sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Quando agente menos espera...

Por: Talita Costa

Era uma tarde de sexta feira, eu havia saído de casa apressada, andava tão confusa ultimamente, que não sabia até aquele momento, para onde deveria ir. Sabia apenas que precisava sair e dissipar aquela nuvem obscura de dúvidas e vontades que pairava sobre minha cabeça e enquanto pensava sobre essas coisas, entrei no primeiro carro que me levaria a novas experiências.

Sentada no banco da frente, sem nem levantar o olhar ou prestar atenção ao que ocorria, ele apareceu:

- O cinto – pediu para o rapaz que sentava ao meu lado.

Nesse momento, olhei para ele e sorri.

- Boa tarde! Ele disse.

- Boa tarde.

Naquele momento, percebi que aquela viagem de pouco mais de uma hora, me envolveria numa relação de jogo de conquistas da qual eu não estava acostumada. Aquele homem de 35 anos, não é realmente o tipo de pessoa que eu conheço todos os dias e que claro, não deixaria passar.

Passamos metade do caminho em silêncio. Tentei ler um livro, dormir um pouco, enquanto ele pegava e despachava passageiros.

- Alô! Não minha filha, estou chegando em salvador agora, depois papai te liga – falou ao atender ao telefone.

 “FILHA! Será que ele é casado!”, pensei. Procurei a aliança entre os dedos sem encontrar nenhum sinal do que poderia me impedir a prolongar aquele momento.  Foi quando de um impulso, perguntei:

- Como é seu nome?

- Roberto. Porquê?- perguntou sem entender.

- Curiosidade. Estava fazendo uma matéria sobre transporte alternativo e todos me informaram que você seria a pessoa mais indicada a falar do assunto.

A partir daí foi fácil chamar a atenção dele pra mim.

- Você é daqui de Salvador?- perguntou.

- Não. Aqui é só mais um dos meus pontos de troca de carro. Ainda tenho que pegar outro para chegar ao meu destino.

- Você é de onde?

- Um lugarzinho no fim do mundo. Você não conhece.

- E faz o quê lá em Cachoeira?

- Faculdade de jornalismo.

- Uma vez eu dei uma entrevista para duas meninas de jornalismo. Acho que a matéria nem chegou a sair.

- É... a minha também não foi pra frente, infelizmente.

Entre perguntas e mais perguntas, soube sua idade, onde morava, que era solteiro. Ele também não perdia a oportunidade de saber mais ao meu respeito. O interesse entre agente estava tão na cara que as cantadas começaram a ser mais objetivas: 

- Você mora aqui há dois anos e eu nunca lhe vi. Por onde é que você andava? – perguntou, não esperando uma resposta, mas dando uma deixa para afirmação que viria a seguir     – Também agora eu não te esqueço mais. Talita....

A viagem ia chegando ao fim e eu, naquele dia, tinha dissipado a nuvem que pairava sobre a minha cabeça e esquecido por instante das dúvidas que me atormentava. O que estava acontecendo entre nós dois, serviu de consolo para as desastrosas investidas que eu andava dando nos últimos tempos. E de onde  agente menos espera a coisa acontece:

- Eu vou parar logo mais ali na frente – falei, quando cheguei ao meu destino.

- Não... pode deixar que eu te levo.

- Não precisa. Eu sempre por ali, estou acostumada.

- Qualquer dia desse eu te chamo pra sair lá em Cachoeira.

   - Certo. Foi um prazer conhecê-lo... Pode parar aqui!

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