sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O mercado do bagaço da laranja

Hamurabi Dias

O samba começa a tocar, o som contagia. Espalhados pelo chão, grandes sacos de farinha branca como a neve. Do outro lado, os balcões de carne, vermelho, sangue, couro, carnes expostas, penduradas por um arame. O samba não pára e o barulho das conversas se misturam ao som dos passos, vozes embargadas, vozes firmes, passos lentos, ritmados levados pela música. Pretos, brancos, idosos, jovens, passeiam quase que ofegantes em mais um dia no mercado. Já são dez horas e o calor matinal entra pelo meio do lugar, como se abrisse uma brecha, mostrando que é hora de trabalhar, de circular pelo local. As pessoas páram, descansam, outras escrevem, eu escrevo também e, de repente, vem o cheiro das carnes, um aroma abafado, seco. Também sinto o cheiro da farinha, um cheiro rural de raízes, são muitas dispostas pelo chão, à mostra da freguesia, que observa, prova, recua e sai. Balbuciam o samba, despertam a preguiça, e a música continua tocando sem parar e se combinam com as tonalidades das pessoas, dos objetos, das comidas. É o negro do vendedor, com o branco da farinha, o amarelo do lugar com o chão acinzentado em que as pessoas andam, param, recuam e saem novamente. O som continua, me atrapalha. Tento adivinhar de onde vem. Descubro. Vem do andar de cima. Lá não tem o cheiro de carne, de farinha, não tem o velho barbudo preocupado, fazendo as suas contas, têm mesas plasticas, coloridas, leves, quadradas, cadeiras, restaurantes, e o samba continua, agora mais de perto e vem de uma loja pequena e apertada por dentro, deve trabalhar só uma pessoa que vende CDs e DVDs de rock, em sua maioria. Black Sabbath, Aerosmith dividem o mesmo espaço com o samba que toca insistentemente, é diversidade de cores, de sons. De cima dá para observar pessoas que caminham em seu rumo, correm para lá e para cá, no chão acinzentado, sujo de sangue, mais parece um abatedouro, se já não é. Saio com frase que ficou em minha cabeça desde a metade desse texto: “sobrou pra mim o bagaço da laranja”.

Místico Glória

Uma fachada rústica, o bege de uma parede já descolorida e suja, e papéis colados nas portas entreabertas encobrem dois grandes arcos divididos por uma pilastra com mais papéis colados. Alguns já amarelos de tão velhos e outros ainda com a brancura de uma informação atual. A tinta muito descascada das portas de madeira indica que o lugar é uma construção antiga. Antes de terminar a esquina, o salão Glória, místico e diferenciado.
Um pequeno letreiro branco, pendurado no alto da parede com letras já desgatadas, junto com três gaiolas de passarinhos amarelos e assustados, devido a agitação da rua, compõem a entrada do lugar. Três poltronas vermelhas ficam em frente a vários espelhos de todos tamanhos e cores, vinho, branco ou preto, dispostos na parede em fileira. Os materiais, tesouras, navalhas, pentes, ficam sobrepostas a pequenos altares no meio de tantos outros objetos. São troféus, pequenos retratos, ventiladores, medalhas, perfumes.
O cliente, ao sentar-se em uma das poltronas, poderá vislumbrar muitos e muitos quadros de fotos de times campeões: Corinthians, Vasco da Gama, Flamengo. Em torno de tudo, muita poeira. Uma planta Brasil fica escorada em uma geladeira bem no meio do salão, sem muita ordem, um universo de coisas se perde dentro da barbearia. Dois sofás empoeirados e uma mesa com copos, garrafas de água, pratos, uma marmita e, ao lado, um frigobar branco enferrujado, dão idéia de ali ser a moradia de seu Antônio, o proprietário. Um senhor negro, de rosto redondo, olhos pequenos e mais pretos que seus cabelos grisalhos e enroladinhos, feito pequenos parafusos. Não muito alto, com o corpo magro, os braços e pescoço finos envoltos por algumas pulseiras e corrente prateadas, a voz fina e a calma de um vascaíno de 56 anos.
Muitas imagens, um quadro de Preto Velho de um lado, quadro de Jesus Cristo do outro. Duas velas acesas no alto do canto de uma parede ao fundo do salão, na frente de um quadro de São Francisco, revela a fé de Seu Antônio. O forro branco, baixo e velho, só favorece o calor, por isso dois ventiladores ligados, também muito empoeirados. Dois televisores e um rádio ligado, e o cliente fica sem saber o que ouvir enquanto corta o cabelo ou faz a barba. No chão, fios de cabelo e um tapete verde de veludo no canto da porta. Outros passarinhos presos no alto. Algumas miniaturas de tartaruga, ratos, que mexem a cabeça com qualquer movimento na estante de artesanato repleta de revistas e discos.
Mas a principal ornamentação, e o que mais chama atenção, são as fotos dos inúmeros jogadores, uns sentados, outros em pé, sorridentes ou não, que encobrem as paredes e rodeiam os olhares.

