domingo, 30 de novembro de 2008

Fim de festa

Fim de festa
Eu, minha irmã e mais duas primas resolvemos ir a um showzinho. Diga-se de passagem, de ingresso caro e que no final das contas não foi muito bom.
Somos quatro mulheres “lisas” que saímos com uma cota de dinheiro pra beber e o que sobrasse, ou melhor, o que tinha que sobrar, seria pra voltarmos para casa com um meio de transporte que até os últimos 20 minutos do final da festa não sabíamos o qual seria...

-Vamos?
-Vamo! Onde será que tem um táxi?
-Um táxi daqui até em casa deve ser caro!

Minha irmã vem em minha direção com seu namoradinho.

-E ai vocês vão pra casa de que? Pergunta o namoradinho de minha irmã.
-De táxi. Responde alguém que tava conosco.
-Meu amigo ta de carro, vocês querem uma carona?

Olho para o lado a procura do tal do amigo dele, vejo um sujeito de estatura mediana, cambaleando com uma latinha de cerveja na mão. Os olhos “trocados”.

-Vamo! Eu deixo vocês em casa.

Pensei duas vezes, mas quando olhei para o lado, minha prima Lívia que não pensou nem por um minuto, já estava acomodada dentro do carro. “Vamos economizar dinheiro!” diria ela. Então entramos todos no carro.

- Coloca Fantasmão ai! Eu que já não estava em sã consciência, fiz esta solicitação.

Quando ele entrou no asfalto comecei a fazer uma prece, não só eu, mas minhas primas e minha irmã. Ah, o namoradinho dela também...

“Ai, Deus nos proteja!” Pensei.

“Se acontece alguma coisa minha mãe me mata.” Era o que eu lia nas expressões de Amana.
- Ai, será que o que economizaremos vale nossas vidas? Momento de reflexão de Lívia.

Estávamos todos na maior tensão. Minha irmã me olhava como que queria dizer: “calma calma. Vai acabar tudo bem. Mas, se acontecer algo a culpa é de Lívia que entro no carro primeiro”.

Ao longe avistamos um viaduto

- Ai meu Deus, é agora! Fechei os olhos. Seja o que Deus quiser...

Como num flash o “nosso motorista” subiu com tudo o viaduto, com uma velocidade absurda.

“Aaaahhhhhhhhhhhhhh!!!!!” Gritamos todos mentalmente, espremendo-nos no banco do carro.

Como num piscar de olhos estávamos em casa. O cara depois que nos deixou, saiu rasgando avenida a dentro. Nós, paralisados, nos olhamos sem dizer nada e Lívia como num desabafo:

- Essa foi por pouco!

Um cara legal

Um cara legal
Cabelos pretos de um liso grosso, pele clara, uma voz nem muito fina nem muito grossa que sempre ecoa pela sala com seus comentários. Ele fala muito e alto que é uma beleza.
Sempre de bermuda, tênis e blusa, leva nas costas uma mochila preta (aquelas que todo estudante de graduação tem, que geralmente ganha-se em eventos) onde carrega um caderno enorme. A turma toda supõem que aquele caderno será para todo semestre, só pode ser!.
Tem um estilo roqueiro, até porque gosta de rock; quando entra na sala faz um gesto de hang lose para turma. Onde ele entra saúda a todos e dar sempre aquele oi individualmente para que já conhece a mais tempo.
Ele pode ser adjetivado de um cara legal, pois esta sempre disposto a ajudar, mesmo com uma vida louca de dois cursos acadêmicos e no bate- volta Feira/Cachoeira que vive. O seu humor é incrível, parece estar sempre alegre, mesmo com essa dinâmica estressante.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Pauta de: Casarão Mal - Assombrado

Um casarão antigo da cidade de Cachoeira é conhecido pelos habitantes por ser mal-assombrado. O objetivo desta matéria é colher algumas dessas histórias, e aborda-las de maneira interessante para o leitor. A idéia inicial é apresentar o texto por um terceiro ângulo de observação. Analisar como o sobrenatural se comporta na presença do “natural”.
Descrições, diálogos e fluxo de consciência serão utilizados na produção da matéria.

Camila Moreira

Pauta de: Um dia no Hospital de Cachoeira

O objetivo da matéria é observar o dia de um paciente no Hospital de Cachoeira. Analisar quais são as condições hospitalares, quanto tempo o paciente espera na fila, higiene do hospital, qualidade do atendimento, qualidade do atendimento, e o que ocorrer.
Seria interessante também, se houver a possibilidade, o repórter acompanhar o paciente na consulta ao médico para que o dia no hospital seja totalmente caracterizado.
Como a matéria deve seguir o estilo literário aspectos como as sensações transmitidas pelo ambiente devem ser incluídas, assim como a descrição do espaço e das pessoas.

Camila Moreira

A feira livre

A feira livre é um ambiente bastante frequentado e desperta em muitos uma sensação diferente.
Numa mistura de vendedores de frutas, verduras, roupas e outros artigos, a feira livre cria muitas vezes a sensação de estar em um ambiente paralelo.
A pauta sujere que selam entrevistados alguns vendedores e pessoas que frequentam o local. Para a elaboração da matéria pretende-se usar descrições de pessoas e ambientes, diálogos, narração e outros recursos que forem necessárioa à elaboreção da matéria.

Daiane Dória

Pauta -Violência Urbana

Patrícia Neves

Escreverei conto baseado nos dois últimos assassinatos que houveram em Cruz das Almas e nos poemas do Artista Nelson Magalhães, que tem como tema a violência urbana . Buscarei informações, porém o conto será junção do real com o fictício.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Galera!!!
As matérias e as fotos com legenda da última edição do jornal, devem ser entregues no dia 03 de dezembro.

Os editores.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Certo dia na 25

Por Sandrine Souza

Depois de vinhos e cervejas regados ao cansaço das desilusões, ela não quer ver ninguém. Até queria em algum momento daquele dia, mas agora não mais. Tentou fumar o mundo nos tragos do cigarro para sentir-se mais forte na tentativa de desafiá-lo. Conversava putarias com amigos de bar, mas a vontade era de se enterrar em algum canto escondido e escuro. A putaria rolava...
O Gogoboy conta de surubas vividas com muitas mulheres, homens e direito a chupadas voadoras. Bibi também entra na conversa com um ar de riso insinuante e irônico: - Da próxima vez me convida?
O Gogoboy fica sem graça com a pergunta. Mas, não deixa de mostrar simpatia. Logo envereda com outro assunto: - Vocês já tiveram orgasmos múltiplos? - referindo-se às mulheres da mesa com cara de insinuação.
O Superego, que parecia estar desinibido neste dia, disse que sim com empolgação de quem relembrava aquele momento: durante o sexo e de outras formas também.
Sempre contida, a Menina Mulher, naquele dia com ar de empolgação, disse não.
Ela, a outra, preferiu não se pronunciar até lhe dirigiram a palavra, quando respondeu “depende”, com olhar desconcertado. Tenta se reservar de uma conversa com alguns ainda não tão íntimos assim. Ela também não queria muito papo.
A Menina Mulher investe no assunto e volta atrás na resposta: - Há... depende também. No sexo não, mas já de outras formas.
O papo e o clima esquentam a cada gole de cerveja. As línguas rolavam soltas falando de desejos e de experiências excêntricas. Aos poucos o álcool faz ela se sentir à vontade e falar. Ela confirma que também já teve.
Bibi fala de sexo oral: - Tem gente que pensa que meu pau é picolé, fica só lambendo. Eu digo logo “Chupa porra”! - Todos riram.
O Gogoboy não perde a oportunidade para falar das habilidades de sua língua estranha, que se dobra e faz movimentos inimagináveis.
O Superego comenta sua falta de sexo e anuncia que a qualquer momento sobe pelas paredes: - São seis meses sem... Seis meses!!! - fala tentando fazer graça das próprias verdades, ou tentando mostrar uma inverdade fajuta na sua verdade. Bibi propôs ajudá-la, depois, lembra do impedimento de um compromisso. Superego insiste. Bibi diz não.
Bibi se empolgou e propõe uma suruba: em um lugar com piscina, homem com homem, mulher com mulher e homem com mulher, fazendo muita putaria com quem tivesse vontade. Alguns toparam; o Superego não. No balneário? Talvez.
Quase que sem se fazer notar Ele chega com ar de que o mundo gira a seu redor, com aqueles olhos negros e fortes que convidam ao sexo - esperemos um pouco. Ele não se pronunciava, apenas olhava como um felino que fareja o terreno. De repente um convite com olhar firme, que emana chamas ardentes...
Ele: - vamos para sua casa?
Ela já estava excitada.
Eles foram.

Fluxo de consciência

Pessoas lindas. Chegamos no nosso último exercício: fluxo de consciência.

Primeiro leia as dicas em http://www.pucrs.br/gpt/fluxo.php

Depois crie um fluxo de alguém que vc conhece muito bem, em uma determinada situação. Por isso, use também um pouco de descrição, narração e diálogo.

Bom trabalho.

Leandro



PS: até o final do semestre irei ler todos os textos e tecer lindos comentários, podem esperar.

Coração dividido

- Eu não vou! Se você quiser, vá sozinho.
- Mas amor, você vai mesmo passar nosso 1º aniversário de casamento longe de mim?

Gustavo era um cara super romântico, daqueles que toda mulher sonha em conhecer. E Luísa sabia muito bem disso, tanto é que casou com ele, passando na frente de muitas outras concorrentes. Mas Gustavo tinha um problema, e que ela não suportava: o Fluminense.

- Eu não passei 364 dias do ano esperando por hoje pra você não querer nem sair comigo!
- Mas eu quero sair com você sim, vamo comigo meu bem...
- Onde já se viu comemorar uma data como esta num estádio de futebol, ainda por cima com o nome de ‘Laranjeiras’! Você costumava ser mais romântico, Gustavo...

Esse era o impasse. No mesmo dia do primeiro aniversário de casamento de Gustavo e Luísa, jogariam Fluminense e Botafogo pela final do Campeonato Carioca, jogo que nenhum torcedor de verdade seria capaz de perder. Ainda mais quem morava no Rio de Janeiro. Esse era o tipo de partida que pessoas do Brasil inteiro assistiriam, e Gustavo estava tão perto...

- Amor, você lembra quando me prometeu que não ia mais implicar com meu time? Olha só o que você ta fazendo agora... Seja mais compreensiva, xuxu...
- Mas aí você já quer demais né? Eu não impliquei quando deixamos de ir à formatura do meu sobrinho pra você assistir Fluminense x América RJ, não impliquei quando não fomos no aniversário da de 100 anos da minha avó pra você ver Fluminense x Vasco...
- Aquilo foi um clássico!
- Que seja! Não impliquei nem quando mudamos o domingo do batizado do nosso filho pra você ver Fluminense x Resende, mas aí já ta demais né? Você escolhe: ou o Fluminense ou eu!

Era o que ele temia. Estava numa sinuca-de-bico, num fogo cruzado. E não sabia como resolver a questão.

- Amor, você ta de cabeça quente, ta falando até besteira já.
- Besteira? Acho que isso foi a coisa mais séria que eu já falei na minha vida desde o ‘sim’ para o padre no dia do nosso casamento!
- Mas amor, aí já é covardia!
- Eu sabia! Sabia que você não gostava tanto assim de mim! Pra mim já chega, eu é que não fico mais aqui!

E quando ela já estava prestes à sair, eis que Gustavo teve a idéia que o tiraria desse aperto, com certeza.

- Espera meu bem!
- O que foi desse vez?
- Vamo fazer o seguinte? Vamos nós dois pra o jogo, e depois nós saímos prao lugar que você quiser!
- Eu ir pro jogo também? Depois a gente vai pra qualquer lugar? Que eu quiser mesmo?
- Claro meu bem, você sabe que faço tudo por você...
- Ah, não sei... Aquele bando de gente gritando e pulando e xingando...
- Você vai estar comigo, meu amor, eu te protejo...
- A depois a gente pode ir pra aquele restaurante chiquerérrimo que abriu naquele bairro nobre?
- Vamos pra onde você quiser, xuxu...
- Já que é assim...
- Eu sabia que você não iria estragar nosso aniversário de casamento, minha princesa! Por isso que eu te amo!

