terça-feira, 8 de abril de 2008

O que não mata, fortalece

Oito horas da manhã de domingo, acordo depois de um sono agonizante, me revirando na cama com náuseas e dor de estômago, conseqüências da festa da noite passada. Depois de várias respirações profundas, pensando que ia passar logo, que devia ter sido a bebida, não resisti, estava com uma horrível sensação de mal-estar, fui ao banheiro e forcei o vômito. Voltei para cama com uma enorme dor de cabeça, tentei, em vão, dormir novamente, mas o sono agonizante me perseguiu junto com um turbilhão de sonhos e dores.
Vi Sarah, minha colega de quarto, levantar, mas meu corpo estava aprisionado à cama e meus olhos tinham uma enorme resistência a se abrirem. Ela voltou para dormir, e fiquei mais umas duas horas deitada com a assistência de uma garrafa de água ao lado, pensando ainda que tudo aquilo era resultado de um porre. Levantei zonza para fazer um suco de acerola, que não consegui beber. Vomitei novamente, e comecei a sentir calafrios, fui me deitar.
Às duas horas da tarde, depois de sentir frio na tarde calorosa de Cachoeira, agora um calor tomava conta do meu corpo e fiquei banhada de suor, tomei forças, não sei de onde, e fui tomar um banho frio. Já no chuveiro ouvi socos na porta junto de uma voz masculina que gritava na tentativa de acordar Sarah. Era Ted, amigo e testemunha da noite passada, saí do banheiro, mais disposta, e Sarah disse que devia me arrumar, que iríamos sair. Vi Ted, que fumava um cigarro na janela do quarto, ele olhou para minha cara rindo e cantou: “Chupa que é de uva, Deinha!”.
Sarah entrou no banheiro, para tomar seu banho interminável, e eu aproveitei para tentar cochilar um pouco, outra vez a fadiga retornou com náuseas. Quarenta minutos depois Ted bate na porta do quarto aos gritos, abri os olhos quando ele entrou, me olhou e falou que estava pálida, meus lábios estavam da cor dos cabelos loiros de Dayse, outra moradora da república. Ele sentou do meu lado e perguntou se estava bem, disse que não, que não tinha condições de ir pra rua, que queria vomitar de novo, ele gritou para Sarah sair do banheiro. Ela abriu a porta gritando que eu tinha que levantar, que era pior eu ficar na cama. Falei que estava com febre, Ted encostou a mão na minha testa e falou rindo: “Tu tá é gelada”. Ele perguntou se eu estava bebendo água, mostrei a garrafa seca do meu lado, foi até a cozinha com Sarah e voltou com o suco que deixei no liquidificador, fui bebendo aos poucos, enquanto ele me perguntava porque eu fiquei aquele jeito, que já estava preocupado, respondi que não sabia direito, que acordei com essa dor no estômago. Foi quando Sarah chegou zombando que devia ter sido a farofa. Parei e lembrei. Ah! A farofa, maldita farofa!
Rimos e voltou a imagem na minha cabeça quando eu, bêbada, roubei um tacho de farofa da cozinha do restaurante, onde foi a festa de aniversário de uma amiga. O garçom me avisou que ele juntou ali o que sobrou dos tira-gostos que foi servido nas mesas, disse que não me importava, que estava com fome, e comecei a comer loucamente, mesmo sob advertências de Sarah e outros amigos. Enquanto me lembrava disso, Ted estava calado me olhando meio assustado, quando ele falou que várias vezes o cinzeiro da mesa sumiu e tinha jogado as cinzas do seu cigarro no que sobrou da farofa. Não quis acreditar naquilo, Sarah me olhou: “Por isso, que você está dor no estômago, eu disse pra você não comer”. Comecei a gritar com Ted que a culpa era dele, mas parei porque ele estava meio que se sentindo culpado mesmo e tentou se justificar. “Andréia, se eu soubesse que uma louca ia comer aquilo ainda, eu não teria feito isso”. Sarah não segurou a risada. Pensei: “Ah, o que não mata fortalece”.
Quatro horas da tarde já me sentia melhor, o suco me fez bem, e os dois no quarto continuavam na tentativa de me fazer levantar, puxavam o lençol, me balançavam, gritavam, eu lutava querendo ficar quieta. Falei com Dayse, que ria no sofá, que eles estavam me maltratando, ela falava que não tinha nada haver com isso.
O celular de Ted tocou, era a aniversariante e amigos que nos chamavam para beber o que sobrou das cervejas da festa. Ele contou da minha situação e passou o celular para mim. A voz feminina perguntava como estava me sentindo, se eu queria um caldo de cana, falei que sim. Minutos depois chegaram, a casa ficou cheia de gente. Sob olhares de pena, descrédito e risos, eu me sentei na cama, também achando graça do meu estado, todos me perguntavam, como foi que eu fui fazer aquilo, se não tinha juízo. Respondi que não, que meu juízo mora no pé.
Me arrastaram para fora de casa e fomos para o restaurante da festa, meu corpo ainda estava mole, mas me sentia mais disposta. Sentamos na mesa, serviram a cerveja, mas recusei, fiquei só na água. Ted insistiu um pouco, disse que devia rebater o mal-estar com a bebida, pensei que só se for para me levarem logo para um hospital. A aniversariante abriu os presentes, serviu o bolo, que também não aceitei, não conseguia comer nada, a dor no estômago melhorou, mas minha garganta arranhava, minhas amídalas estavam inflamadas. Estava pedindo para tudo acabar logo, estava com sono, queria voltar para casa. Doce ilusão, às seis horas, depois de acabarem com as cervejas restantes, todos foram para a praça 25 de junho, eu fui arrastada.
Encontramos mais amigos, que preparavam um churrasco improvisado. A mesa foi enchendo, a música fazia muitos dançarem, e fui me animando, quase esquecendo o que tinha acontecido mais cedo, apesar que cada pessoa que chegava me perguntava porque estava com uma cara triste, respondia que estava cansada, mas logo alguém do lado contava do meu feito na noite passada. Cervejas chegavam, esvaziavam, pedi uma água com gás.
Oito horas. Novamente me ofereceram um copo de cerveja, não resisti e aceitei tomar um gole. Todos me olharam rindo e cantando o refrão da música que tocava em um carro parado com o porta-malas aberto: ‘beber, cair, levantar’. Ted ainda olha pra mim e fala: “É, na vida a gente tem que piorar para melhorar”, não segurei o riso e pensei que estou é ferrada mesmo com esse povo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Andréiaa!! O q é issO?
aahahahahaha

Meu Deus..
ri tanto aqui!!

bjsssssss

Leandro Colling disse...

muito bom o texto, já a experiência...