Aline Santos

Muito mais um depósito do que um salão

Caio Barbosa
O cheiro é aquele próprio de barbearia – uma mistura das fragrâncias de espuma de barbear, de gel pós-barba, de cabelo cortado. É... O cabelo cortado parece ter cheiro também.
Tudo é muito escuro, também pudera, a maioria dos objetos é nas cores marrom, cinza e vinho. Aquilo que teria cores mais vivas, como a parede, que um dia foi azulada, está empretecido por conta de uma poeira que denuncia que a última faxina foi feita há décadas.
O ambiente é repleto de plantas, todas cobertas por uma crosta de poeira. Nem se sabe como ainda sobrevivem. Nada parece muito higiênico, a não ser a navalha e as lâminas, que, antes de serem usadas, são desinfetadas com álcool. Mesmo assim, quem é muito fresco, não deve se sentir à vontade para se barbear ou cortar os cabelos naquele lugar. Pensa logo que pode pegar uma micose ou passar por algum outro problema. A instalação elétrica não foi feita com um mínimo de cuidado. Os fios aparecem remendados e emaranhados no teto de forro branco, amarelado, com rachaduras e várias teias de aranha por conta do tempo. Mas os profissionais parecem trabalhar muito bem.
Por mais que se tente, não se consegue ter uma conexão no olhar. O número de objetos é imenso, alguns cuidadosamente dispostos, mas grande parte deles amontoados. O engraçado é que toda aquela bagunça ainda consegue transmitir a idéia de organização. Provavelmente, o dono daquele lugar sabe tudo o que tem ali dentro e sente falta do que é retirado de lá. A idéia que se tem é de que o Salão Glória e Armarinho é também um depósito de algum colecionador, de um alguém muito apegado a tudo e qualquer coisa – gaiolas, ventiladores, latas, vasilhas, troféus, pôsteres do Vasco, do Flamengo e do Palmeiras, revistas, jornais e livros com folhas amareladas e envelhecidas, tanta coisa. E nem tudo é velho não. Uma televisão de catorze polegadas, por exemplo, tem um modelo que saiu no mercado há dois anos no máximo.
Uma geladeira marrom e enferrujada e um frigobar branco, mas também com pontos de ferrugem, devem guardar o almoço e lanches dos que trabalham ali. Em cima do frigobar, estão uma assadeira de alumínio, com as bordas tortuosas e pretas por já ter pegado gordura no cozer, e um motor de um liquidificador Walita que aparenta ter mais de vinte anos.
Ao fundo, uma porta esconde um vão com mais um mundo de objetos. Para o dono do salão, aquele ambiente é o depósito do estabelecimento. Para um visitante, que nem chegue a tomar conta daquele quarto, toda a barbearia é um espaço onde se guardam pertences. Segundo ele, aquela sala é oferecida aos amigos – um vendedor de acarajé que guarda utensílios lá, por exemplo.
Ao lado da porta do depósito, está uma mesa grande. Parece ser o local usado para as refeições, pois nela estão garrafas plásticas de água mineral que guardam óleo e azeite, três latas de leite Itambé, reaproveitadas, talvez para guardar alimentos, uma marmita, daquelas de três vasilhas que se encaixam e podem ser carregadas juntas, uma garrafa térmica de 20 litros, daquelas com torneira, que está quebrada.
Devem ser poucos os que procuram o Salão Glória exclusivamente para os serviços de barbearia. Aquele rico depósito reacende lembranças. Para quem gosta de voltar ao passado, levar alguns instantes naquele ambiente pode ser confortante. O relógio que está pendurado na parede, por exemplo, é um que me faz lembrar a minha infância. Lá em casa tinha um daqueles. Ele parece mais um quadro. Tem uma pintura de um lago e uma casa de campo. Os números em algarismos romanos e os ponteiros de plástico ficam escondidos sob aquela imagem. Por ali, eles parecem andar mais devagar.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Aqui se vê e se sente de tudo

Danielle Souza

Porta a dentro do Mercado Municipal, o mau cheiro paira no ar. São fileiras de box, embrulhos imensos cobertos com lonas e numerosos caixotes espalhados pelo local. A cabeça, a queijada e o chifre do boi, fazem parte de um cenário extremamente desconcertante, principalmente quando escuto Roberto, dono de um dos açougues, dizer que o chifre do boi é comprado de R$ 5,00 a R$ 10,00 para fazer feitiçarias, “magia negra” completa uma aluna.
Em dois corredores, se vê e encontra de tudo um pouco. Inclusive os rostos das personalidades presentes. Pessoas de todas as idades, crianças, jovens, adultos e idosos. Farinha de tudo quanto é tipo. Feijão de tudo quanto é nome: carioca, fradinho, mulatinho, preto, branco. Sem contar no boi, a visão do inferno. Retalhado em várias partes, ele tem suas carnes expostas em balcões não muito limpos, enfiados e pendurados em ganchos bem afiados. Vixe! Chega deu agonia ficar ali. Coisa foi vê os açougueiros na maior prosaria sem maiores preocupações.
Em um outro ângulo do ambiente, próximo a um pequeno jardim, estava dona Dalva encostada em um grande embrulho preto, amarrado de corda, ela passa o dia sentada num banco, lendo um pequeno livro, à espera de fregueses. Aparentando uns 55 anos, dona Dalva é negra, baixinha e robusta. Tem os cabelos curto e preto e encontrava-se com trajes simples, um conjunto de short e blusa amarela, coberto de flores vermelhas, tornado a sua aparência extravagante, junto aos seus brincos dourados e os óculos pretos. Todas as suas mercadorias ficam em cima de caixotes e bancadas de ferros. Aos poucos, as pessoas se aproximam dos seus sacos de farinha e de feijão e ela com uma concha na mão dá toda a atenção.
Entre passos e mais passos, num lugar não muito claro, num clima não muito agradável, com a sensação não muito feliz de estar ali, com uma imagem não muito bonita e num ambiente que em parte só enxergo sujeira, surge ela, a esperança de uma imagem diferente. Degraus acima, chego no primeiro andar. A impressão é outra. O ambiente é outro, e o local se torna mais agradável. Lembrou-me uma galeria. De um lado lojas de roupas, CDs, celulares, recarga de cartucho. Do outro, cadeiras e mesas distribuídas em frentes aos barzinhos e restaurantes que servem iguarias do tipo ensopado de boi e galinha. E pra completar, em um giro de 360 graus vejo uma moça cozinhando, um homem fazendo a barba, um rapaz almoçando às 10 horas da manhã, uns homens batendo papo, outros bebendo cerveja e o mais incrível de se ver, seu Valter Evangelista, 78 anos, trabalhando numa loja de fotografia.

