terça-feira, 13 de maio de 2008

O TORTURADOR

Por Jamile Castro

Nossa, vou ter de ir até lá hoje. Eu odeio todas essas coisas, a começar por aquele barulho esquisito. Lá vou eu, né. Fazer o quê?!
− Ele só chega às 9h. Você vai aguardar? – disse-me a recepcionista, uma moça negra,magra, que usava óculos de acetato preto, bastante simpática.
− Sim, sim tenho pressa.
Ainda eram 8h. Que saco! É o jeito ver Ana Maria Braga. O programa está realmente um saco hoje. Hummmmmm, revistas! Quem, Caras, Contigo. Todas velhas, eca! Ana Maria novamente. Essa hora não passa, e esse homem não chega nunca, puxa vida! Espera, espera, odeio esperar. Lalalalalalalá, ele não vai chegar mais e eu estou aqui perdendo aula.
Será que é ele? Sei não muito novinho.
− Ele já chegou, pode entrar.
− Obrigada.
Entro por um corredor, primeira porta, segunda, terceira. Bati.
− Entra.
Entrei.
− E então moça, o que houve?
− O meu dente está arranhando, acho que quebrou.
− Vou dar uma olhada. Senta aí.
Era uma daquelas cadeiras de dentista, num tom azul celeste.
Sentei.
−Abra a boca.
Abri.
− Assim.
Fiquei com aquele bocão superaberto. Ele logo acendeu aquela luz no meu rosto e começou a colocar todos aqueles aparelhinhos metálicos para verificar minha dentição.
Escreveu algo num papel e me entregou.
− Dá pra fazer agora?
− Dá sim.
Saí da sala e fechei a porta. Voltei ao corredor, percorri até o balcão da recepção. Entreguei o papel a moça. Ela calculou, entreguei o cartão de crédito a ela. Assinei e entrei novamente.
Sentei-me novamente na cadeira azul. Ziiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii. A cadeira inclinou. O refletor foi aceso novamente. Ele pôs as luvas, entregou-me um guardanapo. A tortura ia começar.
−Abre a boca um pouquinho.
Passou xilocaína com seus dedos na minha gengiva. Aplicou a anestesia.
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh, que dorzinha infeliz!!!! É por essas e outras que odeio dentistas. Demorou um pouco ajeitando os instrumentos do massacre.
− Abre a boca novamente.
Abri, mas com certo medo. Colocouo sugador na minha boca. Pegou aquele aparelhinho barulhento e começou: zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
Eu odeio esse barulho, tentei ouvir a música que tocava bem baixinho, mas não conseguia me concentrar nela. Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
Acaba, acaba, acaba logo essa droga.
Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz parecia que não tinha mais fim. Enfim ele parou. Acho que deveriam dar uns protetores de ouvido pra gente, que barulho horrível. Ufa!!!!!!!
Ainda mantendo minha boca aberta pôs um treco de ferro na minha boca que parecia moldar a massinha. Doeu. A minha boca parecia que ia quebrar. Eu já não agüentava mais. Não podia nem engolir a minha saliva. Colocou a massinha. Botou uma luzinha que parecia um laser. Tirou o molde de ferro. Enfim, pude fechara minha boca.
− Pronto mocinha.
­− Tchau, obrigada. No fundo tinha vontade de matar ele.
Saí da sala sem dizer mais nada, até porque minha boca estava dormente.

Um comentário:

Leandro Colling disse...

muito bom, transporta o leitor pro momento