E assim foram os dois ao Estádio das Laranjeiras e viram o Fluminense derrotar o Botafogo por 3x0 numa final super empolgante. Mas o importante mesmo foi que Gustavo salvou seu casamento e seguiria com suas paixões juntas por toda a vida.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Luizinho versus Dentista

Lise Lobo

Tarde agitada, o sol pegando fogo, e lá estava eu fazendo o que mais gosto, comprando. Minha alegria acaba quando meu pai liga, e fala com uma voz apressada e nervosa:
- Lise, ta onde?
- To em uma loja, por quê?
- Quando terminar aí, venha logo aqui para o dentista ficar com o seu irmão, porque ta demorando muito e eu tenho que resolver uns problemas do clube.
Fazer o que? Pensei. Logo agora que ia experimentar um biquíni!
- Já to indo!
- Não demora!
- Ta bom, já vou!
E lá foi eu, puta de raiva, mas fazer o que? Homem de fato não tem paciência, aposto que ele chegou nesse instante no dentista, e já ta agoniado.
Cheguei ao consultório morrendo de calor, suando mais que tudo, e lá estava Luizinho, todo estirado no banco embutido do consultório odontológico. Meu pai não exitou em abrir um enorme sorriso (certamente de alívio) e logo foi se despedindo.
- Ta melhor Lu? Perguntei ao meu irmão Luizinho de 7 anos, que não deixou ninguém dormir na noite passada por causa de uma dor de dente.
- Não! Ainda ta doendo. Respondeu ele com uma voz sonolenta. Também pudera, o bichinho não dormiu nada.
Chamei ele para o outro banco aonde o ventilador estava ao alcance, tinha que tomar um pouco de ar, tava derretendo. Lu veio todo mole, parecia um jumbí, e logo colocou sua cabeça no meu colo e o dedo na boca. Sinal de que iria acabar dormindo.
- Lu! Não dorme não porque logo você vai ser atendido.
- Ta demorando Didi (é assim que ele me chama).
- Ta não!
Também já ansiosa, principalmente para ir para casa experimentar o que comprei, levantei-me e foi até a recepcionista, tão pequena que só dava para ver a ponta de sua cabeça atrás do balcão, branca, cabelos escovados e pretos, olhar cansado, voz baixa, não parecia nada disposta:
- Tem mais alguém na frente dele querida?
- Deixe eu ver... Não! Ele é o próximo.
Graças a Deus! pensei. Voltei para meu acento e avisei a Lu que ele seria o próximo, o que não fez muita diferença, continuou cheio de moleza.
Os minutos passaram e logo ele é chamado.
- Luiz Henrique...
E lá fomos nós dois. Eu sem um pingo de preocupação, já que minha mãe me disse que ele se comporta direitinho no dentista, que fez uma obturação e nem reclamou.
A dentista Lorena, que foi minha colega no ensino fundamental, com uma voz doce e calma pediu:
- Senta aqui Lu. Vamos da uma olhadinha.
- Ele ta sentido muita dor no dente, não deixou ninguém dormir. Avisei. Diga a ela Lu...onde é que ta doendo.
Luizinho apontou para o dente dolorido. E no momento em que a dentista tocou, ele segurou a mão dela e fez uma careta, de dor com certeza.
- Calma Lu. Eu tenho que olhar para poder ajudar. Falou delicadamente a dentista.
No momento entra o dentista Tarcisio, dono do consultório. Lorena sai e dá o lugar para ele olhar. Ele olhou, olhou... e logo sussurrou para Lorena:
- Vai ter que arrancar!
Tarcisio levantou-se e Lorena ocupou de vez seu posto. Luizinho arregalou os olhos. Ele escutou!
- Arrancar?Perguntou Lu com a voz tremula.
- Não Lu. Respondi imediatamente. Ela só vai passar uma massinha para passar a dor.
- Ah sim! Por que eu não quero arrancar.
- Vai só passar um remedinho.
Ele ficou todo desconfiado. A dentista passou de fato a massinha, levantou-se e foi até outra sala, voltando com uma seringa na mão. A anestesia, pensei.
- Pra que isso?Exaltou Luizinho!Eu não quero tomar isso de novo. Minha boca fica torta.
- Mas tem que tomar Lu. Para parar de doer. Avisei, ou melhor, enganei o bichinho.
- Você não já tomou uma vez?É só uma picadinha. Você já sabe como é. Não vai doer. Acrescentou Lorena.
Quando a dentista levou a anestesia em sua direção, Lu abriu o berreiro, começou a chorar.
- Já passou!Não ta mais doendo! Gritou ele.
- Calma! Lise vai comprar um pote de sorvete para você quando sair daqui. Vai tomar sorvete a tarde toda. Não é Lise?
- É doutora. Um pote bem grande.
- Eu não quero, eu não quero.
Comecei a ficar nervosa. Comecei a pensar. Onde estaria o menino bonzinho, que não chora no dentista. Será que minha mãe teria que estar ali para ele se portar bem. Aff!
- Vou segurar sua mão! Você vai ver como é bem rapidinho. É para a dor passar Lu. Você quer sentir isso para sempre?
- Ta bom! Eu deixo.
Fui até perto dele e segurei suas mãos. Tremia mais que tudo. Mas finalmente ela conseguiu aplicar a anestesia. Mal eu imaginava que o pior estava por vir.
Logo a anestesia fez efeito, e então a dentista se levantou e foi novamente até a outra sala ao lado.
- Pronto! A gente já pode ir né Didi?
- Calma Lu! Ela ainda vai passar um remédio.
- Não vai arrancar não né?
- Não meu amor!
E logo ele foi se levantando da cadeira.
- Não Lu, é pra ficar aí ainda.
- Mas pra que?
- Pra ela passar um remédio.
- Já passou!
E logo a dentista volta com o instrumento de extração na mão, quando Luizinho viu, enlouqueceu.
- Nãoooooooooooo! Não vou arrancar não!
Deu um pulo da cadeira, mas consegui agarrá-lo. Juntou eu, a assistente e a dentista para segurá-lo.
- Nãooooo! Nem morto eu arranco o dente.
Chorava, gritava, jogava mãos e pernas para todo o lado. Nunca imaginei que tinha tanta força.
- Calma Lu! Calma! Gritava eu pra ele!
- Segura! Gritava a assistente.
Na primeira oportunidade Luizinho escapou, abriu a porta do consultório e saiu correndo feito louco gritando. Eu queria achar um buraco para enfiar minha cabeça, eu também já estava quase chorando, só que de raiva e pena ao mesmo tempo. Minha mãe me paga!!!!
- Lu, espera! Você vai ter que arrancar!
- Não, nem morto! Gritava ele com a boca toda torta por causa da anestesia.
- Você já fez o pior que foi a injeção. Eu posso te dar um murro na boca que você não vai sentir. Não vai doer.
- Vai! Vai ter sangue!
- Não vai não. Ela coloca um pozinho que estanca o sangue, não vai sangrar nada.
- Não, não e não.
Luizinho, gritava, babava, chorava já tava todo vermelho. E todo mundo da recepção me olhando. Que mico!
Fiz de tudo para convencê-lo
- Quando a gente sair daqui, você escolhe qualquer brinquedo que eu te dou.
- Não!
- Vou ter que ligar para meu pai então.
- Nãoooooooo!!! Gritou ele cheio de medo.
Liguei:
- Pai...
- Oi!
-Luizinho vai ter que arrancar o dente, e não quer de jeito nenhum. Já fez um escândalo aqui. Até anestesia tomou! E nada.
- Como é que é? Espera que já estou indo para aí.
Luizinho gritava ainda mais, em pensar na possibilidade de meu pai ir para lá. E Logo pediu
- Se minha mãe estiver aqui eu arranco.
- Mas minha mãe ta trabalhando Lu.
- Só com ela. Soluçava.
Liguei para minha mãe. Não agüentava mais pagar mico sozinha.
- Mãe...
- O que foi, Lu já foi atendido?
- Já! Mas teve um probleminha.
- O que?
- Ele vai ter que arrancar o dente...
- Arrancar?
- Pois é! E ele ta aqui com a boca toda anestesiada, mas não quer de jeito nenhum arrancar o dente.
- Liga para seu pai Lise!
- Já fiz isso e ele ta vindo!Mas Lu disse que só arranca se você estiver aqui.
- Meu Deus! Vou ver se consigo dar uma saidinha!
Luizinho me interrompe, e pede para falar com ela. Com voz soluçando pedi:
- Mãe.....eu não quero arrancar o dente!
Certamente ela disse que era necessário.
- Então vem para cá! Pede ele.
Uns 10 minutos depois chega meu pai esbravejando. Luizinho abre o berreiro, e meu pai fala:
- Você né homem não? Você já ta muito grandinho para isso. Vai arrancar sim!
- Nãooooooo!!Só com minha mãe.
- Calma pai. Minha mãe ta vindo aí. Anunciei.
Logo chega minha mãe. Luizinho a agarra. E ela já chega com uma estratégia. Chama a dentista e diz:
- Doutora... não vai mais arrancar o dente dele não viu? Só quero que passe um remédio.
- Ta bom Luciana, só um remédio.
E lá foram os dois para dentro do consultório. Eu, nem quis entrar mais. Deus me livre!Minha mãe que se vire agora. Fiquei esperando na recepção e já imaginando Luizinho saindo da sala correndo e gritando. Meu pai percebeu que já estava tudo resolvido e foi embora.
Não dá 2 minutos e saem os dois. Luizinho com um sorriso enorme no rosto.
- E aí?Arrancou?
- Não! O dentista olhou direito e viu que tava muito inflamado, o que não dá para arrancar. Só passou um antiflamatório.
- Que ódio! O dentista não podia ter percebido isso no início, para eu não ter que ter pagado tanto mico!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A ex-cidade da criminalidade zero ataca

“ Mônica ou Verônica?”


Cachoeira, 18 de novembro.Voltando pra casa depois de comer um hamburguer na Praça 25. Dez e meia noite. Eu, com Dani - moramos juntas - e Jadson que nos acompanha indo também pra casa. Ele mora em São Félix. Conversa agradável, sentamos pra conversar numa parede baixa, todos distraídos, não notamos que alguém nos seguiu.

- Mônica? Pergunta um homem alto, moreno, vestido com uma blusa de botão preta, calça jeans escura, usando um argola prata na orelha direita.

Ele pergunta a Dani, mas eu mesma respondo com um susto que tomo com a pergunta sem lógica, feita por aquele homem estranho e desconhecido.

- Não! Digo com um sorrisinho bem sem graça.

- Verônica então!

O homem que achamos que continuaria caminhando após aquela piada ridícula, pára um pouco afastado de nós e fica. Sentados, sem dar atenção a ele, continuamos a conversar.

- De uma coisa eu tenho certeza, diz Jadson. Se tem uma coisa que acaba com a vida de uma pessoa é a morte.

- Mais o Jadson é besta viu. Retruca Dani.

De repente percebo que o homem começa a se aproximar, e como sou eu quem está sentada na ponta – mais próxima dele - fico assustada.

- Vamo sair daqui né, gente? Percebendo a situação Jadson já vai levantando.

-É, vamo mesmo.

Saímos andando em direção a nossa casa. Jadson resolve nos acompanhar. É aí que percebo que o tal homem veio nos seguindo. Temos que mudar o caminho.

- Vamo aqui pela ladeira que ele vai direto.

- É mesmo, os dois concordam. Quando a gente ia subindo, não é que o miserável resolve ir atrás. De imediato penso: “É hoje!”

- Vixe, ele ta vindo atrás. Avisa Dani já assustada, como os demais.

- Então a gente vai por lá mesmo, vamo seguir direto. Sugiro.

Começamos a adiantar o passo para acompanhar um pessoal que passava na rua, apesar do nervosismo aquele homem tinha ido por um caminho mais longo, seria difícil ele nos acompanhar agora.

-Eu bem reparei, aquele cara chegou de repente foi aproximando, aproximando, chegou muito perto de mim. Tu não reparou não, Dani?

- Eu não. Não percebi nada, tava ali voando na conversa.

- Eu me liguei, é por isso que depois de 10 horas eu durmo na casa de qualquer um pra não ter que voltar pra São Félix só. Os caras falam, mas né não velho. Andar sozinho aqui de noite é barril.

Já estamos perto de casa, Jadson então já dá sinais de que quer voltar pra casa.

- Acho que vou voltar viu, vocês já estão perto agora.

- Pode voltar Jadson, não faz medo mais não.

- É volta mesmo, tu já tá com medo também de atravessar aquela ponte . Acrescenta Dani.

E quando Jadson já está preparado para dar as costas, eis que surge na nossa
frente o tal homem com um ar suspeito caminhando em nossa direção.

- Olha ele ali, diz Jadson.

- Misericórdia, é ele mesmo. Digo mais assustada do que tudo. Travada. Como se diz vulgarmente eu estava como o “cu piscando”.

- Vixe, e agora?

