quarta-feira, 14 de maio de 2008

Noite de chuva

Um na frente do outro, dois jovens se olhavam fixamente, nenhuma palavra foi dita desde que se encontraram. O único som que se propagava é o barulho da espessa chuva no chão. Estou embaixo de uma marquise, e aparentemente somente uma cortina de água me separava da garota molhada quase no meio da rua.
Uma doce voz masculina quebrou a monotonia sonora:
- Sai dessa chuva!
Meu Deus como ela está linda.
A garota continuou a me olhar, sem dizer uma palavra, com a chuva caindo em sua cabeça e descendo pelo seu corpo já encharcado, o que me deixou um pouco constrangido.
- O que você está fazendo aqui? Ela falou finalmente, com uma expressão serena, que nem a chuva grossa conseguia abalar. Quer dizer, era como se ela não se importasse, como se a chuva estivesse caindo carinhosamente em seu rosto.
- Queria conversar com você.
Porque ela mexe tanto assim comigo? Só a presença dela, já faz me sentir estranho, sem reação.
Ela então esticou o braço na minha direção, oferecendo a mão, me convidando para o lugar onde estava. Recuei.
- Não vou cair nessa chuva! Realmente não via sentido nela estar parada no meio da rua, quando podia se abrigar embaixo de algum lugar.
- Porque não?
- Não quero me molhar. Saia daí vai ficar doente.
- Tem medo da chuva?
Engraçado, essa pergunta me abalou, mais do que a própria presença dela diante de mim. Parei para pensar em suas palavras, e lembrei que realmente nunca havia tomado banho de chuva. De repente fui tomado por um torpor no corpo, e senti que algo mais forte me empurrava em sua direção, me deixei levar. Senti quando suas mãos tocaram as minhas e os primeiros pingos na minha cabeça.
- Está frio!
- É só no início, tem que deixar a chuva tomar todo o seu corpo, daí você vai sentir como ela é quente, aconchegante.
Realmente, depois do primeiro choque, um gostoso calor tomou conta do meu corpo, mesmo estando molhado. Então é isso que as pessoas sentem quando falam em banho de chuva?
Ela continuava a me olhar. Ah, como adoro estes olhos.
- Queria te pedir desculpas.
Enfim ela deu seu primeiro sorriso e desviou seu olhar para o chão, reflexiva.
Olhando para a rua ao lado, falou:
- Não precisa falar sobre isso.
- Devo pedir desculpas por não poder ficar com você.
Mas por quê? Por que não largava tudo e caia nos seus braços? Sei que seria feliz. Talvez seja coragem. É isso, não tenho coragem para deixar minha noiva, uma vida estruturada, por uma outra que teria que começar tudo de novo, sem saber onde me levaria. E isso me deixava angustiado, porque não podia ter as duas? Ou porque não a conheci primeiro? Sei lá! Essas coisas não se explicam, a única certeza que tenho é que se não terminasse com minha noiva, nunca mais a teria de novo.
E tudo aquilo acontecendo bem na minha frente, depois de uma hora e meia de viagem, eu a esperei em frente da sua casa, agora estou de baixo de uma chuva estrondosa, e ela está diante de mim, molhada, linda. Mas uma parede de concreto parece me separar dela. E tudo o que consegui dizer foram essas palavras ridículas.
Ela me deu um beijo no rosto, pegou uma chave no seu bolso e se dirigiu a porta de sua casa, abriu e sumiu. Depois desse encontro nunca mais a veria, mas sua imagem daquele dia nunca deixaria minha cabeça. No pouco tempo que esteve em minha vida, ela mostrou minhas maiores fraquezas, e me ensinou a tomar banho de chuva.

Um comentário:

Leandro Colling disse...

querida, bom texto, mas eu fiquei um pouco confuso com os personagens, às vezes não sei quem está falando, narrando.ok?