segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Planos fúnebres ganham vida

Funerárias desenvolvem habilidades para se manterem atuantes

Por Carine Costa

“Não deixe despesas, deixe saudades”, esse é o slogan da funerária São Felix, que caracteriza o mercado funerário dos municípios de Cachoeira, São Felix e Muritiba. Planos funerários, para quitação antecipada do funeral são oferecidos aos moradores das respectivas cidades. Isto se deve ao fato, das empresas buscarem a conquista de clientes, principalmente a partir dos anos 90, com o término do auxílio funeral (beneficio dado pelo governo aos trabalhadores de baixa renda). As funerárias Pax Bahia, A crediária, União e São Felix, usam de estratégias para atraírem clientela, e se manterem firme diante da competitividade.
“A criação do plano de Assistência ao Funeral, tem a finalidade de preservar as famílias no momento da perda de um ente querido, dos oportunistas que se preocupam em ganhar em cima dos familiares, no momento difícil”, diz Rogério Santos Bispo 35, proprietário da funerária São Felix.

Como funciona:

O plano familiar ou plano funeral oferece aos seus clientes urna mortuária, capela, carro para anuncio, flores, cemitério, viagem, cartório, translado, dentre outros. Esses serviços variam entre as empresas. Para obtê-los os clientes pagam mensalmente um carnê, que tem valores entre R$ 11,00 á R$ 34,00. A divida cessa somente com a morte do freguês. O período de carência alterna entre três e seis meses. Algumas dessas empresas possuem convênios com farmácias, óticas, laboratórios e clinicas.
Através de vendedores que vão nas casas dos moradores, as funerárias oferecem seus produtos com suas vantagens em relação à concorrência. A maioria que aderem aos carnês são idosos aposentados, como confirma Rosângela Batista, 34, funcionária da funerária A Crediária da cidade de Muritiba ao relatar que não possui clientes jovens. Gilvan Pelegrino, 29, proprietário da funerária União da cidade de Cachoeira declara o oposto ao afirmar a adesão de clientes jovens.
Anedina Ramos de Almeida, 63, é uma aposentada, moradora da cidade de Muritiba, que se filiou ao plano familiar, da funerária Pax Bahia, colocando três filhos e uma neta como dependentes, o incentivo veio através de amigos que já tinham aderido ao plano.
“O plano é importante porque deixa o caixão pago, na hora da morte não tem dificuldade, meus filhos não precisarão pegar dinheiro emprestado para pagar, ainda mais que eu tenho problema de coração, diabete, colesterol e pressão alta”, disse Anedina.
Porém o assunto é polêmico, há quem não concorde com a idéia, como é o caso de Marinalva dos Santos, 30, “Eu nunca me interessei, porque é uma coisa chata, uma pessoa com saúde, já ficar planejando a morte, com o plano a pessoa já acha que vai morrer logo”.

Há concorrência desleal?

Segundo Ana Claudia Veloso, 29, funcionária da funerária União de Muritiba, a funerária Pax Bahia de Muritiba opera com concorrência desleal, pois induzem os clientes da União á aderir seus planos, e inclusive chegou ao ponto de rasgar dois carnês dos associados da União.
“A constituição diz que o cidadão tem o livre arbítrio, tem o direito de ir e vim. Houve transferência porque estavam insatisfeitos. Os próprios clientes que rasgaram os carnês, nós não induzimos, apenas mostramos o nosso trabalho e isso induz de alguma forma, mas nós não obrigamos ninguém”, se defende, Wanderlândia Cerqueira, 25, secretária da Pax Bahia de Muritiba.
“Muitos serviços são colocados à disposição dos clientes na hora de vender o plano, como empréstimos de equipamentos de convalescença, etc., vale salientar que nenhuma empresa de plano empresta os equipamentos, e sim aluga. Cabe aos clientes quando visitados pelos vendedores, solicitar todas as informações sobre os serviços da empresa. Só os clientes têm o poder de banir a concorrência desleal e fazer com que a empresa cumpra todos os benefícios dito pelos vendedores e pelas propagandas”, diz Rogério Santos da funerária São Félix.
Segundo Rosângela Batista, da funerária A Crediária, a concorrência desleal existe, pois algumas funerárias, fazem visitas aos doentes, já visando realizar o funeral dos mesmos, e paga a funcionários dos hospitais para informar sobre falecidos e indicar seus respectivos serviços fúnebres, ou seja, são os “papa-defuntos” ou curiós, atuando nas cidades do recôncavo.
A enfermeira chefe, do hospital Dr. Otto Alencar, da cidade de Muritiba, Lívia de Souza, 25, enfatiza não ter o conhecimento sobre a existência de curiós, e afirma se souber de algum caso a respeito, o funcionário será imediatamente desligado de suas funções.
Na cidade de Cachoeira foram contabilizados 162 mortos em 2007, neste ano já houve 86 mortos, estáticas que são ponto chave nesse mercado da morte. Para as funerárias do recôncavo o interessante é que seus associados tenham vida, pois é através dela que os carnês são pagos gerando o lucro, e a morte cria a despesa, como sabemos, para viver e para morrer custa caro.

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