Automaticamente todos viram de costas e começam a andar muito rápido. Praticamente corremos, desesperados. Aquele homem deve ter corrido muito pra subir uma ladeira em tamanha velocidade e já ter descido outra em nossa frente. Ele não estava de brincadeira, isso já estava claro e nós não queríamos pagar pra ver.

-Ai meu Deus.

-Como é que esse homem conseguiu alcançar a gente?

-Eu até pensei nisso, mas eu nunca imaginei que ele ia conseguir alcançar a gente.

A melhor saída naquele momento era entrar por outra rua e bem rápido, porque era evidente que estávamos correndo dele, e ele já havia percebido. Ninguém conseguia olhar para trás mais todos imaginavam que ele estaria correndo atrás de nós.

- Olha aí alguém, olha aí Dani.

- Eu não vou olhar não. Olha aí Jadson.

- Tu é doido, Deus me livre, eu também não vou olhar não.

Ninguém tinha coragem, se já estávamos em pânico em imaginar a correria dele, calcule aí se alguém o vê realmente correndo. Entramos no primeiro beco que encontramos.

- E agora a gente faz o quê?

-Vamo dá um tempo por aqui, se vocês forem pra casa ele vai manjar a cara de vocês, ou então pode tá ali esperando pra fazer alguma coisa.

- Porque a gente não foi pra casa cedo? Dani questiona.

- A gente já saiu do CAHL tarde, com fome, tinha que comer alguma coisa.

- E eu não vou mentir não, eu já tô com medo de levar vocês em casa.

-Pela tua cara ta se vendo Jadson, naquela hora ali tu já tava querendo voltar. -Ainda bem que eu não voltei porque ele ia abordar vocês bem ali.

- Porra, esse cara quer comer a gente Dani!

- E ele deve ta armado porque ele ta vendo, um cara desse tamanho – e aponta para o corpo – e não se intimidar.

- Vixe, meu Deus, “oia” eu não sei não viu. Dani já não sabia o que dizer.

- O jeito é a gente ir lá na polícia falar com os “home”, porque eu não tenho coragem de levar vocês pra casa e nem de voltar pra São Félix só.

Nós olhávamos pra Jadson aflitas, ninguém pensaria numa idéia dessa. “Polícia é demais”. Mas aquela situação estava complicada, o tal homem não estava só tentando nos assustar, até porque isso ele sabia que já tinha feito. Pensei em outra solução.

- Acho que vou ligar pra Júlio, ele vem com Bob e Fred aí não tem perigo não.

Mas será que não mesmo? E se aquele cara encontrar com eles no meio do caminho, e mudar de vítimas? A gente já estava em situação perigosa, incluir mais alguém era arriscado demais.

- O jeito é a gente ir na polícia mesmo.

- Então umbora logo, que ele deve ta vindo atrás da gente.

- Vai, vai. Saímos por outra rua.

A infinidade de becos que sempre penso que existe em Cachoeira naquele momento me parecia bem finita. Aquela paz e tranqüilidade de cidade pacata sumiram. Eu só pensava em correr, só desejava estar segura em casa, mas no momento nenhum lugar me parecia tão seguro quanto a delegacia de polícia e pra lá corríamos.

No meio do caminho...

- Eu quero “mijar”! Jadson já estava com os nervos a flor da pele.

- Pô Jadson, segura aí que na delegacia tem banheiro.

Eu ainda encontrava espaço para fazer piadas Dani ainda conseguia rir, a tensão era tamanha que a gente não conseguia fazer outra coisa. Nunca vi Cachoeira tão escura, tão fria, tão assustadora. Temia encontrar aquele sujeito em todas as ruas e becos da ex-terra da criminalidade zero.
Enquanto Jadson “mija”, eu e Dani conversamos.

-E se ele sair por aquela rua ali, Dani?

-É mesmo vamo por lá.

-Mas se ele estiver cá do outro lado?

- Ih Camila, então eu não sei viu.

Nunca odiei tanto aqueles becos acessíveis por todos os cantos da cidade. Aquelas ruas entrelaçadas que encurtavam os meus caminhos todos os dias, viram naquele instante meus olhos nervosos e inseguros. Medo do homem, raiva das ruas. Ruas expostas e perversas, que me colocaram em perigo.

- Peraí que eu vou olhar dali da esquina se ele ta vindo. Jadson já tinha voltado do “urinódromo”. (Um muro qualquer)

Vai até a esquina e observa. Quando já estamos nos aproximando dele, ele faz um sinal para esperarmos. Aflitas chegamos mais perto.

- Vê aqui se é ele ali?

- Eu não lembro direito dele não, que eu não reparei muito, olha aí Camila.

- É ele mesmo, olha lá todo de preto. E ta procurando a gente, ó como ele foi e voltou olhando por aquela rua.

- Oh vamo logo pra delegacia antes que esse homem encontre a gente.

E fomos.

– Ô Dani, eu tô aqui com uns dezessete reais, um celular novo, um livro e tu ainda ta com a minha câmera na bolsa. Já pensou esse cara assaltar a gente.

- Tua câmera não ta comigo não Camila. Eu tô com uns dez reais e o celular.

- Eu tô com tudo aqui. Um mp4, dois celulares. Um deles eu ainda tô pagando as prestações.

Olho pra trás e vejo alguém estranho vindo.

- Não é ele ali não, né? Esse cara já ta parecendo que é onipresente.

- Oxe, não é ele não menina, aquele ali tá de boné branco.

- Acho que os caras não vão querer me levar lá em São Félix não. Eu vou dormir na casa de vocês, viu?

- Beleza.

-Quem vai falar quando a gente chegar lá?

- Fala vocês que é mulher, faz logo a pressão.

- Ah não! Fala tu Jadson.

- Eu não.

-Então fala, Camila.

- Beleza, deixa que eu falo. Coisa vai ser se eles não quiserem levar a gente. Eu durmo aí viu, pra casa só é que eu não vou.

- Os carros tão aí, eles levam. Me levar em São Félix é que é demais. Dentro da
delegacia, eu vou na frente falando.

-Boa noite, é que a gente ta aqui meio aflito – olha, MEIO aflitos! – porque a gente tava indo pra casa e tinha um homem seguindo a gente, a gente disfarçou foi por outros caminhos, ficou no meio de muita gente, mas não adiantou. Ele continuou atrás, aí quando a gente já tava perto de casa encontrou com ele de frente, aí saiu correndo.

- Vocês já viram esse homem aqui?

- Não.

- Como é que ele é?

- Alto, negro, mas a pele é marrom. Tá com uma blusa de botão preta, e calça jeans, todo de preto. Usa um brinco prata, e tem o cabelo cortado bem baixinho.

-Ele disse alguma coisa a vocês?

- Só mexeu com as meninas, fez uma piada.

-Peraí.

O policial entra e fica lá dentro conversando com os demais. Nós sentados dentro da delegacia, já temos tudo em mente. Se eles não levarem a gente em casa, passaremos a noite por ali mesmo, sentados naquele banco de maneira desconfortável mais seguro. Pelo menos teoricamente. Três policias voltam, um deles com uma arma enorme na mão, o outro com um colete a prova de balas, e entram no carro. Um avisa:

- Vocês não vão pra casa? Vamo! Alguém vai ter que ir no colo

- Não tem nada não.

- Entra Jadson, eu vou no colo de Camila.

Na volta pra casa com os policias não encontramos mais aquele homem. Dani no meu colo com a bolsa escondendo o rosto, não queria ser vista dentro do carro da polícia. Eu não queria estar num carro de polícia. Jadson ao meu lado silencia. Enfim, chegamos em casa. Tudo bem que de um jeito inesperado: Eu pela primeira vez dentro de um carro de polícia, aparentemente segura. Segurança esta que eu já não sinto mais nas ruas acessíveis e perversas de Cachoeira.

Camila Moreira

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Segunda-feira, que merda!!

Danielle Souza

Com a claridade da manhã Danielle Souza despertou às 05:59. Ufa... ela ainda tem uma hora de sono. Embalada pela leve brisa e pequena sonoridade do ventilador ela volta a dormir. A sua única hora passa e quando tudo se torna silêncio ela acorda. São 07:00, ela se mexe, boceja, se espreguiça e seus olhos vão de encontro ao ruído em direção a porta. Era Camila, sua companheira de quarto, que segue para o banheiro. Enquanto isso permanece deitada, aproveitando mais uns minutinhos de sono. Já são 07:07 e mesmo apertada para urinar a vontade que Danielle tinha de cochilar mais um pouco era maior. Passaram-se alguns segundos, pequenos ruídos vinham do quarto ao lado, o ranger da cama, o arrastar de sandálias, é... mais alguém havia acordado. Danielle já não podia mais adiar o impossível, levantou-se e com toda preguiça do mundo, foi ao banheiro. De volta ao quarto ela se depara com um corpo estendido na cama ao lado da sua, era Camila lutando contra o sono. Foi então que ela resolveu escolher uma roupa, afrontar o chuveiro e às 07:50 com toda a lerdeza do mundo encarou o velho caminho até chegar à faculdade. No caminho nada de novo, tudo no mesmo lugar, do mesmo jeito, com o mesmo cheiro... apenas o sol, que mesmo cedo, já incomodava.
Ela anda, anda e anda. Entra em ruas, sai de ruas, atravessa ruas, até que o Cahl mostra sua cara. Bons Dias são ofertados na entrada, e sem enxergar mais ninguém ela passa batida para sala de redação. Com o tempo de dar uma olhadinha só no orkut e no msn, a aula começa. São horas de discussão em sala, até Leandro passar a atividade e Danielle começar a escrever o seu diário. As pequenas frases, os pequenos parágrafos apareceram, mas na boca de meio-dia, e com a fome do cão, ela dispara pra casa. Ela nem conseguiu analisar direito o que poderia estar acontecendo a sua volta, tudo culpa do calor infernal que pairava em Cachoeira. Senhor, ela suava!! Quente, tava era quente. O vento que soprava era quente. Cachoeira deveria estar com o calor de 40º. Mas finalmente uma casa laranja fica a sua vista. Era ela a esperança de uma fresca, de uma água fresca, de um banho fresco.
Banho tomado, barriga cheia, dentes escovados e com horário da aula atrasado, às 13:00 ela retorna à faculdade. São mais três horas e meia dentro da mesa sala, na frente dos mesmo computadores, vendo as mesma pessoas, de diferente só Alene, a bronca dada e o assunto a ser tratado, jornalismo on-line.
17:00 Danielle e Camila seguem em direção a beira do rio. Tudo parecia tranqüilo. Até avistarem um homem enraivado correndo com um facão na mão atrás de um rapaz, sabe lá por qual motivo, por que razão. Ela só viu um furdunço. Uma correria retada, gente pra todo lado e Camila apreensiva grita:
- Binha, ô binha...sai da rua.
Danielle rindo responde:
- Ô binha, ele ta correndo pra lá e não pra cá...
Rindo, as duas seguem e do ocorrido só escutam mais uma observação:
- Chama a polícia, rapá...
A 25 deu as caras. Tudo tranqüilo, uns gato pingado nos bares e quase ninguém nas ruas. O Paraguassú surge, e encantadas com a vista Danielle e Camila se distraíram. Os pensamentos rolavam soltos. Nada parecia tirar a concentração dessas duas, até que gritos de desespero, cada vez mais altos, foram disparados:
- Dani, Dani, Dani...
E uma cena que no mínimo deveria ser trágica, acabou sendo cômica. Pois lá estava Dani, uma menina gordinha, morena, de no máximo 13 anos, se embolando nas escadarias do rio Paraguassú, enquanto a amiga estava em prantos gritando o seu nome. Os olhares de Danielle e Camila se cruzaram, enquanto as risadas permaneciam engasgadas e sem saber se socorria ou se ria, elas continuaram nos seus devidos lugares, apenas apreciaram a cena.
Passado o ocorrido, e mais um minutinhos na beira do rio, elas se mandaram para casa. Sem dinheiro e com fome, era a única alternativa. Afinal, depois de ter passado o dia inteiro dentro de um laboratório de jornalismo, ainda restavam para elas uma bendita aula de Leandro Colling às 19:30 da noite.