Diga aí freguesia!

Queila Oliveira

Chegando ao mercado municipal, vejo uma variedade de mercadorias à venda, mas o que mais chama a atenção é o cheiro das carnes que impregna todo o ambiente. Logo em seguida, me deparo com carcaças de boi que me fazem remeter ao passado, um boi que foi morto de forma brusca, por vários homens, com marretadas na cabeça. A cena ficou mais curiosa quando um dos vendedores se aproximou, com seu andar malandro de ser, para falar dos pedaços de boi espalhados na banca. Era um homem de pele escura, que aparentava ter seus 27 anos, a barba sem fazer, o cabelo crespo, cortado bem baixinho, com os dentes cariados, blusa de manga azul combinando com a bermuda de cordão também azul e uma havaiana para fechar o estilo azulão.
Essas carcaças que estavam à mostra, todas sujas de sangue e cobertas de moscas, também eram vendidas: o chifre de boi saía de 5 a 10 reais e as pessoas compravam pra fazer feitiçaria, a queixada servia para fazer pentes, que as fábricas de Feira de Santana e Salvador compravam. Apesar do chão molhado, o que aparentava ter sido lavado há pouco tempo, não mudava o cheiro e o aspecto sujo do ambiente. A iluminação era pouca, a única luz do local vinha de fora do mercado.
Carnes dividindo espaço com moscas, em um ambiente cercado de tralhas, caixotes de frutas, lonas pretas cobrindo as mercadorias e homens de todo tipo, alguns magrinhos outros robustos, sempre vestidos com bermudas e blusas de manga sujas de sangue dos animais. Esses homens mal se preocupavam com os cheiros, comiam e bebiam com tanta naturalidade nesse ambiente tão familiar para eles, não se importando com o aspecto físico, a falta de limpeza e o sangue por toda parte. Como o espaço era predominantemente masculino, a resenha corria solta. Brincadeiras entre eles mostravam uma convivência de longa data.
Carnes penduradas como uma vitrine à disposição da freguesia. Os clientes analisam muito bem a mercadoria. Ao surgir dúvida sobre qual carne comprar, o vendedor se torna um consultor para satisfazer o cliente. As bancas que ficavam enfileiradas eram feitas de cimento, coberto com azulejo antigo branco, na verdade não tão branco mais, e ferros enferrujados onde ficam os ganchos das carnes. Depois disso tudo, restava saber quem tinha estômago pra comer carne na parte superior do mercado.
Só uma escada separava o primeiro andar do segundo. Ao subir, a primeira coisa a ser vista é uma placa: Seja educado, não entre sem camisa. Apesar de ser um espaço também do mercado, o aspecto de cima era um pouco mais agradável. Havia vários compartimentos que serviam como lojas de CDs e DVDs, de celulares, barbearia e como bares e restaurantes. Havia mesas e cadeiras de bar por toda parte, o local estava vazio devido à hora, mas, apesar de ser 10 horas da manhã, já existiam pessoas no ambiente, uns almoçando, outros bebendo cerveja.
O que também chamou a atenção foi o fotógrafo Valter Evangelista, de 78 anos, um senhor pacato, de cabelos grisalhos, com óculos antigos, com mais de 56 anos de profissão, sentado em sua mesinha muito concentrado lendo seu livro. As fotos antigas espalhadas na parede, o espelho com a moldura de cor banca meio amarelado e a cortina de estampa florida, que separava o pequeno estúdio de fotos 3X4 da recepção, mostrava um local pequeno e aconchegante que resistia com muito esforço a modernidade.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Antiguidades e paixão ocupando um pequeno espaço

