segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Política

Ritmos e letras para todos os estilos

Jingles caem no gosto popular e são cantados e odiados nas ruas de Cachoeira

Camila Moreira

Em época de eleições, a criatividade dos candidatos é posta à prova. Ritmos e letras compõem jingles para os mais variados gostos e estilos. A maioria das letras não faz mais do que enaltecer as qualidades dos candidatos. Apesar disso, caem no gosto popular e são cantadas por muitas pessoas nas ruas. Muitos eleitores, entretanto, reclamam do barulho excessivo.
Os jingles são repetidos incessantemente e expõem a criatividade ou falta a de. Muitas músicas parodiam alguma melodia de sucesso e trazem apenas o nome do candidato, seu número e algumas de suas qualidades impossíveis de serem comprovadas, como é o caso do homem que “tem o cheiro do povo”.
Os moradores e eleitores da cidade reclamam do barulho e dizem ser vítimas daqueles que só aparecem no período de campanha. “Eles passam quatro anos sem aparecer e agora chegam com essa barulheira toda”, afirma a vendedora ambulante Marta Menezes. Segundo ela, o som incomoda muito e assemelha-se ao de um trio elétrico, principalmente quando os carros de som passam em frente aos comitês, lugar onde parecem promover uma disputa de volume.
“A zoada incomoda demais na cabeça da gente, pra quem tá doente como eu mesma, ainda é pior”, reclama a dona de casa Jana Martins. Nenhum dos pretensos a um cargo político abre mão de ter o seu nome alarmado nas ruas. Cachoeira tem três candidatos a prefeito e só uma das coligações lançou 90 candidatos a vereador. A moradora de Cachoeira, Valdinéia Souza, se sente incomodada quando está no trabalho. Ela considera os jingles pouco criativos. “Eles não dizem o que realmente querem, os candidatos não falam de suas pretensões”, acrescenta Valdinéia.
O fato é que as músicas ou jingles causam um estranho fascínio nas mentes dos ouvintes. Muitos deles fazem sucesso pelas ruas e, talvez, os compositores consigam em um mês o que muitas bandas almejam por toda uma vida artística: ver suas composições sendo cantadas por um elevado número de pessoas. É claro que a memorização é fruto da repetição intensa, mas não se pode negar que a frase certa numa melodia empolgante facilita o trabalho.
O compositor Atanagildo Soares, 31 anos, conhecido como Tanú, compõe jingles e paródias para candidatos. Em Cachoeira, compôs para alguns vereadores e para o atual prefeito. Segundo ele, não há muito segredo nas composições. O importante é trazer uma mensagem de fé e esperança para os eleitores. Para ele, é importante também incluir o nome das comunidades de Cachoeira, pois assim os eleitores não se sentem excluídos do processo eleitoral.
Jairo Lima, 27 anos, também compositor de jingles, afirma que os candidatos não influenciam na criação, apenas pedem para o número ser repetido várias vezes. “Quando ele é da área de saúde, pede para pôr alguma coisa sobre isso. Se for de esporte, a mesma coisa. Mas, no mais, fica a nosso cargo”, conta Jairo. Ele acredita que muitos eleitores votam apenas analisando o jingle. No entanto, ele não faria isso e não aconselha quem queira fazer. “Conhecer a proposta do candidato é o mais importante”, justifica Jairo. A eleitora e dona de casa Neusa Santana diz que a música ajuda na fixação do número, mas não serve como único incentivo na hora de votar. “A pessoa que vai ser votada tá aqui na cabeça da gente e não tem música que possa mudar isso”, diz Neusa.
Quanto à superficialidade das letras, os compositores se justificam dizendo que são contratados para prestar um serviço, ou seja, não há um trabalho de pesquisa em torno da composição. Para um candidato a vereador, o serviço de composição do jingle custa em média R$ 350. Para prefeito fica mais caro, geralmente entre R$ 1.500 e 2 mil.
Enquanto o período de campanha determinado pela Justiça Eleitoral não se esgota, o eleitor fica em meio a esse turbilhão de músicas que, mesmo não dizendo muito, acabam esquentando o período eleitoral, às vezes dando até um ar irreverente para a disputa.

Eleitor pode denunciar

Um abuso fica ainda mais evidente no período eleitoral: carros de som nas proximidades de locais proibidos, principalmente de escolas, prejudicam o andamento de aulas. Segundo o resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), “são vedados a instalação e uso de alto-falantes ou amplificadores de som em distância inferior a duzentos metros dos hospitais e casas de saúde, das escolas, bibliotecas públicas, igrejas e teatros quando em funcionamento.” Apesar disso, é comum perceber que a norma está sendo violada em Cachoeira.
Os representantes dos comitês afirmam que já foram notificados e que estão adotando medidas para resolver o problema. Segundo eles, existe a recomendação para o cumprimento da lei mas, muitas vezes, são os operadores de som que acabam desrespeitando as ordens. Ouvidos pelo Reverso, os motoristas dos carros garantem que não transitam com o som em locais proibidos. No entanto, nos prédios onde são ministradas as aulas dos cursos do CAHL é comum flagrar a passagem desses veículos. O som, muitas vezes, exige a interrupção das aulas. Qualquer eleitor com título em Cachoeira pode procurar a secretaria da Justiça Eleitoral, localizada no Fórum Municipal de Cachoeira, e prestar queixa.

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