninguém me incomoda”.
Martins conta que uma vez viu um garoto tentar suicídio. “Ele não chegou a pular no rio, as pessoas logo o tiraram da ponte”, explica.
Marcos Xavier, 37 anos, pescador. “Pesco todos os dias a partir das 7 horas da noite”. Marcos trabalha durante o dia como motorista, e, à noite, pesca por distração e para consumo próprio. Ele explica que não é sempre que se está favorável para pescar, depende do rio, quando está baixo tem mais peixe.
A respeito de histórias presenciadas por ele na ponte, diz que têm algumas. “Geralmente tinha umas crianças por aqui brincando de pular da ponte. Uma vez uma delas, ao pular, bateu a cabeça na pedra e morreu”.
Outro caso que Marcos conta foi de um casal, passando pela ponte, que estavam discutindo. “De repente o homem agarrou a mulher e ameaçou jogá-la da ponte. Foi um dos pescadores daqui que o impediu”, conta ele.
8 horas da noite. Lá estão eles. São os mesmos da manhã? Provavelmente não. O tempo está agradável, fresco. O movimento na ponte está baixo. Nesse momento é difícil não notar a presença deles. Lá, concentrados, silenciosos, pescando seus peixes. A cena é bucólica. Transmite paz, tranqüilidade. São eles: os pescadores da ponte.

Nenhum comentário: