quinta-feira, 27 de março de 2008

O som da vida

Folhas das árvores na praça balançam no ritmo do – Crew! Crewwwwww! Crewwwwwwwwwwwww! Canto de um jovem rapaz magro, sem camisa, de estatura média. Ele usa um boné bege e está de pé em frente a outros dois homens. Um parece nervoso, segura o joelho com as mãos e movimenta-se pra lá e para cá, parece não gostar da música que ouve. O outro, olha fixamente para o chão, até que algo vai de encontro ao seu pé esquerdo calçado com uma sandália preta, estilo Havainas – Toma!! E esmaga sem piedade, o que quer que estivesse presente ali. É impressionante. Eles estão no mesmo lugar, um em frente ao outro, na praça do ponto de ônibus e não conversam nem percebem os acontecimentos ao seu lado. Um lugar próximo à pista, onde vários carros passam de um lado para o outro. Estão sentados sobre um banco de cimento cinza que circula todo o lugar. No centro desse banco estão as grandes árvores e sob elas os passarinhos que cantam mais alto que o “Crew” do rapaz. Porém, uma dessas aves, está sob pena, e ninguém pode saber até quando. Ela choca-se entre as grades ferrugem da gaiola que lhe priva do livre-arbítrio. E por que cantar naquela prisão?Uma prisão no centro da liberdade e em cima do banquinho. Ela não canta. Mas o rapaz e os passarinhos livres cantam. A melodia dos seres mistura-se com o grave ruído dos automóveis que percorrem a pista. A atenção de repente é desviada. Um caminhão mais provido de ruídos do que qualquer outro emissor de som passa pela pista, em frente aos rapazes e aos passarinhos. O cheiro que ele emite não agrada nenhum dos presentes. É uma combinação de frutas estragadas com o lixo das cestinhas de banheiro insuportável. O tempo parece estagnar nesse exato momento. Não se ouve mais o cantar dos seres vivos, somente o tumulto provocado pela máquina. Alias as máquinas, ultimamente, parecem comunicarem-se mais com os homens do que os homens com os próprios homens.


Ilani Silva

Um comentário:

Leandro Colling disse...

tem narração tb. mas tem descrição que forma alguma imagem.