quinta-feira, 27 de março de 2008

Matérias do Reverso Editadas

Carlistas se apropriaram da identidade baiana, diz pesquisador

Ted Sampaio

Um especialista em cultura. Assim é conhecido o professor doutor Antonio Albino Canelas Rubim, que palestrou para alunos e professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), em Cachoeira, no último dia 14 de março. Ao falar sobre o tema Cultura, comunicação e contemporaneidade, Rubim chamou a atenção para conceitos importantes da área e destacou o de baianidade. O professor titular da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia explicou que o grupo político ligado ao ex-senador Antônio Carlos Magalhães (ACM) se apropriou de uma idéia de baianidade. Segundo ele, o fator mais importante para essa massificação de um estilo que representasse o povo baiano foi a vinculação dessas imagens, sons e palavras através da Rede Bahia, pertencente ao grupo Magalhães.
Rubim ressalta que este conceito de baianidade, hoje conhecido por todos, não representa, de fato, toda a Bahia, mas apenas a região da grande Salvador e do Recôncavo. Áreas como o sertão, a região sul e o vale do São Francisco não são contempladas nesse conceito. “A gente não vê ser representado o cacau de Itabuna e de Ilhéus, a carranca de Juazeiro, ou o homem sertanejo, mas apenas a baiana do acarajé, o capoeira e o carnaval”, disse.
Rubim explica que toda identidade é construída e fabricada. “Não existe uma identidade que seja espontânea”, afirma. O professor da UFRB, Paulo Miguez, ponderou sobre como uma identidade pode ser construída. “O capoeira é uma marca da Bahia, a baiana do acarajé representa o Estado, dessa forma não podemos falar que essa identidade foi criada, ela já existia”. No entanto, ele concorda que as demais regiões não foram representadas neste conceito. Para Miguez, ACM utilizou essa cultura de origem afro com o propósito de se tornar popular e querido pelo povo. “Ele adotou essa cultura para si e para a Bahia”, concluiu.
Rubim ainda falou sobre a mercantilização da cultura, provocada por transformações da sociedade capitalista. Ao tratar desse processo, apontou como a indústria cultural agrega simbolismos aos produtos culturais. “O que define o valor de uma determinada mercadoria hoje não é o que ela significa em si, mas a marca agregada a ela”, afirma Rubim. E completa com exemplos: “Quando compramos um carro, o valor do carro não é definido pela parte mecânica, mas sim pelo design, marca etc”.
Esse processo de mercantilização dos bens culturais, para Rubim, também é decorrência da influência da mídia no processo de formação da sociedade brasileira. "Estamos vivendo a sociedade da comunicação, a sociedade da informação", disse.
A palestra de Rubim foi promovida pelo Núcleo de Estudos em Sociedade, Poder e Cultura (Nespoc), presidido pelos professores Fábio Joly e Luiz Nova.

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