sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O que é a vida, afinal?

Quinta feira pela manhã, estava sentado a mesa, lendo um livro bastante usado com capa vermelha e no centro um quadrado amarelo para destacar o título. Tão concentrado que estava com o estudo, que só fui me dar conta da discussão em seu final. Foram seis estrondos:
- São fogos de artifício – disse alguém.
- Não, não são fogos, isso são disparos de arma – disse meu irmão.
Voltei ao que fazia sem dar importância. Tanto fazia se eram disparos de arma ou fogos de artifício.
O telefone toca.
- Meu Deus! – exclamou minha mãe com a voz quase aos prantos, porem sem derramar uma lagrima – não pode ser, já avisaram para ela.
Preocupado com o tom de voz de minha mãe, não esperei a ligação se completar, corri até ela e perguntei, mais curioso que nervoso, ao contrario dela:
- O que foi?
- Seu Zé foi baleado na frente da casa de sua madrinha.
A boca secou. Fiquei sem reação. Agora fazia sentido os seis disparos ouvidos minutos antes.
- Quem lhe avisou?
- Sua madrinha.
- Foi baleado aonde? – não dei tempo para resposta, engatilhei outra pergunta – Já foi socorrido?
- Não sei, estou muito nervosa.
- Liga para o meu pai, fala com ele – disse.
Nada de o celular dar resposta.
- Não atende.
- Continua tentando. Fala para chamar a policia.
Antes de tentar nova ligação o telefone toca novamente.
- Como posso avisar isso para ela? Como avisar que seu Zé foi baleado. Não consigo – falava ao telefone minha mãe que não desgrudava dele.
- E ai? – pergunto
- Foram quatro homens armados que disparam contra ele, que também estava armado. Seu Zé e sua mania de andar armado, eu sabia que poderia acontecer alguma coisa. Ele já ta velho e quer tirar uma de valentão.
- Não sabem em que parte do corpo foi baleado? – perguntei. A essa hora a prova que tinha a noite já fora esquecida.
- Eu vi tudo – disse um vizinha que tinha acabado de chegar em minha casa – os mal encarados, estacionaram o carro do lado lá de casa e saíram como se tivessem perseguindo alguém!
Estava agitado e queria saber mais. Meu pai chegou em casa, disse que a policia já estava no local do crime e que tinha conversado com o filho da vitima, também policial, que lhe disse que seu Zé fora encaminhado para o Hospital.
- Será que não foram as mesmas pessoas as quais ele, semana passada, impediu que assaltassem uma pessoa atirando pára cima, para assustá-los? - essa foi a minha primeira suspeita desde que fiquei sabendo do ocorrido.
- Pode ser.
A tarde já entrava e dessa vez as noticias já vinham mais concretas.
Os assaltantes passaram por seu Zé já o ameaçando:
- Entra velho, entra!
Nosso policial aposentado não é de levar desaforo e saiu ao enfrentamento, mostrando a arma que carrega consigo diariamente.
Houve troca de tiros. Sei Zé foi alvejado por três disparos. Dois na perna e um no estomago.
- Já esta sendo operado – disse minha mãe – quem o socorreu foi o próprio neto.
Mais de uma semana depois, ninguém sabe o destino dos elementos, seu Zé repousa depois do “susto” e recebe muitas visitas.
- Tomara que nosso Charlton Heston, ou melhor, Clint Eastwood entenda que em Hollywood tudo é encenação e deixe de ficar com essa arma para lá e para cá – disse brincando, como consigo brincar uma hora dessas, mas, o que é a vida afinal?
Hamurabi Dias

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