terça-feira, 28 de outubro de 2008

Boxe 18

Por Daniela Oliveira

Absorto em pensamentos, sentado em uma cadeira preta, com forro rasgado e no assento, uma pilha de jornais, está Humberto dos Santos, mais conhecido como Bel. Parece indiferente a tudo o que está à sua volta. Entre um cochilo e outro, ele, de relance, me observa e volta à sua aparente soneca. Aproximadamente 65 anos, cabelos grisalhos, rosto envelhecido, cheio de rugas, manchas e sardas. Veste camisa branca de propaganda política, bermuda bege, sandália de dedo preta. No braço esquerdo, um relógio, no direito, uma fina pulseira, quase imperceptível. Na perna esquerda algo que aparenta ser um curativo improvisado, feito com fita adesiva transparente.

Letras vermelhas indicam: Boxe 18, com grades azul marinho e, no alto, espécies de prateleiras brancas com grandes jarros e vasilhas, ambas de barro, decoram o ambiente. Porquinhos de barro, grandes cordas de cabeças de alho, batedores de tempero, ratoeiras, também em madeira, estão pendurados em toda parte. Garrafas pet e de água mineral, com azeite de dendê, estão próximas de latas de alumínio, com rótulos de solvente, contendo colheres de pau de todos os tamanhos. No chão, do lado de fora, uma lata de alumínio enferrujada e com rótulo de manteiga, junto com um pequeno fogareiro branco, faz apoio a um pedaço de madeira, que forma uma prateleira improvisada, suporte para três sacos de lona, dois com feijão e um para as sementes de coentro. Um pouco à frente e, aí sim, sem suporte algum, caixas de madeira com cebolas e cabeças de alho. Do lado esquerdo, as caixas de madeira, uma pequena caixa de papelão com a lateral rasgada, com vassouras pequenas, de mão, para a limpeza da casa. Em cima e quase as cobrindo, abanadores de fogão a lenha. Ainda do lado de fora, na lateral, encontramos vassouras encostas na parede e sacolas de lona penduradas.

Na porta aberta, também azul, calendários de propaganda pendurados tendo como ilustração salmos bíblicos. Acima disso, coadores de café de pano e estilingues de madeira. Dentro do boxe, armários e prateleiras, em meia parede, guardando temperos ensacados e velas de sete dias. Do lado esquerdo uma pia, com armários acima, prateleiras com garrafas de cachaça e em outra, papel higiênico. À frente, pendurados, vários sacos repletos de cortiças e pendurado a um fio, uma folha de papel branco: Jornal um real. Próxima da pia, uma balança de ferro antiga. No chão, mais pilhas de jornais. De repente, Humberto desperta do cochilo, distração, quase um transe, para atender um homem de bermuda, camisa azul, óculos e cabelos brancos, que observa por algum tempo os seus produtos e compra uma panela de barro e três colheres de pau.

2 comentários:

Daiane Dória disse...

boa descrição física do ambiente. só acho que poderia ter utilizado uma linguagem mais literária .

Leandro Colling disse...

bom, mas falta frase para fechar o texto.