sexta-feira, 16 de maio de 2008

Beijo Suado

“Eu não acredito que ele veio.” É o que eu penso quando vejo o celular vibrar insistentemente. Corro pro espelho do banheiro, arrumo o cabelo, conserto a blusa. Pronto, agora estou pronta. Subo apressadamente as escadas do prédio e quando chego no playground paro, esperando que ele venha até mim conversar algo.

- Oi. Tudo bem? Ele disse.

Beijo de um lado do rosto, beijo do outro. Será que ele tá percebendo que eu estou morrendo de vergonha? Ai Meu Deus, porque estou tremendo tanto? A gente já se encontrou, não rolou nada, mas já nos falamos pessoalmente várias vezes.

- Tudo bem e você? Como foi a aula hoje? Nossa a minha aula hoje foi super stressante, não sei até quando vou agüentar isso não viu? É muito complicado. Estou ansiosa com os vestibulares que vêem por ai. Falei para você que passei...

Meu Deus, porque eu não paro de conversar? Ai esse menino vai me achar uma tagarela, e eu não consigo parar. Por que eu não deixo ele responder o que perguntei? E ele fica ai com essa paciência toda, ninguém merece. É porque é começo, bem que minha mãe diz, as pessoas só suportam minha “tagarelisse” um tempo, depois me mandam calar a boca. Acho que ele está louco para me mandar calar a boca. Cala a boca Roberta!!

- Sabia que seus brincos são lindos? Acho bem legal esses furos em sua orelha.

O que? Eu aqui discursando sobre literatura, pânico com a chegada do vestibular e meus brincos são lindos? Ai meu Deus, me beija, me beija. Já tá tarde e ele só acha esse brinco bonito porque tá de noite e não dá pra ver o brinco todo mareado e os rasgos na minha orelha. Como vou aparecer para ele de dia? Nunca!! Agora a gente só fica a noite.

- Obrigada.

E me aproximo mais dele, ele de mim, e a gente começa a se beijar. E os beijos ficam mais intensos. Ai...ele faz um carinho gostoso nas minhas costas. Ainda bem que ele não é ousado. Não quer ir logo pegando na minha bunda, nem no meu peito. Esse é respeitador. Gostei muito viu? Nossa e beija bemmm... e porque eu não consigo para de pensar e simplesmente beijo. Ai meu Deus, nem eu me agüento, vou me concentrar agora no beijo.

- Roberta!!! Entre agora. Isso não é hora de você ficar no meio da rua!!

- Mãe...

Não acredito que minha mãe se deu ao trabalho de sair da cama pra estragar meu beijo. Olha pra cara, tonta de sono, usando minha pantufa nesse chão imundo, toda enrolada numa coberta. Eu não mereço essa visão meu Deus. Pela cara dela, a coisa vai ficar feia quando eu entrar em casa.

- Espera cinco minutos...

- Estou esperando.

O que ela tá fazendo parada na porta? Pelo visto esperando. Porque ela não entra? Que vergonha meu Deus. O que ele vai achar? Que sou uma criança. E no meio da rua? Quem disse que playground é meio da rua? Eu quero beijar, ai que ódio de minha mãe, que vontade de morar sozinha. Acho melhor eu entrar. Esse menino também não pára de rir.

- Tenho que entrar. Xau.

Nem um beijo. Nada. Nem esperei ele me dar boa noite. Passei pela porta do prédio igual um foguete, e minha mãe vem atrás arrastando a pantufa calmamente. Como pode? Depois de estragar meu beijo, minha noite. Também não vou mais falar com ela, nunca mais. Entro no quarto e tranco a porta. Pronto.

- Abra a porta Mel pra gente conversar.

Mel, ainda me chama de Mel. Mel uma porra. Mel é só quando estamos bem e agora estamos mal. Muito mal.

- Oi. O que é?

- Minha filha eu faço isso pro seu bem. O que ele vai pensar de você no meio da rua, uma hora dessas. Não fica bem, mande ele entrar aqui em casa na próxima vez. E beijando ele na frente de todo mundo. Não fica bem Mel, você terminou um namoro tem pouco tempo, tem que esperar um tempinho.

- Tá mãe, boa noite. Xau. E devolva minha pantufa.

Aiiiiiiiiiii, porque ela me faz sentir isso? Porque não simplesmente falou que era pra gente entrar? Terminei um namoro tem quase 5 meses, tenho que ter resguardo é? E beijando na frente de quem? Dela que fica olhando a vida alheia, isso sim. Devo ligar pra ele? Ou espero amanhã? Acho melhor nunca mais falar com ele. Vergonha da porra... quem será uma hora dessas? Pera. Esse aqui não é meu celular.

- Alô?

- Roberta. Sou eu, esqueci meu celular na sua mão. Posso ir pegar? Agora vê se tua mãe já dormiu está bem?

- Pode vim. Fico no play esperando.

Bendita tecnologia. Bendito celular. Agora sim, vou me concentrar no meu beijo. Tomara que minha mãe não apareça. Tomara que ela durma com os anjos. Onde já se viu, ao invés de dormir, fica inspecionando a vida dos outros. Sou filha pow, não propriedade. Ai que beijo bom!!

2 comentários:

Rose Oliveira disse...

Oi Roberta Costa quero te agradecer por ter visitado meu blog e q bom ter gostado do texto, gostei do seu texto tb,afinal mãe é mãe e ñ muda nunca. Abraços!!!!

Leandro Colling disse...

muito bom. só uma coisinha. vc escreveu: não para de rir
é pára.