quinta-feira, 27 de março de 2008

Matérias do Reverso Editadas

Educação

“Eu tenho orgulho de ser calouro”

Novos estudantes falam das suas preocupações ao ingressarem na UFRB

Elton Vitor Coutinho

Vestibular, universidade e mercado de trabalho são palavras que, para muitos, soam ainda como algo distante. Mas, para os novos estudantes da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia), essa é uma realidade já bem próxima e discutida com intensidade. Os calouros do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), que ingressaram no dia 10 de março de 2008, foram recebidos com o Reencôncavo (leia texto na página 5). Agora se preocupam com o trote, na escolha que fizeram, em como enfrentar as dificuldades para concluir o curso e ingressar na profissão.
Vindos de cidades como Salvador, Feira de Santana, Vitória da Conquista e Porto Seguro, os calouros resolveram sair de seu local de origem para estudar em Cachoeira. O que leva uma pessoa a tomar essa decisão? Eles têm o apoio dos pais? “Crescer profissionalmente e culturalmente”, é o que diz Evelyn Lorena Moura, de 18 anos, caloura de Comunicação, que veio do sul da Bahia mesmo contra a vontade dos pais.
Os calouros revelam que vestibular deixa os jovens confusos em qual carreira seguir. A escolha do curso é muito mais do que apenas marcar um “x” na hora da inscrição. Além disso, a prova do vestibular é algo que mexe com os aspectos físicos e psicológicos das pessoas. Para Layane Cruz, de 20 anos, caloura de Comunicação, por exemplo, o vestibular não é um método de seleção ideal. “Ainda é uma forma de segregação”, diz ela.
“Fiz três vestibulares para cursos diferentes. Perdi em um e passei em dois. O primeiro para Odontologia na Uefs (Universidade Estadual de Feira de Santana), o segundo para Letras e agora para Comunicação na UFRB”, diz Layane Cruz. A troca de curso e de universidade é causada pela busca incessante dos jovens que, por serem ainda muito novos, escolherem precocemente qual área seguir.
ESTRUTURA – A primeira impressão dos calouros, ao entrarem na faculdade, foi o choque com a estrutura do CAHL. “Acho a estrutura péssima, pois não tem as condições que eu pensava que uma universidade federal tivesse. Merecíamos boas condições para atender às nossas expectativas”, diz Alana Fabiane Santos, 16 anos, caloura de Comunicação. O que deixa os novos estudantes mais aliviados é o corpo docente. Segundo eles, em um primeiro contato, os professores se mostraram bem capacitados e compromissados com os cursos. “Quanto aos docentes, são os melhores que já vi”, afirma Daniel Souza, 20 anos, calouro de História.
RECEPÇÃO – O trote é uma tradição no Brasil e não agrada a todos. “Eu acho algo infantil, pois acredito que, ao chegar na universidade, o nível intelectual deveria ser mais elevado. A responsabilidade deveria ser outra e deixar essas brincadeiras para o segundo grau”, relata Daniel Souza.
Um calouro do CAHL, que não revelou o nome, se manifestou contra o trote com uma carta, cujo título é “Veteranos retrógrados”. Ele faz uma crítica aos veteranos que participam dessa prática, pois acredita que o trote apenas colabora com a violência. Já outros calouros vêem o trote como algo positivo. “Eu concordo com o trote, pois, se for moderado, é uma sensação boa. Sinto que realmente cheguei à universidade e é por isso que eu tenho orgulho de ser calouro”, diz Gustavo Moreira, 19 anos, calouro de Comunicação. “Eu também gosto do trote, pois acho que serve para integrar os veteranos com os calouros. Mas defendo apenas os trotes solidários, que tenham um fundamento, que não sejam agressivos”, acrescenta Evelyn Moura.
PERSPECTIVAS – Ao desembarcar na cidade da Cachoeira muitos tiveram dificuldade em encontrar moradia. Por isso, quem mora em Cruz das Almas e Feira de Santana, por exemplo, preferiu alugar uma condução para fazer o trajeto diariamente. Os calouros que moram mais distante estão preocupados sobre onde vão morar. Eles dizem que o do aluguel é caro e as casas disponíveis não têm uma boa estrutura. “Se já temos esse problema com a moradia, isso me amedronta um pouco em relação a tudo que envolve o curso, a universidade”, diz Moreira.
“Apesar de tudo, espero não me arrepender da escolha e de me apaixonar ainda mais pelo curso e pela profissão”, ainda afirma. Esse não é o depoimento apenas de Gustavo Moreira. A perspectiva de muitos é que a universidade traga alegria e sabedoria, que o prédio definitivo fique pronto o mais rápido possível e a cada dia aprendam com os professores e com os próprios alunos. “Minha maior perspectiva é ver um progresso tanto dos docentes quanto dos discentes em termos de conhecimento”, relata Daniel Souza.
A preocupação com o mercado de trabalho é, talvez, uma das principais para aqueles que pretendem ingressar numa instituição de ensino superior. Algumas pessoas desistem do curso dos seus sonhos com medo de não conseguir emprego. Outros insistem em fazer o que gostam. “Eu acho que o mercado para jornalista é bom para bons profissionais e não para todos. Por isso é que precisamos nos especializar e superar cada vez mais”, afirma Araújo. “Falou em mercado de trabalho, eu penso em progresso. Eu ainda considero o mercado de trabalho para educadores em história promissor. Quanto à parte financeira, é conseqüência”, acrescenta Daniel Souza.

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