Toniel Costa

Três gaiolas com canários alemães dão as boas vindas aos clientes e visitantes que entram no salão Glória. O pequeno espaço do local não é proporcional à infinidade de materiais de trabalho, aparelhos eletrônicos, como TVs e rádios e utensílios decorativos, como quadros e relógio de parede.
Logo na entrada, é possível visualizar o título de cidadão cachoeirano concedido em 26 de junho de 1984 ao atual proprietário do salão, Antonio Soares Bezerra, nascido em Conceição da Feira.
O trabalho no local é feito em três cadeiras de modelo antigo, aparentemente da década de 60 e, surpreendentemente, por nove espelhos emoldurados que ocupam todo o lado esquerdo da barbearia.
Amante do futebol, seu Antonio exibe 23 pôsteres dos mais diversos times do Brasil e de seleções do mundo. Na acanhada barbearia, convivem pacificamente lembranças de conquistas de Vasco, Flamengo e Botafogo, de um lado, e Bahia e Vitória do outro. O sacrifício do vascaíno vale para conquistar clientes de todas as agremiações e para agradar o seu auxiliar, flamenguista de coração. Não há unanimidade nem quando se trata das seleções. Mesmo priorizando as conquistas do Brasil, ainda sobra espaço para um encarte de jornal com a foto dos atletas da Itália tetracampeã mundial de 2006.
No canto superior esquerdo da barbearia, estão expostos troféus do time de futsal de Antonio. Logo abaixo se encontram cinco pequenos quadros decorativos com vasilhas pintadas.
Dentre tantos utensílios, o que o negro de 56 anos, meia altura, cabelos grisalhos, vestido com uma camisa branca e short verde exibe com mais orgulho é uma reportagem feita há um ano pelo jornal A Tarde, na qual o mesmo reclama não poder fazer reformas no seu salão porque o prédio pertence ao IPHAN, e todo o processo é muito trabalhoso.
Toda a movimentação é monitorada por um outro canário alemão que fica no teto do centro do estabelecimento.
O falante dono do salão, que também é torcedor do Bahia, há 34 anos é o responsável do estabelecimento comercial que, além de ser patrimônio da humanidade, guarda em seu reduzido espaço um acervo de lembranças particulares do forasteiro que se estabeleceu em Cachoeira.

Ali tem de tudo um pouco

Camila Moreira

Carne salgada de todos os tipos, penduradas no alto e empilhadas em cima do balcão. Pilhas de diferentes alturas e tons em vermelho denotam a variedade. Charques, tocinho de porco, peixe mapará, tudo em cima do balcão forrado com um plástico. Moscas. Ao lado do balcão, um pequeno portão de ferro azul, tomado pela ferrugem, indica que o espaço é mínimo.
O ambiente interior é escuro. A única entrada de luz no alto da parede é fechada com um vidro e forrada de papelão. Toda a iluminação vem de fora. A cor das paredes não pode ser identificada. As prateleiras pregadas nelas estão repletas de alimentos a serem vendidos. O teto é branco e forrado. Há de tudo um pouco. Quilos de arroz, feijão, farinha, pacotes de bolacha desses que se encontram em velórios, até produtos de limpeza mais no alto. Tudo pouco organizado, mal distribuído nas prateleiras. Sabão em pó, em barra, em líquido, desinfetante, a variedade é realmente grande.
Quem olha de fora não consegue imaginar que em um ambiente tão pequeno caiba tanta coisa. Porque é pequeno, é um quadrado e é abafado. Dentro, um pequeno ventilador velho tenta amenizar o calor vigente e consegue, mas só no instante que lhe alcança, porque assim que ele toma outra direção a sensação de abafamento volta. Apesar do calor, Seu Elpídio e Dona Floripes não saem dali, muito próximo um do outro disputando espaço com caixas de papelão fechadas e carnes ensacadas que ficam no chão.
Eles só se levantam se algum cliente se aproximar. Ele, um senhor de 78 anos, que nem de longe aparenta a idade que tem, vestido jovialmente, de regata branca e bermuda de tecido na altura do joelho, com um celular preso na cintura e uma sandália de couro preto. É magro, cabelos grisalhos, estatura média, pele lisa, moreno, quase marrom. Tem bigode, usa uns óculos de lentes grandes e quadradas que quase encobrem suas sobrancelhas ralas. Sua voz é rouca, e fala pausadamente. Apesar da magreza, tem braços fortes. Na mão esquerda lhe falta a metade do dedo anelar. Ele permanece sentado num banco de madeira, velho e sujo, que está com todas as pernas tortas pendendo para o lado esquerdo, onde está sentada Dona Floripes.
Um pequeno rádio de pilha, desses que os fanáticos por futebol não desgrudam do ouvido, tenta com dificuldade manter o som ambiente. Concorrendo com todas as vozes que vem da rua, de dentro do mercado e de Seu Elpídio e Dona Floripes, que não param de conversar. Ela uma senhora negra de 68 anos, cabelos pretos, curtos, lisos e finos, bem finos que chegam a deixar seu couro cabeludo a mostra, denotando uma certa calvície no alto da cabeça. Lábios finos, orelhas cumpridas e maxilar grande. Quando não está falando, fica como se mastigasse algo, apesar de não ter nada na boca. Sua voz é fina e estridente. Veste uma blusa amarela que não dá ao certo pra dizer se de fato é uma blusa ou a parte de cima de uma camisola. Tem renda na parte superior, um babado na ponta, uma estampa no decote em V. Tem de tudo na blusa, até uma mancha circular de café centralizada próximo ao decote. Ela veste também uma bermuda vermelha, estampada com flores brancas, que termina na altura do joelho. Calça uma sandália havaianas preta. Tem um corpo robusto, pernas e braços fortes e uma barriga grande. Sentada em cima de uma pilha de jornais velhos colocados em uma cadeira de plástico amarelada de tão velha, Dona Floripes parece ser mais alta do que realmente é. O clima é quente, o chão é sujo e o cheiro da carne salgada lembra feijão começando a cozinhar. O cheiro está em tudo, nas cordas de sisal penduradas, nas cestas de palha presas na parede de fora, no plástico em cima do balcão e em Seu Elpídio e Dona Floripes que não saem dali de dentro.
A luz que invade o ambiente já se mostra cansada, e incapaz de contemplar todos os produtos que desejam se mostrar. No alto pouco se vê, e a poeira que encobre as caixas de sabão em pó mostram que há tempos naquele escuro elas se encontram. Assim como o casal de senhores sentados, antigos, empoeirados e escondidos da luz, talvez até cansados de anos de contemplação.

