quarta-feira, 26 de março de 2008

Identidade baiana é criada por políticos, diz pesquisador

Um especialista em cultura. Assim é conhecido o professor doutor Antonio Albino Canelas Rubim que palestrou para alunos e professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) em Cachoeira. Ao falar sobre o tema "cultura, comunicação e contemporaneidade" Rubim chama a atenção para pontos importantes que devem ser do conhecimento de todos.
Entre outras coisas, ele questiona, e voltou a fazer em Cachoeira, o atual conceito de baianidade, mais uma vez acompanhado de polêmicas. Segundo o professor, toda identidade é construída e fabricada. “Não existe uma identidade que seja espontânea”, afirma.
Rubim ressalta que este conceito de baianidade conhecido por todos não representa, de fato, toda a Bahia, mas apenas a região da grande Salvador e do Recôncavo. Áreas como o sertão, a região sul e o vale do São Francisco não são contempladas com este conceito. “Agente não vê ser representado o cacau de Itabuna e de Ilhéus, a carranca de Juazeiro, ou o homem sertanejo, mas apenas a baiana do acarajé, o capoeira e o carnaval”, declara.
Rubim explica que este conceito de baianidade foi criado por um grupo político ligado ao ex-senador Antônio Carlos Magalhães (ACM). Segundo ele, o fator mais importante para essa massificação de um estilo que representasse o povo baiano foi a vinculação dessas imagens, sons e palavras através da Rede Bahia, pertencente ao grupo Magalhães. Para o professor doutor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) Paulo Miguez, uma identidade não pode ser construída. “O capoeira é uma marca da Bahia, a baiana do acarajé representa o Estado, dessa forma não podemos falar que essa identidade foi criada, ela já existia”. Mas concorda que as demais regiões não foram representadas neste conceito.
Para Miguez, ACM utilizou essa cultura de origem afro com o propósito de se tornar popular e querido pelo povo. "Ele adotou essa cultura para si e para a Bahia", conclui.

Rubim ainda falou sobre a mercantilização da cultura, provocada por transformações da sociedade capitalista. Ao denominar este processo de "economia criativa" Rubim aponta a indústria cultural como uma forma de agregar simbolismos aos produtos culturais. "O que define o valor de uma determinada mercadoria hoje não é o que ela significa em si, mas a marca agregada a ela", afirma Rubim. E completa citando exemplos: “Quando compramos um carro, o valor do carro não é definido pela parte mecânica, mas sim pelo design, marca etc.”.
Esse processo de mercantilização dos bens culturais, para Rubim, também é decorrência da influência da mídia no processo de formação da sociedade brasileira. "Estamos vivendo a sociedade da comunicação, a sociedade da informação", disse.

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