quinta-feira, 27 de março de 2008

Amélia, não confunda jamais esse lugar

Cachoeira, 27 de março de 2008

Eram dez horas da manhã quando eu cheguei. As portas, em madeira, pintadas de azul, encontrando-se em duas partes, com um risco linear central, na vertical, ainda estavam cerradas. O amarelo da fachada, já cinzento pelo tempo, compõe toda a parte externa. Ao olhar ligeiramente para cima vemos mais duas portas em madeira, com dois compartimentos cada, configuradas em seis blocos de vidros retangulares, formando uma pequena varanda protegida por uma estreita grade de ferro. Porém, talvez, o que te chame mais a atenção, mesmo quando despercebida, é uma bandeira quadriculada em cores distintas como, azul, branca, laranja, amarela e verde, em mosaico e, em seu centro preto com letras vermelhas, o nome do estabelecimento.
Dez horas e oito minutos, a senhora que recepciona os visitantes começou a abrir as portas. O chão, com vários blocos quadrados e retangulares, em cerâmica, integra um jogo transversal que tanto lembra o piso da cidade da Cachoeira, isto é, em formato paralelepípedo. O caderno de assinaturas, logo à direita de quem entra, em cima de uma peça de Jacarandá e uma carranca em madeira com detalhes de ferrro, sobre uma alta caixa preta, ao centro, permanece a vigiar quem entra e quem sai, a todos que ali vão vislumbrar.
Ligeiramente, à esquerda, visualiza-se um baú preto antigo com fechaduras enferrujadas. Serve de base para dois manequins sem braços, sem pernas e sem cabeça, que vestem uma camisa diferente, em cores diferentes.
Dois quadros laterais, assim como banners, do poeta e fotógrafo Damário Dacruz, enfeitam o ambiente.
Dando mais quatro passos encontrar-se-á várias pinturas assinadas por Dina Garcia, Pirulito e Suzart que decoram o espaço juntamente com móveis antigos, além da figura, em gesso, de São Cosme e Damião.
Invadindo mais um pouco, verás, ao centro, duas mesas de costura que agora servem para mostras de calendários e livros, ambos à venda. No corredor, objetos de barros, quadros, camisas, miniaturas de orixás, licor, candeeiro e colares.
No penúltimo compartimento aparece um bar à direita em estilo europeu com bebidas estrangeiras e, também, regionais como a Abaíra, por exemplo.
Mesas, cadeiras, cds, uma radiola antiga, bonecas negras de pano, um guarda-roupa com camisas, mandalas, quadros em miniaturas de Dina Garcia, outros objetos de barro, livros, calendários em molduras, várias fotografias de Dacruz, cartões postais de Salvador e objetos antigos como relógios de paredes, preenchem todo o resto do ambiente.
A área ao fundo que finaliza o espaço, apresenta um pequeno jardim com flores do campo, vários candeeiros na parede em pedra que, quando acesos, iluminam o verde da grama. Além disso, as mesas e as cadeiras que ali estão, deixam o clima mais aconchegante.
Amélia, aí está a descrição do “Pouso da Palavra - espaço de arte, cultura e comunicação” que você tanto me pediu. Assim como o endereço completo do lugar no verso do envelope. Espero que você leia logo esta carta e venha visitar o Pouso assim que puder, para encontrá-lo do jeito que descrevi, pois, como diz Damário Dacruz, o idealizador e dono do espaço, “Quanto mais sonho com Cachoeira, mais amanheço em Nova York”.
Beijos do amigo,
Elton Vitor Coutinho

6 comentários:

Ted Sampaio disse...

Eu gostei da descrição do Pouso da Palavra feita por Elton. Achei que ele usou a criatividade para descrever o espaço como se estivesse escrevendo uma carta. Porém acho que ele deixou um pouco a desejar, no sentido de que privilegiou muito o "ver" e não usou outros sentidos como o olfato, a audição etc. que poderiam enriquecer a descrição.

Leandro Colling disse...

concordo com ted, faltaram as sensações, ficou quase só nos aspectos físicos. mas tá bom. descobri que é uma carta só no final. pq não deixar claro isso desde o início?

Elton Vitor Coutinho disse...

Realmente faltou eu privilegiar outros sentidos, mas tem um detalhe: eu não poderia inventar o que eu não escutei ou presenciei com outros sentidos. Não sei se ambos repararam, mas o Pouso estava acabando de ser aberto, portanto não tinha cheiro de rosas, nem tão pouco outro cheiro significativo que me despertasse algo. Não tinha músicas tocando nem pássaros cantando. Eu poderia muito bem inventar, é claro, mas optei por ficar apenas com os aspectos físicos.
Pelo seu último comentário, Leandro, você acabou por corresponder às minhas expectativas, pois foi isso realmente que eu desejava, uma descoberta apenas no final, deixando mais excitante e intrigante. Pelo menos é o que penso...
No mais, obrigado pelos elogios.

Elton Vitor Coutinho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Leandro Colling disse...

elton, amplie a idéia de sensações: todo lugar transmite algo, vc não precisa inventar como é a atmosfera do pouso, saca?

Elton Vitor Coutinho disse...

Eu compreendo, mas as sensações que você fala têm que ter a sensibilidade de quem faz o texto. Foi por isso que utilizei o termo "inventar", pois se eu não tive essas sensações não tinha o porquê da descrição... mas serve como experiência.