quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Diga aí freguesia!

Queila Oliveira

Chegando ao mercado municipal, vejo uma variedade de mercadorias à venda, mas o que mais chama a atenção é o cheiro das carnes que impregna todo o ambiente. Logo em seguida, me deparo com carcaças de boi que me fazem remeter ao passado, um boi que foi morto de forma brusca, por vários homens, com marretadas na cabeça. A cena ficou mais curiosa quando um dos vendedores se aproximou, com seu andar malandro de ser, para falar dos pedaços de boi espalhados na banca. Era um homem de pele escura, que aparentava ter seus 27 anos, a barba sem fazer, o cabelo crespo, cortado bem baixinho, com os dentes cariados, blusa de manga azul combinando com a bermuda de cordão também azul e uma havaiana para fechar o estilo azulão.
Essas carcaças que estavam à mostra, todas sujas de sangue e cobertas de moscas, também eram vendidas: o chifre de boi saía de 5 a 10 reais e as pessoas compravam pra fazer feitiçaria, a queixada servia para fazer pentes, que as fábricas de Feira de Santana e Salvador compravam. Apesar do chão molhado, o que aparentava ter sido lavado há pouco tempo, não mudava o cheiro e o aspecto sujo do ambiente. A iluminação era pouca, a única luz do local vinha de fora do mercado.
Carnes dividindo espaço com moscas, em um ambiente cercado de tralhas, caixotes de frutas, lonas pretas cobrindo as mercadorias e homens de todo tipo, alguns magrinhos outros robustos, sempre vestidos com bermudas e blusas de manga sujas de sangue dos animais. Esses homens mal se preocupavam com os cheiros, comiam e bebiam com tanta naturalidade nesse ambiente tão familiar para eles, não se importando com o aspecto físico, a falta de limpeza e o sangue por toda parte. Como o espaço era predominantemente masculino, a resenha corria solta. Brincadeiras entre eles mostravam uma convivência de longa data.
Carnes penduradas como uma vitrine à disposição da freguesia. Os clientes analisam muito bem a mercadoria. Ao surgir dúvida sobre qual carne comprar, o vendedor se torna um consultor para satisfazer o cliente. As bancas que ficavam enfileiradas eram feitas de cimento, coberto com azulejo antigo branco, na verdade não tão branco mais, e ferros enferrujados onde ficam os ganchos das carnes. Depois disso tudo, restava saber quem tinha estômago pra comer carne na parte superior do mercado.
Só uma escada separava o primeiro andar do segundo. Ao subir, a primeira coisa a ser vista é uma placa: Seja educado, não entre sem camisa. Apesar de ser um espaço também do mercado, o aspecto de cima era um pouco mais agradável. Havia vários compartimentos que serviam como lojas de CDs e DVDs, de celulares, barbearia e como bares e restaurantes. Havia mesas e cadeiras de bar por toda parte, o local estava vazio devido à hora, mas, apesar de ser 10 horas da manhã, já existiam pessoas no ambiente, uns almoçando, outros bebendo cerveja.
O que também chamou a atenção foi o fotógrafo Valter Evangelista, de 78 anos, um senhor pacato, de cabelos grisalhos, com óculos antigos, com mais de 56 anos de profissão, sentado em sua mesinha muito concentrado lendo seu livro. As fotos antigas espalhadas na parede, o espelho com a moldura de cor banca meio amarelado e a cortina de estampa florida, que separava o pequeno estúdio de fotos 3X4 da recepção, mostrava um local pequeno e aconchegante que resistia com muito esforço a modernidade.

2 comentários:

Lise Lobo disse...

Gostei, mas acho que você partiu para a narração, descreveu muitos lugares mais com poucos detalhes.

Leandro Colling disse...

bom texto, só faltou uma frase para fechar o texto.