Uma alegórica atmosfera

Carine Costa

Em algum lugar de Cachoeira, tem um cantinho exótico. É um ambiente rústico, de aparência envelhecida. Não faltam os muitos cacarecos e bugigangas. São tantos objetos aglomeradas que a visão do todo se torna confusa, aliás, o próprio lugar é confuso e tão difícil de descrever.
O dono, em plena dez horas do dia, almoça tranqüilo. Tem em mãos uma marmita de tons marrom surrado e branco encardido. Ao lado do seu almoço, encontram-se umas balas recheadas de chocolate. Mais à frente, um copo de alumínio, o qual seu Antônio leva à boca depois que encerra a sua refeição.
Não entendo o porquê de uma decoração tão exagerada, é um enumerado de quinquilharias: plantas pequenas, geladeiras, livros, troféus conquistados em campeonato de futebol de salão, cartazes de times do Vasco, Flamengo Bahia, Vitória e São Paulo e cartazes de propagandas relativas à vestibular.
Seu Antônio é a caricatura que faz jus ao ambiente. Aos 56 anos, tem cabelos crespos, grisalhos e ralos, pele amorenada, mede aproximadamente 1,60 de altura, usa um tênis, camiseta branca e azul, com uma calça marrom (pelo visto é a cor oficial do local), anéis e pulseiras da cor prata fazendo conjunto com o relógio.
Essa barbearia tem uma identidade muito peculiar, fato comprovado quando olho os vários espelhos dispostos lado a lado, as antigas cadeiras vermelhas, as pequenas gavetinhas na frente das cadeiras, as latas de leite e outras vasilhas que armazenavam outros produtos.
Salão Glória, um espaço que agrega o arcaico, que transforma o velho em novo diante dos olhares curiosos dos estudantes. De alguma forma, ao entrar neste espaço senti que aquela barbearia era um elo com a cidade histórica da qual ela faz parte. Seu Antônio é o personagem que se mostra feliz e cheio de vigor (claro, não deixei de observar a revista Playboy escondidinha embaixo da banca). As fotos nos quadros demonstram seu lado família, o velho sofá estampado encontra-se sem clientes.
Tenho que ir. Antes, aparece mais uma caricatura na minha frente. É um homem aparentando estar na casa dos 50, “olhos de gato” e algo na mão, faz propaganda de si próprio. Lê um poema para mim com muito entusiasmo.
A imagem que fica é confusa, confusa e alegre como aquela barbearia.

O exótico Salão Glória e armarinho

O ano corrente é 2008, mas o Salão Glória e Armarinho parece sobreviver no passado. Aquele simples lugar não afetado pelo tempo guarda em si histórias não só de barbeiros e clientes, mas de objetos, enfeites, imagens, fotografias... Seu teto é formado por madeiras pintadas de branco muito desgastadas, exibindo diversos buracos e uma gaiola com um passarinho bonito. O chão do lugar é coberto com um piso marrom e amarelo que encontra-se velho à ponto de fazer pensar que muitas pessoas já passaram por ele. Essas cores contrastam violentamente com os azulejos azuis-piscina e branco-sujos que recobrem o que resta das paredes cobertas quase que totalmente com pôsteres, recortes de jornal, flâmulas e emblemas de times de futebol brasileiros, como Palmeiras, Vasco, São Paulo, Bahia, Vitória, Flamengo e Atlético Mineiro; mais as figuras de todas as equipes brasileiras que foram campeãs mundiais. Dividindo este mesmo espaço, existem cartazes de propagandas, dois relógios de parede, prateleiras com troféus, além de imagens de santos e de Jesus, e, curiosamente, um quadro do Preto Velho fica pregado no canto superior, a esquerda de quem entra, explicitando a união de religiões diferentes num mesmo local. Ainda falando de religião, ao fundo do estabelecimento existe uma prateleira com uma imagem de São Cosme e São Damião e duas velas, uma na frente de cada um. O ambiente tem duas portas de madeira na entrada, mas só uma permite a passagem, porque a outra fica bloqueada com uma mesa de jogo do bicho; lá dentro ainda tem uma outra porta de madeira amarela no fundo, que dá para um depósito minúsculo e que contém uma grande quantidade de objetos diferentes. À direita desta porta existe uma mesa que também comporta uma abundância de itens absurda, que vai de um pote de marmita a uma lata de tinta com um tênis em cima, passando por uma televisão de 14 polegadas. À esquerda da porta tem um frigobar branco, com os pés corroídos e uma pia pequena e branca, com um sabonete em barra em cima dela.
Quem entra logo se depara com três cadeiras vermelhas antigas e desbotadas. À frente delas existem por volta de doze espelhos – também pregados na parede – com fotos de familiares dos dois barbeiros. Embaixo de quatro espelhos, quatro gavetas em tom bege comportam navalhas, cremes de barbear e outros elementos necessários para quem vai trabalhar. Em cima dos espelhos, lâmpadas grandes e florescentes alojam-se para que o trabalho continue até no período da noite. Atrás da segunda cadeira existe uma geladeira marrom, recostada numa pilastra, que, além da geladeira, também serve de encosto para plantas, grandes e pequenas. Ao lado das cadeiras encontra-se uma mesa azul, com uma televisão preta em cima, com uma prateleirinha recheada de revistas masculinas cobertas com uma toalha. Ainda existem dois sofás desbotados que garantem um mínimo de conforto aos antigos clientes do salão.
O dono desse curioso estabelecimento é o senhor Antônio Bezerra, 56, que o comprou há 34 anos de um outro barbeiro que já faleceu. Ele próprio que cuidou da decoração, no mínimo exótica. Gosta de tudo o que abriga lá dentro, não se incomoda com o aperto. De fato, o espaço consegue ser no mínimo divertido e, com certeza, mexe com a imaginação de quem entra na barbearia.
Antônio Bezerra é um senhor que aparenta ter mais idade do que realmente tem por causa da aparência sofrida. Sua cor é parda e dá impressão de que ele já tomou muito sol. Usava roupas simples: uma camisa de propaganda azul com branco, um short verde de malha fina e sandálias de dedo. Seu cabelo é escuro e fino, falhado na parte de cima da cabeça, e dos lados cresce em conjunto com sua barba por fazer. Suas unhas estavam sujas, mas bem cortadas. Seu Antônio é magro e baixo e, mesmo com a idade, ainda pratica esportes – futsal - e se diz bom jogador até hoje.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Boxe 18