Nada de novo, dinâmica de sempre

Camila Moreira

Ela acorda às 06:59, e antes que celular possa despertar o desliga. Como ela odeia aquele som! Olha pra cima. Pelo telhado a visível claridade. O sol invade a casa, o quarto, seus olhos, e sua mente avisando que o dia amanheceu. No rosto a expressão do desânimo por não poder dormir mais meia hora. Levanta-se vai ao banheiro, escova os dentes. “Nossa!”. Ih, olhou-se no espelho, não devia ter feito isso. Cabelo assanhado, rosto inchado, pele marcada, visão do inferno. E pra completar o astral, humor de “cão”. “Esse cara deve acordar às cinco da manhã”, murmura com uma voz grave de quem ainda não acordou direito, referindo-se ao vizinho, que põe o rádio numa altura nada agradável para quem acaba de acordar.
Volta e deita novamente, mesmo ciente de que já é hora de levantar. Dorme mais uma vez, e de repente acorda com o som da companheira de quarto que acaba de levantar e já diz: “Bom-dia”. Ela responde nada contente com a idéia de o dia ter amanhecido, e já imagina que agora realmente vai ter que ir para o banho.
Chuveiro ligado, água morna, pele arrepiada, frio. O som insistente do rádio que invade as paredes do banheiro lhe perturba anunciando dessa vez o caso do namorado que atirou na namorada, e depois tentou o suicídio. “Agora é graça, todo mundo quer ser Lindemberg”, afirma. Porque será que ela tem que conversar todos os dias com o rádio?
Quem é ela? Ela é Camila, 20 anos, universitária, irritadíssima, odeia acordar cedo. Sai do banho, veste-se. E a movimentação dentro de casa continua. Agora todo mundo está de pé, a sua companheira de quarto e a amiga do quarto ao lado. O humor melhora consideravelmente, e o som do rádio que anteriormente gritava em seus ouvidos, agora só fala, fala e lhe provoca risos.
Despertou agora já foi, não pára mais de falar e o alvo central passa ser o rádio do vizinho. Agora ela já não se contenta em fazer comentários consigo mesma sobre as locuções e socializa a conversa. “Vocês ouviram isso?”, pergunta entre risos, “o cara perguntou para o embaixador da Holanda como resolver a crise mundial, no meio de uma Bienal. Se ele souber, manda ligar pro Obama avisando”. Fala enquanto faz um leite. Bebe, escova os dentes mais uma vez e sai.
O dia já começa anunciando que vai ser muito quente, às oito da manhã o abafamento já se faz presente. O caminho para faculdade parece longo, o silêncio é grande entre as amigas, e só é quebrado quando em frente ao Quarteirão Leite Alves a imaginação flui: “Imagina o calor que não deve fazer aí dentro?”. E uma das amigas comenta: “Os pedreiros não tão fazendo nada, acabou a tinta, agora pronto, tudo com a cara pra cima”.
Até aí o dia de Camila estava bem normal, corriqueiro. Tudo indo de acordo com o esperado, a não ser pelo atraso que não é de costume, o calor que não é desejado, e a pressa de quem precisa correr, mas tem impregnada a soma da preguiça da aula matinal mais aquele calor que resulta numa moleza de dar dó.
Enfim chega ao CAHL, ela foi se arrastando se atrasou, mas chegou. Aula no laboratório, pelo menos isso. Sala fria, parecia que tinha entrado em outro mundo. Mundo que a deixou mais disposta, menos mole, mais ativa. Professor na sala, texto pra discutir. Discussão longa, produtiva, até empolgante em certos pontos. Durante a aula a preocupação, livro grande pra ler, muito a ser feito, a ser lido, pouco tempo disponível. “Vixe, esse semestre tá demais! Quem mandou ocupar?”, brinca com a colega ao lado.
Exercício em sala. Enquanto ouvia o som das teclas ao seu redor, apressadas, concentradas, produzindo, Camila pensava que deveria ter aquele aparente dom de captar a informação e decodificar rapidamente como aqueles ao seu redor. Mas enfim não tinha, e aquele exercício já estava esquentando sua cabeça. A fome apertou, já estava na hora de ir pra casa almoçar. E foi. Voltando pra casa, agora sim a coisa estava feia, o calor era infernal, em Cachoeira a temperatura devia ser uns 72º, isso na sombra, é claro. Acha muito? Experimente sair nas ruas em pleno meio-dia. A coitada estava com calor, muito calor, mas o caminho era longo e a fome sua companheira inseparável. Seus olhos nem conseguiam abrir direito, a luz estava muito forte, forte e quente. Suor e fome se confundiam e a pressa de chegar era tamanha que as pernas pareciam não poder alcançar a velocidade que o corpo, de fato, queria.
Chegando em casa, na correria foi pro banheiro. Banho, água fria, gelada e a sensação impagável de frescor, o dia poderia ter acabado ali que o final feliz de certo já estava garantido. Mas ainda tinha a fome, e esse dia não podia acabar ainda, não assim com fome. E ela comeu, comeu não, devorou não que a comida estivesse das mais saborosas mais a fome naquele instante foi o tempero dos sonhos de qualquer alma famigerada, como a de Camila.
Já estava na hora de voltar pro CAHL novamente, agora fresca, alimentada, tudo nos conformes. E foi só pôr os pés na rua, pra aquela velha sensação de abafamento voltar, um pouco mais contida, mas não ausente.
De volta a Universidade, de volta ao laboratório, uma da tarde. A aula agora é outra, mas os trabalhos continuam, estudo dirigido, professora estressada. A tarde estava prometendo. Começou até bem, conversas paralelas, texto básico no computador, até que todos se reúnem a frente da sala. Sentados em círculo, todos só ouvindo a professora dar o maior sermão do semestre. “O site está uma bosta, e a culpa não é só do professor”, afirma a professora. “Eu sou concursada, ensino em universidade federal, o meu está garantido no final do mês.” Ela pegou pesado, e a consciência de Camila pesou, a dela e de com certeza do restante que tem algum interesse num bom futuro profissional. Mas naquele momento, naquela sala que pela manhã lhe dava uma sensação de bem-estar, o sentimento não era bom. Ela sentiu-se presa, e aquele ambiente a deixava triste, o silêncio lhe deixava enraivada. A vontade de falar era calada pelo sentimento de culpa que não era abrangente a toda situação.
Mas existia e a impedia de se manifestar. Não que ela discordasse das críticas feitas, isso não, consciência ela tinha. O que lhe incomodava eram os argumentos finais utilizados, e talvez, quase com certeza, eles nem tenham sido usados com um intuito ofensivo, mas foram usados e foram suficientemente capazes de fazer Camila esquecer por um instante que a questão não era meramente salarial e sim de compromisso com a disciplina. Mas ela lembrou, antes tarde do que nunca lembrou, e impediu que o impulso de pedir a voz fosse levado até o fim. Crítica pertinente, argumentos finais desnecessários, consciência pesada. A tarde não estava terminando bem.
Saindo do CAHL tudo parecia muito tranqüilo, fazer matéria era o propósito dela. Encaminhando-se ao destino da entrevista uma surpresa. Pânico na rua, pessoas olhando com um ar de desespero, todos saindo na porta. No meio da rua um cidadão corria desesperado indo ao encontro de outros. Na mão ele trazia um instrumento que lembrava um facão, tão enferrujado que a pobre da vítima iria acabar morrendo de tétano. Nos olhos dele raiva, no dela medo. Na rapidez que aquele rapaz corria acertaria alguém com facilidade. A cena dava indícios de que terminaria em tragédia. O homem continuou correndo. Camila continuou andando, eles iam em direções contrárias, como se aquela cena não representasse muito, e de certo não representava. Aquela não era uma realidade com a qual ela estava acostumada a lidar, e não lidou. Deu as costas como se aquele mundo não fosse o seu, e aquelas pessoas meras espectadoras de uma desgraça previamente anunciada.
O que aconteceu depois? Ela não soube, seja lá quem foram as vítimas - se é que houveram – não tiveram seu pranto como despedida, nem sua lágrima como bagagem. Camila e o tal homem armado foram em direções opostas. Ele correndo para encher as mãos de sangue, enquanto ela andava em direção ao seu futuro profissional: Uma matéria esperava para ser escrita. De certa forma os dois estavam caminhando no mesmo sentido, a direção era as páginas dos jornais. Mas ela não teria seu nome nas páginas policiais. Não nesse dia. Não nessa matéria.
Saindo daquela cena ela foi tentar produzir, mas o local desejado já estava fechado. Não deu para cumprir o objetivo jornalístico naquele momento. Só lhe restou caminhar para o local da cidade preferido: a beira do rio.
Ar fresco, vento no rosto, o pôr-do-sol. Lugar perfeito para reflexão. O silêncio seria absoluto se não fosse aquela menina que por um descuido escorregou, caiu no rio e deixou as amigas em pânico com a possibilidade de um afogamento. Besteira! A água não estava mais alta que os seus joelhos.
Ainda assim o local estava lindo. A água brilhando e aparentando uma limpeza inexistente. O pôr-do-sol, a ponte, a vista de São Félix, a água corrente e o verde. Tudo aquilo lhe invadiu como se o mundo todo fosse aquela paz de encher os olhos de alegria. É, a tarde havia terminado bem.
Noite escura e o destino matinal se repetiu: Casa via CAHL. A aula noturna deixou o dia longo demais. O cansaço estava aparente, e a noite lembrou o dia. Embora o calor tivesse ido embora, o sono voltou só que agora com a lua como testemunha. Aula, trabalho, resenhas. Sem rotina, sem marasmo, nada de monotonia. Mais um dia com cara de velho. Nada de novo, o dinamismo diário se manteve.

Dia cheio é pouco

Queila Oliveira

Cinco horas, numa manhã de segunda-feira, após um final de semana, só no come e dorme e de vez em quando, de vez em quando mesmo, uma lidinha no texto do seminário do professor Miguez. A preguiça paira, ao levantar para se despedir dos pais que vieram passar a noite. Ao acordar, lhe veio um pensamento triste de um fato ocorrido na noite anterior. Ela fica imaginando como uma mulher, ainda hoje, no século vinte e um se submete a apanhar de um marido daquela forma. A cena não saia da sua cabeça, berros e pontapés aterrorizantes, puxões de cabelo e um grito sufocado de socorro. No seu olhar uma aflição por não saber como ajudar.
Ao abrir os olhos, a primeira imagem é de sua companheira de quarto, Talita, toda estirada na cama, no sono profundo. Terá sido uma noite estressante ou reflexo de uma nigth muito boa? Depois que seus pais saíram, ela volta a dormir. Sete e quinze olha o celular. “Aula oito horas da manhã, ninguém merece”. Ela custa a levantar, a preguiça fala mais alto. A cama nessas horas parece ter braços. Sete e meia e agora é pra valer. Hora de levantar. Queila vai direto para o banheiro lavar o rosto, para ver se desperta mais um pouquinho. Pronto... agora o sono parece ter ido embora. Pega a toalha e vai tomar banho. Um calor infernal aquele dia. Sai do banheiro já sabendo que vai chegar atrasada na aula, mesmo assim não faz muito esforço pra ir mais rápido. Toma café como se estivesse de férias.
O sol quente, que mais parece ser de meio-dia, é um impulso para chegar à faculdade logo. Ao passar pelo tão sonhado QUARTEIRÃO LEITE ALVES, lembra revoltada que se as aulas fosse ali, ela não chegaria todos os dias atrasada, nem tão pouco, andaria tanto pra assistir uma aula. Ao chegar, percebe que Leandro já tinha iniciado a discussão do texto. As horas passam. A aula continua normalmente, até que o professor pede pra fazer uma narração sobre o seu dia. Logo imagina como queria ir pra casa e voltar a dormir. Só que imediatamente veio a sua mente, que a tarde teria aula de Alene. Definitivamente segunda-feira não é um dia legal, não mesmo.
Antes de sofrer por antecipação, pensa no que colocar nessa bendita narração. Hum... Ela pensa... Pensa... Pensa. Será que não vai sair nada dessa cachola? Alguns minutos se passam e a produção não passa de cinco linhas. Ela vai ver se acha algo interessante na net. “Será que tenho algum e-mail legal? Vixe... lá vem o professor bisbilhotar os computadores”. Logo volta para sua gigantesca produção textual. O professor lê o seu texto e fica aterrorizado, com a estória contada.
Ela tentou continuar o texto, mas a inspiração custa a chegar. Só indo pra casa mesmo, já era quase meio dia. É hora do almoço e ela lembra que na casa não tinha nada pronto pra comer. A sua colega Lorena, lhe chama pra almoçar em um boteco perto da faculdade. Seduzida pelo valor e na ânsia de comer comida de verdade, ela e Talita, que partilha da mesma situação, nada em casa pra comer, resolvem ir.
Tarde – Aula de Alene e mais atividade. Um estudo dirigido para entregar às três horas. Ela faz o trabalho com Lorena, que logo corre para fora da sala com Camila. Antes de entregar o texto, ela não tinha mais cara, para falar com a professora, pois estava devendo muitas matérias. Ufa! Cinco horas da tarde e ela vai direto para casa. Afinal teria aula, outra vez, de novo, mais uma vez com o professor Leandro. Só que dessa vez ele não iria ver sua presença na sala. Enfim ela não agüentava mais, a única coisa que queria, era voltar para sua cama de onde ela não deveria ter saído.

