quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O exótico Salão Glória e armarinho

O ano corrente é 2008, mas o Salão Glória e Armarinho parece sobreviver no passado. Aquele simples lugar não afetado pelo tempo guarda em si histórias não só de barbeiros e clientes, mas de objetos, enfeites, imagens, fotografias... Seu teto é formado por madeiras pintadas de branco muito desgastadas, exibindo diversos buracos e uma gaiola com um passarinho bonito. O chão do lugar é coberto com um piso marrom e amarelo que encontra-se velho à ponto de fazer pensar que muitas pessoas já passaram por ele. Essas cores contrastam violentamente com os azulejos azuis-piscina e branco-sujos que recobrem o que resta das paredes cobertas quase que totalmente com pôsteres, recortes de jornal, flâmulas e emblemas de times de futebol brasileiros, como Palmeiras, Vasco, São Paulo, Bahia, Vitória, Flamengo e Atlético Mineiro; mais as figuras de todas as equipes brasileiras que foram campeãs mundiais. Dividindo este mesmo espaço, existem cartazes de propagandas, dois relógios de parede, prateleiras com troféus, além de imagens de santos e de Jesus, e, curiosamente, um quadro do Preto Velho fica pregado no canto superior, a esquerda de quem entra, explicitando a união de religiões diferentes num mesmo local. Ainda falando de religião, ao fundo do estabelecimento existe uma prateleira com uma imagem de São Cosme e São Damião e duas velas, uma na frente de cada um. O ambiente tem duas portas de madeira na entrada, mas só uma permite a passagem, porque a outra fica bloqueada com uma mesa de jogo do bicho; lá dentro ainda tem uma outra porta de madeira amarela no fundo, que dá para um depósito minúsculo e que contém uma grande quantidade de objetos diferentes. À direita desta porta existe uma mesa que também comporta uma abundância de itens absurda, que vai de um pote de marmita a uma lata de tinta com um tênis em cima, passando por uma televisão de 14 polegadas. À esquerda da porta tem um frigobar branco, com os pés corroídos e uma pia pequena e branca, com um sabonete em barra em cima dela.
Quem entra logo se depara com três cadeiras vermelhas antigas e desbotadas. À frente delas existem por volta de doze espelhos – também pregados na parede – com fotos de familiares dos dois barbeiros. Embaixo de quatro espelhos, quatro gavetas em tom bege comportam navalhas, cremes de barbear e outros elementos necessários para quem vai trabalhar. Em cima dos espelhos, lâmpadas grandes e florescentes alojam-se para que o trabalho continue até no período da noite. Atrás da segunda cadeira existe uma geladeira marrom, recostada numa pilastra, que, além da geladeira, também serve de encosto para plantas, grandes e pequenas. Ao lado das cadeiras encontra-se uma mesa azul, com uma televisão preta em cima, com uma prateleirinha recheada de revistas masculinas cobertas com uma toalha. Ainda existem dois sofás desbotados que garantem um mínimo de conforto aos antigos clientes do salão.
O dono desse curioso estabelecimento é o senhor Antônio Bezerra, 56, que o comprou há 34 anos de um outro barbeiro que já faleceu. Ele próprio que cuidou da decoração, no mínimo exótica. Gosta de tudo o que abriga lá dentro, não se incomoda com o aperto. De fato, o espaço consegue ser no mínimo divertido e, com certeza, mexe com a imaginação de quem entra na barbearia.
Antônio Bezerra é um senhor que aparenta ter mais idade do que realmente tem por causa da aparência sofrida. Sua cor é parda e dá impressão de que ele já tomou muito sol. Usava roupas simples: uma camisa de propaganda azul com branco, um short verde de malha fina e sandálias de dedo. Seu cabelo é escuro e fino, falhado na parte de cima da cabeça, e dos lados cresce em conjunto com sua barba por fazer. Suas unhas estavam sujas, mas bem cortadas. Seu Antônio é magro e baixo e, mesmo com a idade, ainda pratica esportes – futsal - e se diz bom jogador até hoje.

2 comentários:

Leandro Colling disse...

bom texto, mas opta pela narração no final. aliás, falta um final para o texto.

Seminarista disse...

Sou Proprietário do salão glória aqui em PE que meu fundou em 1936. Sou muito emotivo e ler teu texto me deu uma saudade do meu velho...obrigado!!!!!!!!!