Por Daniela Oliveira

Absorto em pensamentos, sentado em uma cadeira preta, com forro rasgado e no assento, uma pilha de jornais, está Humberto dos Santos, mais conhecido como Bel. Parece indiferente a tudo o que está à sua volta. Entre um cochilo e outro, ele, de relance, me observa e volta à sua aparente soneca. Aproximadamente 65 anos, cabelos grisalhos, rosto envelhecido, cheio de rugas, manchas e sardas. Veste camisa branca de propaganda política, bermuda bege, sandália de dedo preta. No braço esquerdo, um relógio, no direito, uma fina pulseira, quase imperceptível. Na perna esquerda algo que aparenta ser um curativo improvisado, feito com fita adesiva transparente.

Letras vermelhas indicam: Boxe 18, com grades azul marinho e, no alto, espécies de prateleiras brancas com grandes jarros e vasilhas, ambas de barro, decoram o ambiente. Porquinhos de barro, grandes cordas de cabeças de alho, batedores de tempero, ratoeiras, também em madeira, estão pendurados em toda parte. Garrafas pet e de água mineral, com azeite de dendê, estão próximas de latas de alumínio, com rótulos de solvente, contendo colheres de pau de todos os tamanhos. No chão, do lado de fora, uma lata de alumínio enferrujada e com rótulo de manteiga, junto com um pequeno fogareiro branco, faz apoio a um pedaço de madeira, que forma uma prateleira improvisada, suporte para três sacos de lona, dois com feijão e um para as sementes de coentro. Um pouco à frente e, aí sim, sem suporte algum, caixas de madeira com cebolas e cabeças de alho. Do lado esquerdo, as caixas de madeira, uma pequena caixa de papelão com a lateral rasgada, com vassouras pequenas, de mão, para a limpeza da casa. Em cima e quase as cobrindo, abanadores de fogão a lenha. Ainda do lado de fora, na lateral, encontramos vassouras encostas na parede e sacolas de lona penduradas.

Na porta aberta, também azul, calendários de propaganda pendurados tendo como ilustração salmos bíblicos. Acima disso, coadores de café de pano e estilingues de madeira. Dentro do boxe, armários e prateleiras, em meia parede, guardando temperos ensacados e velas de sete dias. Do lado esquerdo uma pia, com armários acima, prateleiras com garrafas de cachaça e em outra, papel higiênico. À frente, pendurados, vários sacos repletos de cortiças e pendurado a um fio, uma folha de papel branco: Jornal um real. Próxima da pia, uma balança de ferro antiga. No chão, mais pilhas de jornais. De repente, Humberto desperta do cochilo, distração, quase um transe, para atender um homem de bermuda, camisa azul, óculos e cabelos brancos, que observa por algum tempo os seus produtos e compra uma panela de barro e três colheres de pau.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