Tortura moderna

“Tenta sim. Vai ficar lindo.”

Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha. Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve. Mas acho que pentelho não pesa tanto assim. Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa.

Eu imaginava que ia doer, porque elas ao menos me avisaram que isso aconteceria. Mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.

- Oi, queria marcar depilação com a Penélope.

- Vai depilar o quê?

- Virilha.

- Normal ou cavada?Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que era pra fazer, quis fazer direito.

- Cavada mesmo.

- Amanhã, às... deixa eu ver...13h?

- Ok. Marcado.

Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves, porque sabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique. Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui. Assim que cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba, vou ficar que nem ela, legal. Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado. Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor.

De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas. Uma mistura de Calígula com O Albergue. Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso cantinho: uma maca, cercada de cortinas.

- Querida, pode deitar.

Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca. Mas a Penélope mal olhou pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura. Vi coisas estranhas. Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça. Meu Deus, era O Albergue mesmo. De repente ela vem com um barbante na mão. Fingi que era natural e sabia o que ela faria com aquilo, mas fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a amarrou bem forte.

- Quer bem cavada?- ...é... é, isso.

Penélope então deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentar antes.

- Os pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco senão vai doer mais ainda.

- Ah, sim, claro.

Claro nada, não entendia porra nenhuma do que ela fazia. Mas confiei. De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma espátula melada de um líquido viscoso e quente (via pela fumaça).

- Pode abrir as pernas.

- Assim?

- Não, querida. Que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado.

- Arreganhada, né?

Ela riu. Que situação. E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha virgem. Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar.

Foi rápido e fatal. Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que apenas minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem de olhar.

Achei que havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu. Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural.

Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais.

- Tudo ótimo. E você?

Ela riu de novo como quem pensa 'que garota estranha'. Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter clientes.

O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer. Todas recomendam a todos porque se cansam de sofrer sozinhas.

- Quer que tire dos lábios?

- Não, eu quero só virilha, bigode não.

- Não, querida, os lábios dela aqui ó.

Não, não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios? Putz, que idéia. Mas topei. Quem está na maca tem que se fuder mesmo.

- Ah, arranca aí. Faz isso valer a pena, por favor. Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida na Abigail.

- Olha, tá ficando linda essa depilação.

- Menina, mas tá cheio de encravado aqui. Olha de perto. Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria balançado com a respiração das duas.

Estavam bem perto dali. Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo.'Me leva daqui, Deus, me teletransporta'. Só voltei à terra quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça.

- Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá?

- Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada. Estava enganada. Senti cada picadinha daquela pinça filha da mãe arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.

- Vamos ficar de lado agora?

- Hein?

- Deitar de lado pra fazer a parte cavada.

Pior não podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens.

- Segura sua bunda aqui?

- Hein?- Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda.Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o olho que nada vê. Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista. Quis chorar, gritar, peidar na cara dela, como se pudesse envenená-la. Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O marido perguntaria:

- Tudo bem, Pê?

- Sim... sonhei de novo com o cu de uma cliente.

Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu tuin peaks. Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação. Sei que ela deve ver mil cus por dia. Aliás, isso até alivia minha situação. Por que ela lembraria justamente do meu entre tantos? E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá?

Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera. Achei que a bunda tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza não havia nem uma preguinha pra contar a história mais. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto.

- Vira agora do outro lado.

Porra.. por que não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piora. A broaca da salinha do lado novamente abre a cortina.

- Penélope, empresta um chumaço de algodão? Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem? Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope. E agora a vizinha inconveniente.

- Terminamos. Pode virar que vou passar maquininha.

- Máquina de quê?!

- Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol.

- Dói?

- Dói nada.

- Tá, passa essa merda...

- Baixa a calcinha, por favor.

Foram dois segundos de choque extremo. Baixe a calcinha, como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho? Mas o choque foi substituído por uma total redenção. Ela viu tudo, da perereca ao cu. O que seria baixar a calcinha?

E essa parte não doeu mesmo, foi até bem agradável.

- Prontinha. Posso passar um talco?

- Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha.

- Tá linda! Pode namorar muito agora.Namorar...namorar... eu estava com sede de vingança. Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso. Mas doía e incomodava demais. Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada. Queria comprar o domínio http://www.preserveaspeludas.com.br/.

Retirado do http://diariodeumliso.blogspot.com/2007/06/penlope-depiladora.html

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Um dia daqueles...

Lorena Braga

Segunda, 10 de novembro
7:00 – Susto ao ouvir o despertador e perceber que já é manhã. Sofia sente como se a noite tivesse passado apenas em um segundo. A sensação de que ainda precisava descansar vai lhe acompanhar durante todo o dia como um peso nas costas. Ela sabia que ia ser exatamente assim, porque é uma situação completamente comum para ela.
7:15 – Ela não consegue sair da cama. A possibilidade de chegar atrasada na faculdade novamente é certa.
7:20 – Com todo o esforço do mundo, consegue chegar ao banheiro. Sua expressão era de como as gotas de água caíam perfurando seu corpo, mas a vontade de deixar toda aquela preguiça ir pelo ralo prevalecia.
7:30 – Hora do suplício: escolher uma roupa! Sofia sabe que precisa ser muito mais rápida do que as quase duas horas que deixa seu namorado esperando quando vão sair. Jeans e camiseta. Pronto!
7:40 – Agora precisa tomar o café da manhã, mas a cozinha parece estar mais longe do que de costume. Será porque hoje é segunda-feira? Ela tenta imaginar o porquê dessa pequena palavra mudar tudo que se sente depois de um fim de semana.
- Vamos Sofia! Você vai se atrasar. – grita sua mãe completamente impaciente.
8:00 – Agora ela vai! Mas cadê sua bolsa? Lembra que pode ter deixado no quarto. Onde? Não sabe! Jura mais uma vez que vai se tornar uma pessoa organizada. Achou a bolsa. Foi a força do pensamento!
8:15 – Ainda está andando em direção ao local de pegar transporte. Mais uma vez que vai ter que aturar aquele cobrador chato, que acha que é o dono do mundo.
Na sua “viagem” para Cachoeira vai tentando descobrir algo de novo na paisagem que vê todo dia. Na realidade, ficar dispersa é uma forma da pessoa ao lado não puxar conversa. Está muito mal humorada para opinar se vai chover ou não.
8:45 – Acredite! O bendito motorista conseguiu fazer o trajeto em meia hora, fazendo com que Sofia ficasse ainda mais irritada.
- Tenha um bom dia! – diz o motorista tentando ser educado, depois de ter dirigido o carro na velocidade de uma tartaruga.
- Agora já era meu querido! – diz Sofia com um tom completamente agressivo, e sabendo que vai ter um caminho um pouco longo ainda até a faculdade.
9:05 – Entra na sala e percebe que o professor já tinha começado a aula. Resumindo: chegou atrasada novamente. Argh!
11:30 – Resolve ir almoçar em casa, pois tinha pensado em ficar em Cachoeira. Ela muda de idéia muito rápido.
12:00 – O arrependimento veio forte. Hoje foi o dia dela encontrar motoristas lentos. Ainda terá 10 minutos para andar até chegar em casa.
12:55 – Ufa! Conseguiu fazer tudo que precisa em tempo recorde e estar no ponto na hora certa.
13:15 - Mais aula...
17:30 – A tarde parecia não passar. E ela está ansiosa para chegar em casa.
18:00 – Chegou em casa. Agora é tomar banho, comer e... acaba de lembrar que tem curso de inglês! Snif...
18:40 – Está pronta! Só falta a professora passar para pegá-la.
18:50 – Nada da professora. Mas ela costuma passar mais ou menos sete horas. Tudo bem.
19:00 – Ela deve estar chegando. Como Sofia vai com ela não corre o risco de chegar atrasada na aula.
19:10 – Nada da professora.
19:20 – Nada ainda!
19:30 – Sofia foi esquecida...Desolada, volta para o seu quarto e retira toda a roupa que teve o maior trabalho de escolher. O jeito é estudar.
20:00 – Não consegue estudar. Vai assistir televisão.
21:00 – Desiste de assistir. Vai para o quarto. Nenhum lugar é melhor que sua cama e...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Especial Rotina

Carine Costa

Ufa! Hoje o dia começou muito cedo para Lavinia. Era quatro e meia da manhã, quando um insuportável barulho de despertador soou. A idéia foi da vizinha que acorda todo dia nesse horário para caminhar. Mas nesse dia a vizinha desistiu de caminhar. Pena que ambas já tinham acordado com o barulho. Então voltaram a dormir.
São exatamente seis horas e quinze segundos, quando a mesma vizinha acorda sua amiga sonolenta. Agora a vizinha de Lavinia precisa ir para casa, pois vai trabalhar. Lavinia agradece a companhia da amiga, e vai em direção a porta quando percebe que seu irmão chegou, apressado ele deixa a moto, e sai rápido pois também precisa viajar para trabalhar.
Vizinha e irmão vão embora, enfim a menina sonolenta, dirigi-se para cama, muda o despertador para as sete horas. Traaaaaaaaaaam! O despertador toca, são sete horas, a menina espreguiça o corpo e levanta. Faz a oração de agradecimento pelo dia, vai ao banheiro fazer sua higiene pessoal, depois vai até a sala, pega uma flanela e tira a poeira dos móveis, pois é, ela odeia sujeira.
Enquanto o café está fazendo, Lavinia lava as poucas louças que estavam sobre a pia, essa menina é mesmo muito limpinha. O café está pronto, mas primeiro ela pega no balde duas roupas brancas que estavam de molho e coloca no varal. Tudo pronto, só então ela vai tomar café, é exatamente sete horas e trinta e cinco minutos.
Quando termina a Lavinia olha para o relógio, agora são quinze para oito, pensa em desistir de ir para aula, mas sabe que seu professor é exigente, e que o assunto do dia será importante. Decide ir, entra no banheiro e toma banho frio, quando termina vai para o quarto e fica indecisa qual roupa usar, então pensa: “estou sem muita opção, já enjoei destas roupas”, a dúvida cessa quando essa garotinha escolhe o básico jeans e camiseta clara, por causa do calor.
Está pronta, às oito horas e quarenta minutos. Ela pega a bolsa, o caderno, as apostilas, o celular e a chave com o cadeado, abre a porta, olha ao redor para vizinhança, e sai em direção ao ponto, para esperar a van. Enquanto aguarda a menina avista Sued, essa é sua amiga, as duas abraçam-se e conversam um pouco, Lavinia comenta que Sued está bronzeada, pois sabe que ela foi para ilha, Sued sorrir e diz a Lavinia que vai aparecer para contar às novidades que ocorreram lá na ilha.
O carro não chega, Sued vai embora. Agora Lavinia tem uma surpresa desagradável, está vindo em sua direção um senhor, apesar do respeito que ela tem a ele, Lavinia não vai muito com o jeito dele. Abrindo o jogo: ele é um sujeito pegajoso, a todo instante fica tocando em Lavinia e falando lorota... Isso cansa.
A van chega, a menina sente um alivio pois se livrou daquela situação, ela não sabe que horas são, o celular está dentro da bolsa. Carro lotado. Que jeito? Pensa ela. Entra, a viagem será de costas. Olha a paisagem, pega o dinheiro e diz que é estudante, assim ganha um desconto.
Desce em Cachoeira, a caminhada até a faculdade é longa, chega atrasada, o que já era previsto por Lavinia, procura um lugar, senta e começa a prestar atenção na aula. Por volta de dez minutos chega a sua amiga Sofia. Ela pergunta para Lavinia, se a aula começou a muito tempo. Lavinia sorrir e diz que também chegou atrasada e não sabe precisamente quando a aula começou. Depois da discussão de texto, Lavinia senta-se em frente ao computador, sua tarefa é descrever como foi seu dia.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Um belo dia...cansativo

