domingo, 6 de julho de 2008

A dialética do futebol

"O Milan acertou hoje com o Internacional a contratação do atacante Alexandre Pato, de 17 anos, por € 20 milhões (R$ 56 milhões)." Essa foi uma notícia divulgada pelo site UOL no dia 02/08/2007 poucas horas depois da transação que resultou na terceira maior negociação de um jogador da historia do futebol brasileiro.
São fatos como esse que incentivam, no Brasil, cada vez mais garotos sonharem com a carreira profissional nesse esporte. Sonho que para alguns dá certo e para outros, não se concretiza.
Acontece, em seu segundo ano consecutivo, a copa 2 de julho de futebol sub 17. A competição contará com 36 equipes, dentre elas seis estrangeiras. Os jogos serão distribuídos por doze cidades do interior da Bahia, uma delas é São Felix, que sediará onze jogos da fase inicial e terá a seleção da cidade como seu representante na competição.
Um grande portão, o gramado um pouco maltratado, um alambrado que rodeia todo o lado direito do campo. Este é o estádio municipal de São Felix. Em campo, rodada dupla. Jogam pela Copa 2 de julho as equipes sub 17 do Atlântico de Salvador contra o time do Atlético Paranaense e o segundo jogo será feito pela Seleção de São Felix que enfrentará o Pão de Açúcar do Rio de Janeiro. O estádio é pequeno, na arquibancada alguns torcedores eufóricos assistem e discutem sobre a situação do time da cidade, que não está muito boa no campeonato. Em campo, são 22 jogadores que sonham com uma carreira profissional.
Um exemplo disso são Jerson Dimas, 17 anos e Leomário Barbosa, também de 17 anos, ambos meio campo da Seleção de São Felix. Os dois jogadores moram em Maragojipe, são fãs de Ronaldinho Gaúcho e Cristiano Ronaldo, e vêem a copa como uma boa vitrine para realização do sonho de se profissionalizar no futebol.
"Nós temos um colega que jogou a copa no ano passado, o Diego. Ele foi primeiro para o Vitória (BA), e hoje joga no Criciúma (SC)."
Por outro lado, para alguns, a carreira não dá certo e o sonho acaba se transformando em frustração. Esse é o caso de Tiago Pereira, 22 anos, que chegou a jogar no time de base do Fluminense de Feira de Santana, mas em virtude da idade não conseguiu permanecer na carreira.
"No futebol atual 22 anos já se é velho para fazer um teste em algum time. Eles querem trabalhar com o jogador desde novo, moldar e vender antes dos dezoito. Continuo jogando, a esperança permanece, mas já estou quase me conformando".
Outra contradição no futebol acontece fora das quatro linhas. A seleção de São Felix e o Atlético Paranaense exprimem bem essa realidade polarizada. O Atlético vê o futebol como um negócio, é um time bem estruturado administrativamente, possui uma comissão técnica, uma folha salarial para o futebol de base, tem seu próprio Centro de Treinamento e seu próprio estádio de futebol. O São Felix é um selecionado, o time é amador, os jogadores quase não treinam juntos, não são remunerados, não são patrocinados.
Sobre essa desigualdade Marcos Santos, técnico do Atlético Paranaense, afirma: "nosso time pode levar vantagem no aspecto físico. Mas completa dizendo que o futebol hoje é muito de superação e que em qualidade técnica o nível é bem parecido. E confessa existirem dois jogadores de outros times que a comissão técnica do Atlético se interessou. Disse que vai esperar o fim do campeonato para ver se fazem ou não algum tipo de proposta para aos jogadores."
O outro lado da moeda é a cobrança. Se a administração dá todo o suporte ele tende a cobrar bons resultados. Quando perguntado sobre isso Marcos Santos diz existir, mas através de um planejamento, seguir o que o time entende como filosofia de futebol, os resultados aparecem naturalmente e bons jogadores são formados.
O jogador André Vittorello, 17 anos, atacante do Atlético Paranaense, completa o que o professor disse; "o atlético é um clube grande e deve buscar a vitória sempre, diante de qualquer time, seja ele de pequena ou grande expressão".
No campeonato são mais ou menos 800 meninos de até dezessete anos, alguns melhor encaminhados, como o André que joga no Atlético desde os 14 anos, outros menos como o Dimas e o Leomário. Mas todos estão "brigando" por um lugar nesse esporte tão competido e tão seletivo. Então, como toda dialética precisa de uma síntese: O mercado do futebol continua crescendo, a quantidade de garotos que tentam essa carreira continua crescendo e os sonhos são, a cada dia, renovados.




João Pedro e Sarah Lídia