E é só uma barbearia

Daiane Dória

O que você pensa encontrar numa barbearia localizada numa pequena cidade do Recôncavo baiano? No Salão Glória e Armarinho, a barbearia de seu Antônio, se encontra de tudo. Três cadeiras de lona vermelha daquelas típicas de barbearia, bem antigas, loção Camélia do Brasil e perfume alfazema, loção para homens da Avon, uma foto do Preto Velho. Palmeiras, Vasco, Corinthians, Bahia, Brasil tetracampeão 94, Flamengo... Seu Antônio deve gostar muito de futebol. Pôsteres de times espalhados por toda a barbearia. Brasil penta em 2002.
Um homem está fazendo a barba. Navalha, mãos, um homem barbeando outro homem, mais um sentado no sofá e seu Antônio. Tesouras, pentes de todos os tamanhos, creme de barbear, mais tesouras, pequenas e grandes, mais creme de barbear agora com pincelzinho. Creme de barbear e barba.
O que faz ali um antigo ferro de passar roupa? Televisões, pia, sabonete e bucha de lavar pratos? O homem sai de barba feita. Ventiladores, um antigo e os outros mais moderninhos, desses que a gente tem em casa. Ao entrar lá a sensação de estar em um mundo paralelo. Mistura do velho e do novo. Uma caneca de alumínio de cabeça para baixo e uma cuia de chimarrão com uma intrigante coroa de abacaxi lá dentro. Ao lado, um telefone sem gancho e uma caixinha de som.
Hum... Não poderia faltar hein seu Antônio, aquelas revistas “de mulher pelada” - escondidas embaixo de uma toalha - para distrair os clientes e o senhor também né? Afinal, ninguém é de ferro. Jornais, outras revistas, essas menos escondidas.
Espelhos, espelhos, tatus – daqueles de madeira que balançam a cabecinha quando a gente mexe -, um ratinho com o pêlo cinza de camurça e uma tartaruga de madeira verniz e algumas bolinhas verdes enfeitam um tabuleiro de xadrez vermelho e branco que serve de mesa. Lembrança de Cachoeira – BA. Mais espelhos. Plantas espalhadas por todo lugar, geladeira marrom bem no meio da barbearia, um motor de liquidificador Walitta, só o motor, uma assadeira de alumínio em cima do frigobar branco meio enferrujado, bola de Natal vermelha, mochilas penduradas, plantas, passarinhos em gaiolas de madeira clara pendurados na porta, queria ouvi-los cantar.É essa é a barbearia do seu Antônio. Cheia de novidades. Coisas normais que se tornam curiosas pelo fato de estarem ali. Mas é essa mistura de formas, objetos e tempos que constroem aquele ambiente tão exótico, o Salão Glória e Armarinho.

domingo, 26 de outubro de 2008

Texto professor Lima sobre descrição

A importância da descrição

Tenho observado em meus alunos de graduação da Universidade de São Paulo uma característica narrativa que, creio, pode estar também presente em muitas outras instituições de ensino. Seus textos são geralmente bons no que se refere a um dos fundamentos da reportagem, que é a narração.

Esse fundamento serve ao propósito de ordenar os fatos, organizando-os no tempo e no espaço, focalizando as ações que constroem os acontecimentos num dado ambiente. Tudo o que acontece envolve um certo número de pessoas, num certo lugar, num determinado momento. Tem uma seqüência temporal, além de apresentar um elemento essencial, para o JL, que é a intensidade dramática própria das ações desencadeadas. Seu eixo é a ação, seu estilo é dinâmico. Algo assim como este trecho da matéria "Os Meninos do Recife", de Roberto Freire, publicada pela famosa revista “Realidade” em agosto de 1967:

"Meia-noite em Recife. Maurício vem caminhando pela calçada deserta da Avenida Conde de Boa Vista. Cansado e com fome, carrega - dependurada ao pescoço - a caixa com a garrafa de café quente e os copos de papel. Alguns metros atrás, não conseguindo mais acompanhar os passos do amigo, Maria com a bandeja de doces de coco sustentada nos ombros. Quando Maurício pára diante de um edifício e encosta-se ao muro, Maria sente um grande alívio. Apressa o passo e chega a seu lado. Vai lhe falar, mas surpreende-se: Maurício está chorando. Segue seu olhar: diante de uma grade de ferro, sentada no degrau e com a cabeça coberta pelos cabelos e um braço, dorme uma menina de uns doze anos; no degrau de baixo, as duas sandálias coloridas. Maria vê que a menina aperta contra o peito um pequeno pacote feito com um lenço amarrado. Então também sente vontade de chorar. O casal - nenhum dos dois parece ter mais de 26 anos - senta ao lado da menina:
- Vamos dormir aqui - diz Maurício. - Pelo jeito com que ela segura a trouxinha, acho que fez boa féria hoje. Vamos ficar para que não roubem."

É essencial dominar a narração, naturalmente. Mas um texto de JL deve empregar uma variedade de recursos, para expressar a realidade sob perspectivas variadas, de um lado, para manter a reportagem interessante, para o leitor, de outro. Quando o texto está estruturado em apenas um fundamento, corre o risco de se tornar enfadonho e do leitor perder o interesse. Ao alternar recursos, porém, o autor tem melhor chance de evitar essa tendência natural, típica do comportamento humano. Nossa atenção tende a diminuir, quando somos receptores num processo de comunicação, se a mensagem nos é entregue de um modo só, num ritmo só.

Assim, é importante dominar outros fundamentos, como os diálogos e a descrição. E é esse último o fundamento que vejo ausente, na maioria das vezes, nos textos de alunos iniciantes na prática dos textos de reportagem.

