quinta-feira, 8 de maio de 2008

No tempo das amêndoas

Sentado de baixo desse pé de amêndoas, a idéia que faço do passado é muito mais nostálgica do que de costume. As amêndoas exalam o perfume dos amores contrariados... oh! Perdão ! Eu quase me esqueço do tempo e suas peripécias. Não, talvez não devesse culpá-lo. Quando Fermina Daza me deu adeus, achei verdadeiramente que o tempo pudesse parar, mas ele não parou. Poft!. Hum... porque essa amêndoa tem que cair na minha cabeça logo agora? Tempos diferentes. Eu, Florentino Ariza vi o tempo passar como uma folha que cai da amendoeira. Lenta e insegura, vagando de lá pra cá, ao sabor do vento. Fermina... ah! ,o tempo para ela passou como o de uma amêndoa que cai, rápido e preciso.Poxa!... Talvez não devesse fazer comparações tão incertas. Mas o que sei é que esperei mais do que vivi... Ou não? Melhor seria, vivi para esperar o amor de Fermina. Não importa. É provável que como já esteja caindo a tarde, eu me levante e vá vê-la. Ih!...Essas formigas não me deixam sossegado. Ainda me levam pro formigueiro. Os olhos de carvão e as mãos de leite de Fermina, a trança de quando menina, seus belos vestidos europeus de quando mulher, nada ficou disperso em meus pensamentos nesses anos de espera. A cólera poderia ter me tomado depois da rejeição... Mas não. Certo é que deveria passar o tempo em outro lugar, porque essas amêndoas só caem na minha cabeça. E a minha idade já não me permite golpes tão certeiros. Eu agora só quero aproveitar o tempo que ainda me resta ao lado do meu amor. E por falar nisso, já são quase seis horas. Fermina deve estar me esperando para tomarmos chá. Eu seguro em suas mãos marcadas pelo tempo e tento segurar o tempo. Mas esse é tão fugidio.

Aline Santos