Um belo dia...cansativo

O telefone toca. Pronto já são 05:00 horas da manhã. Lorena esta deitada em sua cama, em um dia quente, em uma noite que passou tão rápido, que ela necessita ficar por mais uns minutos na cama...deitada...esperando o salto que sempre dá de repente, como se já estivesse atrasada...esta atrasada! Corre para o banho,em seguida, veste rapidamente uma calça jeans meio esverdeada e uma blusa, que procurou um dia antes para não haver problemas na hora de sair. Enquanto vestia-se ia jogando outras coisas dentro da mochila que levaria com roupas para passar o dia na casa de Camila, Daiane e Danielle. Vestiu-se, penteou o cabelo...biiiiiiiiii, toca a buzina do transporte “já???” pensa Lorena que não tomou café nem acessou a internet, como de costume. No caminho para cachoeira a mesma rotina de sempre, passara na casa dos colegas para juntos irem à aula.
Chegando a Cachoeira Lorena entra no CAHL com Dani e Hamurabi, da uma olhada no ambiente e resolve ir tomar um café. Na padaria pede meia jarra de suco de laranja e um misto, olha ao seu redor...nenhum lugar vazio pra sentar. Pede permissão a uma senhora para sentar na mesma mesa que ela, e gentilmente, ela diz que sim. Enquanto espera o café, assisti um pouco do tele jornal que conta noticias nada agradáveis para uma segunda-feira de manhã. A senhora ao seu lado comenta: com tanta mulher no mundo ele vai abusar de uma criança...e olha que as mulheres de hoje se desvalorizaram...estão fáceis. Lorena escuta, faz um sim meio tímido com a cabeça e cala-se. Melhor deixar pra lá. Chega Caio, sempre sorridente. Trocam dois beijinhos no rosto e tomam seu café juntos. Voltam para a universidade. Lorena esta somente em corpo na sala de aula porque sua mente voa longe, ainda mais com um sono que lhe ataca com golpes certeiros, sua cabeça pende para lá e para cá...opss!! Só não dorme sentada porque a cadeira estava desconfortável. Sai da sala as 11horas, faz um telefonema e lá fica por longos minutos. Volta. Telefone toca novamente, mais longos minutos em uma conversa profunda e filosófica. Hora do almoço. Ao sair encontra Queila e Talita no seu caminho. Queila a convida pra lanchar no Pereira, ela recusa, prefere comer feijão com arroz na hora do almoço. Queila e Talita acabam indo com ela. Almoçam juntamente com Junior e Maurício. Hora de voltar pra aula. A tarde Lorena assistirá aula de jornalismo on line. Juntamente com Queila faz um trabalho proposto pela professora. A turma se reuniu para concluir a aula e por volta das 16:50 todos estão liberados. Lorena decide ir embora. Não mais ficara na casa das coleguinhas. Agora é só esperar o transporte chegar e fazer toda aquela trajetória do início, só que agora de volta pra casa.

Outra dose

Astrude Modesto

Ressaca. Dor de cabeça e sono. Ela foi dormir às quatro horas da madrugada e acordou às oito e meia da manhã. No caminho para a faculdade: a cara inchada, o estômago quente e o sol queimando os paralelepípedos das ruas. Ainda tinha parte do dinheiro que pediu emprestado para comprar cerveja e cigarro na noite anterior. Precisava ingerir alguma coisa. Um real e quarenta centavos. Misto-quente e um suco. Ela comeu Bukowski. Tanto mal ele fez àquele espírito e àquele estômago!
Ressaca. Para a aula das oito horas, ela chegou às nove e quinze. Sempre atrasada. A porta rangendo e o sorriso sem graça. O círculo formado, todos sentados em suas cadeiras e os textos nas mãos. Na verdade, eles que são loucos. Como pode alguém acordar às sete da manhã e ser feliz ao mesmo tempo? Estava difícil concentrar-se na aula, mas o assunto era interessante. Prometeu organizar-se no próximo semestre e acordar todos os dias às sete da manhã. É preciso disciplina. Ela também não está feliz acordando tarde. Aliás, por que não tira aqueles olhos de angústia da cara? Menina mimada. Ela só queria tomar um banho, escovar os dentes e dormir. Não dormiu em casa na noite passada. E a casa está uma bagunça: sem comida, a pia cheia de louça e daqui a pouco não terá mais roupa limpa.
Ressaca. O professor pediu para que cada um escrevesse um texto sobre o seu dia. Que dia? Dor de cabeça e sono. Ela mal começou o texto e precisou do primeiro cigarro da segunda-feira amanhecida. Passou mais de uma hora para escrever dois parágrafos. Quanta dificuldade! Escreveu e reescreveu os dois parágrafos. A aula acabou às doze horas e ela sentiu certo alívio. Poderia terminar o texto mais tarde. Tinha aula de sociologia geral às treze horas e não dava tempo de ir para casa. Teria de comer o segundo sanduíche do dia na rua. Seria o almoço. E mais um cigarro.
Ressaca. Na rua, até os prédios e carros suavam. Ela também suava antes de ir para a sala. Lavou o rosto no banheiro. Não tinha sabonete e ela enxugou a cara com papel higiênico. Novamente atrasada, ela entrou na sala às treze horas e trinta minutos. Merda! Perdeu vinte minutos de um filme que a professora passava para os alunos. Provavelmente, depois teria de escrever um texto sobre o filme também. Desenho animado com um bando de insetos. Lembrou-se de quando era criança e pensava que as formigas também iam para a escola. Ela imaginava o tamanho dos cadernos e lápis que elas usavam. E os pequenos óculos da professorinha formiga. Por que toda professora primária usa óculos? Menina esquisita. A aula acabou às quinze horas. A professora de sociologia pediu para cada pessoa escrever um texto que fizesse ligação entre o filme e as idéias de Karl Marx. Era para entregar na quarta-feira. No filme, um exército de formigas lutava contra a exploração de alguns gafanhotos. O proletariado e a burguesia. E todo aquele blábláblá. O pai dela é comunista. Ela ainda não sabe o que ela é. Foi para casa.
Ressaca. No caminho, parou para comprar algumas verduras, precisava comer algo decente. Cebola, tomate, batatas e uvas. As cenouras e as mangas estavam horrorosas. Era fim de tarde e todo mundo já tinha comprado as frutas e verduras mais bonitas. Devem ter sido aquelas pessoas que acordam às sete horas da manhã. Um real o monte de uvas na lata de um litro. Uvas para Sávio, o mico do vizinho. Ele fugiu da gaiola e foi morar na área de serviço do apartamento onde ela mora. Ela chegou ao apartamento. Finalmente, poderia tomar banho e escovar os dentes e dormir. Olhou a casa e o monte de lixo. Ele acumulava-se desde a sexta-feira. O caminhão só passa uma vez por dia. E pela manhã. Ela chamou Sávio e ele não apareceu. Será que o raptaram novamente? Ela deixou algumas uvas cortadas para caberem nas mãozinhas dele. Cadê o saco com as verduras? Ela esqueceu na banca. Mas não esqueceu as uvas. Ela gosta de bicho. Mas não gosta de gente. Menina esquisita. Ainda estava bêbada.
Ressaca. Ela não dormiu. Lembrou que precisava fazer uns cartazes e escrever os dois textos. Comeu pão e lavou a louça. Tomou banho e escovou os dentes. Pegou dinheiro e saiu. Fez os cartazes e não escreveu os textos. Tinha aula às dezenove horas e trinta minutos. Seria uma continuação da aula da manhã. Ela chegou antes do horário. Teria de terminar o texto. Mas não tinha inspiração alguma. Precisava de um cigarro. O bar da frente já estava fechado. Que saco! Ela ainda iria fazer algumas entrevistas depois da aula. Tentou escrever, mas não conseguia. O professor leu o que ela já tinha escrito: três parágrafos. E a aula acabou. Entregaria o texto no outro dia. Eram nove e meia da noite. Ela foi para o bar fazer as entrevistas para a matéria que precisava entregar na outra semana. Ela faz jornalismo.
Ressaca. No bar, ela não bebeu. Mas fumou alguns cigarros. A entrevista fluiu. Ela conversou com a garçonete e o dono do bar. Conversaria com alguns clientes no próximo dia. Precisava voltar para casa. Dormir um pouco. Já eram quase onze horas da noite. Ela caminhou pela rua vazia. Caminhou pela linha do trem. A cidade ainda tem um trilho pelo qual o trem não passa mais. A noite e as fachadas dos sobrados antigos. Ela já estava sóbria. Os faróis acesos. O homem do carro pediu uma informação. Vira à esquerda, depois à direita, e segue direto. Sóbria, ela continuou no trilho. Precisava de uma bebida.

Dia cheio!

Segunda-feira, 10 de novembro – Dia de acordar cedo, além da aula ainda precisava encarar uma viagem. Lise passou o final de semana na casa do noivo, em Feira de Santana, e deveria acordar mais cedo que o normal para pegar o ônibus. O despertador toca 5:30h, mas o sono insiste em continuar, o soneca toca umas 4 vezes, de 10 em 10 minutos, e nada! Na quinta vez resolveu levantar. A ficha caiu ao ver o atraso e logo correu para o banho. Escovar os dentes e tomar banho ao mesmo tempo não costuma ser feito, mas naquela hora, era de fato necessário. A roupa já estava separada, até porque ela já previa um possível atraso, e esta hora de escolher uma roupa é sempre bem demorada. Colocou os brincos e a pulseira, penteou os cabelos com tal rapidez que nem parecia, colocou desodorante e passou o perfume. Comer nem pensar, um Nescau de caixinha ajudou na pressa. Catou algumas de suas coisas espalhadas pela casa. O celular e alguns de seus textos estavam no escritório, os óculos em um móvel ao lado da cama. Recolheu tudo e colocou em sua bolsa. Seu noivo também se aprontou rápido, até porque também estava atrasado para o trabalho. Ela abriu o portão para o carro e parou um momento com a impressão de que teria esquecido algo, o que é normal quando se está atrasada. Ou fica com a impressão ou de fato esqueceu. O que não foi seu caso, porém no momento em que trancava o portão seu noivo percebeu que esquecera o óculos escuro. Lise voltou rapidamente e o pegou. Entrou no carro apressada e olhou para o relógio com a confirmação de que chegaria atrasada a aula, já eram 7:35h, a aula já tinha começado. A cada sinal vermelho que surgia nas avenidas da cidade, o seu nervosismo aumentava, além da agonia de carros, também era horário de “pique”, os carros pareciam querer passar um por cima do outro, com seu noivo não era diferente, se ele pudesse passaria por cima de todos. Finalmente entra na estrada e seguem em direção a São Gonçalo (cidade onde seu noivo trabalha), e mesmo assim alguns carros insistem em se arrastarem, com certeza não estão com tanta pressa e pouco se importam com a pressa dos outros. Já são 7:55h, Lise agoniada pergunta para seu noivo se daria tempo de chegar a São Gonçalo 8:10, horário de seu ônibus para Cachoeira, ele a olha com um olhar de incerteza, o que a deixa mais nervosa.
Ao chegar à rodoviária avistou um ônibus da Santana parado em seu ponto, percebendo que poderia ser o seu, da um beijo de despedida em seu noivo e sai feito louca em direção ao veículo. Bendita sorte!Era o seu!Nunca ela tinha tido tanta sorte, geralmente esperava horas e horas por ele, que sempre chegava atrasado. Pela primeira vez ela agradece por mais um atraso. Ao entrar no ônibus, deu uma olhada geral, fora os que já estavam dormindo, todos tinham um olhar sonolento. Não responderam seu bom dia, pareciam estar de mal com a vida. Também ninguém merece viajar de ônibus, ainda mais naquele horário. Sentou na primeira poltrona do lado do motorista, seu lugar predileto, apesar da manhã agoniada, parecia que agora o vento soprava ao seu favor. Após sair da cidade e entrar na estrada, o sol logo começou a incomodar, puxou a cortina e logo resolveu seu problema. Cochilou e em seguida já tinha chegado a Cachoeira.
Parou no ponto de sempre, e, ainda meio sonolenta, apressou-se em direção de casa para deixar suas coisas, fazendo isto, desceu em direção a UFRB. A aula de jornalismo impresso 2 já tinha começado. Entrou e sentou ao lado do professor Leandro que já tinha iniciado a discussão do texto. Todos estavam sentados em uma elipse mal feita, pareciam prestar atenção. A aula desenrolou-se naturalmente, com a participação de boa parte da turma. Com o término da discussão, o professor passou uma atividade, na qual todos deveriam escrever um diário. Lise começou sua tarefa. Chegada à hora (meio-dia), ela deu uma pausa, para ir almoçar, retornaria depois à noite para terminar, e a tarde para uma outra aula.
Chegou em casa morta de fome, afinal de contas levou a manhã inteira com uma caixinha de Nescau. Ane, a moça que trabalha em sua casa, já tinha posto a mesa, mas ainda faltava seu pai e seus irmãos chegarem para o almoço. Em sua casa existe o costume de todos almoçarem juntos, seu pai estabeleceu um horário limite para esperá-lo, depois de 12:30 pode iniciar a refeição sem a sua presença. Porém hoje era uma exceção, as 12:00 o estômago vazio falava mais alto, acabou quebrando uma regra. Serviu-se no fogão mesmo e começou a almoçar. Quando já estava no final, chegaram todos, perguntada o porquê da pressa, explicou-se e logo subiu para tomar um banho. O chuveiro parecia não colaborar, mesmo sem ser elétrico a água saia mais quente que tudo, e naquele momento água gelada era o que ela mais desejava, afinal de contas o calor era insuportável. Saindo do banho, aprontou-se e sentou no computador para terminar um trabalho encomendado por seu colega. Terminado, já estava na hora de retornar a universidade para a aula de jornalismo on-line. Chegando à entrada da instituição, encontrou com seu colega com o qual discutiu sobre os últimos ajustes do trabalho.
A aula já tinha começado, leu a tarefa deixada no quadro, um estudo dirigido em dupla. Percebeu que quase todo mundo já tinha a sua dupla, por isso perguntou em um tom de voz alto se tinha alguém sozinho. Sandrine logo se prontificou, e então sentaram juntas para ler o texto e fazer a tarefa. Começaram cheias de seriedade, concentradas em entender o texto, mas chegando ao final, o cansaço deixou a leitura confusa, Sandrine começou a fazer gozação, pulava linhas, lia com rapidez e incorretamente, e logo as gargalhadas surgiram. Dá 15:30, horário de entregar o trabalho e discussão do mesmo. Feito, a aula chega ao fim. Saiu apressada em direção de casa. No caminho encontrou com Vanhise, sentaram, e juntas resolveram umas pendências de um trabalho. Retomando seu caminho, chegou em casa. De repente percebeu uma caixa fechada em cima do balcão da cozinha. Uma alegria à contagiou, logo veio em mente o modem da internet, que esperava chegar. Pegou a caixa e viu que estava destinada em seu nome, e logo teve certeza. Correu para tentar instalar a internet, mas percebeu que iria precisar de um fio. Pegou o carro e foi até uma loja de material de construção para comprar. Aproveitou que estava na rua e passou para pegar sua mãe no trabalho. O calor tava infernal paramos e tomamos um sorvete. Já eram 18h, Lise, agoniada apreçou sua mãe para voltar para casa, ainda tinha que instalar a internet e logo depois ir a aula de Leandro 19:30h.
Imaginando que tudo seria fácil se decepcionou ao não conseguir instalar a tão desejada internet, tentou por horas, sem êxito. O horário da aula já chegara, o jeito era deixar a instalação para o outro dia. Triste notícia!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Mais um dia, como outro qualquer

