quarta-feira, 14 de maio de 2008

Procura-se um celular

“Porra velho! Silvinho realmente se ferrou agora. Mas também....”

Foi o que eu pensei quando vi aquele amigo que traiu a namorada há poucas semanas atrás ficando com uma garota pilantra que ele acabara de conhecer numa festinha de aniversário.

- Você errou velho! Não é porque você estava bêbado que tinha que sair ficando com uma ou outra. Você sabia que, uma hora ou outra, Priscila ficaria sabendo.

-Até você decidiu me criticar agora Tedinho?

Aquelas palavras carregadas de dor e raiva atravessaram minha cabeça e me faziam perceber que tinha perdido uma ótima oportunidade de ficar calado. Ou melhor, de tentar ajudar aquele amigo que sentia a perda da namorada.

- Desculpas Silvio. Eu sei que isso é a pior coisa que alguém pode falar nesse tipo de situação.

Naquele momento de drama, em que o melhor mesmo é ficar calado, e foi o que eu fiz já que não sabia o que dizer, dei-lhe um abraço tentando confortar aquele corpo quase inanimado, frio e pálido que pertencia ao amigo entristecido.
Já sentados, mais calmos e com olhares tristes de ambos os lados, podia sentir sua mão que buscava a calça jeans de um azul envelhecido à procura de uma superfície onde pudesse depositar as inúmeras gotas de suor que sobressaltava a epiderme como se estivesse chorando por todo o corpo.

“Eu preciso de ajuda velho. E agora, o que eu faço? Ela não vai me perdoar, o pior que não tenho também como conversar com ela. Terei que ir pra Salvador amanhã e tentar... não, ela não ia me receber. Também não tenho credito no celular. To ferrado!”

Eu tentava imaginar o que Silvio estava pensando naquele momento enquanto olhava, insistentemente, para um pequeno córrego de águas transparentes, embora exalasse um odor de esgoto, com uma vegetação quase rasteira que parecia ter sido podada poucos dias antes. Como poderia apoiar aquele amigo que implorava por minha ajuda quando por lances rápidos, pra que eu não percebesse o início de choro que brotava de seu olhar tremido, me olhava em busca de uma resposta?

- Silvinho, eu não sei se é uma boa idéia você falar com ela agora. Acho que melhor você deixar a poeira baixar um pouco. Vocês ainda estão muito nervosos, só iria piorar a situação. Mas como também sei que se você não falar com Priscila, não conseguirá dormir, e como sei que ela não vai atender caso você ligue de um número conhecido, posso te emprestar meu celular, contanto que você não gaste todos os meus créditos.

Quando acabei de falar aquelas palavras tentei iniciar um sorriso com o intuito de quebrar o gelo e arrancar de Silvinho um pequeno vestígio de graça que fosse. Mas foi em vão. A expressão de dúvida agora toma conta dele.

“Ligo ou não ligo?” Parecia ele pensar enquanto esboçava um início modesto de semblante feliz.

-Você é um “putetê do joelho ralado mesmo viu velho”, por isso que gosto de você!

Ele segurava o celular de formato arredondado que parecia querer escapar por suas mãos molhadas enquanto digitava os números. Sua expressão neste momento já era de insegurança e medo. Medo do que pudesse ouvir.

- Estarei ali ao lado do rio, se precisar de mais alguma coisa é só falar.

E Chamei sua atenção mais uma vez:

- Não vai acabar meus créditos viu.

O resultado do caso não soube qual foi. Ele não me falou nada naquele momento e depois disso não o vi mais. Não sei se ela o perdoou, ou não. Se ele está melhor, ou não. Ao menos sei onde foi parar meu celular, e se ele ainda tem crédito, já que o miserável do Silvinho ainda não me devolveu. E olha que isso já tem mais de uma semana. Só espero que ele não tenha se jogado no rio com meu celular no bolso.

Um comentário:

Leandro Colling disse...

bom texto ted, acho que vc e jadson deveriam pensar em escrever um livro reportagem como TCC. eu oriento