quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Aqui se vê e se sente de tudo

Danielle Souza

Porta a dentro do Mercado Municipal, o mau cheiro paira no ar. São fileiras de box, embrulhos imensos cobertos com lonas e numerosos caixotes espalhados pelo local. A cabeça, a queijada e o chifre do boi, fazem parte de um cenário extremamente desconcertante, principalmente quando escuto Roberto, dono de um dos açougues, dizer que o chifre do boi é comprado de R$ 5,00 a R$ 10,00 para fazer feitiçarias, “magia negra” completa uma aluna.
Em dois corredores, se vê e encontra de tudo um pouco. Inclusive os rostos das personalidades presentes. Pessoas de todas as idades, crianças, jovens, adultos e idosos. Farinha de tudo quanto é tipo. Feijão de tudo quanto é nome: carioca, fradinho, mulatinho, preto, branco. Sem contar no boi, a visão do inferno. Retalhado em várias partes, ele tem suas carnes expostas em balcões não muito limpos, enfiados e pendurados em ganchos bem afiados. Vixe! Chega deu agonia ficar ali. Coisa foi vê os açougueiros na maior prosaria sem maiores preocupações.
Em um outro ângulo do ambiente, próximo a um pequeno jardim, estava dona Dalva encostada em um grande embrulho preto, amarrado de corda, ela passa o dia sentada num banco, lendo um pequeno livro, à espera de fregueses. Aparentando uns 55 anos, dona Dalva é negra, baixinha e robusta. Tem os cabelos curto e preto e encontrava-se com trajes simples, um conjunto de short e blusa amarela, coberto de flores vermelhas, tornado a sua aparência extravagante, junto aos seus brincos dourados e os óculos pretos. Todas as suas mercadorias ficam em cima de caixotes e bancadas de ferros. Aos poucos, as pessoas se aproximam dos seus sacos de farinha e de feijão e ela com uma concha na mão dá toda a atenção.
Entre passos e mais passos, num lugar não muito claro, num clima não muito agradável, com a sensação não muito feliz de estar ali, com uma imagem não muito bonita e num ambiente que em parte só enxergo sujeira, surge ela, a esperança de uma imagem diferente. Degraus acima, chego no primeiro andar. A impressão é outra. O ambiente é outro, e o local se torna mais agradável. Lembrou-me uma galeria. De um lado lojas de roupas, CDs, celulares, recarga de cartucho. Do outro, cadeiras e mesas distribuídas em frentes aos barzinhos e restaurantes que servem iguarias do tipo ensopado de boi e galinha. E pra completar, em um giro de 360 graus vejo uma moça cozinhando, um homem fazendo a barba, um rapaz almoçando às 10 horas da manhã, uns homens batendo papo, outros bebendo cerveja e o mais incrível de se ver, seu Valter Evangelista, 78 anos, trabalhando numa loja de fotografia.

4 comentários:

Leandro Colling disse...

bom texto, remete ao lugar. mas tem narração tb.

LoH Souza. disse...

Legal Dani, mas acho que poderia ter descrito mais os personagens finais e outros como os açougueiros que você cita...

Sandrine Souza disse...

A linguagem descontraída deixou o texto bem interessante.

Caio Barbosa disse...

Gostei muito da descrição inicial do ambiente. A idéia do mal cheiro se repetiu por muito tempo em minha leitura. Talvez essa foi o aspecto que mais me afetou na visita ao mercado.
O início da descrição de Dona Dalva também paraceu interessante. Mas, quando ela cita outros presentes no ambiente, percebi que aquelas descrições respondiam apenas à obrigação de se descrever uma pessoa também no texto.
Senti mais firmeza na descrição do ambiente.