- Hamurabi, já são 5 e meia, acorda! – uma voz feminina acorda nosso personagem, muito antes da hora programada por ele, ainda na noite anterior.
Ele custa a acordar, se espreguiça, enrijece os músculos, tenta de toda forma sair de seu sono para enfrentar mais um dia. A passos ritmados e lentos, caminha ao banheiro, tira a sua roupa e cai direto em uma rajada de ducha fria, sem pena, pra acordar mesmo.
Bip. Bip. Bip.
São 5h40 exatamente a hora que seu alarme dispara, alto, ele ri, brinca e diz:
- Hoje eu acordei antes do alarme tocar. Não preciso dele.
Mal sabe ele que só por hoje.
- Minha mãe põe duas fatias de bolo e meu café, por favor.
Com a voz baixa para não acordar ninguém, se recolhe ao quarto e começa a se vestir, passa perfume, arruma a sua mochila, já salivando a espera da primeira mordida no bolo que lhe aguarda junto à xícara de café.
A televisão ligada o distrai, porém, ele está preocupado em devorar o seu café, pois o tempo corre e muito rápido, logo o carro já estará buzinando em frente da sua casa para sua rotina tão habitual e repetitiva, da qual ele se acostumou rapidamente: viajar à Cachoeira.
Ele nem termina de pensar na viagem e o carro já está na sua espera. Ouve o barulho da buzina, se despede e vai ao encontro do veículo verde e espaçoso estacionado na sua frente. Abre a porta do veiculo, vê duas pessoas. Apesar de ser dia, o fumê nos vidros do carro torna o ambiente um pouco escuro. Mas identifica as duas pessoas, que ainda tentam prolongar o que ele já perdeu: a vontade de dormir. Daniela e Lorena ocupam a última fileira de bancos. Lorena, pele escura e cabelos trançados, e Daniela com uma tez mais clara e cabelos lisos, se dispõem pelo banco como se ainda estivessem em sua cama. Da primeira fileira ele observa e ri, porém não sente inveja. Durante uma hora de viagem, vê, como se fosse um filme diante de seus olhos, a paisagem passar na mesma velocidade do automóvel, que sinuosamente faz o trajeto até a universidade. Chega ao local e uma dor de barriga faz uma gota de suor escorrer por sua testa até o momento em que ele pára, senta e respira fundo. A gula que o tomou na noite anterior o faz lembrar o motivo da súbita dor que o perturbou. Ás 8 e meia começa a aula. Um loiro a falar, falar, falar e alunos a escutar e discutir. Ponto de seguimento na discussão e agora ele começa a escrever sobre seu dia.
Às doze horas, sob o sol torrencial da Cidade Heróica sai para o almoço. Caminha cerca de cinco minutos ate chegar ao restaurante de sua escolha. Chega ao local, lava as mãos, monta seu prato e come, degustando o seu almoço. Mais pessoas chegam ao recinto e aquele burburinho de vozes o faz sair do lugar. Caminha novamente pelo mesmo trajeto, agora no sentido inverso, de volta a universidade. Aula, postagens, matérias, professor falando e ele se prepara para ir embora.
17 horas e sai para esperar o transporte que o leva para casa. Ele queria ficar e saber o que vem depois do ponto de segmento daquela aula pela manhã. Mas ele lembra que tem seminário no outro dia e tem que estudar para tal. O carro chega ele se dirige para aquele ambiente escuro em que a paisagem ira passar como um filme pelos seus olhos e amanhã ele ira acordar cedo, talvez primeiro que o despertador, ou não, e ai irá tomar uma ducha fria... E será mais um dia como outro qualquer. Até quando?

Hamurabi Dias

Dia 10 de novembro de 2008, sonolência: teu nome é Daniela

por Daniela Oliveira

05h00min da manhã. O despertador toca, Daniela desliga-o e volta a dormir. 15 minutos mais tarde, toca novamente. Ela finge não notar, desliga e volta a dormir. As 05h20min é inevitável não notar a presença do celular apontando: horário de levantar. Levanta ainda de camisola, com os cabelos bagunçados, desliga o ventilador, começa as suas orações matinais enquanto arruma a cama. Segue direto para o banheiro, ainda numa espécie de transe, a sonolência é evidente e incômoda, é mais forte do que ela. Coloca suas roupas e objetos pessoais no banheiro. Toma banho. Retorna ao quarto e penteia os cabelos. Olha no espelho a sua cara "amassada" e os olhos inchados, parecem ainda não ter acordado. Dirigi-se a cozinha. Prepara em uma xícara, leite em pó e açúcar. O pai coloca aula fervente. Senta-se à mesa calada. As únicas zoadas ouvidas são a da panela de pressão e o barulho da colher que ela usa para mexer o leite quente. Come rapidamente. Segue para o banheiro e escova os dentes. Arruma, ou melhor, joga celular, chave, carteira, tudo dentro da bolsa que mantém aberta. Liga o computador. O quase vício de orkut faz com que seja inevitável uma rápida olhada na sua página de recados. A rápida olhada passa a não ser mais tão rápida quanto deveria. Envia vários recados para o namorado, afinal 1 ano e 9 meses de namoro merecem vários recados. Olha seus recados, não responde a nenhum. Fecha a página e põe o PC para desligar. Dirige-se a sala da frente, onde abre a porta, coloca a bolsa, o caderno e a pasta em cima do centro. O barulho de uma buzina parece acordá-la por alguns minutos da sonolência. Pega a bolsa, o caderno e a pasta, vai rapidamente para a porta cozinha: "Mãe, eu já vou! Desliga o estabilizador do computador tá?" e ouve como resposta: "Já vai? certo, eu desligo. Vá com Deus". Dani, como todos a chamam, abre o portão, abre a porta da van verde que está a sua espera. Entra, olha para o Danilo, o motorista e dá bom dia. Senta no último banco, próximo à janela, como já é habitual. Olha para Lorena, sentada ao seu lado, na outra janela e repete o gesto: "Bom dia". Balbucia algumas rápidas palavras sobre o quanto está com sono e sobre o show da noite anterior. Abre a bolsa, pega os óculos escuros e põe no rosto para tentar disfarçar o sono. Se acomoda no canto da janela e adormece, um sono meio inconstante, acordando, ou melhor, abrindo os olhos diversas vezes como uma maneira de se situar, saber aonde está. Acorda, de fato, em uma estrada próxima a universidade. Os olhos insistem em manterem-se fechados, ela luta e tenta deixa-los abertos. A van pára. Algumas pessoas, além dela, descem. Ela dirige-se ao portão, entra na universidade e logo encontra um lugar para sentar. Tenta afastar o sono, conversando com seu colega de sala, Hamurabi, sobre a rodada do Campeonato Brasileiro e do quanto está feliz por seu time permanecer na liderança. Leandro, o professor, e Caio um colega de sala, sobem as escadas. Ela troca algumas palavras com Caio que sai, deixando-a tomando conta da sua mochila. Alguns minutos mais tarde o professor dirige-se em direção a sala, prontamente pega sua bolsa, entrega o seu caderno e a pasta a Hamurabi que está a procura do material da aula de hoje, recolhe a mochila e a sacola de Caio, que entrega a ele no meio do trajeto,e finalmente vai para a sala. Com o tempo dado para esperar os demais colegas, enquanto o professor lê uma revista, aproxima-se de um computador em que Hamurabi está sentado navegando pela NET, senta na cadeira ao lado. Pede para que ele coloque na tabela do campeonato e mais uma vez passam a discutir os próximos jogos da rodada do Campeonato Brasileiro e quais as chances dos times que estão na liderança e próximos a ela. O professor começa a aula. A sonolência também volta com força total. Tenta prestar atenção na aula, mas o sono parece ser maior. Decide sair e lavar o rosto. Retorna a sala. Parece que por alguns minutos o sono a deixou em paz. Só impressão. Resolve sair e beber uma coca, quem sabe a cafeína não a desperte. Dessa vez parece ter efeito. Retorna a aula bem mais alerta. O professor passa um exercício: faça um diário sobre o seu dia. Retorna a mesa do computador onde havia deixado as suas coisas e passa a digitar rapidamente, como se as lembranças do que fez minutos, horas atrás, surgissem como um redemoinho de ações. Termina a princípio, a primeira parte do trabalho, e sai da sala acompanhada de Mariana, estão indo almoçar no restaurante Maktub. Almoçam vendo TV. Após o almoço, ela sai, ainda na companhia de sua colega de sala, retornando à universidade. O trajeto é interrompido por uma entrada no Banco Bradesco. Entra, se põe na fila, saca dinheiro, sai do banco e vai andando. O caminho é novamente desviado, agora já próximo a universidade. Entra no “Bar de Gel” compra uma água mineral, aceita um chiclete de hortelã oferecido por Mariana e seguem as duas em direção ao CAHL. Sobem as escadas, vão para biblioteca, puxam umas cadeiras e retomam um papo animado agora junto com Hamurabi. Minutos depois, Alene, a professora da tarde de segunda, chega e chama todos para a sala. Ela segue a professora em passa lentos e adentra o laboratório de jornalismo. Senta em um computador ao lado de Carol e começam a pensar na continuação do seu projeto da disciplina Editoração e Processos Gráficos. Oops, os planos para o projeto terão que ser interrompidos, Alene, que sempre chega com a “corda toda” (rsrs) já encheu o quadro com um estudo dirigido a ser entregue até 15:30. Que droga! Lamenta. Mas fazer o que? Pega o caderno e começa a anotar as questões. Entre uma linha e outra, dá palpites nas matérias atrasadas da colega Carol. A colega, decide interromper o que está fazendo e ir dar uma ajuda com o texto. As duas debatem e chegam a conclusão de 4 das 5 perguntas do Estudo Dirigido. “Ah eu tô com fome, bora lá em Gel?”, Carol prontamente aceita: “Vamos sim”. Levanta, acompanhada pela colega e saem da sala. Em Gel, pega uma fanta pequena e um salgadinho “pimentinha”. Carol pega um pacote de biscoitinhos e as duas sentam a comer e conversarem. As duas levantam e vão em direção oposta ao CAHL. Chega na farmácia e pede um crédito para o celular. Sai de lá e aproveitam a chance para ajudar a colega a entrevistar pessoas para matérias e assim poder finalmente entregar as matérias atrasadas. Retornam à universidade. Voltam à sala e sentam-se novamente em dupla em um computador. A professora libera a turma e ela sai em direção ao portão. Encontra com Lise no caminho e passar a conversar e rir, enquanto Lorena canta uma música em arrocha. Deixa a universidade junto com as meninas e vai para a frente do prédio a espera da van, anciosa pela volta para casa. Entra na van, senta-se no banco entre Hamurabi e Lorena. Pega os fones do mp4 rosa e põe no ouvido. Mais uma vez cai em sono pesado apesar de todas as vozes e o som do carro ligado. Dorme e acorda com alguém falando seu nome, é Hamurabi. Quando olha para fora da janela, identifica: já está de volta a Feira. Apesar de já estar dentro da cidade, o trajeto é longo. Será uma das últimas a ser deixada em casa.A van pára. Desce, se despede. Lembra a Danilo, o motorista, que amanhã irá de manhã. Desce e abre o portão. Olha para a rua e vê seu irmão chegando. Deixa o portão aberto para que ele entre. Chega em casa e vai logo em direção à mãe e a tia, conversa animadamente esquecendo todo o cansaço do dia. Toma banho. Janta. Vai para o quarto e senta-se na mesa do computador. Termina a descrição passada por Leandro, esta manhã, enquanto, entre um bocejo e outro, dá conselhos a melhor amiga pelo msn e responde a recados do orkut. São 21:30, o sono e o cansaço agora já dominam. Resolve terminar de uma vez o trabalho, postá-lo e ir para a cama. Amanhã será mais um longo, cansativo e sonolento para Dani.