A descrição é como um corte na dinâmica narrativa. Em lugar de focar a ação, interrompe-a momentaneamente para ilustrar características físicas e particulares de pessoas, ambientes e objetos. Serve ao propósito de iluminar os personagens de um acontecimento, o lugar onde se dá, os artefatos ali presentes. Como o nome sugere, é um lançar de luzes que amplia a nossa percepção, emoldurando melhor o acontecimento do qual trata a matéria. Algo como neste trecho do livro clássico de John Reed, "Os Dez Dias Que Abalaram o Mundo", reproduzido por mim em "Páginas Ampliadas: O Livro-Reportagem Como Extensão do Jornalismo e da Literatura", publicado em 2004 pela Editora Manole, de São Paulo. O trecho exemplifica também a passagem da narração para a descrição:

Exatamente às oito horas e quarenta minutos, uma tempestade de aplausos anunciou a chegada da presidência, com Lênin, o grande Lênin, à frente.Uma silhueta baixa. Cabeça redonda e calva, mergulhada entre os ombros. Olhos pequenos, nariz rombudo, boca larga e generosa. Mandíbula pesada. Estava completamente barbeado. Mas a sua barba, dantes tão conhecida e que daquele momento em diante iria ser eterna, já começava a despontar novamente. O casaco estava puído; as calças eram compridas demais. Sua aparência física não indicava que ele poderia ser um ídolo das multidões.

Desconfio que a falta da descrição nos textos das novas gerações deve-se talvez, em parte, à exposição excessiva à televisão. A televisão, por saturar-nos de imagens e cores, não estimula nossa imaginação visual. Tendemos a ficar um pouco acomodados no nosso olhar. Ao mesmo tempo, o excesso de ênfase dos cursos de jornalismo sobre a ação, condicionando os futuros profissionais a encontrar sempre a ação principal de um acontecimento, na prisão perceptiva reducionista aos elementos “o que, quem, quando, como e onde”, principalmente, atrofia o olhar criativo e diferenciado. O profissional em formação parte para a rua em busca rápida desses elementos, não sendo estimulado a descobrir toda a riqueza que envolve a ação. O olhar pouco adestrado à imaginação não procura os elementos que fogem do padrão comum. Não enxerga o mundo com perspectivas diferenciadas.

Cabe um alerta a professores, principalmente, para colocarem em pauta exercícios apropriados à descontração do olhar, à abertura de horizontes visuais. Pouco a pouco, uma certa folga na pressão para o foco sobre a ação poderá trazer resultados promissores. Exercícios exclusivamente de descrição - de pessoas, lugares e objetos -, com muita ênfase em cores, formas, tamanhos e traços físicos, devem ser acionados com regularidade. Com o tempo, vai se perceber que os textos tornam-se mais equilibrados, ajustando com habilidade a narração e a descrição, numa primeira etapa, introduzindo nesse quadro outros fundamentos, num segundo, como o diálogo.

O JL do futuro sairá ganhando se o processo educacional conseguir preparar novas gerações com essa mentalidade aberta à exploração visual e multi-sensorial múltipla de um acontecimento.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

AVISO IMPORTANTE

PESSOAS, DAREI AULA NORMAL NA SEGUNDA, DIA 27.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Bienal do Recôncavo e entrevista com Nelson Magalhães.

Em novembro acontece a Bienal do Recôncavo. Um evento com exposições de trabalhos e performaces artisticas. Como o proprio nome já diz, a Bienal acontece a cada dois anos no Centro Cultural Danneman,patrocinada pela própria empresa, juntamente com o governo do estado.
O quadro de expositores conta com a participação de artistaslocais,nacionais e internacionais.
A premiação varia de um valor em dinheiro até um curso de especialização na Europa.
O artista plastico cruzalmense, Nelson Magalhães, que já ganhou várias vezes dará um estrevista exclusiva sobre o evento e como pretende concorrer neste ano.

Trânsito entre as sexualidades

Caio Barbosa

Nos últimos meses, tem sido perceptível entre muitos estudantes do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) um discurso de liberdade sexual. Muitos deles têm afirmado uma identidade gay.
A idéia de uma sociedade isenta de qualquer tipo de preconceito, inclusive o sexual, não é uma vontade de poucos, mas sabe-se que existe ainda entre as pessoas uma forte carga repressiva quando o assunto é homossexualidade.
A maioria dos estudantes do CAHL está em Cachoeira em função da aprovação no vestibular da UFRB. Por sua vez, muita gente está longe de casa. Será que a distância dos pais, que podem ser tradicionais e contra a liberdade sexual, tem facilitado um processo de libertação desses jovens?
Eles podem também estar passando apenas por um processo de experiências e descobrindo suas preferências sexuais. É possível ainda que o fato de afirmar uma identidade homossexual seja considerado por esses jovens atestado de irreverência ou maturidade.
A matéria busca analisar este processo mais de perto, traçando histórias de alguns desses estudantes. É uma vontade também confirmar se esses jovens são tão livres de preconceito ao ponto de revelarem numa mídia “pública” suas verdadeiras identidades sexuais.
É importante também a apresentação do discurso de um psicólogo que dê um parecer a respeito dos pontos acima listados.
Vale a pena ressaltar que não é o objetivo trabalhar apenas com a questão de ser ou não gay, mas sim pensar a sexualidade como um todo, entendendo principalmente o processo de transitoriedade das identidades sexuais e chegando a tocar no aspecto de cuidado e prevenção contra doenças na hora do sexo.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

AVISO IMPORTANTE

PESSOAS. CASO TENHA AULA NA PRÓXIMA SEGUNDA, DIA 20, FECHAREMOS A EDIÇÃO DO REVERSO. PORTANTO, VENHAM PARA A PRÓXIMA AULA COM AS MATÉRIAS PRONTAS, OK???

LEANDRO E PÉRICLES