sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Místico Glória

Uma fachada rústica, o bege de uma parede já descolorida e suja, e papéis colados nas portas entreabertas encobrem dois grandes arcos divididos por uma pilastra com mais papéis colados. Alguns já amarelos de tão velhos e outros ainda com a brancura de uma informação atual. A tinta muito descascada das portas de madeira indica que o lugar é uma construção antiga. Antes de terminar a esquina, o salão Glória, místico e diferenciado.
Um pequeno letreiro branco, pendurado no alto da parede com letras já desgatadas, junto com três gaiolas de passarinhos amarelos e assustados, devido a agitação da rua, compõem a entrada do lugar. Três poltronas vermelhas ficam em frente a vários espelhos de todos tamanhos e cores, vinho, branco ou preto, dispostos na parede em fileira. Os materiais, tesouras, navalhas, pentes, ficam sobrepostas a pequenos altares no meio de tantos outros objetos. São troféus, pequenos retratos, ventiladores, medalhas, perfumes.
O cliente, ao sentar-se em uma das poltronas, poderá vislumbrar muitos e muitos quadros de fotos de times campeões: Corinthians, Vasco da Gama, Flamengo. Em torno de tudo, muita poeira. Uma planta Brasil fica escorada em uma geladeira bem no meio do salão, sem muita ordem, um universo de coisas se perde dentro da barbearia. Dois sofás empoeirados e uma mesa com copos, garrafas de água, pratos, uma marmita e, ao lado, um frigobar branco enferrujado, dão idéia de ali ser a moradia de seu Antônio, o proprietário. Um senhor negro, de rosto redondo, olhos pequenos e mais pretos que seus cabelos grisalhos e enroladinhos, feito pequenos parafusos. Não muito alto, com o corpo magro, os braços e pescoço finos envoltos por algumas pulseiras e corrente prateadas, a voz fina e a calma de um vascaíno de 56 anos.
Muitas imagens, um quadro de Preto Velho de um lado, quadro de Jesus Cristo do outro. Duas velas acesas no alto do canto de uma parede ao fundo do salão, na frente de um quadro de São Francisco, revela a fé de Seu Antônio. O forro branco, baixo e velho, só favorece o calor, por isso dois ventiladores ligados, também muito empoeirados. Dois televisores e um rádio ligado, e o cliente fica sem saber o que ouvir enquanto corta o cabelo ou faz a barba. No chão, fios de cabelo e um tapete verde de veludo no canto da porta. Outros passarinhos presos no alto. Algumas miniaturas de tartaruga, ratos, que mexem a cabeça com qualquer movimento na estante de artesanato repleta de revistas e discos.
Mas a principal ornamentação, e o que mais chama atenção, são as fotos dos inúmeros jogadores, uns sentados, outros em pé, sorridentes ou não, que encobrem as paredes e rodeiam os olhares.

Aline Santos

3 comentários:

Leandro Colling disse...

Bom, mas vários objetos poderiam ser mais descritos. tipo perfumes. que perfumes? mistral ou dolce gabana?

Camila Moreira disse...

Bom texto, descreve bem o local. Só achei que você poderia ter detalhado mais, tem bastante informação. Por ex: "Três poltronas vermelhas ficam em frente a vários espelhos de todos tamanhos e cores, vinho, branco ou preto...". Mais detalhes dariam uma maior visibilidade do ambiente, como os formato dos espelhos e da poltrona, estado de conservação, essas coisas.

Lise Lobo disse...

Gostei! A ordem da discrição ajudou muito(começou a descrição do exterior e foi entrando) consegui visualizar, imaginar a barbearia. Só precisou detalhar mais alguns objetos.