Meu dia foi uma desgraça...

Sandrine Souza

Quando cheguei à faculdade fiquei sabendo que teria que escrever sobre o meu dia, não queria compartilhar um dia tão desinteressante, estressante, desestimulante...mas, enfim, Leando do jeito que é... tive que fazê-lo.
Querido diário... Acordei às 08h10, duas horas depois do programado no dia anterior. Depois de duas noites "achadas" nos bares da cidade, dormi do domingo à tarde até hoje pela manhã, com alguns breves intervalos para comer e tomar banhos e comprimidos, porque não me sentia bem. Acordei com uma puta dor de cabeça e mal estar herdado do fim de semana, que se prolongou o resto do dia. Tomei um banho gelado bem demorado para tentar acordar. Ás 9h00 bebia um gostoso suco de frutas no Pereira - queridos amigos - e fumei um cigarro. Tentei ir para aula, mas não consegui, o corpo se recusara. Fui para casa e comecei a ler o texto para o seminário de amanhã, foi uma luta ler aquele texto, o corpo esmurecido só queria cama. Depois tive que lavar as louças (odeio atividades domésticas, especialmente lavar as louças) para que Tan, minha companheira de casa, se conpadecesse e fizesse o almoço. O meu gato, Lupo, amarelo, com a rabo torto devido ao atropelo que viveu no dia em que o resgatei da rua, passou a manhã toda subindo na mesa atrás dos biscoitos que eu comia enquanto estudava, até que em um momento de histeria eu berrei e o atirei na lavanderia. A sorte é que gato tem um bom reflexo e, sabe lá porque diabos, só cai de pé. Não teve jeito, ele subiu na janela e ficou ollhando para mim, eu fiquei histérica de novo. Ele chorou; isso foi o suficiente para me fazer pegá-lo no colo e pedir desculpas. Afinal, ele não tinha culpa do meu mau humor, produto da insistente enxaqueca e sensação febril. Bom, mas eu também não tenha culpa (prefiro pensar assim) do meu mau estar. Depois do almoço, que não estava muito bom, eu tomei um banho bem demorado ouvindo música no volume mais alto que o aparelho me permitia: " Era pra você a carta de amor que disseram ser para um terceiro". Na aula da tarde, Alene deu uma bronca na turma e, para completar, Carlindo, um colega de sala, disse que a nova música do Psirico tinha sido inspirada em mim. Nem queiram saber como é a letra da música, saber que é do Psirico é suficiente. Acho que ele achou que seria um elogio. Bom, para variar, virei motivo de chacota na sala. Cheguei da aula e Tan estava fazendo sopa. Adorei, a sopa tinha o mesmo sabor da de minha mãe. O que ela estaria fazendo agora? Bom, deu um gostinho de saudade que tive que desgutar com rapidez porque mais uma bendita aula me aguardava. Cheguei na faculdade mais cedo, ou pelo menos pensava isso até ver um dos grupos do qual faço parte reunido. Esperei de longe a aula começar. Para completar o belo dia estou aqui na redação de jornalismo escrevendo um texto sobre o meu dia, que, como já deixei claro, está sendo feito contra a minha vontade. Não foi exatamente isso que tinha programado para esta noite. Hoje, nem a droga do telefone tocou, ninguém trouxe uma notícia agradável, nada de relevante aconteceu e, se aconteceu, infelizmente, nem percebi. Aliás, o telefone tocou, um colega, Só love, "filho duma puta", ficou dando toque para o meu celular na minha frente para testar a minha paciência e ver minha reação, deu vontade de esganá-lo quando descobri que era ele o autor do trote. O meu consolo é que a noite não acabou e "ainda é uma criança". Na verdade, acho que só disse isso para tentar deixar uma mensagem de otimismo para descarregar um pouco o leitor que se interessar por este adorável título, mas, a verdade é que vou terminar a noite concluindo o seminário de amanhã.

Apenas mais um dia

Patrícia Neves

Patrícia acordou às 6:39 da manhã, devido a luminosidade do seu quarto, estava exausta, com muito sono, levantou-se com muita dificuldade, com os olhos ainda fechados, foi até o banheiro do quarto e desligou a luz, depois voltou para a cama se cobriu com um cobertor.
Quando despertou novamente já passava das 10h, olhou-se no espelho e não gostou muito do que viu, penteou os cabelos, escovou os dentes, foi até a cozinha lavou os pratos sujos que estavam na pia, foi até o quarto e pegou dois cadernos. Ela está preocupada, em dúvida se vai à faculdade ou se fica em casa e termina suas leituras e seus trabalhos. Decide fazer uma programação da semana, ditando o que precisa fazer a cada dia da semana.
Às 11 horas Patrícia vai até o salão de beleza próximo a sua casa onde faz algumas refeições com produtos naturais para emagrecer, por ter tomado os líquidos rapidamente, sente ânsia de vômito e respira fundo para não vomitar.
Ao chegar em casa, já passa das 11:30, ela decide que vai à faculdade e sabe que precisa dormir em Cachoeira, onde estuda. Ela está muito chateada porque gostaria muito de dormir em sua casa, mas sabe que tem compromisso e não pode faltar então ela pensa que pelo menos não vai ficar em casa sozinha como todas as noites, pois vai estar na casa de seus colegas da faculdade.
Então ela toma banho, escolhe como sempre uma roupa simples, pega os materiais necessários e vai até o ponto onde espera o carro que a leva para faculdade.
Como sempre ela encontra seu vizinho que também espera o mesmo carro, e os dois conversam sobre o final de semana. No caminho ela vai conversando com os outros colegas, até chegar à universidade. Em vez de ir para aula de jornalismo on-line, ela prefere ler alguns textos na biblioteca.
Depois de passar no local onde as pessoas da faculdade tiram fotocópias e pegar alguns textos que havia mandado preparar, ela se dirigi até a casa de sua amiga Calila, onde fica hospedada todas as segundas quando precisa dormir em Cachoeira, ela conversa com Calila e Daiane sua outra colega de classe, as três riem muito falando do seus assuntos preferidos: homens e relacionamento, tanto delas quanto de outros colegas e amigos.
Às 18:16 Patrícia precisa ir para a reunião da pesquisa na qual participa na universidade, em seguida tem aula de jornalismo impresso até às 21:00. Ela gostaria mesmo de ficar na casa de Calila conversando ou lendo seus textos.
Ao caminho da Faculdade, ela percebe que em quase todas as casas os moradores estão pondo a cadeira na porta para sentar, ela acha engraçado. Pensa que provavelmente ficarão ali até começar a novela das oito.
Ao chegar encontra seu professor e mais três colegas sentados à mesa onde acontecem as reuniões. Ela cumprimenta os colegas e elogia o penteado do professor. Na reunião corre tudo muito bem, como sempre ela acha tudo muito novo e interessante. Antes de partir para ultima aula do dia, ela vai ao bar de Geo, perto da faculdade e compra um pacote de biscoito light.
A aula começa e ela reza pra terminar, pois está cansada desse dia tão comum.

Um dia sem muitas novidades

Daiane Dória

Mais uma manhã de mais uma segunda-feira de novembro. Ela acorda e pega o celular para olhar as horas: “5h20, ufa! Ainda posso dormir mais um pouquinho”. E Daiane volta a dormir, sonha não se sabe com que e acorda assustada achando que não ouviu o despertador tocar. 6h12, ainda dá tempo. Às sete horas toca o celular com o lembrete: “aula Léo”, é agora não há jeito tem que levantar.
Sem muita coragem permanece deitada relembrando o que tinha feito no celular na noite passada. 7h06, hora do banho, Daiane enfim levanta da cama e... Banheiro ocupado. Não desiste, não pode desistir, até pensa nisso, mas Colling hoje vai discutir Lima, o cara que fala das técnicas. Ela segue com sua roupinha de dormir rosa e seu chinelinho também rosa, desses bem macios que não te desligam da cama, e vai para o quintal pegar sua toalha rosa. Volta para o quarto, arruma a cama e a bolsa rosa, pensa na roupa que vai vestir, desiste, pois sabe que depois vai mudar de idéia. Dani sai do banheiro, pronto, hora do banho de verdade.
Água quente, sabonete, corpo e ela pensando em tudo o que fez de errado no dia anterior. Não imaginava que eram tantos os erros. Mais água quente, sabonete e toalha secando o corpo e toalha cobrindo o corpo. Escova os dentes com água fria e sai do banheiro. Ao passar pela cozinha pensa no que vai comer. Vai para o quarto. Hora do pânico, a roupa! Veste uma, duas, na terceira se decide, mas continua com os chinelos de sono.
Todos na casa já estão acordados, ouvindo as notícias da manhã através do rádio do vizinho, Bienal do Recôncavo, o tema do dia. Depois de comer, escova os dentes, troca os chinelos por havaianas, penteia os cabelos e vai sentar sem muita disposição para esperar Camila.
Meio atrasada sai de casa às 8h04. Ao chegar à faculdade encontra Colling e alguns poucos alunos na sala. A aula começa com a discussão do texto e Daiane apesar de interessada no que o professor estava falando, mostrava-se visivelmente com muito sono. Terminada a aula ela corre para casa. Está com muita fome e com uma vontade enorme de tomar banho, fruto do calor quase que infernal que faz em Cachoeira.
Como já não tem sua mãe para preparar o almoço, vai fazê-lo com Dani. Toma banho, agora a água já é fria, almoça, escova os dentes e mais um pouco de exposição no sol na caminhada de volta à universidade.
Aula de Alene, chegou atrasada, de novo, e foi sentar-se com Lorena. Sentiu um nervosismo muito grande ao observar no quadro a data da prova. O desespero tornou-se ainda maior quando viu Talita ainda mais ansiosa sem saber o que fazer para cumprir tantas atividades. Enfim acalmou-se, pois tinha que fazer um estudo dirigido que deveria ser entregue às 15h30. Mas alguma coisa tipo peso na consciência e a aula acaba.
No caminho de casa foi pensando sobre tudo que tinha que fazer durante a semana. Ligou para a mãe que com suas palavras positivas, coisas de mãe, a animou um pouco. Resolveu cozinhar um feijão já que o dia seguinte também seria cheio. Camila e Dani chegaram e pronto, começaram a rir. Riam de tudo, do homem que correu atrás do outro com um facão enferrujado, da menina que caiu no rio com o celular no bolso e molhou o cabelo, e por aí vai. Tomou banho, água fria de novo, assistiu um pouquinho à novela das sete, comeu, escovou os dentes e faculdade de novo.
No caminho, mas uma vez risos. Inclusive uma gargalhada de Daiane me chamou a atenção apesar de não saber o motivo, algo a fez rir muito quando passava em frente ao hospital juntamente com as outras duas garotas. Chega então ao CAHL, aula de Colling pela segunda vez no dia. Enquanto termina um texto solicitado pelo professor, fala com alguns amigos pelo meebo, olha seus e-mails e tenta falar com o namorado, não consegue, fazer o que né?
Ela termina o texto, e o que vai acontecer com Daiane a partir de agora nem mesmo ela pode saber.